quinta-feira, 30 de abril de 2009

Arrogantis humanus est.

Nestes dias para cá, dei uma olhada para o céu, onde não mais enxergo as estrelas, devido a algum tipo de defeito pós-cirurgia de correção de miopia, e embora não tenha avistado as estrelas, sei que elas ali ainda se encontram, e eu sinto uma certa falta de poder olhar para elas. Alguns dias, eu esperava a noite dar as caras e ia parao telhado de minha casa para realizar a atividade de "contemplar o cosmos". Olhando para o céu desta cidade, não vemos tantas estrelas como em algum lugar menos cheio de gente, como em cidadezinhas do interior, mas mesmo assim, como moro em um bairro mais afastado, dava pra se quebrar um galho.

Porque eu contemplava o cosmos? Não sei dizer bem ao certo. A visão do céu estrelado em si eu sempre achei bacana, e de certa forma, olhando aquela imensidão toda, eu me sentia um pouco mais...humilde, sei lá. É nessas horas, vendo a luz de estrelas que talvez nem mais existam de fato, que a gente nota o quão pequenos somos. E ainda assim, os seres humanos têm a arrogância de afirmar que somos o único planeta com vida inteligente do universo.

Sim, uma bela duma arrogância esta, em minha opinião. Como disse, o espaço é algo inimaginavelmente grande. Nós, com nosso conhecimento ridículo sobre este imenso local, não podemos afirmar quase porra nenhuma sobre nada lá fora. Pra merda, eu simplesmente não aceito isso. Quando vejo cientistas e outros menos letrados afirmando que é impossivel existir vida inteligente além da que conhecemos nesta josta aqui, me dá vontade de xingar este povinho.

Dizem que não há condições de existir outro planeta com as "condições ideais" à vida como o nosso. Eu duvido muito disso. Muito do que dizem é baseado, como já disse, em nosso escasso conhecimento...Afirmam que a vida depende completamente do sol. Errado. Em nosso próprio planeta, existem locais, como as fossas abissais do oceano, onde a luz do sol nunca chegou ou há de chegar. Teoricamente, não deveria haver vida alguma ali, certo? Errado, novamente. Existem seres ali completamente independentes da luz do sol para viver. Extraem a energia de outra fonte, do calor interno do planeta, que flui ali de fissuras na crosta terrestre. Desenvolveram métodos completamente diferentes para a obtenção de energia, e vivem muito bem, obrigado.

Isto é apenas um exemplo de como pode haver vida em outros locais, que se desenvolveu de maneira completamente avessa às condições ditas "ideais". Novamente, os céticos quanto a este assunto me vêm com afirmações de "então porque não tivemos nenhuma visita de seres de outros planetas, blah blah blah?" Talvez por má sorte, talvez porque AINDA não tenha acontecido de fato. Pois nossa existência, nosso dito "tempo de vida" é pateticamente pequeno se for comparado com o tempo de existência do universo em si. Não entrarei em discussões a la Arquivo X sobre discos voadores e aliens, não vem ao caso.

O que realmente me espanta é, como já disse, a arrogância que temos ao se tratar destes assuntos. Volto a afirmar, o que sabemos sobre o universo? Quase nada, em minha opinião. Como então podemos afirmar que somos os únicos seres inteligentes deste espaço todo? Quanto mais o tempo passa, mais reformulamos nosso conhecimento e espantamo-nos por vezes com teorias já ultrapassadas. Uns cem anos para trás, médicos receitavam sanguessugas para qualquer mal. Médicos recomendavam que seus pacientes fumassem uns setenta anos atrás.

Creio eu que algum dia travaremos contato. Mas não posso afirmar quando será isto, nem ao menos posso afirmar que estarei vivo para presenciar isto. Eu sou humilde o suficiente para afirmar isso.

Algo dentro de mim, no entanto, me faz acreditar que deve haver alguém em algum outro lugar do universo, contemplando as estrelas e se perguntando coisas semelhantes. Porque não?

Bem, enfim, deixemos os pinçamentos filosóficos e espaciais de lado e tornemos ao presente, onde mais um feriado se aproxima, graças sejam dadas. No momento, eu agradeço aos céus e às estrelas e ao que mais quiserem que eu agradeça, pelo nosso volume de feriados para amenizarmos nossas vidas de arrogantes únicos seres inteligentes do universo.

Únicos, de fato. Bem, deixemos de lado tudo isto. Homem ao baaaaarrrrrrr no feriado. Feriado! Feriado. Que palavra linda esta.

Boa folga a todos, até a vista.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Fascismo de terceira categoria.

Em dias sem muitas coisas agradavéis a se dizer, o nonsense ainda é o melhor remédio.

-Estamos aqui, em plena Itália dos anos 30, onde um grupo de militantes do partido Fascista tomou as ruas de supetão para fazer uma dantesca passeata. Vemos aqui que todos os integrantes filiados ao partido estão trajando seu uniforme típico, daí seu nome, "camisas-negras". Mas na passeata de ontem, um grupo de quatro indivíduos trajando camisas rosas foi escorraçado rudemente do movimento, pelo ultraje de trajar tal traje; estamos agora aqui no estúdio com estes individuos e realizaremos uma entrevbista com os mesmos. Boa noite.
-Boa noite.
-Boa noite.
-Gesundheit.
-Eu acho que eu não deveria estar aqui. Eu só vendo estas camisas cor de salmão.
-Sim, sim, o senhor mesmo, comecemos com o senhor. O senhor, que veste esta camisa rosa--
-Não é rosa, é salmão!
-Salmão é um peixe de água fria; eles não são rosa, pelo que me lembre.
-Sim, mas a carne deles é desta cor!
-Cor de rosa? Então o senhor deveria chamar a esta cor de "cor de carne de salmão", não?
-Sim, mas podemos abreviar para simplesmente "salmão", não?
-Não. O senhor está obscurecendo a verdade. O senhor não está além da verdade!
-Dane-se a verdade, eu só vendo estas camisas salmão!
-Não irei permitir abusos em meu tribunal!
-O senhor não é juiz, isto não é um tribunal, nem eu cometi crime algum.
-Sim, eu sei, mas drama gera audiência. E o senhor não consegue suportar a verdade!
-A verdade é que eu vou embora daqui. Fui!
-Maldito. Pois bem, e os senhores, o que vocês têm a dizer sobre vossa afronta ao partido fascista?
-Não temos nada a dizer. Somos integrantes de outro partido, o dos camisas-verdes.
-Mas as camisas de vocês são salmão, digo, rosa.
-Não, não são.
-Sim, isto não é verde, isto é salmão...rosa!
-Não, o senhor está enganado.
-Verde é tipo a camisa que eu estou usando.
-Quer dizer que o senhor é de nosso partido! Camarada!
-Não, não estou usando camisa cor de salmão, digo, rosa, caralho!
-O senhor é o caralho? Ou veste camisas do caralho?
-Sim, sei que esta camisa é do caralho.
-Vá pro caralho.
-Vá o senhor! Eu exijo ordem em meu tribunal!
-O senhor não é juiz.
-Mas eu poderia ser.
-Foda-se.
-Enfim, porque os senhores estavam trajando camisas salm...ROSA em plena passeata dos camisas-negras?
-Já disse que somos dos camisas-verdes.
(som discreto de um tiro de revólver. O cadáver do primeiro camisa-rosa é removido discretamente do recinto)
-Sim, sim. E o senhor, porque estava vestindo camisa rosa em uma passeata dos camisas-negras?
-Não sei de nada!
-Como não sabe de nada?
-Não sei qual é a capital da Assíria, por exemplo.
-Isto não vem ao caso.
-Então o que vem ao caso?
-PORQUE DIABOS O SENHOR USAVA CAMISA SALMÃO, DIGO, ROSA NA PASSEATA DOS CAMISAS NEGRAS???!!
-Não me grite. Eu não sou surdo.
-Pois não parece.
-Hein?
-Qual o motivo, o significado, o enigma destas camisas rosas, porra!
-Hein?
-Responda a pergunta! Lembre-se que o senhor está sob juramento.
-Não, não estou. Quero dizer, "Hein?"
-Ahá! Perjúrio é crime! O senhor disse que não era surdo!
-Disse, mas não jurei, não estou sob juramento e isto não é um tribunal. Hein?
(BANG. Mais um cadáver é removido dali)
-E o senhor, o único restante, porque DIABOS estava usando uma camisa rosa na passeata??!!
-Porque eu quis inovar. E salmão é muito menos demodê que estas cores nada fashion que os fascistas usam em seus trajes, tão vulgares.
-Quer dizer que o senhor assume que tentou tirar a vida do Duce?
-Tia Dulce? Não, nunca fui ao programa dela...snif....meus pais me maltratavam! Não quiseram me levar lá, nem no parque de exposições. E eu sempre quis ser bombeiro, não um integrante de um partido fascista qualquer.
-Cale-se.
-Não, a justiça deve prevalescer. O senhor está escondendo a verdade!
-Cale-se! Este tribunal é meu!
-Não, não é. Pelo poder a mim outorgado por ser integrnate dos camisas-verdes, eu tomo posse.
-Meu rei!
-Isto não é uma monarquia. Guardas, matem este biltre.
(BANG. O orador e juiz tomba morto. O camisa-salmão, digo, rosa, digo, verde, restante contempla a cena em camêra lenta, em replays incessantes.)
-Está tudo feito. O rei está morto, longa vida ao rei.
(Mas eu achei que isto não era uma monarquia)
-Quem disse isto? Quem esta aí?
(Apenas o narrador)
-Quem?
(O narrador, PORRA)
-Narrador da porra? Ahahahahahaha!!!
(Chega desta merda. Fim.)
-Não espere, o senhor não deseja comprar esta camisa salmão?
(FIM!!!)
-O senhor não pode fazer isto! Onde fica a democracia??
(FIM. THE END. FINITO.)
-Isto é um abuso de poder--

(E então o cavaleiro negro se apossa da cabeça do camisa salmão, digo ROSA, caralho, e se dirige ao crepúsculo. O bar, não o evento. E acaba-se a história do lobo mau.)

-Não entendi nada.

(VOCÊ ESTÁ MORTO, PORRA!)

-A porra está morta?? AHAHAHAHAHAHAHA!

-Transmissão encerrada aqui-

terça-feira, 28 de abril de 2009

Quinto dos infernos.

O que alguém teria feito no meu lugar?

