sexta-feira, 16 de abril de 2010

Doroga!

...E eis que na tarde de ontem, quase ao término do expediente, tive o desprazer de assistir a mais uma manifestação em prol do caos do trânsito belorizontino, que já é uma maravilha por natureza. Por que não acrescentar mais uma turba de professores revoltados com seus salários para fuder tudo de uma vez? Excelente idéia, não acham?

Pois ontem isto ocorreu, a exemplo da quinta feira passada. Tive ímpetos assassinos contra os profissionais da educação, mas me limitei a madar todos às favas mentalmente e com gestos obscenos lhes dirigidos daqui deste sexto andar. Ninguém viu, ninguém sentiu, e ficamos todos na mesma. Acontece que eu não queria de forma alguma andar até minha casa, então procurei uma saída alternativa. Arranjei um encontro com amigos na Savaca, até que a poeira baixasse e o trânsito voltasse a ser apenas irritante.

Pois bem, ontem aconteceu o inusitado fato de ter-me inebriado com aquele mijo engarrafado que é a cerveja nacional, néctar dos deuses dos brasileiros. Confesso embaraçadamente que fazia muito mas muito tempo que não enchia tanto a cara daquela maneira. Ao menos não fiz como outrora, e parei antes do limiar entre a tonteira e o telefonema ao Juca proveniente do orelhão de louça. Tampouco cometi nenhuma afronta a mim mesmo na forma de palhaçadas cretinas e ridículas, como costumava acontecer todas as vezes que eu enchia a lata. Fiquei bebâdo, é verdade. Mas fiquei pianinho, na minha, sem fazer merda.

Infelizmente, ficar sem pensar merdas nestas ocasiões é-me quase impossível. A álcool tem destes efeitos sobre minha personalidade estranha. Causa-me reflexões sempre nefastas, por algum motivo ou outro. Fico rindo de pessoas que afirmam que bebem para se soltar, para relaxar. Eu, que já sou este poço de espontaneidade e descontração, torno-me ainda mais arredio e desconfiado, especialmente de mim mesmo("estou muito bebâdo e ridículo", "devo estar falando muita merda", "aquela moça que me parece neste momento tão especial é uma fubanga deformada por esta merda circulante em minhas veias", etc.)

A coisa ontem não foi tão feia assim, pois me diverti muito com meus amigos e até escutei bons conselhos, muito relevantes para a vida e para a ocasião. Nada de epifanias: somente boa conversa, mais nada. Mas no meio de toda esta filosofia de buteco, todas as viagens erradas e certas que tive durante a inebriação, houve um pensamento que já havia tido antes, mas que nunca havia discutido a respeito. Aconteceu quando já estava eu em casa, encostado na parede do box, tomando meu banho.

Quem será que foi foi o primeiro bebum da história? Como será que algum dia alguém ingeriu uma bebida que tivesse álcool em sua composição pela primeira vez na linha do tempo?

Imagino que tal coisa tenha acontecido por acidente. fico pensando em um sujeito sovina, que ficou revoltado ao ver que seu estoque de suco de uva tivesse "estragado" em fermentações, e na raiva e na ânsia de ser o unha-de-fome que sempre o fora, tenha bebido tal infusão. E foi se tornando cada vez mais relaxado e alegre. Fodam-se os tonéis de suco de uva! A vida é bela, e tudo gira gira gira. Algo assim.

Penso de tal forma com várias coisas. Imagino sempre que o primeiro queijo foi produzido por acidente, de maneira análoga. Uma porção de leite que se estragou e que algum psicopata tenha comido de raiva, se surpreendendo com as possibilidades surgidas por tal acaso. E mais pra frente, algum outro descuidado sovina, provavelmente francês, descobriu que seus queijos tinham mofado, e novamente agiu com raiva e impulso, e devorou a massa agora "fungada", e tenha se surpreendido com o "aroma excepcional" de tal acidente. Pode ter sido assim.

Imagino que os primeiros porres de álcool tenham sido por acidente, mas paro para pensar em outras hipotéses, envolvendo outras "dorogas" e me embasbaco. Imagine o primeiro cara afumar um cigarro. Como será que isto aconteceu? Quem será que teve uma idéia como esta, "se eu secar estas folhas, enrolar elas nesta outra folha, fazer um canudo, e depois tacar fogo e aspirar a fumaça resultante, vai ser muito bom."??

Que idéia é esta. Quem hoje em dia imagina tal coisa? Somente pessoas que já estão doutrinadas, acostumadas com a idéia de fumar, mas que estão "cansadas" de seus cigarrinhos caretas e querem ver se tal planta tem um efeito mais legal. Imagino que tenha sido assim com a maconha, que a idéia de se fumar tal planta tenha surgido após a invenção do cigarro "normal" de tabaco.

Por acidente devem também ter sido as primeiras "experimentações" com outros tipos de dorogas, como os cogumelos. "Ah, estou com fome e estes cogumelos me parecem ser comestíveis." Imagino que muitas pessoas tenham morrido nessa brincadeira também. E o mais engraçado, é que muitas destas substâncias que causam tais modificações no estado de consciência, são agentes defensivos das plantas e demais seres que os produzem. Agentes tóxicos, inseticidas, repelentes. E lá vamos nós fomens fazer uso deles para nossa recreação, literalmente nos intoxicando.

A mente humana é algo interessante, e que se cansa muito de sua realidade, presumo eu. Senão por que haveria procura por tais substâncias. Por ser legal, por ser divertido. Por ser tóxico? Não pensemos nisto enquanto nos inebriamos. Saúde. Passe a bola. Me arruma um aí, e por aí vai.

Bem, penso e penso, mas não chego a nenhuma conclusão. Apenas me sento aqui, tomo minha coca-cola obrigatória para momentos como este, e escrevo tais linhas, agora lúcido, agora desperto. E vejo que por vezes, é até bom se desligar quimicamente de nossa triste realidade. Por vezes, veja bem. Não recomendo a ninguém o vício.

E hoje, aguardo ansiosamente a noite e seu espetáculo vindouro, este musical e não químico. Mais sobre isto comentarei, provavelmente, em mais uma segunda nauseabunda que virá. Veremos, até lá.

E bom final de semana a todos. Cuidado com o uso dos agentes tóxicos, hein? Eheheheh.