terça-feira, 28 de abril de 2009

Quinto dos infernos.

O que alguém teria feito no meu lugar?

Evidentemente, já teria caído fora daquela casa. Foda-se tudo, eu prezo a vida, pernas pra que te quero, eu vou é cair fora, etcoetera etcoetera. Era o mais normal a se fazer, era o que eu faria...se eu fosse outra pessoa, talvez mais inteligente.

Mas não.

Depois daquela noite e daquele susto na manhã seguinte, uma pessoa normal teria saído dali e nem ao menos teria olhado para trás. Eu desejaria ter feito isso, mas...é a crise. Eu estava muito fudido, monetariamente falando, para largar uma oportunidade daquelas. Eu precisava de dinheiro. Precisava de tempo para me reerguer, para voltar a escrever. Precisava de algo, uma oprtunidade como aquela era do tipo que não se encontrava facilmente.

Blah, blah, blah. Sim, enquanto eu carregava minhas coisas para meu quartinho nos fundos da casa - o que de fato havia a mim sido reservado - eu pensava nestas justificativas racionais todas. Todas estas desculpas para me segurar ali. Logicamente, havia um lado infantil dentro de mim falando também. "Você abandonou seu emprego, saiu correndo feito menininho assustado por causa de um sonho? Tem medo de que a casa seja mau-assombrada é?"

Ha, ha, ha.

Por mais que eu passasse e repassasse este discurso mental, havia algo mais que me segurava ali. Algo dentro de mim me compelia a tentar permanecer ali, naquela casa. Evidentemente, eu não era bobo o suficiente a ponto de permanecer no quarto estranho. Eu poderia até ser meio burro, inclusive no quesito teimosia, mas eu não era tão burro assim.

Havia algo ali, e eu sabia disso. Algo que me intrigava. Sim, quando se tem visões como a que vivenciei dentro daquele lugar, uma pessoa normal sabe que existe algo errado. Sim, claro. A questão era...valia a pena realmente ficar ali?

Suspirando frustrado enquanto minha cabeça tentava encontrar alguma explicação, ou alguma evidência, alguma coisa que justificasse minha estada naquele lugar, eu ia ajeitando meus cacarecos naquele quarto de despejo. Era infinitamente menor que o "meu" outro quarto, mas parecia que ali não havia algum portal para outra dimensão ou coisa assim, ao menos assim me parecia. Então eu supus que estaria mais seguro ali.

Assim que pus a máquina portátil em cima da minúscula mesinha de cabeceira do quarto, me lembrei subitamente de uma coisa. Olhei para o papel que ali estava. Sim, havia algo escrito ali.

"(...)Olhei para o papel que ali estava. Sim, havia algo escrito ali."

Vá tomar no cu, foi a resposta imediata. Arranquei o papel da máquina, amassei-o todo e o arremessei contra a parede. Mas que joça. Estaria eu ficando doido de fato? Muitas pessoas já tinham me acusado disto - sem incluir minha ex-esposa, claro - que eu estava ficando meio biruta, principalmente depois que a vaca me deixou. "Você está bebendo demais." Sim. "Você está se tornando muito solitário." Sim.

O que não diziam - não diretamente, ao menos - era você está decadente. Como já havia dito algum filósofo anônimo por aí, "a decadência só tem início". E eu sabia disto.

Com raiva, apanhei a bola de papel amassado e me dirigi à cozinha. Queria queimar aquilo, não sei bem porque. Postei-me triunfante diante do fogão e desamassei a bola, apenas para vislumbrar aquela merda toda de novo. Queria ver se a coisa estava ainda se escrevendo sozinha; ainda existia alguma parte racional dentro de mim que ansiava por uma resposta lógica, algo que realmente pudesse me indicar se eu estava ficando louco ou não.

"(...)Queria ver se a coisa estava ainda se escrevendo sozinha; ainda existia alguma parte racional dentro de mim que ansiava por uma resposta lógica, algo que realmente pudesse me indicar se eu estava ficando louco ou não."

Desanimado, comecei a rir histericamente, e joguei o papel no lixo, não tendo ânimo para acender aquilo, para incendiar aquilo. Para sair correndo dali.

Ao contrário, abri a geladeira e abri uma cerveja. Tssss. Pois sim, vamos ver se eu estou realmente ficando louco.

Não irei embora daqui, está ouvindo??!!

O silêncio ecoou em meus ouvidos como única resposta no momento.