segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Vão Assassínio.

Duas horas se passaram.
Duas horas, para dois comprimidos.
Dois comprimidos,que deveriam
term-me assegurado,
a morte deste dia,
a morte destas restantes horas
deste dia...que não houve.
O que houve? Que de fato,
sucedeu-lhe tal dia?
Ele aconteceu. E desde
o prinicípio, estive certo.
Aconteceu sem deveras acontecer.
Aconteceu, acontecendo,
uma hora após a outra,
minuto a minuto,
isto é minha vida,
e está terminando-se
um segundo por vez.
Duas horas, a preencher,
com mais estas duas horas
de sentir-me deveras oco,
deveras louco,
desprovido de razões, para,
como qualquer normal,
querer ter sono à esta hora, e
não às oito da noite.
Tentei assassinar um dia!
Tentei dar-lhe uma dose
fatal de rivotril,
mas parece-me, pelos vistos,
que sequer todo o clonazepan
do mundo impediria-me de
acorder, mais uma vez, acordar,
da "vida" para a morte.
Morte, de estar desperto,
e lúcido, mais uma vez lúcido!
Pra merda com a lucidez.
Pra merda com esta "vida"
Pra merda comigo mesmo!
Desejo apenas dormir...nunca mais
ter de "despertar", para este
opaco mundo, feito para os outros,
tudo para os outros, nada para mim.
A não ser estas insones e insanas
noites, em que dano a praguejar,
o destino, de ter-me feito o que sou,
o que deveras sou, um ser que
de tudo corre, de tudo correu, tudo
largou para trás, ao morrer, dez anos
atrás. Dez anos. Dez anos, nada mudou.
Apenas as rugas, o estado das mãos
o envelhecer inerente da matéria viva,
embora morta esteja, sempre esteve,
desde que, há dez anos atrás,
resolvi ser o que sou, este feixe
de segredos, de medo, de eterno medo,
de mim mesmo, da reação de outrem, da
sociedade...saciedade! Malditas sejam
tais horas, que o fármaco não matou,
e condenou-me a isto,
a ter que dizer isto, ter que escrever
isto, para não...não sei mais o que fazer, não
em tais horas, tais momentos,
que os dias se arrastam, pesam a todo momento,
e me arrasto, feito lesma, para cá e para lá,
deixando uma trilha de gosma, para provar
que cá estive, a lamentar-me.
Cada dia após o outro, cada coisa em seu lugar.
Cad dia pesa-me mais, tal vida de
sisifismo. de tentar, dar algum sentido
para esta "vida", esta "existência"...
Nada posso, nada sinto, que me fortaleça,
contra tal tarefa. Nada faz sentido.
Nada, nunca, fez sentido.
E isto é estar vivo?
Viver, sem nada sentir?
Existir, apenas para preencher o banco
de horas de uma "existência" voltada
pro nada, pra fazer nada, sentir nada,
nada fazer efeito? Foda-se o Parnate,
foda-se o rivotril, foda-se o lítio,
foda-se o Pamelor, tudo parece-me
saber a pílulas de homeopatia,
açúcar para tolos, que acreditam
em semelhante bobagem,
semelhantes concentrações
de uma gota para a tmosfera de Júpiter.
É assim que me sinto, tomando estas
merdas, que nada fizeram, nada fazem,
não consigo mudar,
não consigo enxergar,
nada além da morte
que está em todo lugar.
E na mesma semana, ironicamente,
recebi toneladas de conselhos,
mude, mude, mude,
mude!
Mude.
