Imagine o som de um milhão de sinos em sua cabeça.
Bela maneira de acordar. Ao abrir os olhos, vi que estava tudo escuro ao redor, mas uma réstia de escassa luz entrava por uma frincha da janela. Mesmo assim, não saberia dizer se tal local era meu quarto, meu apartamento, meu seja lá o que fosse. Algo estava errado ali.
Eu deveria estar de ressaca, a dor de cabeça era latejante e constante. E estava se sentindo com se tivesse bebido um engradado de garrafas de tequila na noite anterior.
Levantei-me do chão lentamente, tentando ignorar a dor que parecia emanar de todas as direções de meu corpo. Tateei cegamente as paredes em busca de algum interruptor. De fato, havia um ali perto de algo que se parecia com um batente de porta. Estava muito escuro para se identificar qualquer coisa. Acendi a luz, me segurando para sentir a dor aumentar devido ao clarão, e tentando ignorar o fato que tal coisa parecia estar coberta com alguma coisa viscosa.
Clic.
De fato, a luz aumentou minha dor de cabeça, fazendo com que eu abaixasse os olhos ao chão, onde pude focar a vista em...uma poça de um líquido vermelho. Minha mente, procurando respostas falou, claro, você deve ter dormido em sua própria poça de vômito de vinho tinto.
Acontece que a poça parecia ter escorrido de um sujeito que se encontrava estirado no chão. Ao seu lado, um outro defunto exibia-me toda a sua beleza interior, tripas e tudo mais. Erguendo a vista, pude ver que ao lado do interruptor coberto de sangue, havia outro cadáver picado de balas.
Bela maneira de acordar, de fato.
Certo, certo. Estava inteiro, apesar de estar todo respingado de sangue. Aos meus pés, havia um revólver cano longo, que apanhei sem demora. Do lado do cadáver do interruptor, havia uma escopeta, que também apanhei, enfiando o revólver nas calças. Não tinha a menor idéia do que estava acontecendo, mas eu sabia bem que ninguém deve permanecer por muito tempo em uma sala repleta de gente morta, sem ter a menor idéia de onde estava e do que estava acontecendo.
Abri a porta com cuidado e encontrei-me em um corredor escuro. Parecia que estava prestes a amanhecer. Segurando a escopeta com uma tensão fora do comum, segui adiante. Eu estava em algum tipo de fábrica, armázem, sei lá. Cheguei na beirada de um corredor suspenso, e espiei da beirada para inspecionar a área.
Lá em baixo, mais dois corpos, um sem cabeça e outro aparentemente abatido a tiros em decúbito dorsal. Maravilha. Minha cabeça não parava de doer e eu continuava achando gente morta ao meu redor.
Ouvi um ruído que vinha de fora da construção. Parecia algum carro, algo assim. Desci correndo um lance de escadas, tentando achar meu caminho em direção ao ruído. O dia se aproximava, o lugar ia ficando cada vez mais claro. Pude ver um par de fárois que se apagaram, e o som de um motor sendo desligado. Por uma fresta da janela, vi um sujeito com um chapéu antiquado saltando de uma caminhonete velha, que estava estacionada ao lado de um carroceria de caminhão sem reboque. Scania.
Por que aquilo me parecia familiar? Fiquei alguns instantes meio estupefato pensando naquilo tudo, e me esqueci que havia um cara de chapéu entrando esbaforido na fábrica. Seus berros me despertaram. "Seus inúteis, porque vocês não atendem o telefone? Espero que já tenham se livrado do corpo daquele filho duma--"
O sujeito parou quando me viu. Eu apontei rapidamente a escopeta em sua direção, interrompendo seus movimentos de tentar retirar alguma coisa de sua cintura. Presumo que não seria nenhuma surpresa agradável. Ele me olhou com ódio. "Seu cretino, você ainda está vivo? Aqueles incompetentes nem ao menos conseguem matar um filho da puta, inúteis!"
Eu engatilhei a bichinha que carregava, e o sujeito arregalou os olhos, "Não, espere. Vamos conversar." Ele novamente quis me surpreender, tentando arrancar sua arma da cintura.
Tal operação não foi muito bem sucedida, pois presumo que o cão da arma se enganchou em algo que não suporta muito bem este tipo de coisa. O cara arregalou os olhos de dor e eu aproveitei a deixa pra dar-lhe uma coronhada muito bem dada na fuça do sujeito, disparando em seguida para a saída dali.