Evidentemente, já teria caído fora daquela casa. Foda-se tudo, eu prezo a vida, pernas pra que te quero, eu vou é cair fora, etcoetera etcoetera. Era o mais normal a se fazer, era o que eu faria...se eu fosse outra pessoa, talvez mais inteligente.

Mas não.

Depois daquela noite e daquele susto na manhã seguinte, uma pessoa normal teria saído dali e nem ao menos teria olhado para trás. Eu desejaria ter feito isso, mas...é a crise. Eu estava muito fudido, monetariamente falando, para largar uma oportunidade daquelas. Eu precisava de dinheiro. Precisava de tempo para me reerguer, para voltar a escrever. Precisava de algo, uma oprtunidade como aquela era do tipo que não se encontrava facilmente.

Blah, blah, blah. Sim, enquanto eu carregava minhas coisas para meu quartinho nos fundos da casa - o que de fato havia a mim sido reservado - eu pensava nestas justificativas racionais todas. Todas estas desculpas para me segurar ali. Logicamente, havia um lado infantil dentro de mim falando também. "Você abandonou seu emprego, saiu correndo feito menininho assustado por causa de um sonho? Tem medo de que a casa seja mau-assombrada é?"

Ha, ha, ha.

Por mais que eu passasse e repassasse este discurso mental, havia algo mais que me segurava ali. Algo dentro de mim me compelia a tentar permanecer ali, naquela casa. Evidentemente, eu não era bobo o suficiente a ponto de permanecer no quarto estranho. Eu poderia até ser meio burro, inclusive no quesito teimosia, mas eu não era tão burro assim.

Havia algo ali, e eu sabia disso. Algo que me intrigava. Sim, quando se tem visões como a que vivenciei dentro daquele lugar, uma pessoa normal sabe que existe algo errado. Sim, claro. A questão era...valia a pena realmente ficar ali?

Suspirando frustrado enquanto minha cabeça tentava encontrar alguma explicação, ou alguma evidência, alguma coisa que justificasse minha estada naquele lugar, eu ia ajeitando meus cacarecos naquele quarto de despejo. Era infinitamente menor que o "meu" outro quarto, mas parecia que ali não havia algum portal para outra dimensão ou coisa assim, ao menos assim me parecia. Então eu supus que estaria mais seguro ali.

Assim que pus a máquina portátil em cima da minúscula mesinha de cabeceira do quarto, me lembrei subitamente de uma coisa. Olhei para o papel que ali estava. Sim, havia algo escrito ali.

"(...)Olhei para o papel que ali estava. Sim, havia algo escrito ali."

Vá tomar no cu, foi a resposta imediata. Arranquei o papel da máquina, amassei-o todo e o arremessei contra a parede. Mas que joça. Estaria eu ficando doido de fato? Muitas pessoas já tinham me acusado disto - sem incluir minha ex-esposa, claro - que eu estava ficando meio biruta, principalmente depois que a vaca me deixou. "Você está bebendo demais." Sim. "Você está se tornando muito solitário." Sim.

O que não diziam - não diretamente, ao menos - era você está decadente. Como já havia dito algum filósofo anônimo por aí, "a decadência só tem início". E eu sabia disto.

Com raiva, apanhei a bola de papel amassado e me dirigi à cozinha. Queria queimar aquilo, não sei bem porque. Postei-me triunfante diante do fogão e desamassei a bola, apenas para vislumbrar aquela merda toda de novo. Queria ver se a coisa estava ainda se escrevendo sozinha; ainda existia alguma parte racional dentro de mim que ansiava por uma resposta lógica, algo que realmente pudesse me indicar se eu estava ficando louco ou não.

"(...)Queria ver se a coisa estava ainda se escrevendo sozinha; ainda existia alguma parte racional dentro de mim que ansiava por uma resposta lógica, algo que realmente pudesse me indicar se eu estava ficando louco ou não."

Desanimado, comecei a rir histericamente, e joguei o papel no lixo, não tendo ânimo para acender aquilo, para incendiar aquilo. Para sair correndo dali.

Ao contrário, abri a geladeira e abri uma cerveja. Tssss. Pois sim, vamos ver se eu estou realmente ficando louco.

Não irei embora daqui, está ouvindo??!!

O silêncio ecoou em meus ouvidos como única resposta no momento.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Fragmentos, pedaços.

-Primeiro Acto-

Em um estacionamento, vemos nosso protagonista entrar em um carro e ligar a chave, para ter força elétrica nos instrumentos. Ele se interessa particularmente pelo rádio.

-Parece incrível, você põe o repolho e ele sai sequinho!
-E não é só isto, se você ligar agora, ainda ganha esta Faca Gansu inteiramente de grátis.
-E compre, compre este novo secador de repolhos em inox, o único com...

(Interrompemos este comercial para a transmissão não autorizada do Programa de Críticas de Guarânias Clássicas dos anos 1830.)

-(...)E ao que me parece, este verso foi escrito em homenagem à cachorra da empregada do vizinho do sub-gerente do hotel que este compositor ficou hospedado no inverno de 2017.
-Tens certeza disto, caro colega? Perece-me que consigo identificar elementos de suas prévias canções para ninar.
-Não, tenho certeza que...

Vshshshhshhhhhhhhhh---zzzzzztttttttttt

-...e aqui temos no estúdio o senhor Porca-russa, que...

Vshhshshshhsshshh---------zzzzzzzzzztttttttt

-Acorde para a vida! Agora com despertadores Guillotin, se você não acordar, é porque você está realmente morto de cansaço.
-Obrigado, Sr. Silva Silvas. E agora, para algo mesmo do mesmo, mais do mais, apresentamos a calculadora que só faz somas e só apresenta os resultados em dias pares! Adquira já para seu funcionário público!

Vshhshshshhsshshh---------zzzzzzzzzztttttttt

-Então quer dizer que o senhor se apaixonou por Rosanne Collor?
-Sim.
-E compôs uma música para ela.
-Sim, "Caralho Voador".
-Inspirador. E o senhor crê que foi correspondido?
-Não, uma vez que nunca respondi nenhuma carta sequer dela.
-E quer chorar?
-Não!
-Então porque o senhor está fazendo este biquinho aí?
-É porque eu tenho desejos!
-Er...mudemos de assunto.
-Não! Não irei mais me reprimir! Venha cá!
-Socorro! Produção!

Vshhshshshhsshshh---------zzzzzzzzzztttttttt

-Eu tenho um sonho, onde vejo pessoas sem nenhuma segunda-feira em suas vidas.
-E o senhor sonha acordado também?
-Sim.
-Então acorde e volte ao serviço, seu inútil!
-Sim chefia! Mal aí chefia!

Vshhshshshhsshshh---------zzzzzzzzzztttttttt


-Tem dias que eu acordo mais estranho que outros.
-Eu sei, você faz parte de mim.
-Maldita seja minha xifopagia.
-E você acha que eu gosto de ser seu irmão? Sem a menor possibilidade de me afastar de você!

-Isto acontece com você? Não se preocupe mais! Agora chegou a moto-serra portátil Betamax! Livra você de seu irmão siamês e registra tudo em o mais puro vídeo!

Pausa. Neste momento, entra o guarda de trânsito, que olha atentamente para nosso protagonista, que continua brigando com o rádio. Ele se aproxima do carro e bate no vidro.

-Tudo bem com o senhor? Pode abaixar o vidro por favor?
-Sim, como não, Senhora Oficial de Justiça.
-Eu sou um guarda de trânsito!
-Pois não parece!
-E eu que me dedico tanto ao tricô. O que o senhor está fazendo?
-Estou ouvindo rádio.
-O seu carro não tem rádio.
-Eu sei, roubaram-me o rádio ontem. Mas eu me recuso a acreditar. Como sou actor, posso representar melhor que o rádio em si.
-Mas, noto que além de seu rádio, levaram o carro também!
-Como? Sim, eu notei. Estive imaginando o carro também.
-Isto é um absurdo. O senhor é louco!
-Mais louco é o senhor, que bateu em meu vidro de meu carro, que não existe.
-Er...O senhor é muito pessimista! Ele ainda existe, em algum desmanche por aí!
-Sim, sim, bem sei.
-Vamos brincar de esconde-esconde!
(batendo palmas) - Sim! Sim! Sim!
-Então esconde aí, depois eu te encontro.
-Duvido que você me ache.
-Sim, sim, agora vai nessa. Sai.
-Sim! Sim! Cê não vai me achar! (Sai correndo)

Vshhshshshhsshshh---------zzzzzzzzzztttttttt

-É cada doido que me aparece.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Butecus salutaris est.

Novamente, lá vem ela nos salvar, a famigerada sexta feira. Que venha ofim de semana, que venha o fim de semana, é o clamor de quase todos os trabalhadores braçais - ou não - de todo o mundo. Hoje, além da sensação de alívio causada pelo fim de semana iminente, estou ainda mais regozijado devido a um simples evento que aconteceu ontem a noite. Tão simples, tão negligenciado por mim várias vezes ao decorrer desta má fase que estou passando, de humor e outras coisas.

O que aconteceu ontem simplesmente foi o fato de que encontrei-me com amigos de longa data, que não via há tempos. O simples encontro foi como um remédio para meu humor, algo tão simples assim. Por vezes, espanto-me com estas coisas. Como é simples amenizar as agruras da vida em si.

Sim, ontem, encontrei-me com estas pessoas, e nos dirigimos para um típico estabelecimento belorizontino, que é o buteco copo-sujo, um dos milhares, dos milhões, dos zilhões que existem em esta cidade. Tais lugares são fantásticos: você se diverte conversando com seus amigos enquanto porções de coisas gordurosas são ofertadas pelos garçons, e enquanto isso, amaioria dos frequentadore de tais locais bebe copo após copo de cerveja, esta estranha bebida, que é uma droga em termos de sabor, e uma droga em termos farmacológicos. Como dizem alguns apreciadores de tal coisa, "eu não gosto do gosto, mas sim do efeito". Certo, certo.

E as conversas de mesas de butecos são maravilhosas; os assuntos podem ir dos mais complexos aos mais risíveis em uma questão de segundos. E quando as pesssoas vão se tornando levemente alteradas devido ao teor alcoólico que não para de subir enquanto enchem e esvaziam seus copos, os absurdos que saem de suas bocas são memoráveis.

