terça-feira, 30 de junho de 2009

Azul, terça feira!

Por vezes, algumas manhãs são mais pesadas que outras, apesar de não bem sabermos por que. Existem dias que sabemos, de uma forma ou de outra que existe algo a acontecer, ou que algo vai acontecer. Muitas vezes, não sabemos de nada, nem nada acontece. Outras vezes, a surpresa pega-nos desprevenidos, e não sabemos reagir. Estranho tempo este, eme que sentimos bem as coisa, mas não sabemos precisar bem donde vêm tais sensações.

Acordar é um suplício por vezes, em que não encontramos muitas coisas planejadas e realizadas em nossa vida...em nosso mundo. Realizamo-nos em sonhos por vezes muitas vezes mais intensamente que por toda uma vida; creio eu que já houveram bardos a declamar tais fatos da vida em sua prosa musicada. Em sonhos, somos tudo, sem sermos nada. É tanto uma libertação quanto uma prisão e tudo depende do quão sonhadores nos tornamos durante nossos dias. Por vezes, vejo pessoas além de mim que já se tornaram prisioneiras do sonho e de lá não mais saem; por vezes, sinto o calmor, a sedução de permanecer em sonhos, e sucumbo facilmente aos encantos da experiência onírica.

Em momentos como este, acordar torna-se uma tarefa ingrata e mortal; por vezes o peso das cobertas soma-se ao peso do mundo exterior que está a espreita e permanecemos minutos em nossas camas, confortavelmente aprisionados em nossos leitos, sem realmente subir-nos alguma vontade, algum ímpeto de dali sair. Entretanto, bem sabemos que dali devemos sair, devemos viver, devemos acontecer. Há que ser.

Vemos cada fissura do teto com uma nova exploração a nos esperar; bravos exploradores matinais dos detalhes por todos ocultos a não ser por aqueles que têm os olhos pesados de viver, de acordar; buscam nos detalhes algo em que se concentrar, algo em que acreditar, algo em que o escrutínio da vida não afetou.

Em cada rachadura, existe algo. Em cada grão de poeira ali reinante existe a verdade insondada.

Em cada mente reinante, em cada corpo cambaleante, em cada momento prévio do despertar, ali reina toda a indecisão do mundo...toda a dúvida de uma vida de perguntas sem respostas. Porém, bem sabemos que além daquelas quatro paredes, acima de nossas prisões-leito de todas as manhãs, em outras partes, em outras sortes, existem seres intrépidos que despertam e poem-se já de pé e enfrentam de peito aberto a manhã, lavando toda a indecisão enquanto lavam seus rostos.

Sim, creio que existem. Tenho fé que existam.

Mas não aqui.

Não em este momento; não em este lugar. Sei que iremos todos despertart, mais cedo ou mais tarde, antes que seja tarde? esperemos que sim, emboraq alguns de nós saibamos que não irá ocorrer nesta vida semelhante proeza. Não hoje ao menos.

A vitória existe, eis que ainda aqui estamos, ainda aqui habitamos ,ainda aqui vamos, sem saber ao certo para onde....para quê. Persistimos, embora aqui não nos encontremos. Alhures, somos todos os reis de nossos mundos, os felizes senhores feudais de nossos sonhos, de nosso interior, para bem para mal, aqui vamos, aqui estamos.

Eia, levantem suas amarras, enfrentem o frio, dirijam-se ao banheiro, iremos todos comparecer às lides competentes, ao serviço reinante. Puxe a alavanca. Aperte o botão.

Dia após dia, mês após mês, segundo a segundo. Esta é nossa vida. Esta é nossa mensagem. Isto é o que tentamos entender....isto tudo. Se algum dia iremos entender, se algum dia iremos crescer, se algum dia iremos....viver...não posso dizer. Não sei, não sabem, não sabemos, não se importam, não se importem. Não devem.

Não devem. Não tentem.

Não se importem.

Esta é a vida.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

A vingança é tóxica!

Pois sim, aqui estamos novamente, após ter sobrevivido o fim de semana, que conforme prometido foi regado ao molho de diversas pérolas cinematográficas. É curioso quando paro para pensar, estas reuniões com alto teor trash tiveram início em meados da época da biologia; eu e meus velhos companheiros tombados no dever do curso - Eduardo(Psico), Daniel(Mestre) e Rubens estamos realizando estas reuniões de tempos em tempos, creio que desde 2002. Entretanto, não me lembro em que momento se tornaram puramente sessões de cinema. Antigamente nós apenas ficavámos comendo churrasco e escutando música, enquanto conversavámos sobre as diversas coisas da vida. Em algum momento decidimos acrescentar a exibição de filmes lindos(leia-se trash) aos nossos encontros, e desde então esta tem sido a regra que rege nossas reuniões.

Bem, em este fim de semana não foi diferente: normalmente ainda misturamos algum filme dito mais sério no meio da seleção, mas creio que este fim de semana apenas assistimos a películas de gosto duvidoso. Mas que não deixam de ser sensacionais, muitas vezes entretendo muito mais que muitos filmes ditos sérios que por aí existam.