Só se fosse, como em sonho,
eu ganhasse na loteria,
em que nunca aposto,
ganhasse o tal materialismo
capaz de me fazer, deveras mudar,
deste sujo, imundo lugar,
imunda realidade, porcaria brasileira,
para uma outra realidade, quiçá
estangeira, onde talvez, de fato,
pudesse mudar, seria forçado a mudar,
Mas não sei. É apenas um sonho,
mais um sonho, a me tentar,
como todos meus sonhos tentam,
me oferecer, uma vida menos ordinária,
menos apática, menos desprovida
de um sentido para dar às horas, minutos, segundos,
que parecem muito demorar a passar,
e no entanto, um dia você acorda, e percebe,
que dez anos se foram,
dez anos em que nada fiz,
nada produzi, nada procurei,
nada encontrei, nada, nada, nada,
que pudesse dar-me sentido
à isto que chamam de "vida".
Não estudei, quase nada, além
dos abjetos materiais impressos
aos "ratos de cursinho", "concurseiros"
nada aprendi, nada apreendi ali,
a não ser a certeza, que não é isto
que quero, nunca foi isto que queria.
e perdi, sabe? perdi tudo
que ali apostei.
E fiquei sem nada.
Sem dinheiro, sem fé, sem dignidade
considerando-me um imbecil completo
sem deveras o ser, pois o que prova,
o que de fato prova, tais provas, tais exames?
Que você é inteligente? como costumavam dizer?
que você é capaz? Capaz de quê? De repetir
e repetir, e repetir, à exaustão, tudo que deveras
detestou, apenas para ser o melhor gravador,
o melhor "decorador" de leis, artigos, acentos
páragrafo tal da Constituição, palavras
escritas, repetidas à exaustão.
Que prova isto? Que és, de fato inteligente,
ou mero repetidor incansável de tais
hediondos conteúdos, que de nada adiantam,
nada deveras provam, que uma pessoa é
melhor que outra, para ocupar tal cargo, ocupar tal cadeira,
ganhar rios e rios de dinheiro, sem quase nada fazer
além do carimbo bater?
Provou-me ser um energúmeno,
por ter-me deixado cair nesta história,
neste conto de fadas, tão apropriado
para o povo brasilerio, "el pueblo"
que nada mais quer da vida além
disto - pouco serviço, pouco trabalho,
e muito mas muito dinheiro, para poderem
a todos impressionar, poderem a todos
impor-lhes respeito, "este é concursado",
mereceu seu lugar. Inglória é tal
existência. Assim como é inglória
minha atual "existência", de ser
o que me tornei, Monstro, cada vez mais,
cada vez mais virulento, e sabe disso,
pois prefere se isolar em seus aposentos,
que aos outros tornar público seus lamentos.
Deram-me, impuseram-me, como cartada
final, este medicamento, potencialmente fatal,
dadas as circunstâncias diéteticas de quem
o consome, diraiamente, impuseram-me,
tal tratamento, pro não mais poder ser
"o louco do prédio", que de tanto se
detestar, de tanto se enxergar, se mirar
em cada espelho que passo, como o
Monstro que me tornei, ter ímpetos
de se surrar, já que não tem sequer
coragem nem meios para pôr fim
àquilo que jamais foi: uma pessoa,
funcional, normal, produtiva,
social, rentável, contabilizável,
com desejos normais, de qualquer
pessoa. Qualquer ser humano, dito "normal".
Nunca fui normal. Nunca consegui me relacionar,
salvo com poucas pessoas, que, de alguma forma
conseguiram me tolerar, conseguiram levar
na brincadeira, ou achar que não é nada
assim tão sério, sentir, o peso de todos
todos, estes anos, em que nada fiz, nada amei,
nada produzi, nada quis. Nada de normal, ao menos.
Fiz de mim o que não pude.
Tentei, em vão, atingir, o tal "dream job"
dos brasileiros, seres acéfalos que me circundam.
mas, serei, eu, em minha pompa, ao dizer tais
coisas, mais, "céfalo" que eles?
Prepotente dos infernos! Você é, sempre
foi, o que havia de pior, neste "pool" genético
o mais fracassado de todos, o mais "sofredor"
de todos, apesar de que, inúmeras vezes,
todos me indicarem, o potencial que reside em mim...
mas qeu nunca, nunca, levei a cabo.