As risadas que ali dei ontem fizeram-me muito bem, deveras. Enquanto tive aulas naquele lugar que alguns de meus confrades trabalham - a saber, a Casa de Quadrinhos - eu tinha este hábito de assim que as aulas terminavam nas quintas, íamos todos - alunos e professores - para o mesmíssimo buteco que fomos ontem e fazíamos a mesmíssima coisa que fizemos ontem - sentar e jogar conversa fora.

Estive me perguntando estes dias o que poderia eu fazer para melhorar meu azedume causado pelas chatices da vida, e parece-me que tornarei a frequentar tais locais. Eu gosto de ambientes feito aquele buteco, onde você pode conversar numa boa, sem gritar(não existe som ambiente de nenhuma sorte ali) e sem ser importunado por multidões em excesso, como aqueles outros locais típicos da noite daqui, como os inferninhos. Não que eu seja claustrofóbico; minha misantropia é o fator determinante para não gostar demais daqueles locais...

Enfim, vejamos se doravante participo de mais encontros como este. É salutar manter a súde mental saudável, saudavelmente falando. Tipo.

Enfim, vejamos o que o fim de semana nos reserva. Até segunda...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Prayer.

Give me strength
To not give up
To not let go
Of these things

Things I care about
Things that let me live

Give me wisdom
To tame me
To rule me
To be
What I want to be
To do
What I need to do

I don't want to give up

Let me do my things
Let me be able

to be me.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Logaritmo de dois.

Por que, me perguntam, por que.

Porque não fui embora dali. Eu mesmo me fiz esta pergunta inúmeras vezes ao decorrer dos dias naquele lugar. E mesmo assim, eu não saberia responder bem ao certo. Todos os dias pela manhã eu me perguntava a mesma coisa.

E eu mesmo nunca saberia responder a tal pergunta, ainda que ela tenha ecoado tantas vezes em minha cabeça.

Por que.

É a velha dúvida de sempre, que me assola todos os minutos - porque estou fazendo isto, porque estou fazendo aquilo, qual é a razão, qual é o motivo.

Sempre precisamos de algum motivo, ao que me parece.

Ainda que nunca, de fato saibamos por que precisamos disso. De que nos adianta este posto, esta coisa magnânima que é ocupar o trono de espécie dominante deste glóbulo flutuante nesta coisa a que chamamos espaço, que estamos rodando, rodando, a sei lá quantas velocidades por hora, por minuto, por segundo.

Que adianta tudo isto, se ao mesmo tempo sabemos que quanto mais sabemos, menos esperança temos em algo diferente, em algo ímpar, em algo sem igual - que vá nos salvar, que vá nos tirar, que vá nos embalar na longa noite do espaço sideral. Da galáxia XYZ. Do planeta Starbucks.

Que mais poderia dizer, que fiszesse algum sentido em momentos com sentido nenhum, que tanto parecem-me aparecer em momentos como este, em esta existência de minuto que levamos.

Que levamos. Que levo.

Até onde a levo, esta é a questão. Alguém me responde?

Tem alguém aí?
Tem Alguém aí?

Que resposta pode dar-nos o vácuo, eu me pergunto.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Intervalo, comercial.

Fui informado hoje pela manhã pelo meu risonho despertador que teria que acordar, ainda que preferisse permanecer em casa. O que são 12 ou 14 horas de meu dia para o bem-estar de meu empregador, que deve estar a uma hora destas babando em seu travesseiro nalgum local aprazível por aí. Enfim, sjamos como toda a força "voluntária" que se apresenta ao trabalho na data de hoje e façamos a economia girar, como dizem. O fututo do país a nós pertence, sim, a nós. Os últimos serão os primeiros...a se fuderem.

Enfim, aqui estou, cogitando sobre todas estas agruras que a vida nos submete em seu divertimento diário de nos observar a lutar ou tentar lutar contra as coisas que assim o são, assim o serão para sempre. O semana-fim foi agradável até a emocionante descoberta do despertador estridente em meus ouvidos. Nada de muito profundo ou significativo para a vida moderna foi por mim descoberto nesta ocasião em ocasião, mas ainda assim, na data de ontem me diverti com um artefacto que estava guardado há muito, e que só recentemente terminei de quitar o preço da coisa em si. Agora sim, tal coisa me pertence, segundo a agência de crédito.

Ademais, nada muito a declarar. Cada vez mais estou mais e mais caído, apaixonado irremediavelmente, terminantemente, insuportavelmente, por esta criatura denominada Cremilda, que me proporciona tanto e tantos momentos lúdicos e libertinosos em meu apartamento, em meu habitar. Somente no braço dela encontro o sentido necessário para a compreensão, para o sentido total e completo de minha existência. Porque ali está a resposta, o sentido, a razão para que...Oquei, oquei. Menos delírio onírico em uma segunda feira de manhã em que somos obrigados a ausentarmo-nos de nossas lides verdadeiras para realizarmos estas tarefas vis que nossas vidas nos exigem é necessário para que suportemos de maneira sã eta humilhação.

Enfim, como podem ver, sim, estive muito às voltas com as seis cordas e com aparatos tecnológicos em função da desenhação. Arte é o caralho.

E doravante no dia de hoje, estarei às voltas com o ICMS das notas fiscais de tomates que abundam em minha mesa ainda, enquanto aguardo impacientemente pelo meu retorno à meu paraíso na terra, o único lugar que posso ser do jeito que sou sem que ninguém além de mim mesmo me recrimine por isto. Se bem que não, uma vez que agentes do patrimônio alheio sempre estão a aparecer e exigir minha presença perante as reuniões desnecessárias à existência de qualquer pessoa como eu - o ser eremita eterno, que simplesmente, mais e mais, chega a esta mesma conclusão: o caminho é ser voceê mesmo, nem que para isso tenha que ser membro da congregação de um que existe em mim mesmo.

Assim, assado. Continuemos vivos, continuemos empregados, continuemos robôs biológicos que um dia falharão para sempre e serão substituídos por outros, mais jovens e mais salutares, mais idiotas e mais cheios de esperanças infladas que a vida tratará de esvaziar no decorrer dos acontecimentos. Pelo menos a meu ver, o do odioso pessimista. Perdão por estas palavras amarga, meus caros. Pararei por aqui o relato intermediário pós-apocalíptico de Abril.

Tenham todos bons restos de feriado. Se estiverem atados à seus grilhões capitalistas como estou eu, tenham coragem. São só algumas horas, e pelo menos hoje, se a labuta é-nos estranha, assim o é para vários: ao menos isto, o trânsito está uma beleza para os fudidos como este que vos escreve - os busões estão vazios que é uma beleza, e as ruas, desertas.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Tudo ou nada.

Em momentos assim,
prefiro estar aqui,
onde tudo faz mais sentido
embora sentido algum exista,
em qualquer lugar daqui
-ou dali.

Enfim, olho ao redor,
busco algo que me incite,
que me seja escrevível.
Ali está uma porta,
atrás dela não sei de nada,
não vi nada,
nada de nada.

Olhemos para outro lado,
aqui temos uma caneca
- de café, do que mais?
que fumega, perfuma meu ar,
profusamente, me leva a crer
que há algo dentro dali,
algo que me faça escrever,
algo que me faça crer,
algo que me faça despertar.

Mais adiante, temos a pia,
esta que está vazia,
eis que outrora cheia esteve,
mas tudo esvazia-se
quando simplesmente deixamos
aberta, sem tampa,
sem rede, sem nada.
- nada de nada.

Caixas, papéis, lápis
- sonhos? -
empilham-se aqui e ali,
ali temos um bicho,
um artrópode, um inseto,
um ser; ao lado temos
traças que comem os
papéis, que devoram
as fibras, as lidas,
as tramas, os traços
- os sonhos? -
os rabiscos que tanto
circulam por outro lado,
este nada definível,
este nada visível,
que habita
em esta
cabeça.

O que há aqui?
Nada? - tudo.

Tudo que sempre quis,
tudo que sempre pensa,
tudo que sempre neura,
tudo que sempre tenta.

Tudo? - nada.

Pois eis que aqui estou,
mas aqui não estou,
estou ali, na fumaça do
café, na água da pia,
na trama do papel,
- comida de traças -
nada de nada.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O ministério...

...da súde alerta: não leia isto se você não gostar de velhos derrotados.


Por vezes, me pergunto coisas que não têm resposta, ou pelo menos não de imediato. Aliás, faço isto muito mais do que deveria, porque parece-me mesmo que muito de minha "nóia" por assim dizer, vem deste eterno questionamento, desta busca....de algo que eu não sei o que é, e que desconfio que nunca mesmo irei saber, algum dia.

Não encontro nenhum alento em saber tal fato, entretanto. E parece-me que quanto mais usado(véi, véi, velhooooo) me torno, torno-me mais carrancudo também. Acredito eu que tenha nascido já com alguma alma velha, ou coisa semelhante. Adoto este pensamento emprestado de outro companheiro que diz "velho de alma" como eu. Por vezes, quando analiso nossos comportamentos, creio que realmente somos como aqueles velhinhos que ficam em praça pública, resignados a ver o restante de suas vidas passar, enquanto fazem somente o que lhes resta fazer, diante de seus impedimentos físicos: observar e pensar. E pensar. E pensar. E observar.

Eu mesmo sei que ajo desta maneira perante minha vida, muitas vezes além da dose saudável desta dita "apatia" perante ela. Não é bem propriamente uma apatia, mas quando paro para pensar, quando me lembro das acusações que me fazem de tempos em tempos - de ser acomodado, de sempre permanecer na "zona de conforto", ou de "só estar assim porque eu quero"(esta frase, a propósito, é uma frase que pode incitar-me a ter impulsos homicidas contra quem quer que seja que a tenha pronunciado) - por vezes, me parece que tal impressão que causo nos outros é de fato, algo que escolhi, algo que faço conscientemente. Realmente, é fácil chegar a esta conclusão que "só estou assim porque quero".

Mas, afirmo-lhes que não. Não é nada disso que eu quero.

Não recrimino mortalmente todos que me dirigem tais acusações, pois eu mesmo, como já escrevi inúmeras vezes, me considero facilmente tachável de tal alcunha. Mas, entretanto, existe outra alcunha que é mais adequada a pessoas como eu - a da derrota.

Que facilmente pode ser transformada em resignação, que facilmente pode ser convertida em outra palavra adequada - conformismo.

