terça-feira, 27 de abril de 2010

Falha na conexão.

Urgh. Descobri, ao final do dia de ontem o motivo real pelo qual me sentia feito se tivesse corrido duzentos quilômetros ou feito semelhante atividade física; o motivo por estar com o corpo todo doendo é decorrente do fato que estou passando mal. Alguma forma de sinusite, creio eu, ou mesmo uma grips, do esprito de porco ou não, está a me assolar a saúde e deixar meus nervos em frangalhos.

Quando me encontro doente, meu estado de humor, que normalmente ja é bem negativo, fica ainda pior. Cada pessoa é um alvo móvel, um obstáculo que deitaria por terra caso me encontrasse armado com alguma coisa tipo um rifle com silenciador ou mesmo um bacamarte dos mais estrondosos.

Tudo dói.

E dói mais ainda ter que vir trabalhar quando o corpo só almeja estar na horizontal ebem agasalhado, quietinho num canto silencioso qualquer.

E como estou com os pensamentos muito arrastados devido ao consumo matinal e excessivo de fármacos por mim cometido, prefiro não muito aqui escrever. E ver se aguento chegar ao final destas dez horas inúteis que aqui passo todos os dias.

Blah. Só queria dormir. E eliminar 90% dos frangos ao meu redor.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

CinePlex 2010: #2

Penso, penso e penso, mas não chego a lugar algum. Queria não soar mais mau-humorado que o costumeiro, mas creio ser-me impossível fazer tal façanha na data de hoje. Em verdade, não estou tão aborrecido a ponto de querer pôr fogo nas gentes às ruas, mas estou cansado, muito cansado, após um final de semana que foi bem movimentado e que exigiu de mim certa energia que aparentemente hoje está me fazendo falta.

Conforme o próprio título de hoje diz, foi registrada nesta ocasião mais uma de nossas infames reuniôes para o consumo destas iguarias tão saborosas do moderno cinema descartável, que tanto nos oferece filmes engraçadíssimos ou ao menos muito criticáveis. E criticar de maneira bem humorada juntamente com os amigos é sempre bom.

Mas este evento ocorreu de maneira bem diferente dos demais que vínhamos organizando. Fizemos desta vez um churrasco, coisa que não fazíamos desde meados de 2003 se não me engano. Estávamos evitando fazê-lo por conta de preços das carnes e do trabalho maior dispensado na tarefa de se fazer uma queimação de carnes de maneira apropriada. Logo, a parte cinéfila da reunião foi um pouco adiada para mais tarde, após o consumo das carnes.

Não sei bem se isto atrapalhou a ordem das coisas ou seja lá o que for, mas esta reunião foi das mais desanimadas que já tivemos. E de fato, não sei precisar bem o porque, se foi devido a mudança da ordem de consumo dos comestíveis ou por algum outro motivo qualquer. Algumas das pessoas da diretoria do evento só chegaram tarde da noite, quando já estávamos meio cansados devido ao esforço dispendido na duríssima tarefa de comer churrasco e beber cerveja, talvez tenha sido isto, não sei bem ao certo.

Enfim, de qualquer maneira proced comentar sobre as pérolas por nós assistidas, que foram as seguintes:

Evil Dead 3: Army of Darkness
The Dead Next Door
Slugs
Um épisodio da série "Nightmares and Dreamscapes"
Sukiyaki Western Django

Insisti que os demais cinéfilos envolvidos assistissem ao clássico definitivo do cinema trash denominado Fome Animal(Sim, meus colegas ainda nem sequer viram tal filme. É um absurdo), mas foi impossíuvel localizar legendas a tempo para a exibição do filme, que foi adiado para a próxima reunião.

Evil Dead 3 é muito inferior que os demais filmes da série, especialmente seu predecessor, que é um clássico absoluto dos filmes do gênero. A presença marcante de Bruce Campbell como Ash faz muito bem ao filme, com sua atuação a la Jim Carrey do terror, mas senti que o filme estava masi voltado para ser apenas avacalhado do que acompanhar a genialidade da série. Mesmo assim, nem de longe foi o pior filme por nós já assistido. Vale muito a pena, mas não recomendo ver este filme logo após ter visto o segundo filme da série, pois creio que a decepção será grande. Nota final: 7,5, segundo este crítico de cinema. Uhu.

Dead Next Door, que eu já conhecia via relatos de outro amigo meu sobre filmes de terror trash, que o conhecia apenas na alcunha brasileira de "A Morte", é um dos filmes mais nonsense sobre zumbis que já vi. A confusa história gira em torno de um esquadrão anti-zumbis, que agem numa época em que a invasão dos zumbis já aconteceu e é uma realidade inegável na terra, sendo que os zumbis existem por uma infestação de algum vírus. Um "doutor" de jaleco, boné branco pixado de canetinha com alguma frase estranha que nem sequer lembrei de tentar decifrar, se atrapalha tentando eliminar o vírus, de maneira que não ficou para mim bem clara se de propósito ou por inocente engano. A história é muito confusa, mas as cenas trash deste filme são superiores, devendo ser mencionadas. Não é em todo filme que podemos assistir zumbis dilacerando um cara vivo, com direito a toda aquela borrachada vermelha se esticando e aquele catchup se espalhando pelo chão, enquanto os mortos vivos de plástico chafurdam no festim diabólico do spaghetti trash. Algo assim. Recomendo muito, pelos efeitos especiais bem engraçados, e pela famosa cena da falta de sincronismo entre a granada atirada e a explosão conseguinte. Nota final: 9,0.

Slugs. Sobre este título não poderei fornecer a avaliação completa, pois não animei de assisti-lo até o final, uma vez que já estava muito cnasado quando resolveram passá-lo, e por a nossa única cópia estar devidamente dublada...em italiano. Apesar das tentativas inebriadas pela parte de Psico em tentar traduzir o filme simultaneamente, não tive energia o suficiente para ver tudo que rolava ali, mas os que resistiram até o final falaram que nem valia tanto a pena assim, uma vez que a ação do filme é arrastada e as cenas dignas de diversão serem raríssimas nele.

No dia seguinte, resolvemos assistir um episódio da mini-série "Nightmares & Dreamscapes", baseada em contos pequenos de Stephen King. O episódio por nós assistido foi bastante engajante, apesar de não ser trash o suficiente, nem de me lembrar do nome do conto. Me agradou a forma como a história foi narrada quase exclusivamente por imagens, sem ter nenhuma forma da diálogo durante a ação. A série é bem feita, e conta com estrelas internaciuonais, como Wiliiam Hurt, que interpretou o assassino de aluguel que se vê diante do contratempo de ter de enfrentar um exército vingativo...de soldados de brinquedo animados, que procuram vingar a morte de seu fabricante, executado por Hurt ao ínicio do episódio. Nota final - 9,4.

Por último, assistimos o grande vencedor do evento, em minha opinião.
Sukiyaki Western Django é um faroeste...japonês. Com a participação especial de...Quentin Tarantino.

A coisa promete, não?

Pois bem. O filme começa muito bem, com uma cena memóravel com a presença de Tarantino no melhor de sua atuação canastrona. Mas depois ele se perde numa torrente de momentos "que diabos", ou se preferirem, "WTF", para acompanhar as modernas tendências dos internetismos internetais da internet moderna dos dias de hoje contemporâneos. Absurdos visuais como pagodes e arcos japoneses no meio de típicos cenários de faroeste norte-americano, com suas áridas paisagens frequentemente contrastam a narrativa estranah do filme, que também conta com uma história meio que inexplicável entre guerras de gangues rivais dos "vermelhos" e dos "brancos", que tomam conta de uma cidade que esconde um tesouro. A fotografia do filme é atipicamente bela para um título por nós assistido em nossas reuniões. O som do filme é ótimo, com hilárias sequências em que a sonoplastia envolvida é a mais absurda possível, coisa bem inspirada em filmes de Tarantino, ao que entendi. Muito confuso é o filme, em se tratando de termos mais formais como narrativa e...mesmo lógica. Mas achei que o impacto visual e memoráveis sequências, e mesmo o absurdo envolvido em algumas cenas conseguiram torná-lo uma peça que vale a pena ser vista, nem que seja pela curiosidade em si. Eu que não costumo ser fã de westerns em geral, gostei muito do filme. Minha nota: 9,6.

Agora, cá me encontro muito cansado pelo final de semana. Visitas por vezes exigem mais de nós que esperávamos, e falo isto nem me referindo aos hilários cinéfilos que comigo lá estiveram, mas de outra visitante, proveniente das terras de meus avós, que conosco esteve de sexta para sábado. Exercitei meu inglês, que felizmente continua sendo suficiente para com estrangeiros me comunicar, e tive de dar atenção para a visitante, o que costuma cansar. É de se entender que ao término da sessão de cinema eu estivesse com imensa fadiga e imensa dor de cabeça. E olha que nem ao menos bebi nada além de uma latinha do famoso mijo enlatado nacional, que tanto agrada aos brasileiros sedentos por alcóois, por mais nefastos que estes sejam.

E hoje cá estou sozinho a administrar esta rede, e como todos sabem, é a ocasião preferida para se termos visitações de Murphy. Ele cá já esteve hoje, e deve voltar a aparecer mais vezes, pelo que estou vendo. Minutos atrás, um biziu inexplicável quase me fez perder todo este textículo que havia escrito.

Enfim, voltemos ao trabalho, que tanto urge e tanto nos chateia.



sexta-feira, 23 de abril de 2010

Visitações e quejandos.

O estrangeirismo anda muito em voga na vida deste que aqui tanto escreve. Fui ontem informado que na data de hoje, uma de minhas muitas parentas estrangeiras virá pernoitar em minha casa. Ela está aqui a passeio. Creio que depois da temporada que alguns outros parentes lá de fora tiveram aqui, e da propaganda positiva por eles divulgada, teremos muitos visitantes internacionais doravante. Que venham, sempre é bom ter contato com este lado mais distante da família.

Acho engraçado o tanto que minha mãe fica doente quando chegam visitas. Creio ser coisa de mãe mesmo, pois já ouvi relatos de semelhantes aflições maternas vindos de outrem, e são de fato, comportamentos análogos que as mães costumam exibir nestes momentos. Tiram as melhores louças dos armários, limpam a casa do chão ao teto, vestem as melhores roupas e exigem que nós também nos fantasiemos, feito se fosse o Papa ou alguém tão famoso quanto que estivesse vindo ter conosco.

Que fique claro que não estou aqui depreciando os convidados, dizendo que não são importantes e que devem ser tratados como lixo. Não. Mas este exagero por parte das mães às vezes foge do controle. Tenho um amigo cuja família trata os convidados muito bem, mas nem sequer os serve. Dizem apenas, "não espere ser servido ou irá passar fome" e liberam o acesso a toda a casa. Aprecio tal atitude, mas já fui vítima de constrangimento neste lar, pois apesar de dizerem tal mandamento, tenho bom senso - e timidez - o suficiente para passar algum aperto em tal situação. Não me sentia à vontade para sair abrindo a geladeira e me servir. Não por querer que me sirvam, mas por não achar certo sair fuçando as coisas dos outros, mesmo que tenham me dito para agir de tal maneira.

