Acabo de chegar no escritório. Qual a primeira coisa a ser feita?
Arrancar o mês de março da folhinha e atirá-lo ao lixo.
Não sei se foi somente eu que o sentiu, mas me pareceu que março teve as regras de tempo ditadas por uma portaria especial, específica e reservada para aqueles momentos em que o tempo parece nunca passar. Foi um mês com quase cinco semanas, com milhares de dias (in)úteis e desprovido de feriados.
Logo, um mês chato. Simples assim.
Durante todo o mês, eu e meu fiel companheiro de Funchato, também denominado Hugo, o Devogado, estávamos sempre comentando em nossas morosas idas ao restaurante daqui de perto no horário de almoço, sobre este mês quase infinto, e sempre resmungávamos muito a respeito, como é de nosso costume. Penso que seremos um dia daqueles típicos par de velhos que sai às ruas apenas para praguejar contra tudo e todos e ser saudosista.
Opa. Já somos assim!
É que queremos poupar tempo, eu diria. O mês que tem muito tempo a ser decorrido nos leva a ficar ainda mais ansiosos pelo fim de tudo, o recebimento dos numerários competentes às horas por nós desperdiçadas nestas quatro paredes e afazeres de nossa vida de velhos com menos de cinquenta anos. Seremos um charme quando velhos de fato. Creio que a humanidade se reunirá e tratará de nos isolar em algum exílio qualquer.
Ah, enfim. Velhos nos tornaremos todos. É o destino. Mesmo que existam no caminho meses intermináveis e enfadonhos, é para lá que estamos nos dirigindo.
Mas divaguei e divaguei e perdi o fio da meada desta narrativa. O dia de ontem foi um dia especialmente lento, e parece-me mesmo que as coisas estavam conspirando contra o fim de março, como se desejassem que aquele mês ficasse em um loop eterno, cinco semanas a fio, cinco semanas seguidas de mais março. Repita.
Não sei bem o que aconteceu, mas foi daqueles dias que parecem dar tudo errado, ainda que somente com aquelas pequenas picuinhas, nada grandiosas nem muito sérias, mas excelentes para se enervar pessoas que só desejavam voltar para casa e assistir, do aconchego desuas camas, a morte de um mês deveras enfadonho.
Quando daqui sái ontem, tive que ir ter ao lar de meu sobrinho postiço, o qual faço papel de tio sujeira de aluguel desde 2004, a saber, meu aluno de desenhos e longas conversas acerca dos mais variados assuntos. Uma boa companhia para estes dias tão escassos de outras amizades, em suma(onde estão todos meus escassos amigos??). Mas, no caminho para lá, eu havia me decidido a não, NÃO pegar o ônibus para lá comparecer, eis que ontem foi dia de agravantes externos para o aumento da infernitude do trânsito já infernal desta cidade. Havia chovido, o que causa um aumento considerável na lerdeza do tráfego, e me parece que houve grandes eventos comemorativos devido ao término do governo de nosso ilustre governador.
Resultado, eu SABIA que o trânsito estaria todo agarrado, e os ônibus estariam completamente abarrotados daquela gente fumequeira de merda, que tenho particular ojeriza. Pé por pé, pé por si, vamos a pé da praça da Assembléia da corja de ladrões para irmos até a praça Milton Campos. Garanto que lá cheguei mais rapidamente que se houvesse apanhado o coletivo na Afonso Pena, que como previsto, era um mar de carros parados àquela hora.
Mesmo assim, andar a pé neste país de bárbaros é sempre uma aventura, pois você fica sempre à mercê da insegurança que é ser transeunte num país onde os sem-lei abundam nas ruas. Em dado momento, perto da Avenida Brasil, me deparei com algo que mais parecia um arrastão, não sei ao certo. Não encarei o povo estranho que se dirigia em massa para algum local que não quis descobrir qual era, e permaneci no lado da rua oposto à turba. Tratei de acelerar meu passo, pois tive péssima sensação diante daquele pessoal. E todos nas ruas evitavam de ter contato direto com eles também, se detendo em pequenos grupinhos enquanto esperavam aquele estranho cortejo passar. Tristes tempos, estes.