Mais uma vez me enveredei em emus próprios argumentos e traí-me neste raciocínio que tentava defender-me, mas foda-se também. O que acontece realmente em mim é que sou realmente um pessimista nato, e acredito sempre no pior, e acredito que tudo sempre piora ou vai piorar. Se melhorasse, não morreríamos nunca, não é mesmo? Não? Alguém me rebate esta? Sem lançar mão de argumentos religiosos, termos inúteis de pós-vida e algo melhor virá depois desta vida? Alguém?

Sim, sim, não estou em meus melhores dias. Prefiro escrever textos aleatórios enquanto estou assim, mesmo porque conforme já me disseram jovialmente, jocosamente e quejandamente - não creio que pessoas se interessem muito em ler o Diário de um Emo, ou Ema. Ou sei lá.

Sei que sou realmente um ser paradoxal, basta ver o tanto que me dizem que sou isto e aquilo, que poderia ser aquilo outro e aquilo mais, que deveria fazer isto, que deveria sorrir mais, que deveria blah blah blah. Sim, não me desvio de tais acusações.

Sei, melhor que ninguém que apenas me conhece exteriormente, que as pessoas, teoricamente, estão certas a este respeito. Mas estão erradas em outros tantos.

Porque, afirmo-lhes, luto todos os dias contra mim mesmo. Tento corrigir tais coisas, tento me forçar a fazer coisas que me façam mudar, que me façam ver a vida com olhos menos velhos, menos pessimistas.

Mas é uma luta inglória. Fazem quase 32 anos que travo tal batalha, e por hora, não vejo sinais para entusiasmo, para otimismo. Quanto mais eu vivo, mais morto eu me torno.

E se existe um tipo de pessoa que repele as outras, é um tipo como eu. Alguém que só enxerga o lado preto das coisas. Em alguns dias melhores no meu passado, já me encontrei com pessoas que ou eram ainda mais pessimistas do que eu e/ou estavam em maus dias e só faziam reclamar, reclamar e reclamar.

Realmente, nosso impulso é de sair de perto murmurando, "puta merda, mas que MALA".

Então, aqui estou, reclamando e reclamando e vivendo. Até quando eu não sei, mas desconfio que será assim sempre.

Perdoem-me se algumas tantas vezes fui assim a ponto de que quissessem me matar, "put me out of my mysery and/or my fuckin' BITCHIN' around", mas é assim que sou.

E mais uma vez. Não. Não. Não. Não. Não gosto de ser assim. Se gostasse, não ficaria neurado com isso. Não tentaria lutar contra isto diariamente.

Enfim, tornemos ao nosso cibernético trabalho, sejamos todos bons robôs em nossas fábricas, trabalhando e mempregos que odiamos para que possamos comprar merdas que não precisamos.

Hu-há.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Quarta; Parte quarta.

Não.

Por mais que aquela pessoa, que insistia em me chamar de um outro nome não era o meu, me chamasse de volta para a cama, eu me recusava a me levantar do chão onde me encontrava. Pelo menos não até que alguma coisa daquilo tudo fizesse mais sentido. Ou algum sentido, por assim dizer.

De repente, algo em minha cabeça me fez fechar os olhos; senti-me como se estivesse sendo empurrado para trás, como se algo me jogasse para um canto do quarto. Tentei abrir os olhos novamente, mas tudo que vi ao redor foi um papel de parede vermelho ao longo de um imenso corredor...Com muitas e muitas portas, que passavam rapidamente.

Eu sabia que aquilo não era um bom sinal, e que não acrescentava nem um pingo de sentido à minha situação atual. Era como se eu estivesse flutuando no corredor, e me dirigindo cada vez mais rápido em direção à...

A um par de olhos vermelhos que espreitavam, parados na escuridão em que me dirigia. Tentei fechar os olhos, mas era algo que não pude fazer. Era como se eu não tivesse corpo, nem tivesse vontade alguma sobre minhas ações. Tentei, de todas as maneiras, me desviar, correr na direção contrária àquilo, qualquer coisa. Nada adiantava. Em um átimo, tudo que pude sentir foi uma aflição estranhamente familiar. Dor, como um milhão de dentes a me rasgar, me dilacerar, em milhões de pedaços. Por entre o vermelho do papel de parede do corredor de um milhão de portas, vi cenas estranhas aparecendo, como se fossem fragmentos de filmes projetados ali.

Cenas estranhas, pessoas estranhas, coisas que nunca tiunha visto antes...mas que de alguma forma me soavam estranhamente familiares. De repente, vi algo que pudde reconhecer: o rosto de uma bela mulher morena...a mesma que estava na cama quando acordei. O tema ficou constante na projeção fantasmagórica: só se via a figura de tal mulher ali. E...parecia sentir o que ela sentia, inicialmente sensações agradáveis, mas depois de um tempo....

Seu rosto só aparecia na filmagem coberto de lágrimas. E eu sentia dor e mais dor. De repente, vi um rosto transfigurado, olhos em desespero, mas secos de lágrimas.

Olhos parados. E não senti muito mais nada, pos alguns instantes. E outra dor começou a crescer em mim, algo além de todo o resto. E um negrume tomou conta do resto todo, enquanto finalmente algo me fez desligar de tudo aquilo.

De repente, pareceu-me que o mundo havia se refeito ao meu redor. Senti-me inteiro, e fui reativando, uma a uma, minhas sensações. Havia algo frio em minhas mãos. Algo liso, escorregadio....Louça?

Uma pia. Olhava para uma pia. Estava de volta no banheiro. A água corria.

Sabia que havia um espelho à minha frente, mas tinha medo de olhar.

Levantei a cabeça, com os olhos cerrados forçosamente. Algo dentro de mim me preparava para o pior.

Abri os olhos. Ali estava minha velha cara, meus velhos olhos. Nenhuma suíça bizarra despontava de minha rala barba.

Ha, ha, ha. Um sonho. Apenas um sonho, eu me afirmei. Pare de beber tanto, disse rindo para mim mesmo. Ha, ha, ha, eu fui andando para fora do quarto. Ha, ha, ha, quantas cervejas é necessário para que uma pessoa tenha tais pesadelos? Para que alguém se torne sonâmbulo?

Rindo, nem percebi que havia um cabideiro e um porta-chápeus no chão. Tropecei ali, rindo ainda, muito, muito. E caí de cara no chão, diante de um velho calçador de sapatos.

Ha, ha, ha.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Terceira parte.

Acorde.

Acorde, seu traste, já dizia a voz em minha cabeça. Abri os olhos na penumbra, e minha cabeça sentiu o peso do álcool que ainda circulava em meu corpo. Levantei meu corpo lentamente, sentindo todo o peso do mundo ao meu redor.

Apesar de estar de ressaca, eu sabia que estava acordando muito mais cedo que o costume. Lá fora, o dia ainda estava se espreguiçando.

Todas as vezes que eu excedia meus limites, eu me dava o mesmo velho sermão: seu idiota, pare com isso. Pare de tentar acelerar as coisas. Álcool não é a resposta, etc etc. Parecia mesmo ouvir as palavras de minha mãe em minha cabeça. Sentei-me na beirada da cama e olhei ao redor, tentando ao mesmo tempo relembrar tudo o que havia se passado ontem, quando voltei de minhas compras.

Lembrei-me vividamente daquele pesadelo que tive na cozinha da casa. Minha cabeçalatejou e me perguntei se realmente havia passado da conta a ponto de ter uma alucinação como aquela. fui até o banheiro meio que cambaleando, sentindo-me estramnhamente leve. Sim, ainda havia veneno em minhas veias, e nestas horas, nada como um bom Excedrin para aliviar esta sensação de tomate amassado no asfalto quente. Sei lá, eu definia minhas ressacas todas com esta sensação.

Postei-me diante da pia, mas desviei meu olhar do espelho. Não suportava ver minha própria cara sempre que fazia semelhantes merdas. Porque eu agia daquela forma, eu não sabia. Saco. Às vezes, eu me fartava de ser eu mesmo. Sempre agindo errado, sempre trocando os pés pelas mãos.

Enfim, deixa pra lá, disse minha porção racional. Ergui minha cabeça e olhei no espelho.

Quem era aquela pessoa?

Não sei quanto tempo fiquei ali olhando para o espelho, fazendo mímicas comigo mesmo. Quem estava refletido ali não era eu, era...alguém que eu não conhecia. E o estranho imitava meus movimentos com extrema precisão. Alguém parecendo ser muito mais velho, com barbas grisalhas, imensas suíças debaixo de cada orelha. Riu daquilo e o estranho rui de volta, franzindo o cenho logo em seguida, inclinando a cabeça para a direita.

Realmente, havia bebido demais. Afastei-me daquele absurdo de espelho, um tanto exasperado, é verdade, mas dizendo a mim mesmo, pare com isso, pare de beber, pare de fazer tudo que você mesmo acha errado. Voltei ao quarto, acendi a luz. Uma pálida luz amarela, bem diferente da que havia instalado no dia anterior, iluminou fracamente o quarto, que parecia o mesmo da noite anterior, mas...

Havia algo de estranho ali.

Sua máquina de escrever estava no mesmo lugar que havia deixado antes, mas havia um calhamaço de folhas ao lado dela, juntamente com alguns petrechos antiquados de escrita: uma pena de ganso e um tinteiro cuidadosamente lacrado.

Aproximei-me da máquina. Havia uma folha ali, com um fragmento de texto escrito.

Desde que havia chegado naquele lugar, nem havia posto papel naquela máquina. Não ainda.

Voltei um pouco a folha para ler o que estava escrito ali:

"...voltei um pouco a folha, para ler o que estava escrito ali. Dei um passo para trás, desnorteado com aquilo."

Dei um passo para trás, de fato. De fato estava desnorteado. E se tivesse lido mais, creio que iria saber que haveria no chão um velho calçador de sapatos, no qual eu iria tropeçar e cair, levando o cabideiro e porta-chapéus comigo.

Olhando para o teto, apalpei minha cara. As suíças ali estavam. Mas onde estava eu? Quem eu era? Berrei para o teto:

"Que loucura é esta?!?!?"

Um travesseiro me acertou na nuca. Uma voz, vinda detrás de mim disse:

"Pare com isso, seu beberrão. Volte para a cama e desligue a luz. É domingo, vamos aproveitar para acordar um pouco mais tarde..."

Virei-me para ver uma mulher morena se enfiar de volta nas cobertas da cama. Fechei os olhos forçadamente, tentando em vão despertar. Todas as vezes que abria via a mesma luz fraca no teto. Sentia as mesmas suíças na cara.

Uma cara que não era minha.