Depois de anos de convívio, já sei que ali a coisa ou funciona desta maneira ou não funciona, e me sirvo sozinho todas as vezes que visito tal amigo, tendo o cuidado para não exagerar na dose das porções ou coisa semelhante. Mas o que acontece ali é um caso bem à parte, pois creio que não conheço outro lugar em que os residentes se comportem de tal maneira com seus convidados.

E falando neste âmbito, lembro-me aqui de outra situação, do outro extremo da situação: quando os anfitriões são excessivamente zelosos. É uma situação também estranha, que pode causar desconforto em tímidos como este escrevente ser. Geralmente a matriarca da família fica tão preocupada em agradar o hóspede que se torna incômoda. E a situação mais hilária ocorre quando estamos à mesa. Não cessam de nos perguntar se estamos satisfeitos, e sempre preenchem nosso prato, mesmo quando já estamos abarrotados até a tampa de comida. E para não fazer feito nem parecer ingrato, comemos as porções extras com aquele sorriso amarelo na cara, "Não aguento mais sua louca! Tá muito bom, mas por Mitra!"

Bem, é raro que eu seja propriamente um anfitrião propriamente dito, mas quiando acontece, procuro ser um meio termo entre o zeloso e o desleixado, para tentar deixar a galera à vontade. Já me aconteceu de me perder neste balanço e me comportar de maneira mui desleixada, confesso. Mas creio que não destratei ninguém ou tenha causado alguma espécie de desconforto aos hóspedes. Não que me lembre, ao menos.

Lembro-me agora que amanhã teremos, além da visitante internacional, a presença de meus compatriotas biólogos em minha casa, para realizarmos mais uma famosa sessão cineplex de cinema em casa, com os mais infames - e divertidos - filmes que a sétima arte já produziu. Creio que não causaremos alguma sorte de incidente internacional, em se falando de ofender a hospéde com nossos hilários filmes de terrir, uma vez que me parece que a parentada tcheca é bem humorada.

Vamos ver como as coisas se passam. E na segunda terei o review completo do evento, que desta vez promete ser mais duradouro, começando no sábado pelo meio dia e durando até o domingão.

Até lá então, e tratem bem suas visitas, mas nem tanto!

Ah, o balanço da vida. Há que se encontrá-lo.


quinta-feira, 22 de abril de 2010

Sumpaulo.

Glug, glug, embebede-se de Red Bull às dez para as oito da madrugada, sr. Buriol. Ao que vemos, o feriado foi bem proveitoso, não? Pois sim.

A canseira não se deve exatamente ao feriado, entretanto. Na data anterior a ele, fui ter à capital financeira - creio que podemos chamá-la disso - do país, mais conhecida como São Paulo. Para um capiau da roça belorizontina feito eu, que em 33 anos nunca havia sequer pisado ali, deveria ser uma experiência quase mística, dizem alguns. Eu digo que não; Sumpaulo não é nada disso que a capiauzisse nos leva a pensar. Ao contrário, achei ser imensamente parecida com nossa roça asfaltada, apenas em uma escala mais monumental. Os mesmos prédios velhos e caquéticos, a mesma quantidade imensa de pessoas que poderiam simplesmente nunca ter existido que não faria a menor diferença para a humanidade.

Fui para aquela selva de pedra juntamente com minhas irmãs para resolvermos assuntos pertinentes à obtenção de dupla cidadania, no consulado da República Tcheca. A coisa estava marcada para as duas da tarde, mas todos conhecem a má fama do trânsito local. Achamos melhor para lá irmos logo cedo, antes mesmo do raiar do dia. Acordamos às quatro da manhã , e mesmo assim só conseguimos apanhar o ônibus das cinco e vinte para o aeroporto. Foi a conta de lá chegarmos e embarcarmos.

Como eu e Marcela fomos em um vôo diferente de minha outra irmã, fomos para também em aeroportos diferentes, ela em Congonhas e nós em Guarulhos. Nos encontramos em Congonhas, após pegarmos um ônibus de conexão entre os aeroportos. No caminho fui constatando o que já disse, o fato que por mais que a cidade seja muito maior que nossa modesta capital, ela é tão somente isto - uma cidade maior, nada mais. As coisas eram muito parecidas, as construções tão sujas e parecidas quanto, tudo na mesma. Só muda a escala.

Felizmente, o horário matinal ajudou no quesito trânsito. De Congonhas, fomos para o consulado, que fica em área nobre de Sumpaulo, no Morumbi. As casas que ali existem são mais palácios que casas, de fato. Chegamos ao consulado, mas verificamos ter sido em vão ali chegarmos tão cedo: os europeus são muito estritos com seus horários e a vice-cônsul não nos atenderia antes do horário previsto. Logo, o que fazer?

Evidentemente, ir para um xópis da grande São Paulo, denominado Eldorado. Ali mataríamos o tempo até as duas da tarde, almoçando nesse interim. Logo de cara percebi algo ali que não temos aqui: o café Starbucks, com toda sua fama internacional, ainda não atingiu BH. Cumprindo meu papel de bom "cafeiólatra", tive que experimentar um dos espressos ali servidos, que são todos servidos em copos de pael, com gradação típica, pequeno médio e grande, mas curiosamente denominados tall, grande e um outro nome que a memória me falhou, mas que não são nada além de eufemismos internacionalizados para pequeno médio e grande, com a diferença única do grande ser médio e não grande. Entenderam? Nem eu. Pois bem, tirando este curioso porém irrelevante fato, afirmo que não sentirei falta de tal café em nossa cidade: é caro e ruim. Ao menos eu achei muito pior que um espresso normal, brasileiro, feito o Pilão, que experimentei no aeroporto de Congonhas.

Fora isto, o xópis era apenas um xópis como outro qualquer. A única diferença marcante que vi ali era o fato que alguns privilegiados seguranças se valiam do veículo mais inútil já projetado pelo homem para o transporte individual, ou Segway. Cá entre nós, o que representou de revolucionário aquele caríssimo patinete?

Depois do almoço McDonâldico, lá fomos novamente para o consulado, esperamos mais um tiquinho até dar as duas horas, e fomos atendidos. Agora é oficial, sou um gringo. Já tenho certidão de nascimento naquela língua esquisita, e o passaporte deve cá chegar daqui a uns dois meses.

Depois, fomos direto para Congonhas, onde Milena teria que esperar até as seis da tarde para apanhar o vôo de retorno a Minas. Já estávamos todos meio que fartos da cidade e dos paulistanos. Descobri mais uma vez que o sotaque deles me irrita profundamente, e bem sei que da parte deles, o nosso sotaque deve ser igualmente irritante ou patético, mas como nenhum de nós irá fazer nada a respeito além de falar mal mutuamente, ficamos neste zero a zero. Bem sei que nosso jeito de manifestar "os plural" e falar "mei qui cumendu as letra tudo" deve soar como um disco riscado aos "zuvidos" dos paulistanos, assim como o jeito deles de falar "cara DE pau, manoo" e estender os Rs até o limite do tolerável aos provincianos ouvidos dos mineiros soa como um festival de pernilongos à nossa cabeceira. Incomoda mesmo.

Mas creio que isto faz parte de sermos integrantes deste tão vasto país, em que bastam algumas centenas de quilômetros de distância para que a realidade mude por completo, mesmo no quesito pronúncia do português. São vários países que aqui existem, ao contrário do país que agora sou cidadão oficialmente, que não vale nem a extensão somada dos estados rivais a Minas, Rio e São Paulo.

De resto, no final da tarde fomos de ônibus até Guarulhos, e conheci outro aspecto nada lisonjeiro da capital paulista - o trânsito infernal. Ficamos duas horas presos no tráfego intenso. O que salvou minha vida neste momento - aliás, por toda a viagem em si - foi o fato que eu estava acompanhado de minhas divertidas irmãs. Eu teria me desfeito de tédio se estivesse preso sozinho naquela prisão sob rodas que demorou duas horas para chegar ao outro aeroporto. E tenho certeza que o dia teria sido infinitamente menos divertido se estivesse ali sozinho. E como tivemos que ali mofar até as onze da noite, foi muito bom estarmos ao menos bem-acompanhados, não é mesmo?

Depois de sofrermos mais um vôo(eu detesto voar), cá chegamos em cima da hora para apanharmos o último ônibus de volta para BH. O próximo só sairia às duas da matina. E confesso que tive mais medo deste ônibus do que do avião. O motorista se aproveitou do horário para voar sob o asfalto, fazendo o trajeto de retorno em 35 minutos, aproveitando para bater um "pega" com um caminhão tanque no caminho, muito para meu desepero e para a indiferença de minha irmã, que agora dormia tranquilamente, ignorando todo aquele absurdo. Ela nem viu o comboio que transportava um helicóptero militar naquela avenida, àquela hora da madrugada. Coisas bizarras.

Enfim, agora cá estou, à espera de lá ter que ir novamente. Se tiver que ser uma viagem análoga aque tivemos na terça feira, não será tão problemático assim. Eu achei que seria um dia terrivelmente lento e enfadonho, mas achei até que passou bem rápido e foi afinal de contas um dia proveitoso, não só por termos resolvido esta coisa, mas pelas conversas e experiências que vivenciei no decorrer de tal dia. Fizeram valer a pena.

Agora, ontem eu tive um verdadeiro "crash" de cansaço durante todo o dia. Ainda bem que era feriado, ou eu teria dormido horrores em cima deste teclado. Pude dormir tranquilamente em minha casa, em minha cama. Creio que quando tivermos que repetir a dose, não poderei contar com esta vantagem. Veremos.

Agora, vamos voltar ao mundo real e trabalhar, enquanto espero o passaporte que - quem sabe? - irá me proporcionar uma forma de mudar radicalmente de vida daqui a um tempo.

A ver.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Resumo findsmanal.

Pisco e repisco os olhos, mas o sono não me abandona. O sono e o cansaço. Presumo que seja até, de certa forma, um bom sinal para o começo da semana. Começar a semana cansado talvez seja um indicativo que o final de semana esteve bão.

E esteve. Felizmente, esteve. Muitas coisas boas se processaram durante o final de semana, todas relacionadas ao âmbito musical, eu diria.

Tudo começou na sexta feira, data em que tivemos a sorte de nossa cidade ou imensa roça asfaltada ter sido inclusa na rota de shows da turnê 2010 da banda inglesa denominada Placebo. Confesso não ser o mais inveterado fã da banda, mas mesmo assim, gosto dela o suficiente para justificar gastar uma considerável quantia de dinheiro no ingresso inteiro para o show. É muito raro termos algum show de renome em nossa esquecida capital, e não poderia recusar tal oportunidade de conferir de perto a esquisitice daqueles sujeitos estranhos que compõem tal conjunto.