Talvez por preguiça, talvez por deveras
sofrer de algum mal, que estou, mais uma vez em vão,
tentando me tratar, com um coquetel de drogas,
que nada parece, de fato, adiantar.
Nads mudou. Ainda olho no espelho,
e sinto ímpetos, agora severamente contidos,
de destruir o que aquilo que alguns
consideram até aprazível aos olhos.
Para mim, nunca foi!
Para mim, sempre fui o Monstro,
relegado ao esquecimento,
em todos os recreios, todos os recessos,
das aulas que já fiz, este ser monstruoso
que sou, por ser, quem deveras sou...
por ser quem deveras gosto...
por ser eu, esta aberração da natureza
humana. Por nunca, de fato, ter-me
sentido humano. Não como os outros,
nunca como os outros. Por sempre
ter necessidade de me esconder,
de não dizer, quem deveras sou.
de me prender, dez anos atrás,
nesta cela, nesta Torre, nesta masmorra
que criei para mim mesmo, para que
me esqueçam.
Que tenho eu a oferecer-lhes?
Estas malfadadas linhas, que escrevo,
neste domingo que não houve,
nestes dias que nada haverá,
a não ser, talvez, dependendo do dia
de amanhã, onde irei-me encontrar
com o sério Dr Milagres, que milagre
nenhum em mm, de fato operou.
Continuo, todos os dias, a me odiar,
a desejar, que algo imprevisto ocorra,
feito o tal maldito que me avisou
do iminente atropelamento,
quiçá minha morte, meu descanso,
desta "vida", desta condição de "ser"
sem deveras nada ser.
Nada.
Nada.
Nada.
Nada fiz, nada mudei.
Nada faço, nada mudo.
Não consigo sentir
o mínimo desejo de mudar.
E acredito, conforme dito,
que tudo muda pra pior.
Sempre foi meu caso, tudo mudou...para pior.
Sempre é o caso, com qualquer ser vivo,
estamos sempre em mudanças,
seja a nível físico, seja a nível celular,
tudo tende pra pior, pois mais e mais
células se confundirão, sabe-se lá por que,
e mais e mais é a chance de cancerosas
tornarem-se. Enquanto isto, o restante,
os tecidos subcutâneos, o colágeno,
tudo se desfaz, e tornamo-nos velhos, cada vez
mais velhos, dotados de rugas, de gorduras
que ali não haviam, há dez anos atrás.
tudo nos encaminha a morte.
Tudo é destinado à morte.
Certeza final e absoluta.
Então, pergunto nesta hora de lucidez
indesejada, para que viver?
Para amar? Amar o qê, se é proscrito pelas leis,
pela sociedade, saciedade, bons morais
e bons costumes?
Acusarão-me, com razão, de ser covarde.
Não nego. Nunca fui audaz, nunca mesmo.
Nunca fiz nada de impetuoso, a meu favor.
Os sonhos que apostei, são como as cinzas deste cigarro
que queimo ao escrever, semelhantes impróperios
a muitos, mas não para mim.
Jamais, para mim.
Tu, que "vives" a fugir, que fizeste
de verdadeiramente útil,
nesta perdida década?
Nada.
Não fiz nada.
O máximo que fiz foi ter cedido
à tentação, ao "peer pressure" de outrem,
a tentar o tal...tal...cão-curso.
Onde o melhor cão, aquele
que executa, com perfeição
as manobras impostas,
é posto em seu cargo,
empossado, defiitivamente resolvido,
cheio de orgânicas regalias,
cheio de leis a seu favor,
todos sonham com isto.
Eu não.
Eu tentei, e falhei, como esperado.
E perdi-me.
Perdi tudo.
quase três mil reais,
o último contato que tinha,
com aquilo que me dizem fazer tão bem,
dez quilos de músculo...eu perdi.
Tudo. Em uma tacada que durou três meses,
mas que segundo dizem, deveria durar três ou quatro anos,
de repetição, de tornar-me o melhor papagaio
da Constituição, das leis, da contabilidade,
de continuar a tentar.