Quando cheguei à casa de meu aluno e sobrinho honorário, respirei aliviado, mas bem sabia que o dia ainda estava longe de acabar, pois ali fico duas horas, e quando de lá saio, já é aquele momento mágico em que aquela região se torna uma zona de prostituição. Nada amigável para se apanhar mais um ônibus para finalmente voltar para casa. Como narrei em alguma altura do ano passado, já fui vítima de injúrias a mim dirigidas naquela área, por acharem que eu seria um puto qualqer a fazer ponto ali. Seria uma novidade, eis que a região só tem putas e travestis; nunca vi nem espero ver nenhum garoto de programa ali, e muito menos anseio me tornar o primeiro, evidentemente.
Atravessando a avenida, eis que momentos depois, passa meu ônibus, que muito feliz ignora meu chamado e por mim passa reto, com seu motorista fazendo força para parecer que não me viu ali, entre as putas e quase deseperado para voltar para casa. Levou muitos "vai tomar no cu" de minha parte e gestos obscenos vidos de mim mesmo. Grande consolo, este. Agora teria que esperar uns quinze minutos pelo próximo, naquela área inóspita. Creio que ontem houve festanças futebolísticas também, pois havia um grande número de baderneiros às ruas buzinando feito loucos. E lá estava eu no ponto de ônibus, entre duas putas, completamente vestido , completamente não-prostituto - sem nenhum traje provocativo nem nada, com uma pasta gigante cheia de papéis e desenhos, com um imenso guarda chuva à tiracolo...e ainda me passa um retardado e novamente me tomam por prostituto e repetem a injúria do ano passado. Ha ha ha. Naquele momento, quis ter uma arma comigo para fazer uns furinhos na testa de semelhantes imbecis. Pelo menos não fizeram pior.
Qualquer dia desses, precisarei trajar uma daquelas tabuletas com o seguinte letreiro: "ESTOU APENAS ESPERANDO O ÔNIBUS AQUI" para que estes imbecis me deixem em paz. Ou não.
Temi mais quando passou um outro ônibus que a mim nada serve, com dois malacos a tiracolo agarrados pelos pés ao pára-choques do busão, com suas bicicletas roubadas, e tais malacos dele se soltaram e se separaram. Pensei que iriam encrencar comigo, pois ali mesmo já quase fui assaltado umas duas vezes. Mas estavam era fugindo da rádio-patrulha da ROTAM que vinha logo atrás. Mesmo assim, a viatura parou e puxou conversa com uma das putas ali presente. Nisto, meu ônibus chegou, e pude mesmo ouvir o trocador e o motorista condenando o comportamento impróprio dos policiais, "que belo exemplo desses gambés."
Tanto faz. Naquela altura, só queria voltar para casa. Só queria que o dia terminasse. Que o mês infinito se acabasse. Mas em dado momento, quando o ônibus parou num sinal e ali ficou parado uns cinco minutos, por motivos que não pude compreender, ainda tive o desprazer de assistir uma briga entre um imbecil qualquer e um travesti que fazia ponto perto da prefeitura. Geralmente este tipo de briga é dos mais feios que se pode haver, pois sempre soube da má-fama destes homens vestidos de mulheres. São terríveis e geralmente muito violentos. Não sei como a coisa começou, então nem sequer tentarei tomar partido de qualquer um dos lados envolvidos, mas ainda assim aposto que foi o imbecil que ali passava que provocou o travesti e começou a briga. Enfim, não sei, não quero saber.
Finalmente consegui chegar em casa, ileso. E por mais que o dia tivesse sido péssimo, ele estava morrendo, e eu não morri. Logo, eu venci. Que venha o próximo.
Mas antes disto, que venha o feriado. Amado feriado. Amo a páscoa, com toda sua picaretagem de ovos de chocolates caríssimos e parafinados, não por conta de tais engodos gastrônomicos mas por ser sim, dotado de um dia verdadeiramente útil: um feriado!
Boa páscoa a todos, e até segunda. Nauseabunda, evidentemente.