Infelizmente, nos atrapalhamos à entrada do espetáculo, pois chegamos um tanto mais cedo que o previsto para o início do show em si, e ficamos de bobeira à porta do "estádio." Apenas para perceber que o show já havia começado há uns quinze minutos. Entramos correndo, e constatamos ter perdido já umas três músicas. Maldição, mas fazer o quê? Entremos e aproveitemos o resto, que ainda reservava muita coisa.

Eles tocam muito, e gostam de diferentes sonoridade e afinações, pelo que pude perceber logo de cara - Brian Molko trocava de guitarra a cada música que iam tocar. Tinham umas oito guitarras diferentes sendo cuidadas por um roadie no canto esquerdo do palco, e do outro lado um outro roadie cuidava de mais uma ruma de instrumentos que o outro bizarro baixista/guitarrista da banda usava. Felizmente o show foi executado no Chevrolet Hall, onde a sonoridade é boa, e o som da banda não virou aquela confusão sonora que caracterizam shows no mineirinho, por exemplo. Deu para identificar bem alguns timbres diferenciados dos instrumentos.

Placebo era inicialmente um trio, mas nos shows eles contam com uma turpe de assistentes sonoros, por assim dizer, que inteirou bem o som deles. O destaque principal foi a lourinha tecladista/violinista que ficava no seu cantinho, mas que roubava a cena todas as vezes que se pronunciava mais, em sonoridade e em...bem, digamos, visual. Havia um outro par de caras que alternavam em funções de baixo, guitarra e teclados adicionais.

Lamentei o fato da banda ter literalmente excluído músicas de seu repertório mais antigo, que são muito melhores que as composições mais novas, mas quem sou para ditar regras a esse povo? A galera presente curtiu muito, e, apesar de parecer que nem iria ser um show lotado, retardatários terminaram de encher bem a casa. Preocupei-me com a atitude da banda caso não houvesse quorum o suficiente, pois creio que todos nós já ouvimos falar casos de enervadas estrelinhas do rocke, que se irritam com tais picuinhas e se comportam mau, abandonando o palco mais cedo ou provocando a ira de seus fãs se comportando de maneira arrogante.

Não aconteceu. A galera estava empolgada, com a língua afiada para cantar junto com a sr. Molko, que me pareceu agradar bastante do resultado da noite de rock na roça. Eu também gostei muito do show, e depois de ter brigado um pouco com as cabeças mais altas que a minha no meio da pista, arrumei o local ideal na arquibancada direita, perto do palco. Assisti boa parte do espetáculo sentado tranquilamente, sem ninguém para me bloquear a visão. Gosto de ver os equipamentos dos operadores das cordas elétricas, e poosso afirmar que ambos os principais operadores de tais instrumentos na banda têm um arsenal de pedais impressionante.

Apreciei muito também a forma com que a banda em si tratou a audiência, sem estrelismo exacerbado e sem picuinhas. Houveram alguns discursos pertinentes da parte de Brian Molko, e rolaram os tradicionais "brigados" altamente recobertos de sotaque de sua parte. Ao término do setlist, fizeram a tradicional saída para o cigarrinho, e voltaram ao palco para fazer o bis, após terem sido conclamados pela galera em geral. Ao término de tudo, todos os integrantes se juntaram à frente do palco e se curvaram respeitosamente ao público, coisa que acho bacana; como já disse, aprecio muito as bandas que valorizam seus fãs.

Mas os aspectos musicais do final de sumana não pararam por aí. No sábado, houve sonora reunião musical em meus aposentos sotãonescos, e posso afirmar que a coisa rendeu bem. Minha parceria com minha irmã e Felipe de Mattos nunca havia sido tão proveitosa como o foi neste final de semana, onde fizemos o rearranjo musical de uma música da autoria de Felipe, e começamos a dar forma em outra da autoria de Marcela. A coisa está se mostrando promissora. Algumas das bobaginhas que criei também foram bem consideradas e correm o feliz risco de serem mais trabalhadas futuramente.

O lado negativo foi de ter-me exaurido quase completamente depois disso tudo; no sábado à noite mesmo, caí no sono antes mesmo de conseguir tomar um banho após o ensaio. Esperava eu ter forças para comparecer a um churrasco ali perto, mas só acordei às sete da matina do dia seguinte, em minhas roupas do dia anterior. E ontem fiquei o dia inteiro em estado semi-letárgico, auxiliado também por uma insistente dor de cabeça que teimou em ir embora.

Enfim, a coisa foi boa, mas nem tudo foram flores. Que seja. O resultado final foi bom o suficiente para mim. E esta semana será um pouco encurtada em relação às outras, creio eu. Amanhã mesmo terei que falhar em cá escrever, por motivos que serão mais bem apresentados posteriormente.

Aparecerei de novo na quinta feira, nesse interim, estarei eu alhures, resolvendo outra parada importante neste ano tão corrido que estamos tendo.

Até lá então...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Doroga!

...E eis que na tarde de ontem, quase ao término do expediente, tive o desprazer de assistir a mais uma manifestação em prol do caos do trânsito belorizontino, que já é uma maravilha por natureza. Por que não acrescentar mais uma turba de professores revoltados com seus salários para fuder tudo de uma vez? Excelente idéia, não acham?

Pois ontem isto ocorreu, a exemplo da quinta feira passada. Tive ímpetos assassinos contra os profissionais da educação, mas me limitei a madar todos às favas mentalmente e com gestos obscenos lhes dirigidos daqui deste sexto andar. Ninguém viu, ninguém sentiu, e ficamos todos na mesma. Acontece que eu não queria de forma alguma andar até minha casa, então procurei uma saída alternativa. Arranjei um encontro com amigos na Savaca, até que a poeira baixasse e o trânsito voltasse a ser apenas irritante.

Pois bem, ontem aconteceu o inusitado fato de ter-me inebriado com aquele mijo engarrafado que é a cerveja nacional, néctar dos deuses dos brasileiros. Confesso embaraçadamente que fazia muito mas muito tempo que não enchia tanto a cara daquela maneira. Ao menos não fiz como outrora, e parei antes do limiar entre a tonteira e o telefonema ao Juca proveniente do orelhão de louça. Tampouco cometi nenhuma afronta a mim mesmo na forma de palhaçadas cretinas e ridículas, como costumava acontecer todas as vezes que eu enchia a lata. Fiquei bebâdo, é verdade. Mas fiquei pianinho, na minha, sem fazer merda.

Infelizmente, ficar sem pensar merdas nestas ocasiões é-me quase impossível. A álcool tem destes efeitos sobre minha personalidade estranha. Causa-me reflexões sempre nefastas, por algum motivo ou outro. Fico rindo de pessoas que afirmam que bebem para se soltar, para relaxar. Eu, que já sou este poço de espontaneidade e descontração, torno-me ainda mais arredio e desconfiado, especialmente de mim mesmo("estou muito bebâdo e ridículo", "devo estar falando muita merda", "aquela moça que me parece neste momento tão especial é uma fubanga deformada por esta merda circulante em minhas veias", etc.)

A coisa ontem não foi tão feia assim, pois me diverti muito com meus amigos e até escutei bons conselhos, muito relevantes para a vida e para a ocasião. Nada de epifanias: somente boa conversa, mais nada. Mas no meio de toda esta filosofia de buteco, todas as viagens erradas e certas que tive durante a inebriação, houve um pensamento que já havia tido antes, mas que nunca havia discutido a respeito. Aconteceu quando já estava eu em casa, encostado na parede do box, tomando meu banho.

Quem será que foi foi o primeiro bebum da história? Como será que algum dia alguém ingeriu uma bebida que tivesse álcool em sua composição pela primeira vez na linha do tempo?

Imagino que tal coisa tenha acontecido por acidente. fico pensando em um sujeito sovina, que ficou revoltado ao ver que seu estoque de suco de uva tivesse "estragado" em fermentações, e na raiva e na ânsia de ser o unha-de-fome que sempre o fora, tenha bebido tal infusão. E foi se tornando cada vez mais relaxado e alegre. Fodam-se os tonéis de suco de uva! A vida é bela, e tudo gira gira gira. Algo assim.

Penso de tal forma com várias coisas. Imagino sempre que o primeiro queijo foi produzido por acidente, de maneira análoga. Uma porção de leite que se estragou e que algum psicopata tenha comido de raiva, se surpreendendo com as possibilidades surgidas por tal acaso. E mais pra frente, algum outro descuidado sovina, provavelmente francês, descobriu que seus queijos tinham mofado, e novamente agiu com raiva e impulso, e devorou a massa agora "fungada", e tenha se surpreendido com o "aroma excepcional" de tal acidente. Pode ter sido assim.

Imagino que os primeiros porres de álcool tenham sido por acidente, mas paro para pensar em outras hipotéses, envolvendo outras "dorogas" e me embasbaco. Imagine o primeiro cara afumar um cigarro. Como será que isto aconteceu? Quem será que teve uma idéia como esta, "se eu secar estas folhas, enrolar elas nesta outra folha, fazer um canudo, e depois tacar fogo e aspirar a fumaça resultante, vai ser muito bom."??

Que idéia é esta. Quem hoje em dia imagina tal coisa? Somente pessoas que já estão doutrinadas, acostumadas com a idéia de fumar, mas que estão "cansadas" de seus cigarrinhos caretas e querem ver se tal planta tem um efeito mais legal. Imagino que tenha sido assim com a maconha, que a idéia de se fumar tal planta tenha surgido após a invenção do cigarro "normal" de tabaco.

Por acidente devem também ter sido as primeiras "experimentações" com outros tipos de dorogas, como os cogumelos. "Ah, estou com fome e estes cogumelos me parecem ser comestíveis." Imagino que muitas pessoas tenham morrido nessa brincadeira também. E o mais engraçado, é que muitas destas substâncias que causam tais modificações no estado de consciência, são agentes defensivos das plantas e demais seres que os produzem. Agentes tóxicos, inseticidas, repelentes. E lá vamos nós fomens fazer uso deles para nossa recreação, literalmente nos intoxicando.

A mente humana é algo interessante, e que se cansa muito de sua realidade, presumo eu. Senão por que haveria procura por tais substâncias. Por ser legal, por ser divertido. Por ser tóxico? Não pensemos nisto enquanto nos inebriamos. Saúde. Passe a bola. Me arruma um aí, e por aí vai.

Bem, penso e penso, mas não chego a nenhuma conclusão. Apenas me sento aqui, tomo minha coca-cola obrigatória para momentos como este, e escrevo tais linhas, agora lúcido, agora desperto. E vejo que por vezes, é até bom se desligar quimicamente de nossa triste realidade. Por vezes, veja bem. Não recomendo a ninguém o vício.

E hoje, aguardo ansiosamente a noite e seu espetáculo vindouro, este musical e não químico. Mais sobre isto comentarei, provavelmente, em mais uma segunda nauseabunda que virá. Veremos, até lá.