Havia uma mulher na cama.

Uma mulher que não tinha a menor idéia de quem fosse.

O que estava acontecendo ali, eu não sabia. Ainda.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Reportagem típica.

Ah, eis que a velocidade da luz se tornou lúdrica, a ponto de fazer com que o feriado passasse ainda mais rápido. Sim, eis que é novamente segunda feira, e aqui estou, me perguntando se realmente estive vivo em estes 3 últimos dias que se passaram. Não me parece, para dizer a verdade. Sim, o tempo voou, de fato. Ontem a noite me espantei já organizando mentalmente a lista de coisas a se levar apara o trabalho no dia de hoje. De fato, dizem que o tempo voa quando a gente se diverte; mas afirmo que não é bem assim, o tempo voa em feriados e tende a se estender até o limite do infinito quando estamos encerrados em algum escritório infecto, a espera de que o badalo soe o número de horas ansiadas.

Sim, O dia de hoje me parece a síntese de todo o fim de semana, todo o feriado. pois que mais uma fez, fiz e refiz planos de dominação mundial, planos para a reformulação generalizada da vida e quejandos, e não é preciso me conhecer muito para se identificar o fracasso escondido por trás das palavras. Sim, falhei miseravelmente em 90% de minhas empreitadas planejadas para este período, mas mesmo assim, estive pensando e verifiquei que não foi tanta coisa assim, se levarmos em conta o quão ambiciosos - e ao mesmo tempo inexequíveis - são estes planos.

Não sei se isto acontece com a maioria das pessoas, mas frequentemente me proponho tais planos. Geralmente há uma euforia inicial, em que são analisadas todos os obstáculos que serão mais facilmente derrubados após a execução sumária de tal plano. "Isto irá resolver minha vida inteiramente." Neste período é frequente a construção dos ditos "Castelos de areia", arquitetura monumental de fato esta, mas nada estável.

Enfim, é o que me acontece com frequência maior do que a desejadad normalmente. Planejo, planejo, verifico, construo mentalmente tudo, mas na hora de por em prática...

Bang. Tudo cai por terra.

Ultimamente, ando tentando ter mais paciência com estas coisas, pois após uma vida inteira repetindo as mesmas tendências e ações, a gente ou se acostuma ou tenta achar alguma brecha pra tornar a coisa mais tolerável. Em resumo, o feriado deveria ter sido muito mais produtivo do que foi, mas ainda assim, fiz algo. Acho que é melhor que nada. Já que tenho que me contentar c0m pouco e/ou me reeducar para não construir castelos de areia, que seja no meu ritmo atual - lerdeado em especial nesta segunda feira pela manhã...

E sejamos francos, esta segunda feira está bem com cara de "Eu sei o que vocês fizeram no feriado dito SANTO, seus santos do pau oco" - ou sou somente eu que estou achando este dia com cara de poucos amigos?

Enfim, continuemos. Estamos vivos, estamos presentes, fazemos parte do mundo ou o mundo faz parte de nós? Somos o que somos ou o que pensamos que somos? Somos o que fazemos, o que amamos, o que esperamos, o que ansiamos, ou apenas somos o que somos - matéria até então ativa, mas que algum dia irá se tornar inativa, detentora apenas de uma vaga lembrança do que já foi um dia?

Enfim, o dia anda agressivamente, e procurarei me esquivar de seus ataques o máximo que puder, mesmo tendo esquecido-me de meus créditos do auto carro em casa, mesmo não tendo atendido a minhas expectativas comigo mesmo, mesmo não tendo respondido todas as perguntas que me fiz, e mesmo sabendo que não irei mesmo nunca fazê-lo com perfeição.

A perfeição, se ela existe, é silenciosa. Não fala.

Sim, ando lendo muito e muito textos de um outro desencarnado que vive através de mim, este dito Fernando, o Pessoa. Alguém que já me conhecia mesmo antes de me tornar isto que sou hoje. Alguém que me descreveu mesmo antes de me conhecer, tarefa que não levou a cabo, uma vez que este morreu muito antes de me tornar vivo.

Enfim, estou vivo, e ele não. Ansiaria em conhecê-lo em pessoa, mas tenho que me contentar em conhecê-lo via algo que ele deixou para trás, seu legado. Sua herança.

Algo que pretendia fazer também eu. Deixar algo para que me entendessem, ou tentassem entender. Algum legado.

Algo que venho tentando fazer, para que seja além de alguém mais que eu mesmo.

Algo que algum dia alguém leia e sinta algo. Sinta que fiz algo que prestasse. Algo que valesse toda minha inútil existência.

Algo que fosse eu, sem o ser. Sem que eu precisasse explicar.

Algo que valesse a pena. Algo que me justificasse, com todos meu erros e imperfeições.

Algo que me lembrasse que, por mais que me sinta morto, existe algo vivo lá dentro.

Algo que tentou sair assim, ou assado.

Algo que falasse por mim, eu que não digo nada.

E...O quê? Ainda precisa fechar o DAP? Argh, notas fiscaiiiiiiiissssss!

Fui.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Pequenas férias.

Feriado! Feriado! Todos nós brasileiros sabemos bem o que isto significa. Viagens. Iates. Mulheres. Mansões. Dez mil dólares. Não, não é nada disto. Significa apenas não ter que comparecer a nenhuma repartição trabalhista por um determinado período de tempo, que se dependesse de nossa vontade, não acabaria nunca. Existem poucas coisas melhores que não ter que ser despertado por uma buzina eletrônica postada ao lado de nossas camas.

Muitos irão passar boa parte do feriado dentro de algum veículo automotor, eu presumo. Ontem mesmo o trânsito na cidade estava caótico por todos as partes, e como fui gentilmente dispensado da tarefa de tentar ensinar alguma novidade desenhística a um menino não tão mais tão menino assim, uma vez que o dito tem quase minha altura, me dirigi para casa, mas devido a um ligeiro desvio para a aquisição de quitutes diversos para comemorar a ocasião, só consegui chegar em casa após uma hora de bagunças no tráfego intenso. E isto ontem.

Hoje, presumo que talvez o trânsito esteja um pouco melhor, mas presumo que não sejam todos os privilegiados com uma folga no dia de hoje; afinal de contas, não somos todos nós funcionários públicos com suas regalias em se tratando de feriados. De qualquer maneira, se alguém pretende se isolar de nossa cidade hoje, é bom se preparar, pois creio que haverá bagunça no final da tarde.

Eu mesmo, não irei viajar, então hoje acordei um pouco mais cedo para me preparar para a ingrata tarefa de ficar em casa no feriado. Comprei mais uma pá de quitutes baratos diversos, para me entreter em um projeto pessoal que irei conduzir neste feriado. Nada muito exorbitante, mas trata-se de um projeto já adiado há meses, e que envolve papéis, lápis e outros petrechos para atender a cafetina. Em verdade há uma coisa que estou devendo a outrem, que anda me perturbando desde que aceitei a tarefa. Como diz um dito não muito popular, mas que considero muito sábio, "O trabalho que mais te cansa é o que você não faz."

Enfim, entre atividades desenhísticas, atividades sonoras, atividades cinéfilas, jogos electronicos, etc etc. Sim, continuo solteiro, continuo sem muito dinheiro, e o mais importante, continuo nerd. Não me importo muito com isto estes dias, e creio que meu feriado será muito menos cansativo do que o de muita gente por aí. Não acho muito ruim, de qualquer maneira; o Sótão Inc. é um dos meus locais preferidos em todo este planeta. E estas atividades continuam sendo muito, mas muito mesmo agradáveis e salutares a meu ser, ao menos.

Engraçado que hoje ao comprar as coisas no mercado eu vi um cara comprando uma solitária garrafa de cachaça de 1,50 o litro e pensei: este também está se preparando para o feriado. Acho que pessoas fudidas monetariamente todas têm uma maneira ideal para curtir os feriados de maneira relativamente barata. Não necessariamente salutar, como o exemplo citado do cara com a pinga, mas creio que em feriados, 90% dos participantes nas atividades diversas comete algum ato de excesso, seja beber demais, comer demais, ficar à toa demais ou seja lá o que for.

Enfim, o feriado se aproxima, e preparemo-nos para curtir o evento. Se não puder ser na saúde, que seja na diversão ao menos. Bom feriado a todos, e não exagerem no chocolate no domingo...ou então pague a conta na segunda feira no banheiro da empresa! Ha ha ha.

Enfim, até segunda.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

My fingers wrote this.

I have absolutely no idea what should I write today. I don't even know if the grammar for that last sentence is correct, but I guess it doesn't matter anyway, for I am already letting my fingers wiggle around this same old keyboard, trying to find whatever it is, whatever gets your attention on this particular day. All I have to do is let them roam free across the thing, let them decide on what I will write about, even though I hadn't planned anything in particular to write about.

I came here on the same route, the same bus, the same hour, to do the exact same thing I did yesterday, and even the days before that. Why we do what we do? Do we do it because we must, or do we do it because we're supposed to do? Or do we do it because we're just some kind of stubborn bastards, doing whatever it is we were NOT supposed to do? Because it seems to me that sometimes we just stick doing the same old thing, over and over again because we're just some kind of stupid guinea pigs of someone else's science project. An ant farm. Whatever.

I have no idea on what to say, and all I can think about...is shit on past grievances, past regrets we should let go, we should...just forget all about it. Why don't we forget all about it?

Why can't we forget all about it?

Thing is, we're addicted to misery sometimes. We cling to this still life, this routine, because we're alive, even though we supposedly are the only species that knows what is the end of it all. What is the big secret. What is the mystery of life.

We're the only species that knows all about death. About that closure of life.

And sometimes I wonder if that is the great propeller of life. The fuel. The certainty of our finite time. Some of us think that this very knowledge should impel us to live each day to its fullest, seize the day, so to speak. Go out and make your time worthwhile. Make it happen. Make your dreams come true.

Only problem is that our lifes are often so full of shit that we just try to forget all about it. We try not to think about death, because we'd get even more depressed, more worried. So we forget all about it, and we're stuck back on ditching days, taking drugs to make the time pass more rapidly. To kill the time. We drink. Watch television. Let it pass.

A time that won't return. No refunds.

So in the next morning, we wonder what we did wrong, where we took the wrong curve, the wrong road. So in our eternal search of the meaning of life, we forget that we're alive, but only for a restricted time. And we know all about the closure, but we don't know the fucking date of such event. And we neglect that knowledge because we just can't afford more misery in our lives.