Arrancar o mês de março da folhinha e atirá-lo ao lixo.
Não sei se foi somente eu que o sentiu, mas me pareceu que março teve as regras de tempo ditadas por uma portaria especial, específica e reservada para aqueles momentos em que o tempo parece nunca passar. Foi um mês com quase cinco semanas, com milhares de dias (in)úteis e desprovido de feriados.
Logo, um mês chato. Simples assim.
Durante todo o mês, eu e meu fiel companheiro de Funchato, também denominado Hugo, o Devogado, estávamos sempre comentando em nossas morosas idas ao restaurante daqui de perto no horário de almoço, sobre este mês quase infinto, e sempre resmungávamos muito a respeito, como é de nosso costume. Penso que seremos um dia daqueles típicos par de velhos que sai às ruas apenas para praguejar contra tudo e todos e ser saudosista.
Opa. Já somos assim!
É que queremos poupar tempo, eu diria. O mês que tem muito tempo a ser decorrido nos leva a ficar ainda mais ansiosos pelo fim de tudo, o recebimento dos numerários competentes às horas por nós desperdiçadas nestas quatro paredes e afazeres de nossa vida de velhos com menos de cinquenta anos. Seremos um charme quando velhos de fato. Creio que a humanidade se reunirá e tratará de nos isolar em algum exílio qualquer.
Ah, enfim. Velhos nos tornaremos todos. É o destino. Mesmo que existam no caminho meses intermináveis e enfadonhos, é para lá que estamos nos dirigindo.
Mas divaguei e divaguei e perdi o fio da meada desta narrativa. O dia de ontem foi um dia especialmente lento, e parece-me mesmo que as coisas estavam conspirando contra o fim de março, como se desejassem que aquele mês ficasse em um loop eterno, cinco semanas a fio, cinco semanas seguidas de mais março. Repita.
Não sei bem o que aconteceu, mas foi daqueles dias que parecem dar tudo errado, ainda que somente com aquelas pequenas picuinhas, nada grandiosas nem muito sérias, mas excelentes para se enervar pessoas que só desejavam voltar para casa e assistir, do aconchego desuas camas, a morte de um mês deveras enfadonho.
Quando daqui sái ontem, tive que ir ter ao lar de meu sobrinho postiço, o qual faço papel de tio sujeira de aluguel desde 2004, a saber, meu aluno de desenhos e longas conversas acerca dos mais variados assuntos. Uma boa companhia para estes dias tão escassos de outras amizades, em suma(onde estão todos meus escassos amigos??). Mas, no caminho para lá, eu havia me decidido a não, NÃO pegar o ônibus para lá comparecer, eis que ontem foi dia de agravantes externos para o aumento da infernitude do trânsito já infernal desta cidade. Havia chovido, o que causa um aumento considerável na lerdeza do tráfego, e me parece que houve grandes eventos comemorativos devido ao término do governo de nosso ilustre governador.
Resultado, eu SABIA que o trânsito estaria todo agarrado, e os ônibus estariam completamente abarrotados daquela gente fumequeira de merda, que tenho particular ojeriza. Pé por pé, pé por si, vamos a pé da praça da Assembléia da corja de ladrões para irmos até a praça Milton Campos. Garanto que lá cheguei mais rapidamente que se houvesse apanhado o coletivo na Afonso Pena, que como previsto, era um mar de carros parados àquela hora.
Mesmo assim, andar a pé neste país de bárbaros é sempre uma aventura, pois você fica sempre à mercê da insegurança que é ser transeunte num país onde os sem-lei abundam nas ruas. Em dado momento, perto da Avenida Brasil, me deparei com algo que mais parecia um arrastão, não sei ao certo. Não encarei o povo estranho que se dirigia em massa para algum local que não quis descobrir qual era, e permaneci no lado da rua oposto à turba. Tratei de acelerar meu passo, pois tive péssima sensação diante daquele pessoal. E todos nas ruas evitavam de ter contato direto com eles também, se detendo em pequenos grupinhos enquanto esperavam aquele estranho cortejo passar. Tristes tempos, estes.