Não. Jamais. Nunca mais.
"Estude sozinho!"
Claro. Sim, anseio muito, voltar
do emprego na flora, onde vaso sou,
e me tornar papagaio pelas noites afora.
Ora bolas, então que DIABOS quer?
Não sei. Não mais. Não tenho planos, não tenho sonhos.
Tudo que sonhei morreu.
Tudo que tentei, falhei.
Não tenho carreira, não tenho dinheiro,
não tenho família nem desejo ter,
não posso, deveras, ter, sendo o que sou.
Continuo a ser, o menino isolado num canto,
nos recreios, sem conversarcom ninguém
por não ter nada a dizer, a não ser
este tipo de impropério.
"poço de amargura," já fui chamado.
com que precisão, chamado.
quem quer para si, uma pessoa como eu?
quem almeja ter para si, tamanho desprezo pela vida,
tamanho desprezo para o mundo,
esta coisa alheia, opaca, feita para todos os outros,
que não para mim? "Sorria!"
"Sorria!"
"Energias positivas"
"Hipnoterapia"
Para a MERDA com isto tudo.
Não sorrio pois não vejo motivos para tal,
vejo o mundo, como ele é, alguns
sortudos, a tudo que desejarem o têm,
ao estalar os dedos, e eu, ao estalar os
ossos, nada tenho, nada, além do meu lugar de vaso.
Uns, têm vinte e três milhões de razões para sorrir,
eu tenho, contas a pagar, remédios a comprar,
um espaço de vaso a ocupar,
e a segunda feira, em cinco minutos,
me aguardando.
Tudo de novo.
De novo, tudo.
Mude.
Mude.
Mude.
Corra atrás.
Atrás de quê? De nenhum aumento ou incentivo, de fato?
de ter, que para sempre, pagar, por meus erros,
ter escolhido sempre o mais fácil, mais conveniente,
ao invés da porra da biologia, não ter optado a medicina?
Eu passaria, naquele ano. Eu passaria, com aquela nota.
Inteligente. Inteligentíssimo.
E depois, anos depois de como vaso atuar,
tetar ir para a outra hecatombe,
denominada Belas"Feias"Artes.
Onde só aprendi a desprezar,
tudo que ali me foi passado.
Quis sim, almejei por um sonho digno de mim,
mas, tudo caiu por terra,
por ter mãos que não servem pra nada
além de trêmulos traços deixarem
permanentemente marcados,
na pele de outrem.
Pois bem. Já é segunda, segundo os relógios.
Tomo, novamente, overdose de coisas
que supostamente deveriam me fazer dormir,
esquecer, que sou ainda "vivo" e que amanhã,
tudo recomeça.
Recomeça tudo.
De novo e de novo e de novo,
para sempre.
Doutor Milagres, me diga,
que de fato, tal Parnate mudou, em mim?
Além de me privar de meu café irlandês?,
meus pães de queijo, minhas pizzas,
minhas lasanhas, que de fato mudou?
Fobia social? Aumentou, deveras.
Depressao crônica? Aumentou também.
Aumentarás a dose de tal fármaco,
ou simplesmente de mim desistirás,
feito ameaçou, quando fomos começar
o tal tratamento?
"ou é do meu jeito, ou não tem jeito."
Fiz do seu jeito.
Nada mudou.
E agora?
Eletrochoque?
Hipno-fraude-terapia?
Ou continuar a "viver", desta maneira
que "vivo" atualmente?
sem nem poder, ter ou ser excitado,
ao tomar tal merda de Parnate?
A mudança deve ser minha?
Então fudeu.
Fudeu, fudeu, fudeu.
Continue a me dar o tal Parnate,
pois, com disse, a última ceia acontecerá,
antes mesmo que o ano termine, pelos vistos.
Exploda em minha cabeça já estourada
todos os vasos sanguíneos ali existentes.
Exploda com tudo.
Não me importo.
Estu morto,
e sei disto.