E bom final de semana a todos. Cuidado com o uso dos agentes tóxicos, hein? Eheheheh.



quinta-feira, 15 de abril de 2010

Johnnie Walker ou o doido que anda feito doido.

Hoje, encontro-me confortavelmente aquecido, por mais frio que a manhã esteja, neste iníco de inverno belorizontino meio que fora de hora. Pois vim andando, da Afonso Pena até aqui, uma caminhada que já me acostumei nestes anos que me encontro encerrado na contabilidade dos numerários alheios. São quase dois quilômetros de caminhada. Não acho grandes coisas, mas me parece que a sedentária população mundial considera isto como uma intransponível distância. Me olham estranho todas as vezes que comento a respeito de meu hábito de para cá vir, usando apenas meus pés. Presumo que andar seja algo em desuso nestes dias de tantas opções menos onerosas para as solas de nossos sapatos, algo assim.

Comentei o fato com uma pessoa hoje de manhã, e diante da reação de estranhamento, prontamente acrescentei mais dados andarílhicos de minha pessoa. Ao que recebi aquele olhar típico: este cara é doido. Tem à mão passagens pagas pela empresa em que trabalha e não os utiliza; prefere chegar no emprego a pé. De fato, não é muito lógico, se formos analisar a coisa por este lado. Acontece que sou um cara que fica dez horas por dia sentado à frente de um computador, estou ficando cada vez mais velho e portanto propenso a ter problemas de saúde, e creio que todos sabem que sedentarismo aumenta em muito sua não-saúde. 
Logo, o que fazer? Tenho a mesma falta de tempo que todos que passam dez horas por dia aqui enfurnado. Preferi aliar a necessidade de cá chegar com a vantagem "esportiva" de para cá vir andando. Assim posso chegar em casa à noite e não ter que me preocupar com eventuais caminhadas e mesmo me permitir certas comilanças de quando em vez, coisa que muito aumenta o diâmetro de meus companheiros escrotoriais, que lá ficam reclamando de suas crescentes barrigas sem nem saber por que elas estão aumentando cada vez mais. 

Certo, sou meio doido mesmo por fazer tal coisa, ainda mais agora que vejo tal fato por escrito. Mas é um hábito que me acompanha já faz muito tempo. Na época em que entrei na biologia, uma das épocas mais negras monetariamente falando de minha vida, eu recebia grana para apannhar quatro ônibus por dia - dois para ir e dois para voltar - e mais uma quantiazinha para almoçar no infecto bandejão do campus. Eu não tinha grana nem para xerocar os textos necessários para as provas. Depois de um mês, descobri uma "brilhante" maneira de conseguir salvar um dinheiro. 
Passei a pegar um ônibus para ir de minha casa até o ponto final dele, que ficava na boca da favela perto do xópis Del Rey, e andar o resto até o ICB. E quando voltava, fazia o caminho oposto. Junte-se a isto o fato que passei também a embolsar o dinheiro do almoço, passando a me alimentar de quatro fatias de pão de forma todos os dias....e você tem um cara que perdeu vinte quilos em seis meses. 
Saudável, de fato. Muito. Eu precisava de perder peso naquela época, pois tinha o traseiro do tamanho da lua e calças que não me serviam. Hoje em dia, cabem dois de mim naquelas calças que não me serviam. Mesmo que tal dieta tenha sido eficaz para emagrecer, não a recomendo a ninguém. Credo. Mas desde então, sempre que me apanhei com a necessidade de chegar nalgum lugar que os carros e autocarros desta cidade não possam me transportar, já planejo a minha caminhada. Pé por pé. Naquele maldito dia da greve infernal dos ônibus, andei e cá cheguei, sem atrasos, sem ziguiziras. No dia da paralisação dos professores, eles pararam o centro da cidade. Lá fui eu a pé para casa. Cansei, muito, mas cheguei sem maiores problemas.

Bem sei que soa deveras patético um cara de 33 anos relatar que anda muito mais do que deveria, em uma idade que o que se é esperado é que tal marmanjo possua ao menos um carro, mas eu sou este ser abjeto e à parte da normalidade, conforme qualquer um que já tenha lido as coisas que cá escrevo pode constatar, mas não me apoquento muito por este fato. Se a necessidade surgir, ando sem problemas. E sinceramente, prefiro agir detal forma do que me tornar um ser cada vez mais rotundo, a exemplo de meus colegas de escritório.

E neste inverno incipiente, já comprovei que cá posso chegar pelas manhãs sem maiores problemas; digo isto por que tenho o bom senso - ainda que esparso - de saber que uma caminhada para cá na época do calor, faz-me aqui chegar suado feito um porco. Neste período me comporto como um reles assalariado normal e apanho o ônibus para cá. Não sou tão doido a ponto de trabalhar todo melado e fedido. 

Bem, a normalidade passa longe deste ser que tnato escreve, como podem perceber. Ao menos tenho hilárias histórias de auto degradação em tediosos momentos. Ao menos isto eu posso afirmar que possuo. 

E agora, o ser andante deve aqui ficar estacionado pelas próximas 9 horas, aproximadamente, e tentar fazer algo com sua inutilidade. Vejamos se a leitura do maravilhoso mundo dos servidores de rede hoje rende...
 

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Desenhos de grama.

Curioso. Passam-se anos e mais anos, e certas memórias são muito bem conservadas em nossas cabeças, coisas que nem são tão importantes assim para nossa sobrevivência nem nada, lá ficam resguardas, conservadas da ação degradante do tempo e da vida. Existem sem que nem ao menos nos demos conta que lá estão, a não ser em raros momentos, como o que aconteceu nesta manhã.

Estava sentado esperando o ônibus na praça do Papado indefinível e inemovível, esfregando as mãos para tentar aquecê-las diante daquele friozinho que está teimando em habitar irregularmente nosso país, segundo os metereologistas e entendidos na área, e de repente olhei para a grama orvalhada e me lembrei daquilo que estava há anos encerrado em minha cachola.

Fui transportado para outras eras, nem sei ao certo que ano do ínicio da década de 80, eu diria, em algum remoto inverno da cidade de João Monlevade, onde morei até os sete anos de idade. Ia a pé para a aula no pré-primário, como era conhecido esta pré-escola em tal época, e no caminho ia encontrando com meus amigos de então, gente que minha memória falha em absoluto para se lembrar como conheci. O grupo ia se tornando maior à medida que descíamos aquela rua.

Na época de inverno, que era bem rigoroso naquele buraco que é Janmonleva, a grama alta dos jardins defronte às casas, ficava toda "suada" de orvalho, e em raras, raríssimas ocasiões se transformava em geada. Esta grama alta e orvalhada se tornava um brinquedo para nós, os moleques daquela rua.

Saíamos correndo por entre às folhas esbranquiçadas pelo orvalho, encharcando os sapatos e as meias quase por completo, e fazíamos desenhos na grama com nossas passadas. Como eram muitas as casas até chegar à escola, muita era nossa diversão, mas algumas vezes minha turma se deparava com um gramado já por outros violado e parávamos desolados imaginado quem teria tido a audácia de violar nosso playground. A contemplação e o despontamento não duravam muito tempo, entretanto. Já avistávamos outro virgem jardim mais adiante, e lá íamos tirar a forra.

Acho que algumas vezes chegávamos até atrasados à aula por causa dos desenhos na grama. Me lembro que, apesar de tal brinquedo ser a glória no momento que precedia nossa prisão escolar, era o inferno para o restante das frigidíssimas manhãs naquele lugarejo. Os pés quase se enregelavam quando sentávamos às nossas carteiras e assistíamos as aulas.

Mas valia muito a pena. O caminho para a escola era como se fosse um prelúdio, uma preparação infantil para o que teríamos que enfrentar em nossa idade adulta, aquele momento em que você está indo para seu serviço e pensa, "estou indo para o inferno." Para uma criança, assim era o inferno: ficar trancado na escola, privado das brincadeiras de rua e correrias.

Em tais manhãs de inverno, entretanto, já chegávamos bem mais dispostos para a aula, pois muito nos divertíamos em nossas corridas por entre as geladas lâminas das folhas de todos aqueles gramados. Era a glória matinal que precedia o tédio da escola.

E hoje de manhã, ao olhar para aquele imenso gramado de tal praça, lembrei-me instantanemante de tal momento, e de repente me vi menino novamente, com ímpetos de me incorporar em um mago que conjuraria meus amigos de então, para que mais uma vez fossêmos correndo nos divertir em traçar aqueles desenhos no orvalho do gramado. Imagina a glória que não seria atingida em um gramado tão grande como o da praça do Papa.

Mas aí as pessoas adultas chegaram, me cumprimentaram e me afastaram de minha epifania saudosista da manhã. E o coletivo não tardou a chegar, me afastando daquela visão que nada significaria para um outro cara qualquer, mas que nesta manhã de abril me transportou para o passado muito remoto de minhas lembranças escondidas em algum lugar desta estranha massa pensante que é o telencéfalo humano.

Se algum dia tiver rebentos, espero que eles tenham muitos gramados orvalhados no caminho da seriedade representada pela escola. Que tal caminho seja orvalhado. E que desenhos bizarros sejam traçados no gélido painel que se ali se apresenta para as bem-aventuradas crianças.

E agora, deixemos de imaginar e de viajar, que o dia mal começa e temos que trabalhar.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Tipo isso.

Um grande consultório médico. Algumas pessoas sentadas às cadeiras aguardam sua vez. Entra um senhor muito magro, trajando uma patética roupa de urso, que caberiam dez caras como ele. indiferente à galhofa alheia dos demais presentes, ele se dirige para a incrédula atendente, que muito faz esforço para segurar o riso. "Boa tarde e boa noite. Bom dia! Vim ter com o doutor Sacripantas acerca de meu procedimento cirúrgico."

A secretária, fazendo força para não explodir em riso, e ficando deveras avermelhada devido a tal hercúleo esforço, lhe pergunta o nome, entre risadas fracamente disfarçadas. "Pois, sou o Senhor Urso. Mas ainda pode me jamar de Austregésilo Bernardes." Ficando cada vez mais tingida de vermelho, com as faces em chamas devido àquele excesso de sangue, a secretária pede para que o Senhor Urso se sente.

As demais pessoas da sala, desprovidas da hipócrita necessidade de não ter que rir de um cliente de seus empregadores, se dobram de tanto rir da insólita cena. Finalmente, após umas duas ou doze horas de espera, como é de praxe que médicos façam esperar à seus pontuais pacientes, o médico sai de seu escritório e apanha a ficha do próximo.

Franzindo a testa e olhando para a secretária com cara de interrogação, ele anuncia o nome, "Senhor...Urso?" Ao que nosso herói se levanta, triunfante. "Cá estou doutor." O médico, finalmente percebendo do que se tratava, já começa a estressar. "Que brincadeira é esta? Isto é um consultório, e sou um médico sério!"