And such a thing is a paradox in my humble opinion. If the knowledge of the end of life is the propeller and we choose not to think about it, we end up stuck on a loop, trying to pass the time, to let it slide in a more painless way, denying that it will happen. We forget about it, and all of a sudden, we're so surprised when we see someone lying in a coffin.

We remember it all again - death, finality, finite - and once again we try so hard to forget all about it. We drink. We watch television.

We forget all about it, and we're back on the road of misery. And we know its ending, only we choose not to think about it.

What a great paradox.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Ensino mediamente cretino.

Blé. Sei que ando desaparecido em meus esquemas dantes propostos neste diário quase diário, muito por culpa de minha auto-censura; é uma força extremamente poderosa e paralisante que existe em minha pessoa. Enfim, quando eu desapareço, geralmente é um sinal que as coisas não andam bem e não desejo tornar isto aqui em uma torrente eterna de lamúrias e quejandos. Gerlamente fico dando cocão em minha própria cabeça, me recriminando que eu ando muito chorão e etc. Blah blah blah, como eu mesmo diria. Cale-se. Sim, a vida anda me chateando por estes dias, mas mesmo assim, vamos em frente, como já disse, enquanto estiver vivo, devo fazer as coisas que supostamente sou suposto a fazer, nesse pressuposto de vida supostamente ruim, porém boa, por assim dizer, por suposto que seja...o que eu estava dizendo mesmo?

Enfim. Hoje vim pensando em algum tema relevante para comentar aqui, e vi que o Bom Dia Brasil mas uma vez me serviu de referência, ao comentar a possibilidade de que, ainda neste ano, as universidades talvez mudem "por completo" o exame de admissão para a entrada de futuros fudidos, isto é, universitários em suas instalações universitárias. Sim, tal coisa sempre me pareceu meio capenga em um país como o nosso. Mas o sistema proposto, a meu ver, não implementa nenhuma melhoria considerável. Pelo menos assim o entendi; não elaborei nenhuma pesquisa, eis quesempre invento todos estes textos na hora em que me sento defronte a este aparelho cibernético, telecinético, teletubby e....não, não é nada disto!

Voltando ao tema em si, para mim um exame feito o vestibular prova pouca coisa, no máximo prova que o aluno estudou muito no ano anterior ao exame em si ou que tal aluno conseguiu ter renda o suficiente para pagar algum curso preparatório para este exame. Não sei se prova muito mais. Para mim, tal exame é errôneo feito o exame de motorista que nosso maravilhoso DETRAN nos submete. 5 minutos no volante, uma volta no quarteirão, uma baliza - isto porventura realmente prova que alguém sabe ou não dirigir? Que está apto a portar uma carteira? Acho que não. O cara pode ser um tremendo roda dura e ter um momento de "sorte" por assim dizer, no dia do exame.

Da mesma forma, o vestibular é igualmente errôneo, pois todos - os que tem alguma consciência - sabem que 90% dos alunos das escolas de ensino médio, só estudam para passar de ano, ou como diria um ex-colega meu na faculdade, para se obter o "número da sorte", que no caso para ele era 60, o mínimo de pontos para se passar em alguma matéria. Nenhum aluno nessa faixa etária está preocupado em aprender coisas de fato, não está nem um pouco interessado em ter boas notas, uma vez que o currículo não vale nada.

A proposta, ao que me parece, inclui uma análise do currículo do estudante, o que mudaria muito este quadro. Porque sei que a prova irá existir de qualquer maneira, e como não pesquisei em nada para escrever isto, eu posso estar errado. Mas sei que não adianta deixar as coisas como estão, não adianta mudar somente o vestibular e deixar o ensino do jeito que está, pois é uma coisa no mínimo vergonhosa. E, novamente, uma pessoa pode simplesmente chutar uma prova inteira de múltipla escolha e tirar uma boa nota; basta ter sorte o suficiente, tal qual no exame de motorista.

A verdade é que o ensino médio é horrível, e vi as duas faces da moeda, no caso. Acho que a estrutura tem que ser modificada inclusive na faculdade que prepara professores - a famigerada FAE de conta no meu caso - vi aquela faculdade de perto, vi seu sistema de ensino de perto e posso afirmar que foi algo assustador.

Eu me formei em licenciatura para o ensino de biologia, e vi que ali, se você simplesmente for um picareta convincente, encher de palavras rebuscadas e similares vossos textos, cunhados ou não por punho próprio ou simplesmente apropriados por meios cibernéticos ou não(ctrl-c, ctrl-v), você consegue passar com notas excelentes.

Eu me assustei com isso, pois as coisas que ali ensinam são, de fato dignas de um FAZ de conta. Escrevi um trabalho final para alguma matéria, rolando de rir do que escrevia, pois eram apenas abobrinhas recheadas de verborragias(muito de meu estilo escrivinhistíco eu herdei daquela época), entreguei tal coisas com um certo remorso por ter sido tão picareta...e eis que ganho a nota máxima e efusivos elogios por "ter assimilado os conceitos de forma tão completa".

Quando paro para pensar, sei que tal coisa é engraçada; mas é uma piada sem graça quando paramos pra pensar que se trata de uma instituição que DEVERIA ser séria. Estranho este mundo em que vivemos, deveras.

E eis que tenho que voltar às lides com minhas eternas notas de tomates. Tomate salada? TEM. Tomate hidropônico? TEM. Tomate velho italiano? TEM. Compre Tomates TEM. Só são muito mais caros que todos os outros, mas são saborosos. Ah ha ha ha.

Enfim, vamos trabalhar.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Segunda parte.

A princípio, tudo correu bem. No primeiro dia, fui até a cidade com meu carro velho para comprar algumas coisinhas. Pensando a respeito de toda a situação, tudo me pareceu bem conveniente. Até agradável. Desde que perdi meu emprego, não tive muito tempo para pensar em nada muito criativo; para falar a verdade, nem tinha tido o dito estado de espírito necessário para se escrever.

Pelo menos agora, as coisas estavam voltadas a meu favor: tinha um local isolado de tudo e todos para tentar voltar a trabalhar. Eu só teria que de vez em quando parar para tirar a poeira daquela casa.

Ou pelo menos assim eu achava.

Comprei meu estoque de víveres para a temporada ali. O básico, o essencial para me manter ativo e bem nutrido por todo aquele tempo:
-48 latas de cerveja,
-1 garrafa de rum,
-1 garrafa de vodka,
-20 pacotes de miojo, outro tanto de sopas instantâneas diversas,
-5 salaminhos,
-1 pacote de maços de cigarros,
-4 potes de sorvete de creme,
-2 vidros de Excedrin.

O básico para a sobrevivência. Ou como diria a vaca da minha ex-mulher, o básico para uma ressaca prolongada, por dias e dias. Que culpa tenho eu se meu processo criativo dependia de todos aqueles fatores conjugados?

Que culpa tenho eu de isso ter levado aquela meretriz a me odiar, a querer meu sangue?

Ha, ha, ha. Pelo menos eu tinha alguém a quem caçoar por ali, pensava enquanto bebia as primeiras cervejas. Minha primeira noita ali deveria ser memorável. Comemoremos a nova vida. Caseiro. E por que não um caseiro escritor? Comemoremos a nova casa, o novo quarto, a nova vida. Um brinde. A toda este vazio dentro desta casa. A todo o vazio dentro de mim, preenchível por álcool.

Obedeci as normas da casa por um período recorde. Bastou a única figura de autoridade sair dali para que eu violasse todas elas de uma vez. Um brinde a isso. A meu novo recorde. Bebericando a cerveja, arrumei meus suprimentos pela cozinha, dentro da geladeira. Preparei meu jantar, miojo de carne com salsichas. Suntuoso jantar, aquele. O alimento dos campeões. Ha, ha, ha.

Porque será que minha ex não tinha senso de humor? Era tão fácil achar o lado positivo das coisas. O que eu precisava para ser funcional? O que eu precisava para ser feliz? Apenas uma pequena dose de coisas baratas, álcool, cigarros, comida. Comida barata é realmente barata. Um brinde a esta conclusão brilhante. Minha lista é simples e ideal. Bem compatível com minha vida, com meu salário, com minha casa. Com esta casa que é minha enquanto o almofadinha estiver curtindo a vida de seus milhares de dinheiros.

Bebendo a quinta ou décima cerveja, eu concluí que talvez fosse necessário acrescentar uma dose de sexo à minha lista de coisas vitais para minha sobrevivência. Foi aí que pensei que talvez aquele bolha tivesse canais pornôs em sua televisão. Bebendo mais uma cerveja, fui verificar se aquilo era verdade.

Saí da cozinha xingando a porra da porta que tinha ficado mais estreita, e com uma maçaneta traiçoeira, que me acertou em cheio no cotovelo. Xinguei a mãe da porta e caminhei até o hall principal da casa, não me lembrando do caminho ser tão tortuoso daquela forma. Nem tão longo. Nem tão cheio de obstáculos.

Subi os degraus da escada, que pareciam ter se reproduzido enquanto não estava olhando. Ah, safados. Mesmo os degraus têm uma vida sexual mais ativa que a minha, ha, ha ha. Um brinde a este fato inútil. E os móveis todos resolveram bloquear meu caminho. Um chute nesta cadeira. Um pontapé nesta mesa de centro. Um empurrão nesta...nesta...coisa que me atrapalha a passar, seja lá qual for o nome disto.

Onde mesmo ficava aquele quarto?

Bebendo mais alguns goles, decidi que se estivesse de fato perdido naquela casa, seria hora de parar de beber…Pelo menos por hora. De qualquer maneira, minha lata se encontrava irremediavelmente vazia. Deixei ela cair ao chão, ali mesmo onde estava, na entrada de um corredor. Mais tarde eu voltaria para apanhar.

Não me lembrava daquele corredor ali. Parecia não ter fim. Quantas portas, todas fechadas. E que papel de parede mais feio. Vermelho. Andei e andei, e não chegava ao fim daquela joça. Minha cabeça estava tão confusa no momento, concluí que realmente deveria ter passado da conta. Talvez fosse hora de tomar um excedrin para evitar a ressaca que iria ter que enfrentar mais tarde. Meu estômago concluiu que seria melhor também encontrar um banheiro em breve.

Meia volta, senhor caseiro. Senhor escritor caseiro. Ou será que seria caseiro escritor?