Não queria saber de nada. Havia muita gente morta ali pro meu gosto, e não quis acrescentar mais um número àquela listagem. Ouvi os protestos veementes do sujeito lá dentro, seguido de um tiro inútil. Ganhei o espaço exterior do prédio e precipitei-me em direção à caminhonete.
Po sorte, a chave pendia na ignição. Entrei no carro, e torci a chave. Nhé, nhé nhé. Que beleza de hora para um carro falhar. Ouvi outro estrondo atrás de mim, e uma bala zuniu ao lado de minha cabeça. Outro tiro foi decorar o vidro com mais rachaduras e um belo buraco. Nhé nhé nhé.
Pelo retrovisor, vi que o cara do chápeu fazia mira cuidadosa atrás de mim. Abaixei-me milésimos antes da bala varar a cabine da caminhonete, que resolveu tomar vida com minha girada forçada e involuntária na chave. Sem levantar minha cabeça, engatei a ré e arranquei. Devo quase ter atopelado o Chapelão, pois ouvi ele berrar inúmeros nomes nada publicáveis lá fora.
Arrisquei levantar minha cabeça para ver o que estava fazendo. Rapidamente, tratei de me afastar daquele maluco, esgoelando o motor da pobre caminhonete. Pelo retrovisor, pude ver que o Chapelão se dirigiu gesticulando veementemente para a Scania.
Porque aquilo tudo me parecia familiar, de uma forma estranhamente mórbida, não pude dizer. Mas procurei não gastar muito tempo com reflexões inúteis numa hora como aquela. Achei a saída daquele lugar, achando em seguida uma estrada esburacada. Segui adiante a mil por hora, vendo para meu horror o reflexo daquele monstro branco surgindo no retrovisor.
Acelerei o mais que pude e comecei a me sentir estranho. Sono, muito sono. Numa hora como aquela.
Não.
Não.
Não.
Lutando para manter os olhos abertos, ouvi o ruído do zunido de outra bala cortando o ar perto de mim, me despertando um pouco. Lembrei-me do cano longo e tirei-o dali. Mas estava muito pesado, deixei-o cair no banco ao meu lado enquanto tentava em vão levantá-lo. Tão pesado. Minha cabeça estava pesada também.
Mesmo sabendo que seria meu fim, fechei os olhos. Ouvi apenas o som do motor ficando cada vez mais e mais distante.
Eu deveria estar de ressaca, a dor de cabeça era latejante e constante. E estava se sentindo com se tivesse bebido um engradado de garrafas de tequila na noite anterior.
Levantei-me do chão lentamente, tentando ignorar a dor que parecia emanar de todas as direções de meu corpo. Tateei cegamente as paredes em busca de algum interruptor. De fato, havia um ali perto de algo que se parecia com um batente de porta. Estava muito escuro para se identificar qualquer coisa. Acendi a luz, me segurando para sentir a dor aumentar devido ao clarão, e tentando ignorar o fato que tal coisa parecia estar coberta com alguma coisa viscosa.
Clic.
De fato, a luz aumentou minha dor de cabeça, fazendo com que eu abaixasse os olhos ao chão, onde pude focar a vista em...uma poça de um líquido vermelho. Minha mente, procurando respostas falou, claro, você deve ter dormido em sua própria poça de vômito de vinho tinto.
Acontece que a poça parecia ter escorrido de um sujeito que se encontrava estirado no chão. Ao seu lado, um outro defunto exibia-me toda a sua beleza interior, tripas e tudo mais. Erguendo a vista, pude ver que ao lado do interruptor coberto de sangue, havia outro cadáver picado de balas.
Bela maneira de acordar, de fato.
Certo, certo. Estava inteiro, apesar de estar todo respingado de sangue. Aos meus pés, havia um revólver cano longo, que apanhei sem demora. Do lado do cadáver do interruptor, havia uma escopeta, que também apanhei, enfiando o revólver nas calças. Não tinha a menor idéia do que estava acontecendo, mas eu sabia bem que ninguém deve permanecer por muito tempo em uma sala repleta de gente morta, sem ter a menor idéia de onde estava e do que estava acontecendo.
Abri a porta com cuidado e encontrei-me em um corredor escuro. Parecia que estava prestes a amanhecer. Segurando a escopeta com uma tensão fora do comum, segui adiante. Eu estava em algum tipo de fábrica, armázem, sei lá. Cheguei na beirada de um corredor suspenso, e espiei da beirada para inspecionar a área.