Ao que o outro replica, "E eu sou um homem, digo, urso igualmente sério, doutor. Baixe seu tom de voz pois estou pagando a consulta e exijo tanto respeito quanto o senhor exige!" O doutor olha incrédulo para seu paciente. "O que veio fazer aqui afinal? Isto é uma Central de Cirurgia Estética, não um circo!"

"Vim arranjar os detalhes para minha lipoinsiração." - "Creio que o senhor quer dizer LIPOSPIRAÇÃO, não é não.", diz um dos presentes na sala. O senhor Urso solta um olhar fulminante para ele. "De forma alguma. Eu quero que injetem gordura em meu corpo até que meu corpo preencha este espaço vazio que me circunda nesta pele."

Segue-se uma gargalhada geral na sala, e a secretária tomba ao chão, mandando às favas todo seu fingido profissionalismo para com pacientes. O médico continua sem acreditar no que ouve. "Que diabos o senhor está pensando? Eu sou um profissional sério! Nunca, jamais faria tal procedimento." O senhor Urso retira uma pistola Colt 1911 .45 de algum local indefinido por debaixo de sua "fantasia" e aponta diretamente para a cabeça do médico. "O senhor irá fazer minha cirurgia nem que eu tenha que lhe matar para isso."

O médico não se altera. Tira de seu bolso uma caneta e começa a mordiscar o cabo. "Pois, se estiver morto, será difícil de fazer qualquer coisa, não é verdade?"

Bang.

O médico tomba morto ao chão, e o pânico se instaura no consultório. Alguns dos pacientes mais inclinados a serem mais fatalistas, e com sérios sintomas de loucura induzida por uma infância regada a "Lemmings", se atiram em fila pela janela. A secretária nada ouve, nada vê, pois sua cabeça havia estourado devido a imensa pressão causada pelo riso contido. O senhor urso faz alguns passes estranhos, acompanhados da seguinte fala, "Eu sou o senhor dos mortos, um necromancer autêntico, treinado por um site da internet! Exijo que o médico se levante dos mortos!"

A secretária se levanta como um autômato leventemente defeituoso. "Droga. Eu sabia que deveri ter estudado mais a fundo aquela lição." A secretária levanta os braços e começa a grunhir, "Mioloooooo....." O Senhor Urso, levemente impacientado, indica a porta e diz, "Existe uma excelente casa de vinhos em oferta no final da rua. E se quer um conselho, compre um Bordeaux MCCXXXLLLCCCVVVVKKKKK. Excelente ano, este." - "Bordeauxxxxx......"

O senhor Urso refaz os passos e desta vez o médico se levanta. "Agora sim. Fará o que eu ordenar. Está frio demais, e quero passar seis meses hibernando feito um urso, e o senhor está me atrasando a vida." O médico-zumbi olha para ele com cara de vaca de presépio e diz, "Grainnnnnssss...." O Sehor Urso, esbaforido, se lamenta. "Mas que merda isso. Parece que abati um almofadinha que se gaba de falar inglês e ser vegan." Ao que o doutor zumbi olha para ele com ar ofendido e diz, "Grainnnnnssss.....braaaaannnnnn...."

"Mas que inferno isto. Quero só que me injete gordura, seu animal. É tão difícil assim?" O reanimado doutor pisca uma, duas vezes e replica, "Brown sugaaaaaaaar." O senhor urso perde a paciência e dispara vários tiros que abatem impiedosamente o ex-médico. "Eu odeio neo-hippies que só pensam nestas comidas saudáveis. Sou muito mais devorar uma bela fatia de bacon."

De repente a porta se abre e eis que ressurge a Secretária, já um tanto carcomida pelo acelerado processo de putrefação causado pela zumbiência. Estava carregando uma garrafa de vinho e duas taças. E trajava uma sensual lingerie que deixava ver todas aquelas pústulas fedidas e que vazavam um caldo esbranquiçado e fedido. Entre seus dentes está uma rosa. "Bordeauxxxx.......sexooooooo...." O Senhor Urso, ao perceber a merda que se meteu, tenta disparar contra a apaixonada reanimada, mas verifica para seu desespero que gastara todas as balas restantes no ex-doutor.

"Agora fudeu! Afaste-se de mim, criatura!" Ao que a cambaleante e provocante morta-viva replica, "Sexooooooooo...." - "Não! Não!" Em seu desespero, o atrapalhado necromante tenta executar uma manobra mais avançada por ele lida no site de necromancia, mas para seu horror, tal manobra só faz com que o doutor zumbi se reconstituísse magicamente e se reerguesse. Ele olha para a secretária e diz, "Vagabundaaaaaaaaaaa....." E a outra replica, "Broxaaaaaaaaaa...." E caem no tapa, na medida do possível permitido pelo estado que a zumbiência lhes permite.

O Senhor Urso tenta aproveitar a deixa para dali escapar, mas é apanhado pelo volume excessivo da fantasia. Ambos zumbis olham para ele e dizem, "Menage a troissssssssssss....." - "Não! Não! NÃÃÃÃOOO!!!"

A porta do consultório se fechou, e dali de dentro só escaparam sons estranhos daquela bizarra sessão de libertinagem sexual. E todos viveram - ou não - felizes para sempre, até que os vermes terminaram de comer toda aquela repugnância.

E fim.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cu-meçar de novo!

E que comecem os jogos semanais escrotoriais escravocratas mudernos. Ou seja, é segunda. Aquela manhã remelenta mais adorada por todos nós meros mortais com menos de muitos milhões no bolso ou na conta das ilhas Cayman. Ah, foda-se também. O final de semana foi muito bom, e igualmente muito frio. Não sei ao certo como foi a barra aqui em Belzonte, mas lá pros lados do Retiro das Pedras, o bicho estava pegando. E isto foi só a primeira leva de frio deste ano, inda tem mais por vir.

Falar do Retiro e falar de frio é quase um pleonasmo, se não for de fato. Mas, como não sou nenhum novato na arte de lá comparecer em eventuais finais de semana, fui devidamente preparado com minhas tantas camadas extras de roupas e meias, e passei até bem. Um friozinho faz até bem, desde que estejamos devidamente agasalhados.

E o que aconteceu de tão bom no final de semana? Nada de mais, creio eu. Apenas reuniões com pessoas legais, conversas agradáveis, a estadia no quarto mais legal do mundo(ele continua sendo, só perdendo para meu sótão em si), consumo de cervejas propriamente ditas e não este mijo enlatado nacional que nos empurram em cada botequim desta cidade, deste país. Fui apresentado à variedade Pale Ale na ocasião, e achei bem boa, opinião que geralmente custo a ter em se tratando de cervejas, pois ainda sou daqueles que prefere muito mais uma bebida ordinária feito um refrigereco. Segundo meus companheiros de butecos porraí, é questão de costume. Pois sim. Não faço muita questão de implementar tal costume tão cedo ainda em meu corpo, portanto nem me importo tanto; mesmo assim, a cerva esteve boa, devo admitir.

No mais, consegui finalmente adiantar um projecto de presente criativo, ou seja, desenhado, para um de meus melhores amigos, e isto também me fez bem. Esta promessa de tal presente está quase fazendo aniversário, e creio eu que não estará pronto até a data do aniversário em si, mas ao menos agora eu posso dar uma resposta melhor a meu amigo: ao invés de "não fiz ainda", "nem comecei", "tô sem idéias", "vai se fuder" e outros tantos impropérios, agora eu posso responder, "Estou fazendo! Vai se fuder.", como é de praxe em nossas comunicações.

É muito bom fazer as coisas. Estes projetos pessoais que todos temos, ou aquelas pequenas obrigações diárias que não são tão vitais assim - consertar alguma parte defeituosa da casa, arrumar o quarto, etc - que tanto adiamos. Já repararam como a não execução destas picuinhas acabam virando um inferno mental? Quanto mais adiados, mais eles nos apoquentam. Como disse um outro amigo meu, utilizando-se de uma frase muito pronunciada por um tio seu e que acabei transformando em sábio ditado, "O trabalho que mais cansa é aquele que você não faz."

Bem verdade, isto. Como disse, estou longe de terminar tal projeto, mas venci a inércia. Creio que por vezes esta seja de fato a pior parte: começar a fazer as coisas. As coisas fluem bem mais tranquilamente depois de vencido este primeiro passo. Evidentemente, nem sempre é assim, bem claro esteja, pois nem todo projeto pode ser resumido a isto, mas neste meu caso, foi bem assim. Ao menos a coisa agora está andando, e é essencial não deixar esfriar agora, caso contrário, o drama mental irá se iniciar novamente, e quero muito reduzir tais choramingações mentais estes dias. Ando bem farto delas.

Veremos como se sucede. Agora, vamos retornar à vida real, pois a manhã está apenas começando e há muito o que fazer, em projetos menos legais porém obrigatórios no contrato social de ser um assalariado de uma empresa como esta aqui. Trabalhe, vagabundo!

Sim, sim. Mais informações no decorrer dos acontecimentos. Antes de mais nada, um suco preto de acordar será bem vindo. Como não como não. Sem café, não sou nada.

Ah, cafeína. O que seria do mundo sem você? Nádegas, nádegas.

E depois desta nota infame, é melhor que eu realmente bata em retirada. Até!



sexta-feira, 9 de abril de 2010

Bate-pernas!

Acho que eu nunca odiei tanto o corpo docente de Belo Horizonte tanto quanto o fiz ontem. Muitos que cá habitam devem ter percebido a zona que eles criaram no centro da cidade por conta da greve deles(aliás, que está acontecendo este ano? É ano nacional das greves??) Não quero saber de motivos, não quero entrar em discussões. Têm lá seus motivos e lutam por eseus direitos, mas a baderna por eles causada ontem me afetou diretamente na hora de ir embora.

Como é de meu hábito, saí andando daqui até a Afonso Pena. Levo muito menos tempo, passo muito 'menas' raiva e tenho que aturar muito menas gente do que se apanhasse um coletivo qualquer. Mas eu podia ver que a greve e sua manifestação, que partira da praça da Assembléia às cinco da tarde marromenos, estavam fazendo seu estrago no trânsito. Estava tudo parado, agarrado. Nenhum carro se movia e o buzinaço corria solto no ar, ainda que a regra universal da física e do trânsito dite que dois corpos NÃO ocupam o mesmo lugar no espaço, por mais que se buzine.

Cheguei à Afonso Pena e imediatamente vi que estava fudido: o ponto de ônibus estava absolutamente lotado daqueles maravilhosos seres que são os fumequeiros, aqueles seres tãããão inteligentes que teimam em lotar meu ônibus. Na hora já olhei e disse para mim mesmo: "é, estou na merda hoje." Pensei o quanto seria bom se tivesse que dar aula naquela quinta, pois até as nove a coisa deveria ficar mais tranquila. Mas não era dia de aula. Pensei em contactar alguns amigos meus para ver se animavam ficar em algum canto esperando o caos baixar, mas eis que meu telefone molecular estava irremediavelmente morto, sem carga.