Passos e passos. Saco de corredor, não acaba nunca. Portas e mais portas passavam aos meus olhos, minha vista um tanto embaçada. Tentei me lembrar afinal quantas cervejas havia bebido, mas nunca fui muito bom em contas daquela magnitude. Números complexos. Ha, ha, ha. Eu brindaria a isto, mas estava sem cerveja. Lembrei-me de apanhar a lata que havia deixado no início do corredor.

Mas onde estava o início daquela merda?

Caminhei e caminhei, o treco não acabava nunca. Quanto você precisa beber para que as distâncias fiquem multiplicadas por um milhão? De fato, devo ter passado da conta. Portas e mais portas. Olhei para a frente. Não conseguia ver o início do corredor...aquilo realmente parecia não ter fim. Olhei para trás.

Sacudi minha cabeça, que continuou a girar. Aquilo realmente não tinha pé nem cabeça, princípio nem fim. O corredor se estendia em ambas as direções até a infinidade. Não era possível ver o fim nem o início.

Que merda era aquela?

Tentei abrir a porta à minha frente. Trancada. A próxima, também. E a outra. O que diabos estava acontecendo? Continuei a andar, não havia mais nada a fazer, ao menos me parecia. Que merda de casa idiota, e que idiota eu era, beber tanto assim na minha primeira noite ali. Andei e andei, até começar a me sentir meio mal, de verdade. Quem não sabe beber não deveria nem começar a fazê-lo, era uma das frases preferidas de minha ex. Podia até ouvir sua voz me dizendo aquela baboseira.

Na verdade, eu podia ouvir outra coisa. Um rumor estranho, uma voz...atrás de mim? Olhei para o outro lado do corredor. Apenas a infinidade de portas se estendendo até onde podia ver. E...um par de pontos vermelhos, na escuridão. Vindo em minha direção. E o rumor constante de algo...algo fazendo um som estranho, inumano.

Não sei em que momento minhas pernas tomaram a resolução de correr, mas foi o que fiz. O rumor continuava atrás de mim. Não me atrevia a voltar minha cabeça para ver se o par de pupilas vermelhas continuava atrás de mim. Corri e corri, meu coração a mil por hora, minhas pernas tentando quebrar alguma espécie de recorde, creio eu.

Portas e mais portas passavam ao meu redor, mas não conseguia ver o fim daquele maldito corredor. O rumor, no entanto, parecia ficar cada vez mais perto de meus ouvidos. Senti um arrepio na espinha, e senti um vento frio, gélido como a morte, a passar por mim. Minhas pernas começavam a falhar, meus pulmões não conseguiam apanhar ar o suficiente para me manter em marcha acelerada. Minha cabeça parecia que iria explodir, meu peito ofegava como nunca.

E o som se aproximava. Cada vez mais.

Não olhe para trás, era tudo que eu conseguia pensar. Mas ao mesmo tempo que nosso lado racional sempre se esforça para manter as coisas em ordem, sempre somos providos de alguma porção idiota. Voltei minha cabeça para ver...algo que não consigo me lembrar. Algo sem nome, sem denominação.

Algo que me rasgou no meio, algo que me fez em pedaços. Senti a dor de garras passando pela minha carne. Senti tendões se esticando e arrebentando. Tudo que eu vi foi sangue. Sangue, ou o papel de parede vermelho. Vermelho como aquelas pupilas. E o corredor, que se enegrecia mais e mais. Vermelho e negro. Negro e vermelho.

Acordei com sobressalto. Estava na cozinha, ofegante. Continuava a escutar um rumor monocórdio, mas agora, somado à minha dor de cabeça, era apenas o tom uniforme do alarme de fumaça no teto. A panela com meu miojo estava enegrecida, esquecida no fogão.

Ha, ha, ha. Um sonho, um pesadelo.

Apaguei o fogo, olhei o resto carbonizado do que seria meu lauto jantar. Ri um tanto histericamente de mim mesmo, e apanhei uma cerveja na geladeira para brindar o fato que eu ainda estava vivo e que a casa não havia decidido me comer vivo.

Cautelosamente, andei até a escada, subi os degraus e achei facilmente meu quarto. Olhei ao redor e não vi nada de mais. Brindei a isto, e sem querer saber de mais nada, resolvi me jogar na cama e encerrar aquele dia. Antes, fui ao banheiro para me aliviar, afinal de contas, toda aquela cerveja queria sair de mim, ou pelo menos parte dela.

Ao me dirigir para a porta do banheiro, tropecei em algo. Uma lata de cerveja.

Sem olhar no espelho, fiz o que precisava ser feito e saí dali o mais rápido possível, me enfiando na cama e me cobrindo todo até os olhos.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Primeira parte.

Que coisas você se mete por estar quebrado monetariamente. Tudo que você ouve são frases do naipe É a crise em momentos como este. Por mais que procurasse, não encontrei emprego em minha área. Andei e andei, mas a famosa frase rebatia todos meus argumentos, jogava por terra todo meu conhecimento de que quer que fosse, desde sânscrito até a manutenção de computadores.

É a crise.

Um dia, farto de tanto procurar por algum ganha-pão, vi o anúncio que precisavam de um caseiro em uma cidadezinha do interior. Para ficar alojado na própria casa. Necessitavam de alguém solteiro. Sozinho. Necessário ter disponibilidade 24 horas. Blah blah blah.

Eu não era exatamente solteiro; a palavra divorciado causava-me arrepios, mas era esta alcunha que a lei soberana havia me declarado meses atrás, logo após eu ter perdido meu emprego. Perca seu emprego e perca sua mulher de lambuja. E por que não perder sua casa, suas economias e tudo mais para a sua ex-mulher?

Fui conferir. Consegui o tal emprego, parecia-me que o dono daquela coisa - sim, que casa horrenda - estava desesperado por alguém que tomasse conta daquele monstro enquanto ele se dirigia para alguma paragem no pacífico sul, ou algo assim. Para aquele sujeito, a crise não existia, pelo visto. A única crise que parecia existir era sua necessidade fremente de alguém para tomar conta daquele lugar.

A casa era imensa, mas era localizada em algum local que parecia ter sido tirado de algum livro de terror. E estava necessitando de várias reformas. Eu teria que cuidar de tudo ali, fazer isto e aquilo. Não me importei, não eram coisas realmente difíceis de serem executadas. E pagavam bem, muito bem, para um emprego aparentemente simples como aquele.

O dono acertou tudo comigo e zarpou para suas férias em abril - ele era alguém que realmente não parecia conhecer as famosas três palavras mais escutadas por todos os lados.

É a crise.

Eu estava grato de ter arrumado aquela coisa. Já tinha me fartado tanto tentando achar um emprego que fosse, aquilo ali não deveria ser muito complicado. Após ler meu currículo e ter se deparado com a palavra fatal - divorciado - ele começou a listar as obrigações e restrições.

Não poderia fazer festas ali, de forma alguma. Não poderia chamar profissionais do sexo para me acompanhar as noites intensas de inverno. Não deveria beber em serviço. Nada de drogas. Blah, blah e blah. Algumas de suas instruções eram hilárias, e tive que me segurar para não rir na cara daquele almofadinha.

Não que eu quisesse realmente um local para orgias regadas a álcool e anfetaminas e outras coisinhas mais, eu só quera alguma forma de ganhar algum dinheiro. Sendo um escritor falido, um professor desempregado e um fracassado técnico de informática, tudo que eu queria era alguma forma de conseguir me manter vivo por conta própria. E aquele lugar era ideal para a realização de outro feito que eu tanto ansiava: a distância de pessoas.

A casa ficava nos arredores de uma cidade do interior, longe o suficiente da mesma para se ter sossego suficiente para que eu fizesse o que bem entendesse ali enquanto o dono estava velejando no Taiti ou algo assim. Vizinhos, apenas uma floresta decrépita, mais adiante algum armazém abandonado, e quilômetros de nada até a cidade. Nada e nada por todos os lados. Para que eu fizesse compras, teria que dirigir uns 30 km para chegar até a loja mais próxima.

Maravilha. Eu estava farto de tudo e de todos no momento. Minha ex-mulher, esta eu queria ver morta. Meus ditos amigos, haviam sumido assim que eu havia ficado quebrado e sem dinheiro para pagar as rodadas que costumava ofertar nos bares que frequentávamos. Pessoas, todas elas me apresentavam problemas que eu não tinha a resposta. Agentes de literatura, todos me diziam a mesma coisa. O mercado estava estagnado. Você tem que entender, é a crise.

É a crise.

Assim que o dono saiu apressado para sua fuga de toda aquela merda que assolava o país, eu me dirigi para meus aposentos determinados pelo dono, um quarto minúsculo e mal isolado termicamente nos fundos da casa, tirando todas as minhas coisas dali e movendo-as para o quarto principal no andar de cima. Queria ver algum dono me tirar dali; estando curtindo a vida adoidado em alguma ilha vulcânica no pacífico sul, creio que esta seria o pensamento menos recorrente em sua cabeça. É a crise, mas eu não me importo com isso.

Aquele quarto era imenso, uma suíte luxuosa e confortável. Uma das instruções do dono havia sido especificamente esta: "Não tente entrar na suíte principal, nem para limpeza. Aquilo deve ficar trancado o tempo todo." Após pensar um pouco, ele trancou a porta e não me deu a chave. Eu não disse nada, apenas assenti com a cabeça.

Uma simples porta não iria me impedir de usar tal quarto. Em um de meus empregos, um de meus colegas havia me ensinado a abrir qualquer tipo de fechadura antiga. Abri a porta sem problemas, valendo-me de um par de arames. Eu tomei posse do lugar, assim que consegui vencer a fechadura. Coloquei minha máquina de escrever portátil em cima da luxuosa escrivaninha do quarto. Algo digno de Luís XVI, ou XVII, LCMXXDXX, ou seja lá o que fosse.

Olhei ao redor. Porque alguém iria querer manter um quarto como aquele fechado por 5 meses? Era muito confortável, o único dos oito quartos maiores da casa que tinha lareira e banheiro integrado. Talvez o banheiro fosse o motivo, talvez ele estivesse com o encanamento arrebentado, com o esgoto fedendo, algo assim.

Abri a porta do banheiro e entrei, para me certificar que não estava fazendo nada que pudesse me arrepender depois.