Quando cheguei à casa de meu aluno e sobrinho honorário, respirei aliviado, mas bem sabia que o dia ainda estava longe de acabar, pois ali fico duas horas, e quando de lá saio, já é aquele momento mágico em que aquela região se torna uma zona de prostituição. Nada amigável para se apanhar mais um ônibus para finalmente voltar para casa. Como narrei em alguma altura do ano passado, já fui vítima de injúrias a mim dirigidas naquela área, por acharem que eu seria um puto qualqer a fazer ponto ali. Seria uma novidade, eis que a região só tem putas e travestis; nunca vi nem espero ver nenhum garoto de programa ali, e muito menos anseio me tornar o primeiro, evidentemente.
Atravessando a avenida, eis que momentos depois, passa meu ônibus, que muito feliz ignora meu chamado e por mim passa reto, com seu motorista fazendo força para parecer que não me viu ali, entre as putas e quase deseperado para voltar para casa. Levou muitos "vai tomar no cu" de minha parte e gestos obscenos vidos de mim mesmo. Grande consolo, este. Agora teria que esperar uns quinze minutos pelo próximo, naquela área inóspita. Creio que ontem houve festanças futebolísticas também, pois havia um grande número de baderneiros às ruas buzinando feito loucos. E lá estava eu no ponto de ônibus, entre duas putas, completamente vestido , completamente não-prostituto - sem nenhum traje provocativo nem nada, com uma pasta gigante cheia de papéis e desenhos, com um imenso guarda chuva à tiracolo...e ainda me passa um retardado e novamente me tomam por prostituto e repetem a injúria do ano passado. Ha ha ha. Naquele momento, quis ter uma arma comigo para fazer uns furinhos na testa de semelhantes imbecis. Pelo menos não fizeram pior.
Qualquer dia desses, precisarei trajar uma daquelas tabuletas com o seguinte letreiro: "ESTOU APENAS ESPERANDO O ÔNIBUS AQUI" para que estes imbecis me deixem em paz. Ou não.
Temi mais quando passou um outro ônibus que a mim nada serve, com dois malacos a tiracolo agarrados pelos pés ao pára-choques do busão, com suas bicicletas roubadas, e tais malacos dele se soltaram e se separaram. Pensei que iriam encrencar comigo, pois ali mesmo já quase fui assaltado umas duas vezes. Mas estavam era fugindo da rádio-patrulha da ROTAM que vinha logo atrás. Mesmo assim, a viatura parou e puxou conversa com uma das putas ali presente. Nisto, meu ônibus chegou, e pude mesmo ouvir o trocador e o motorista condenando o comportamento impróprio dos policiais, "que belo exemplo desses gambés."
Tanto faz. Naquela altura, só queria voltar para casa. Só queria que o dia terminasse. Que o mês infinito se acabasse. Mas em dado momento, quando o ônibus parou num sinal e ali ficou parado uns cinco minutos, por motivos que não pude compreender, ainda tive o desprazer de assistir uma briga entre um imbecil qualquer e um travesti que fazia ponto perto da prefeitura. Geralmente este tipo de briga é dos mais feios que se pode haver, pois sempre soube da má-fama destes homens vestidos de mulheres. São terríveis e geralmente muito violentos. Não sei como a coisa começou, então nem sequer tentarei tomar partido de qualquer um dos lados envolvidos, mas ainda assim aposto que foi o imbecil que ali passava que provocou o travesti e começou a briga. Enfim, não sei, não quero saber.
Finalmente consegui chegar em casa, ileso. E por mais que o dia tivesse sido péssimo, ele estava morrendo, e eu não morri. Logo, eu venci. Que venha o próximo.
Mas antes disto, que venha o feriado. Amado feriado. Amo a páscoa, com toda sua picaretagem de ovos de chocolates caríssimos e parafinados, não por conta de tais engodos gastrônomicos mas por ser sim, dotado de um dia verdadeiramente útil: um feriado!
Boa páscoa a todos, e até segunda. Nauseabunda, evidentemente.