O que fazer? Fui até a casa dos Quadrinhos, para ver se havia algum companheiro por lá, mas nada feito também. O que me restava fazer? Ir para casa a pé. Mesmo assim, ainda andei até a Savassi, com a esperança de ali encontrar alguém. Acontece que o caos dos professores parou a cidade quase inteira: não havia quase ninguém nas mesas dos bares da Savaca, coisa muito incomum para uma quinta feira, acredito eu. Nenhum conhecido ao redor, nada.

É. Voltar a pé para casa! Uhu!

Subir e subir, e andar e andar. Quando cheguei novamente à Afonso Pena, vi que a coisa estava mesmo feia. Ninguém descia, nada subia. Tudo estava parado. Fiquei de olho para ver se algum desgarrado busão subia a avenida, mas não. O lado que subia para o Mangabolhas estava quase deserto, os únicos veículos que ali existiam eram bem-aventurados carros que por algum motivo encontraram vias alternativas para ali chegar. Não havia um único ônibus subindo.

E como aquela avenida é longa. Ontem eu pude contemplar de perto, sentir na pele o tanto que aquilo é comprido e como é um morro gigantesco. Me senti um verdadeiro alpinista. Galgava tudo aquilo como se estivesse de fato escalando uma gigantesca montanha. O que de fato eui estava fazendo. Quando se olha o mapa de BH no Goooooooooooooogle maps, nem parece ser um trajeto tão árduo assim; longo, de fato, quase sete quilômetros, mas o que realmente mata ali, não é mostrado em mapas bidimensionais.

A subida, essa sim, mata. Inda mais que é praticamente interminável. Você sobe , sobe e sobe e não chega. E a subida vai piorando à medida que fui me aproxiamndo de casa: ali sim é a base da Serra do Curral, e a avenida que precede o bairro é das mais imperdoáveis para os andarilhos feito eu, especialmente quando se chega à base da praça do Papa. Ali, a inclinação do morro cresce uns quinze "degraus" ao menos. Minhas pernas já estavam pedindo arrego. E mesmo vencendo aquele morrão, ele NÃO é o último, maldito hábito dos homens em viver em locais elevados, por mais aprazível que seja para as vistas. Garanto que ninguém pensa nas pernas nestas horas.

Enfim, consegui chegar em casa, após uma hora e meia de marcha acelerada e quase initerrupta, partindo de um trajeto nada lógico para a distância transposta. Cá estou hoje, com as pernas surpreendentemente cansadas, porém sem aquelas dores causadas por excesso de ácido lático no tecido muscular estriado esquelético que...tá, irei me calar biologicamente falando. Hunf. Mesmo assim, fico feliz de ver que ao menos para isso serviu minha perambulação constante que costumo fazer todos os dias. Se eu fosse sedentário, hoje não teri aguentado nem me levantar da cama.

Mesmo assim, presumo eu que a população em geral ontem quis ver a caveira de todos aqueles professores, eu incluso. Não quero saber de nada, motivos, aumentos, porra nenhuma. Eles conseguiram foi é fuder tudo, avida de quase todos na cidade. Olho por olho, dente por dente, eu presumo. Danem-se. Causaram o caos, foi tudo que conseguiram.

Enfim, ao menos estava um tanto frio ontem, ou eu teria me desidratado por completo na empreitada. E ainda bem que é sexta feira, pois é o dia mais sagrado da semana. Só não é mais santo que as sextas que são feriados. E para o final de semana, a excursão para a capital regional do frio já está agendada. E eu dormirei novamente no quarto mais legal do mundo, lá na torre. Isto é bom, muito bom.

Enfim, vamos nos preparar para o descanso merecido. Esperemos que ao menos hoje estes revoltados profissionais não nos causem novamente o caos, ou estarão correndo sério risco de vida, creio eu. Não de minha parte, mas se existe um bicho mais arredio e perigoso que os Senhores Volantes de BH, eu ainda estou para conhecer. É um risco de vida mexer com tais seres, broncos e raivosos como o são.

Que todos tenham um bom final de sumana, então. Beijo na bunda, até segunda.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dragão, donde estás?

Aconteceu ontem. Ou quase.

Por algum motivo indefinido, o dia havia corrido muito bem até então, e eu aceitava os agrados inexplicáveis, desconfiadamente, é verdade, mas mesmo assim não sou louco de me tornar casmurro diante de tais coisas. Sei apreciar estes raríssimos momentos de bem-estar com a vida, sem necessariamente me questionar por quê. Na verdade, quero mais é para de ter tal pergunta na cabeça. Mesmo assim, eu ainda reservava minha desconfiança, pois não se muda do dia para a noite.

Eu havia recebido efusivos elogios por minhas artes e partes que tanto teimam em me dizer que são de fato artes e não somente partes. Me fez bem, muito bem. Um dia eu juro que eu ainda irei crer veementemente nesta tal realidade que algum mecanismo sórdido interno teima em rechaçar. A manhã havia corrido sem maiores problemas, tudo nos conformes, bom dia como vai, está tudo funcionando, as coisas estão em dia. Certo, certo. Vamos almoçar? Bom almoço, onde comemos a rúcula mais amarga jamais provada por mim dantes. Fez bem ,apesar das lágrimas que fizeram brotar em nossos olhos. Choramos a perda do título perdido por outrora salada em outro lugar, e nos fartamos em saborear o restante do modesto prato, modestas carnes, bom sabor, muito bom sabor.

Eu e meu fiel companheiro de todos os almoços corporativos limitados, LTDA, nos separamos à esquina, eu com o intuito de simplesmente passear no xópis, ele com o objetivo de mais trabalhar; para ele o tempo de fato rugia naquela tarde incipiente. Fui ter ao pálacio do consumismo classe-medista belorizontino(fede, fede) e suas roupas absurdas, tanto no preço quanto no desenho arrojado porém idiota. Olhava todas aquelas inócuas vitrines sem nem me importar. O Diamongol para mim tem apenas três serventias: cafézes, evenmtuais idas ao Subway, e a livraria, que ultimamente anda quase desclassificada do compêndio "três utilidades para um xópis escroto."

Fui ter à livraria. O café está muito caro e o frio ainda não apertou a ponto que eu paertasse meu bolso, ainda não. Postei-me mui civilizadamente na escada rolante(volante! volante!) e me deixei ser conduzido para o andar de baixo.

Foi quando aconteceu.

Olhei de relance para o espelho que ainda não sei por que cargas d'água põem ao redor dos fossos das escadas deste gênero mundo afora, e vi. Escamas. Fogo. Garras. E um braço. Feminino.

A dona daquele dragão estava subindo os degraus enquanto de meu lado estava eu com aquela ânsia inexplicável, aquele efeito irremediável que me causa tal visão, mulheres e tatuagens. Vi as costas da possuidora daquele soberbo animal de tinta, mas estava preso ao fato que ela subia enquanto eu descia, e muito me lamentei do fato ter ocorrido desta maneira.

Se quiserdes fazer deste ser teu escravo, seja mulher e tenha um belo dragão impresso em vossa pele ó minha senhora, minha mestra.

Cheguei ao meu destino embasbacado, tonto, sem saber o que fazer, para onde ficava mesmo a livraria? O que era uma livraria? Perguntas, todas inúteis estas. Mas as que teimavam em ressoar em minha cabeça era, quem era aquela moça? Para onde ia? Será que não estaria interessada em adquirir um branco(põe BRANCO nisso) escravo? Um servo fiel e irredutível. Moça, teu dragão em teu corpo fez de mim seu escravo naquele momento.

E eu sabia disso. Apesar de ter perdido uns bons dois minutos andando sem rumo no andar inferior do shopping, eu precisava, precisava encontrar minha dona. Agora, em situações normais, este ser facilmente escravizável só diria, "droga, novamente me fudi" e prosseguiria cabisbaixo para a insípida livraria. Mas algo me impeliu a agir de maneira diferenciada naquele dia.

Parti atrás dela, em busca daquela mulher e seu dragão, que tanto me enfeitiçaram. Rodei o andar inteiro, olhando para dentro de todas as lojas, buscando, procurando. Analisei todas as moças que achei no caminho, e mesmo que tenha recebido aquele olhar que tanto me desnorteia e tanto faz-me sentir um perfeito idiota, as donas de tais olhos eram desprovidas do acessório que havia me arrebatado inexoravelmente naquela tarde.

Nada achei no segundo andar, e parti para o terceiro. Novemente, perscrutei toda a extensão do andar e de seus itens consumistas, modernos equipamentos para seu lar, agora com desconto! Tênis a dois mil reais! Track & Field, Timberland, tudo muito bom, muito caro! Compre djá! E io posso mudar sua "bida." Mudaria de vida, de fato, se ali encontrasse aquela intrépida fêmea, que ainda tanto me fugia.

Mas o que faria eu se a encontrasse? Provavelmente nada, meu lado normal e auto-depreciativo já me dizia, ainda és o mais banana dos receptores de tais fatais olhares. Bem sei, dizia eu, e empurrava rudemente o pensamento para o fundo da cachola. Mas o senhor hoje pode ir ter à merda. Eu só queria achar o dragão. Somente isto. Vencida tal etapa eu pensaria no resto. Pé atrás de pé, passos e passo, e aquele indefectível ar de aflição estampado em minha cara, lá ia eu.

Nada no terceiro andar. Rodei novamente o segundo andar e ainda assim tornei ao andar do qual aquela criatura e sua carnalmente impressa criatura haviam se originado magicamente naquela metade daquele fatídico dia. Procurei e procurei, e andei e andei.

Nada. Não foi desta vez que achei minha dona, minha fatal possuidora. Instantaneamente as cadeias mentais que já se haviam desenvolvido em meus tornozelos e pulsos caíram por terra. A certeza de ter falhado na busca me libertou por completo daquilo. Não teimei em em lamentar o ocorrido por muito tempo. Deixa pra lá. Supostamente, dizem, existem muitos peixes no mar.

Mas os peixes que se fodam. Eu só queria aquele dragão e sua dona. Só isso. Suspirei, não necessariamente desanimado e infinitamnete derrotado, pois ainda não estou tão louco a ponto de encarar uma "derrota" como esta como um motivo real para encurtar minha vida ou me tornar depressivo. O dia ainda estava longe de terminar e eu ainda me sentia muito bem, pois em momentos como este, eu me surpreendo em verificar o elementar fato de que ainda tenho emoções e um pendão de esperança de ainda encontrar aquela moça, tatuada ou não, que será de fato minha dona.

Adiante, para fora do prédio e de volta ao outro prédio, eu me sentia de certa forma mais leve, mais feliz, mais vivo. Ainda estou vivo, por assim dizer. Ainda existe em mim algo que me impulsiona a agir feito idiota diante de tão vaga promessa que por um furtivo momento passou diante de meus olhos.