Nada de errado ali. Havia uma imensa banheira antiquada, um box com chuveiro, uma pia colossal dotada de igualmente imensa bancada, um bidê e outras coisas normais de um banheiro. Nenhum mau cheiro, nada de anormal. Havia um armário imenso debaixo da pia, e um armário de remédios quase tão grande por trás do espelho. Abri tal armário...Talvez o dono guardasse ali seu estoque ilegal de heroína, coisa assim.

Ha, ha, ha, disse para mim mesmo assim que abri a portinha e vi que a única coisa que estava armazenada ali era...ar. Fechei a portinha rindo. E senti um arrepio na nuca quando vi algo refletido no espelho, atrás de mim.

Me virei e não havia nada atrás de mim. Credo. Mal havia chegado ali e já estava imaginando coisas.

-------------------------------------------------------------------------------------------------


N. Do A. - Eu queria escrever um conto curto que imaginei ontem a noite, e como era de se esperar, não consegui muito resumir a coisa. Vou escrever a continuação e postar outro dia. Aguardem....TAM TAM TAM!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ontem.

Ontem, tudo deu certo. Eu pedi demissão de meu emprego ontem; ofertaram-me algum salário maior e um cargo melhor para que eu não me fosse, mas eis que ontem eu havia encontrado um emprego fora dali que era muito melhor, muito mais humano e muito menos degradante; onde meus conhecimentos fossem de fato valorizados(e de fato, úteis para a empresa em si). Um local que era mais legal. Menos contábil. Em que as pessoas falassem da lago além da vida alheia. Um local onde eu não seria o diplomado mais mal pago da empresa. Que tivesse a ver de fato comigo, e não fosse apenas um local onde eu ganhasse dinheiro por estar desesperado e derrotado.

Logo, despedi-me de tudo e de todos ali naquele local e saí dali rindo à toa. Passei no templo do consumo que ali perto havia, onde encontrei-me com ela; ela ainda não me conhecia, mas queria me conhecer. Ontem, eu conversei horas e horas com esta maravilhosa criatura. Ontem, achei o que tanto procurava, por 32 anos, por toda uma vida.

Ontem, eu me dirigi a um local onde meus documentos de habilitação me aguardavam após uma longa batalha. Dali, fui até uma concessionária onde adquiri uma autêntica Harley-Davidson que tanto almejava. Ontem, eu tracei mentalmente minha rota pelas estradas, a viagem de estréia de tal máquina.

Ontem, me matriculei em um curso de música onde iria residir no exercício de minha profissão. Ontem, eu consegui adquirir uma Gibson SG, e um amplificador Fender Bassman original. Ontem, eu paguei adiantado todas as contas que estavam devedoras no nome de meus pais, que tanto sofreram na vida e ainda tinham que lidar com tantas amarguras ingratas que a vida lhes oferta, dia após dia, prole após prole. Ontem eu descobri que meu vizinho havia regressado à Krautland e havia deixado minha família em paz. Ontem, eu paguei adiantado várias reformas na casa de minha mãe, incluindo a remoção da hera que o alemão de araque havia deixado para trás. Não importa mais, a partir de ontem, tudo estaria resolvido.


Ontem,uma pessoa me telefonou no final da tarde, desejando encontrar-se comigo nas paragens de minha casa. De fato, ali estava, e ali estive. Ontem, esta pessoa pareceu-me ser a criatura que realmente pensei que não existisse em parte alguma, mas que ali estava.

Ontem, não precisei de nenhum auxílio externo artificial para cair no sono. Ontem, ao deitar-me para dormir, nenhum pensamento que sabia à derrota e amargura veio à minha cabeça ao aguardar pelo sono.

Ontem, eu não dormi sozinho.

E hoje, percebo que tudo que anseio ficou no dia de ontem, que afinal de contas foi um dia especial, eis que não aconteceu, ou como diriam os doutores no assunto, foi uma mentira.

Hoje, percebo que tudo que anseio são mentiras que aconteceram ontem.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

IV.

Imagine o som de um milhão de sinos em sua cabeça.

Bela maneira de acordar. Ao abrir os olhos, vi que estava tudo escuro ao redor, mas uma réstia de escassa luz entrava por uma frincha da janela. Mesmo assim, não saberia dizer se tal local era meu quarto, meu apartamento, meu seja lá o que fosse. Algo estava errado ali.

Eu deveria estar de ressaca, a dor de cabeça era latejante e constante. E estava se sentindo com se tivesse bebido um engradado de garrafas de tequila na noite anterior.

Levantei-me do chão lentamente, tentando ignorar a dor que parecia emanar de todas as direções de meu corpo. Tateei cegamente as paredes em busca de algum interruptor. De fato, havia um ali perto de algo que se parecia com um batente de porta. Estava muito escuro para se identificar qualquer coisa. Acendi a luz, me segurando para sentir a dor aumentar devido ao clarão, e tentando ignorar o fato que tal coisa parecia estar coberta com alguma coisa viscosa.

Clic.

De fato, a luz aumentou minha dor de cabeça, fazendo com que eu abaixasse os olhos ao chão, onde pude focar a vista em...uma poça de um líquido vermelho. Minha mente, procurando respostas falou, claro, você deve ter dormido em sua própria poça de vômito de vinho tinto.

Acontece que a poça parecia ter escorrido de um sujeito que se encontrava estirado no chão. Ao seu lado, um outro defunto exibia-me toda a sua beleza interior, tripas e tudo mais. Erguendo a vista, pude ver que ao lado do interruptor coberto de sangue, havia outro cadáver picado de balas.

Bela maneira de acordar, de fato.

Certo, certo. Estava inteiro, apesar de estar todo respingado de sangue. Aos meus pés, havia um revólver cano longo, que apanhei sem demora. Do lado do cadáver do interruptor, havia uma escopeta, que também apanhei, enfiando o revólver nas calças. Não tinha a menor idéia do que estava acontecendo, mas eu sabia bem que ninguém deve permanecer por muito tempo em uma sala repleta de gente morta, sem ter a menor idéia de onde estava e do que estava acontecendo.

Abri a porta com cuidado e encontrei-me em um corredor escuro. Parecia que estava prestes a amanhecer. Segurando a escopeta com uma tensão fora do comum, segui adiante. Eu estava em algum tipo de fábrica, armázem, sei lá. Cheguei na beirada de um corredor suspenso, e espiei da beirada para inspecionar a área.

Lá em baixo, mais dois corpos, um sem cabeça e outro aparentemente abatido a tiros em decúbito dorsal. Maravilha. Minha cabeça não parava de doer e eu continuava achando gente morta ao meu redor.

Ouvi um ruído que vinha de fora da construção. Parecia algum carro, algo assim. Desci correndo um lance de escadas, tentando achar meu caminho em direção ao ruído. O dia se aproximava, o lugar ia ficando cada vez mais claro. Pude ver um par de fárois que se apagaram, e o som de um motor sendo desligado. Por uma fresta da janela, vi um sujeito com um chapéu antiquado saltando de uma caminhonete velha, que estava estacionada ao lado de um carroceria de caminhão sem reboque. Scania.

Por que aquilo me parecia familiar? Fiquei alguns instantes meio estupefato pensando naquilo tudo, e me esqueci que havia um cara de chapéu entrando esbaforido na fábrica. Seus berros me despertaram. "Seus inúteis, porque vocês não atendem o telefone? Espero que já tenham se livrado do corpo daquele filho duma--"

O sujeito parou quando me viu. Eu apontei rapidamente a escopeta em sua direção, interrompendo seus movimentos de tentar retirar alguma coisa de sua cintura. Presumo que não seria nenhuma surpresa agradável. Ele me olhou com ódio. "Seu cretino, você ainda está vivo? Aqueles incompetentes nem ao menos conseguem matar um filho da puta, inúteis!"

Eu engatilhei a bichinha que carregava, e o sujeito arregalou os olhos, "Não, espere. Vamos conversar." Ele novamente quis me surpreender, tentando arrancar sua arma da cintura.

Tal operação não foi muito bem sucedida, pois presumo que o cão da arma se enganchou em algo que não suporta muito bem este tipo de coisa. O cara arregalou os olhos de dor e eu aproveitei a deixa pra dar-lhe uma coronhada muito bem dada na fuça do sujeito, disparando em seguida para a saída dali.

Não queria saber de nada. Havia muita gente morta ali pro meu gosto, e não quis acrescentar mais um número àquela listagem. Ouvi os protestos veementes do sujeito lá dentro, seguido de um tiro inútil. Ganhei o espaço exterior do prédio e precipitei-me em direção à caminhonete.

Po sorte, a chave pendia na ignição. Entrei no carro, e torci a chave. Nhé, nhé nhé. Que beleza de hora para um carro falhar. Ouvi outro estrondo atrás de mim, e uma bala zuniu ao lado de minha cabeça. Outro tiro foi decorar o vidro com mais rachaduras e um belo buraco. Nhé nhé nhé.

Pelo retrovisor, vi que o cara do chápeu fazia mira cuidadosa atrás de mim. Abaixei-me milésimos antes da bala varar a cabine da caminhonete, que resolveu tomar vida com minha girada forçada e involuntária na chave. Sem levantar minha cabeça, engatei a ré e arranquei. Devo quase ter atopelado o Chapelão, pois ouvi ele berrar inúmeros nomes nada publicáveis lá fora.

Arrisquei levantar minha cabeça para ver o que estava fazendo. Rapidamente, tratei de me afastar daquele maluco, esgoelando o motor da pobre caminhonete. Pelo retrovisor, pude ver que o Chapelão se dirigiu gesticulando veementemente para a Scania.

Porque aquilo tudo me parecia familiar, de uma forma estranhamente mórbida, não pude dizer. Mas procurei não gastar muito tempo com reflexões inúteis numa hora como aquela. Achei a saída daquele lugar, achando em seguida uma estrada esburacada. Segui adiante a mil por hora, vendo para meu horror o reflexo daquele monstro branco surgindo no retrovisor.

Acelerei o mais que pude e comecei a me sentir estranho. Sono, muito sono. Numa hora como aquela.

Não.
Não.
Não.

Lutando para manter os olhos abertos, ouvi o ruído do zunido de outra bala cortando o ar perto de mim, me despertando um pouco. Lembrei-me do cano longo e tirei-o dali. Mas estava muito pesado, deixei-o cair no banco ao meu lado enquanto tentava em vão levantá-lo. Tão pesado. Minha cabeça estava pesada também.

Mesmo sabendo que seria meu fim, fechei os olhos. Ouvi apenas o som do motor ficando cada vez mais e mais distante.