Lá em baixo, mais dois corpos, um sem cabeça e outro aparentemente abatido a tiros em decúbito dorsal. Maravilha. Minha cabeça não parava de doer e eu continuava achando gente morta ao meu redor.
Ouvi um ruído que vinha de fora da construção. Parecia algum carro, algo assim. Desci correndo um lance de escadas, tentando achar meu caminho em direção ao ruído. O dia se aproximava, o lugar ia ficando cada vez mais claro. Pude ver um par de fárois que se apagaram, e o som de um motor sendo desligado. Por uma fresta da janela, vi um sujeito com um chapéu antiquado saltando de uma caminhonete velha, que estava estacionada ao lado de um carroceria de caminhão sem reboque. Scania.
Por que aquilo me parecia familiar? Fiquei alguns instantes meio estupefato pensando naquilo tudo, e me esqueci que havia um cara de chapéu entrando esbaforido na fábrica. Seus berros me despertaram. "Seus inúteis, porque vocês não atendem o telefone? Espero que já tenham se livrado do corpo daquele filho duma--"
O sujeito parou quando me viu. Eu apontei rapidamente a escopeta em sua direção, interrompendo seus movimentos de tentar retirar alguma coisa de sua cintura. Presumo que não seria nenhuma surpresa agradável. Ele me olhou com ódio. "Seu cretino, você ainda está vivo? Aqueles incompetentes nem ao menos conseguem matar um filho da puta, inúteis!"
Eu engatilhei a bichinha que carregava, e o sujeito arregalou os olhos, "Não, espere. Vamos conversar." Ele novamente quis me surpreender, tentando arrancar sua arma da cintura.
Tal operação não foi muito bem sucedida, pois presumo que o cão da arma se enganchou em algo que não suporta muito bem este tipo de coisa. O cara arregalou os olhos de dor e eu aproveitei a deixa pra dar-lhe uma coronhada muito bem dada na fuça do sujeito, disparando em seguida para a saída dali.
Não queria saber de nada. Havia muita gente morta ali pro meu gosto, e não quis acrescentar mais um número àquela listagem. Ouvi os protestos veementes do sujeito lá dentro, seguido de um tiro inútil. Ganhei o espaço exterior do prédio e precipitei-me em direção à caminhonete.
Po sorte, a chave pendia na ignição. Entrei no carro, e torci a chave. Nhé, nhé nhé. Que beleza de hora para um carro falhar. Ouvi outro estrondo atrás de mim, e uma bala zuniu ao lado de minha cabeça. Outro tiro foi decorar o vidro com mais rachaduras e um belo buraco. Nhé nhé nhé.
Pelo retrovisor, vi que o cara do chápeu fazia mira cuidadosa atrás de mim. Abaixei-me milésimos antes da bala varar a cabine da caminhonete, que resolveu tomar vida com minha girada forçada e involuntária na chave. Sem levantar minha cabeça, engatei a ré e arranquei. Devo quase ter atopelado o Chapelão, pois ouvi ele berrar inúmeros nomes nada publicáveis lá fora.
Arrisquei levantar minha cabeça para ver o que estava fazendo. Rapidamente, tratei de me afastar daquele maluco, esgoelando o motor da pobre caminhonete. Pelo retrovisor, pude ver que o Chapelão se dirigiu gesticulando veementemente para a Scania.
Porque aquilo tudo me parecia familiar, de uma forma estranhamente mórbida, não pude dizer. Mas procurei não gastar muito tempo com reflexões inúteis numa hora como aquela. Achei a saída daquele lugar, achando em seguida uma estrada esburacada. Segui adiante a mil por hora, vendo para meu horror o reflexo daquele monstro branco surgindo no retrovisor.
Acelerei o mais que pude e comecei a me sentir estranho. Sono, muito sono. Numa hora como aquela.
Não.
Não.
Não.
Lutando para manter os olhos abertos, ouvi o ruído do zunido de outra bala cortando o ar perto de mim, me despertando um pouco. Lembrei-me do cano longo e tirei-o dali. Mas estava muito pesado, deixei-o cair no banco ao meu lado enquanto tentava em vão levantá-lo. Tão pesado. Minha cabeça estava pesada também.
Mesmo sabendo que seria meu fim, fechei os olhos. Ouvi apenas o som do motor ficando cada vez mais e mais distante.