Não foi desta vez, mas chegará, eu sei. Eu quero que seja assim.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A cela.

Eu queria ser mais avacalhado.

Eu queria ter esta faculdade de simplesmente me desligar de todas minhas regras e padrões medidos em laboratório e padronizados pela IUPAC.

Por vezes me farto de ser eu mesmo....de ser aquele cara que enxerga o verde cinza e o azul cinza, o vermelho um cinza um tanto mais escuro e tudo mais. Cinza cinza cinza.

Por que o tempo passa. O tempo voa, e quando muito espantamo-nos, a década passou, mais uma delas, e cá estou, na mesma de dez, vinte anos atrás.

Existem coisas acontecendo, coisas que parecem mesmo serem mensagens veladas, como já disse aqui dantes. E estão surgindo com mais frequência, cada vez mais e mais. Olhe ao seu redor, o que vês?

Olhares que nunca antes haviam existido. Conversas que nunca tiveram ânimo de começar com este ser eremita e sociopata. Coisas, eventos, gritando para mim. Desista. Pare. Mude. Resistência é inútil.

Existem paredes grossas demais ao meu redor, entretanto. E por mais que estejam surgindo rachaduras cada vez mais pronunciadas nelas, ainda existe um bom meio metro de concreto e aço ao meu redor.

Esta cela era o local mais solitário do mundo...e dos mais seguros também. Mas o que é segurança....sem vida para ser resguardada?

Dias e dias, meses a fio, anos e anos. Encerrado aqui. Recebendo visitas - nada íntimas - pela pequena fresta na porta maciça de titânio diante de mim. E mesmo que tenha sido eu mesmo que tenha me trancafiado neste eterno solilóquio mental, me parece que há muito perdi a chave daqui.

O que me resta fazer?

Bater nas paredes, esmurrar a porta. Até os braços caírem, até os nós dos dedos sangrarem; berrar e berrar, até ficar sem voz. As paredes não são eternas. Não podem ser. Bato e bato, esmurro e esmurro.

Quem se diz prisioneiro de si mesmo? Quem é louco a ponto de se encerrar em tal prisão, se negar toda uma vida, tudo que nele tem de bom e verdadeiramente não frango. Tudo o que me diferencia dos outros gnus deste imenso rebanho....tudo, tudo encerrado em gavetas trancadas. Em pastas esquecidas. Em monólogos interiores.

Mas me estendem a mão lá de fora. Me olham com outros olhos, olhares os quais nunca julguei serem algum dia dirigidos a este ser que tanto não existe enquanto por aí circula...um estranho entre os normais, e um estranho entre os outros estranhos.

Me estendem a mão, me gritam, batem nas paredes. A parte de mim que teima em se encerrar teme muito pela queda deste muro, destas paredes, mas eu bato e bato nesta tosca alvenaria de minha mente.

E as rachaduras aumentam. Ainda que por vezes as vozes externas se calem em tempos que por dêsanimo exacerbado eu pare momentaneamente de esmurrar aquelas paredes...as rachaduras existem, e não retrocedem, mesmo que queiram. Mesmo que alguma coisa dentro de mim ainda queira falhar, falir, desistir.

Nestes momentos de extremo cansaço, de fadiga generalizada pelo esforço de tentar de mim mesmo me desvencilhar, quando paro de bater nas paredes, as vozes lá de fora parecem mesmo se calar. E imploro para que não se calem. Eu me tranquei aqui, mea culpa est, mas preciso de ajuda.

Por favor, não desistam de me ajdar, eu peço. Não se esqueçam de meu nome. Eu imploro.

Tenho vontade de ser liberto de minhas paredes, tenho vontade de retribuir tais olhares, tais pequenos gestos que tanto me fazem bem. Tenho medo, eu sei, daqui sair, mas aqui não quero morrer. Não desta maneira. Não encerrado em um eterno inverno, sem nenhuma jaqueta de pensamento nem um outro corpo macio e quentinho para me abraçar.

Por vezes, cabisbaixo em um canto da cela, parece mesmo que sinto uma estranha e transparente carícia de alguma entidade que daqui desta realidade já se foi, mas que de alguma forma de mim ainda se importa...ainda me quer ver livre de minhas paredes.

Nestas horas, as vozes lá de fora clamam pelo meu nome mais uma vez, e ergo-me bufando, determinado. Estou aqui. Quero sair. Quero ser gente, quero poder ser alguém que não seja ninguém, um ser esquecido numa solitária. Um esqueleto carcomido pelo tempo e pela soberba.

Estou aqui. Bato e bato nas paredes, que se mexem, pouco a pouco perdem sua integridade quase inemovível. Perdi a chave desta cela, mas aqui não quero ficar.

Não devo ficar.

Não irei ficar.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A conversa.

Aconteceu-me ontem, e na verdade tem acontecido muito por estes dias. Ocasiões em que de repente nos flagramos conversando com pessoas as quais não necessariamente temos muito contato, mas que definitivamente fazem parte de nossas vidas, de uma forma ou de outra.

Ontem, após ter visitado meu sobrinho postiço, fui ofertado uma carona de volta para minha casa. Por mais que eu seja fã incomensurável do nosso transporte púbico - de pessoas e pêlos....er....tá, tosqueira tem hora(toda hora é hora) - eu aceitei prontamente, ainda que tivesse sido advertido que antes de irmos para os meus lados, teríamos que visitar um de nossos templos do moderno consumismo, ou xópis. Sem problemas, vamos lá.

O que aconteceu foi que fomos conversando, eu, meu sobrinho e sua mãe, mulher calejada na vida, destas pessoas que já viu muita merda, já fez muita merda e se mantém firme perante o caos reinante na vida. Eu a admiro, de certa forma. Não a tenho como uma dessas pessoas idealizadas, mas sinto definitivamente uma afinidade com esta pessoa.

Pois bem, conversamos muito, sobre os mais diversos assuntos, entre veementes devaneios vindo do banco de trás. Estes sobrinhos são muito irrequietos, por vezes. Mas a conversa fluía naturalmente, e falávamos dos mais diversos assuntos, e conversa gerava conversa. O tipo de papo que eu curto, pois o que incomoda mesmo é não ter assunto nestes momentos.

O que eu achei engraçado é que diversos tópicos da conversa pareciam voltados diretamente para mim, como se estivéssemos falando apenas de mim e minhas mazelas, sendo que não era o caso: as pessoas envolvidas na conversa eram conhecidos dela, gente que nunca havia ouvido falar dantes.

Acontece que muito do que foi dito ali parecia ser dirigido diretamente para mim, de fato. Não sei se acontece com outrem, mas tenho visto isto acontecer muito comigo nestes últimos tempos. Coisas que andam me atormentando, me atrapalhando, ecoando em minha cabeça; coisas as quais não costumo nem conversar com os outros, pois julgo ser meus problemas meio que "egoístas", ou seja, aqueles que eu deveria resolver por conta própria.

Muitos destes tais problemas mui particulares foram comentados ontem nesta conversa, como se aquela pessoa, aquela mulher com a qual tenho contato no máximo duas vezes por semana, às vezes nem isso, ela parecia que sabia destas minhas secretas mazelas, pois volta e meia lá estávamos novamente tratando de algum assunto que me dizia respeito - indiretamente.

Às vezes me parece que a vida tem destas coisas. Quando o caos começa a imperar, acontece algo como isto, uma conversa em que você de repente se vê diante de seus demônios pessoais, como se a vida estivesse mandando um recado. Aviso: isto ainda tem de ser resolvido.

Achei muito válido tal experiência, mesmo que seja ainda muito cedo para se pensarmos em resultados concretos acerca da resolução de tais mazelas. De certa forma, pareceu-me que tal conversa foi um aviso mesmo. Um sinal que eu não devo adiar a resolução destes problemas, que o tempo está passando e eles ainda imperam.

E o tempo sabe ser traiçoeiro. Quando você se espanta, dez anos se passaram e você não resolveu a coisa ainda. Já aconteceu mais de uma vez comigo. E por vezes me parece que estes avisos velados da vida estão aí justamente para - mais uma vez - alertar-nos que a coisa existe, e que deve ser repensada, redimensionada, reavaliada, resolvida.

Pensemos mais a respeito disto em nossos dias diários de diária labuta. Pensemos e pensemos.

E que a solução venha, nem que seja do caos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Páscoa musical.

Vamos lá, você consegue! Mantenha-se acordado e tente não se lembrar que hoje é segunda e...tarde demais. Já me relembrei. Maldição.

Ainda assim, adiante. Cumpra-se o dever de ser relator de trivialidades e acontecimentos nada incomuns na vida de um solitário ermitão muderno. Diante de mim, coca-cola e pães de queijo: decidi que se as segundas não podem ser naturalmente mais toleráveis e agradáveis, eu tornarei-as mais humanas me valendo de artificiais artifícios.

O feriado esteve bom, felizmente. Muito bom, apesar de eu nem ter saído ao portão de minha casa. E por mais que isto possa parecer um tédio eterno e absoluto, afirmo que não preciso muito mais para me dar por satisfeito. Estou com as pontas dos dedos da mão esquerda em frangalhos, e todas as teclas que teclo me doem, uma forma pulsante deles se me lembrarem que eles existem e que forma muito maltratados no feriado.

Não diria maltratados, para se falar a verdade. Foram muito usados, é verdade. Achei que já tinha eu calos o suficiente para aguentar longas sessões sonoras, mas parece-me que ainda há muito que se calejar, muito que se treinar. Muito que se fazer.

Lembrei-me hoje de finais de semana passados, em meados de 2002 ou 2003, época em que eu ainda tinha grandes desígnios artísticos envolvendo artes e partes desenhadas, e nem de longe imaginava o que viria em seguida, anos mais tarde. Mesmo assim, naquela época eu me divertia nos finais de semana de maneira quase igual a que me divirto hoje em dia, ou seja, de maneira muito nerd. Naquela época das internétis discadas, eu já era fissurado com essa joça, e somente tinha acesso à rede mundial em finais de semana, nas madrugadas, de meia noite às seis, de sexta para sábado e de sábado para domingo. No domingo havia aquele esquema da linha só contar um pulso, mas só tínhamos uma linha de telefone e esta não poderia ser ocupada o dia inteiro com inúteis navegações na internet.

Naquela época, eu nerdicamente sempre me conectava nestes infames horários para me entreter na rede, e lembro-me que sempre escutava nos finais de semana as gemas musicais por mim garimpadas durante a semana. Em suma, eu escutava no final de semana as coisas que havia baixado na precária internet durante a semana; eu sempre acordava meia noite para deixar baixando coisas até as seis. A internet era discada, lembrem-se.

Naquela época, eu sempre costumava emergir de meus finais de semana nerds com alguma música nova que realmente tocava minha alma, algo que me fazia arrepiar, algo que me fizesse muito mais sentido que qualquer outra éspecie de som normalmente veiculado publicamente. Se eu passasse um final de semana sem descobrir mais uma faixa para a trilha sonora de minha vida, o final de semana era incompleto.

Hoje em dia, tempo passado e tempo mudado, pouca coisa mudou, devo dizer. Ainda sou um nerd solitário que me entretém digitalmente em feriados, que ainda escuta muita música e sempre está em busca de sons que possam fazer parte de minha trilha sonora, e que ainda de certa forma sonha com aspectos gráficos, mas deles já não mais deposita quase nenhuma esperança.

O que mudou, então?

Emerjo deste feriado escutando novos sons, que podem facilmente fazer parte de minha trilha sonora para a vida, mas com uma diferença básica: são sons por mim inventados, coisas que até então nunca havia escutado em minhas madrugadas anônimas. Coisas que partiram destes calejados dedos, daquele violão arranhado pelo tempo e pelos pequenos acidentes da vida. Coisas que inventei ali em meu sótão e que registrei em meu computador, valendo-me de meus aparatos que levei tanto tempo para adquirir. Coisas que muitos me zoaram por estar gastando dinheiro erroneamente, uma vez que eu não usaria aquilo nunca; quando eu iria precisar de um som de um ebow plugado num pedal de volume ligado em um mini amplificador Vox? Quando?

Bem, neste final de semana, grande parte destes meus inúteis aparatos fizerma valer seu valor, por tantas vezes multiplicados pelos nossos queridos ladrões do comércio de aparatos musicais brasileiros, que têm coragem de cobrar 1500 reais num amplificador que custa aproximadamente 140 doláres em Miami. Eu diria que valeu a pena ter investido tanto nestas coisinhas.

Por que, de alguma forma, eu ainda busco algum objetivo na vida, maior que ser apenas um enfeite escrotorial, ganhando mal para fazer coisas que nunca quis fazer. E se falhei em aspectos gráficos de minhas afinidades, esperava eu ao menos não falhar nesta minha outra afinidade. Algo com que eu pudessejustificar minha existência, justificar minha presença incômoda de ser um eterno ser que em nenhum lugar se encaixa, em nenhuma parte deste imenso quebra cabeças de gentes e gentes e gentes, tanta gente, por Mitra.

E que venha mais notas sonoras, por mais descordenadas que sejam. Por mais teoricamente erradas que estejam. Que façam algum sentido. Que me devolvam a sensação de dever cumprido, e não aquele estorvo mental de saber que algo deveria estar sendo feito, com toda esta...coisa que em mim existe e que até hoje não sei a serventia.

Talvez seja esta: a de me justificar o gasto energético dispendiado em me fazer existir, quem sabe? Algo que não seja apenas um imbecil isolado em seu mundo à parte.

Esperemos. Enquanto isto, vistamo-nos e obedeçamos às ordems contabilistas que de mim exijem que sejam devidamente preenchidos os campos de impostos sobre o ICMS de tomates.

Adiante, adiante. Por uma vida menos ordinária.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Adeus, março cruel.

Acabo de chegar no escritório. Qual a primeira coisa a ser feita?

Arrancar o mês de março da folhinha e atirá-lo ao lixo.

Não sei se foi somente eu que o sentiu, mas me pareceu que março teve as regras de tempo ditadas por uma portaria especial, específica e reservada para aqueles momentos em que o tempo parece nunca passar. Foi um mês com quase cinco semanas, com milhares de dias (in)úteis e desprovido de feriados.

Logo, um mês chato. Simples assim.

Durante todo o mês, eu e meu fiel companheiro de Funchato, também denominado Hugo, o Devogado, estávamos sempre comentando em nossas morosas idas ao restaurante daqui de perto no horário de almoço, sobre este mês quase infinto, e sempre resmungávamos muito a respeito, como é de nosso costume. Penso que seremos um dia daqueles típicos par de velhos que sai às ruas apenas para praguejar contra tudo e todos e ser saudosista.

Opa. Já somos assim!

É que queremos poupar tempo, eu diria. O mês que tem muito tempo a ser decorrido nos leva a ficar ainda mais ansiosos pelo fim de tudo, o recebimento dos numerários competentes às horas por nós desperdiçadas nestas quatro paredes e afazeres de nossa vida de velhos com menos de cinquenta anos. Seremos um charme quando velhos de fato. Creio que a humanidade se reunirá e tratará de nos isolar em algum exílio qualquer.

Ah, enfim. Velhos nos tornaremos todos. É o destino. Mesmo que existam no caminho meses intermináveis e enfadonhos, é para lá que estamos nos dirigindo.

Mas divaguei e divaguei e perdi o fio da meada desta narrativa. O dia de ontem foi um dia especialmente lento, e parece-me mesmo que as coisas estavam conspirando contra o fim de março, como se desejassem que aquele mês ficasse em um loop eterno, cinco semanas a fio, cinco semanas seguidas de mais março. Repita.

Não sei bem o que aconteceu, mas foi daqueles dias que parecem dar tudo errado, ainda que somente com aquelas pequenas picuinhas, nada grandiosas nem muito sérias, mas excelentes para se enervar pessoas que só desejavam voltar para casa e assistir, do aconchego desuas camas, a morte de um mês deveras enfadonho.

Quando daqui sái ontem, tive que ir ter ao lar de meu sobrinho postiço, o qual faço papel de tio sujeira de aluguel desde 2004, a saber, meu aluno de desenhos e longas conversas acerca dos mais variados assuntos. Uma boa companhia para estes dias tão escassos de outras amizades, em suma(onde estão todos meus escassos amigos??). Mas, no caminho para lá, eu havia me decidido a não, NÃO pegar o ônibus para lá comparecer, eis que ontem foi dia de agravantes externos para o aumento da infernitude do trânsito já infernal desta cidade. Havia chovido, o que causa um aumento considerável na lerdeza do tráfego, e me parece que houve grandes eventos comemorativos devido ao término do governo de nosso ilustre governador.

Resultado, eu SABIA que o trânsito estaria todo agarrado, e os ônibus estariam completamente abarrotados daquela gente fumequeira de merda, que tenho particular ojeriza. Pé por pé, pé por si, vamos a pé da praça da Assembléia da corja de ladrões para irmos até a praça Milton Campos. Garanto que lá cheguei mais rapidamente que se houvesse apanhado o coletivo na Afonso Pena, que como previsto, era um mar de carros parados àquela hora.

Mesmo assim, andar a pé neste país de bárbaros é sempre uma aventura, pois você fica sempre à mercê da insegurança que é ser transeunte num país onde os sem-lei abundam nas ruas. Em dado momento, perto da Avenida Brasil, me deparei com algo que mais parecia um arrastão, não sei ao certo. Não encarei o povo estranho que se dirigia em massa para algum local que não quis descobrir qual era, e permaneci no lado da rua oposto à turba. Tratei de acelerar meu passo, pois tive péssima sensação diante daquele pessoal. E todos nas ruas evitavam de ter contato direto com eles também, se detendo em pequenos grupinhos enquanto esperavam aquele estranho cortejo passar. Tristes tempos, estes.

Quando cheguei à casa de meu aluno e sobrinho honorário, respirei aliviado, mas bem sabia que o dia ainda estava longe de acabar, pois ali fico duas horas, e quando de lá saio, já é aquele momento mágico em que aquela região se torna uma zona de prostituição. Nada amigável para se apanhar mais um ônibus para finalmente voltar para casa. Como narrei em alguma altura do ano passado, já fui vítima de injúrias a mim dirigidas naquela área, por acharem que eu seria um puto qualqer a fazer ponto ali. Seria uma novidade, eis que a região só tem putas e travestis; nunca vi nem espero ver nenhum garoto de programa ali, e muito menos anseio me tornar o primeiro, evidentemente.

Atravessando a avenida, eis que momentos depois, passa meu ônibus, que muito feliz ignora meu chamado e por mim passa reto, com seu motorista fazendo força para parecer que não me viu ali, entre as putas e quase deseperado para voltar para casa. Levou muitos "vai tomar no cu" de minha parte e gestos obscenos vidos de mim mesmo. Grande consolo, este. Agora teria que esperar uns quinze minutos pelo próximo, naquela área inóspita. Creio que ontem houve festanças futebolísticas também, pois havia um grande número de baderneiros às ruas buzinando feito loucos. E lá estava eu no ponto de ônibus, entre duas putas, completamente vestido , completamente não-prostituto - sem nenhum traje provocativo nem nada, com uma pasta gigante cheia de papéis e desenhos, com um imenso guarda chuva à tiracolo...e ainda me passa um retardado e novamente me tomam por prostituto e repetem a injúria do ano passado. Ha ha ha. Naquele momento, quis ter uma arma comigo para fazer uns furinhos na testa de semelhantes imbecis. Pelo menos não fizeram pior.

Qualquer dia desses, precisarei trajar uma daquelas tabuletas com o seguinte letreiro: "ESTOU APENAS ESPERANDO O ÔNIBUS AQUI" para que estes imbecis me deixem em paz. Ou não.

Temi mais quando passou um outro ônibus que a mim nada serve, com dois malacos a tiracolo agarrados pelos pés ao pára-choques do busão, com suas bicicletas roubadas, e tais malacos dele se soltaram e se separaram. Pensei que iriam encrencar comigo, pois ali mesmo já quase fui assaltado umas duas vezes. Mas estavam era fugindo da rádio-patrulha da ROTAM que vinha logo atrás. Mesmo assim, a viatura parou e puxou conversa com uma das putas ali presente. Nisto, meu ônibus chegou, e pude mesmo ouvir o trocador e o motorista condenando o comportamento impróprio dos policiais, "que belo exemplo desses gambés."

Tanto faz. Naquela altura, só queria voltar para casa. Só queria que o dia terminasse. Que o mês infinito se acabasse. Mas em dado momento, quando o ônibus parou num sinal e ali ficou parado uns cinco minutos, por motivos que não pude compreender, ainda tive o desprazer de assistir uma briga entre um imbecil qualquer e um travesti que fazia ponto perto da prefeitura. Geralmente este tipo de briga é dos mais feios que se pode haver, pois sempre soube da má-fama destes homens vestidos de mulheres. São terríveis e geralmente muito violentos. Não sei como a coisa começou, então nem sequer tentarei tomar partido de qualquer um dos lados envolvidos, mas ainda assim aposto que foi o imbecil que ali passava que provocou o travesti e começou a briga. Enfim, não sei, não quero saber.

Finalmente consegui chegar em casa, ileso. E por mais que o dia tivesse sido péssimo, ele estava morrendo, e eu não morri. Logo, eu venci. Que venha o próximo.

Mas antes disto, que venha o feriado. Amado feriado. Amo a páscoa, com toda sua picaretagem de ovos de chocolates caríssimos e parafinados, não por conta de tais engodos gastrônomicos mas por ser sim, dotado de um dia verdadeiramente útil: um feriado!

Boa páscoa a todos, e até segunda. Nauseabunda, evidentemente.