Nesta exibição assistimos os seguintes filmes:

Mutantes Assassinos
Rambo IV
Toxic Avenger
Dracula 3000
The Wraith
E algum outro de mutante aí.(a tradução e o nome original nunca batem mesmo)

Como podem ver, os filmes foram escolhidos a dedo. Em verdade, supostamente Rambo 4 deveria ser um filme mais dito sério, mas não é. O final do filme é extremamente instrutivo, e deveria ser assistido por todo e qualquer açougueiro que porventura não tenha acesso a um moedor de carne, mas tenha uma metralhadora anti-tanques à mão.

Agora, o destaque do evento deve ser comentado com mais detalhe: O grande vencedor da noite foi Toxic Avenger. Indiscutivelmente, é uma das mais brilhantes histórias jamais contada por uma projeção cinematográfica. Em resumo, fico estarrecido de constatar que tal filme não foi sequer indicado ao Oscar. Atuações ímpares(de fato), um enredo maravilhoso, um figurino fantástico. Tudo no filme inspira sucesso instantâneo.

A história gira em torno de maus elementos de uma escola, os ditos "durões" ou "bullies" de uma escola que infernizam a vida de um simples faxineiro/aluno mais impopular da escola(sei lá). Tais elementos, os "do mal" se divertem realizando atividades pitorescas com suas namoradas, incluindo o atropelamento de crianças, com detalhes que me deixaram embasbacado. A bizarra cidade de Tromaville, em que a história se desenrola, é habitada por exemplares cidadãos, como transportadores de lixo tóxico em tambores abertos(com fumaça de gelo seco e sal de frutas à vontade), viciados em cocaína, um prefeito que além de pesar 200 kilos, também é o chefão do crime organizado da cidade.

Todos estes maus elementos, no entanto, são prontamente desafiados pelo nosso herói de tal saga, que é o próprio faxineiro com cara de imbecil(eles escolheram certo o ator - dá vontade de bater no sujeito só de olhar para a cara dele). Após sofrer um "atentado" na escola onde ele termina se atirando pela janela trajando vestes rosas de bailarina e caindo dentro de um daqueles tonéis de lixo tóxico com alka-seltzers e gelo seco, ele se torna o Vingador Tóxico, uma aberração mutante que circula trajando as vestes destruídas de bailarina, e uma cara nada bonita. Tal criatura, evidentemente, se vinga de seus malfeitores, e de quebra combate o crime organizado da cidade.

Lindo, lindo. Mas o que me deixou boquiaberto de fato foi o fato que trata-se do filme mais SUJEIRA que já assisti: não sei se os produtores de tal coisa realmente tiveram alguma intenção além de fazer uma comédia de humor negro. E põe negro nisso! A cena do atropelamento me deixou sem palavras. O filme inclui todos os elementos que alguém com um pouco de bom senso hesitaria em pôr em um filme, como o abuso de uma mulher cega, tiros em animais, pessoas lidando com cargas tóxicas enfiando a cara em 1 kilo de cocaína, zoação com homossexuais tão esterotiados que se tornam absolutamente ridículos. Isto e mais uma porção de detalhes que não me lembro necessariamente no momento.

O que é engraçado é exatamente este efeito abismal: este uso do politicamente incorreto em um veículo de humor. Tal filme se fosse lançado na data de hoje, creio que meio mundo iria cair matando em cima dos produtores, atores, etc, envolvidos. Sim, tal filme não deve ser assistido por pessoas sem senso de humor. Não deve ser assistido por entusiastas religiosos. Não é recomendado para quem tem coração fraco. E quejandos.

Voltando à reflexão da sexta feira acerca de humor, afirmo que ri, mas ri muito, de passar mal mesmo de tal filme. Isto faz de mim um sujeira? Uma pessoa que aceita a violência, e que ainda se diverte com ela? Isto faz de mim uma má pessoa? Creio ser um caso semelhante a outro, que já comentei aqui mesmo, naquele outro pinçamento que sobre video-games violentos. Eu continuo curtindo muito jogos como Fallout 3, em que por vezes você explode ou arranca a cabeça de seus atacantes usando armas de fogo. Eu me divirto com isso, acho graça disso? Sim, e muito, devo admitir.

Tenho discernimento o suficiente pra saber o que é ficção e o que é realidade. Para saber o que é correto ou não na vida real. Evidentemente, não sou perfeito nem um santo(ani-tofu), mas sei que eu não acharia graça se alguém desse um tiro num cachorro gratuitamente, em minha presença. E sei que a humanidade evoluiu algum tanto no que diz respeito ao discernimento do certo e errado em meios de comunicação feito filmes. Mas ist não me impede de me divertir com o absurdo relatado por um filme feito Toxic Avenger ou pela violência virtual propagada por jogos eletrônicos.

Acho inclusive, que um dos fatores que tornam filems como o aqui narrado ainda mais engraçado é justamente a realização deste contraponto entre os fatos narrados pela câmera e o tanto que eles são absurdos em relação à vida real. É o mesmo que acontece com os video games. Me divirto sabendo que não é real, que é absurdo.

Enfim, se alguém quiser se divertir relaizando tal exercício comparativo, recomendo a exibição de Toxic Avenger.

Rir ainda é o melhor remédio eu diria. Ainda mais em presença de amigos. Recomendo a qualquer um a experiência de assistir tais filmes em tão agradável companhia...Valeu, galera. Este ano ainda faremos mais.

Enfim, voltemos ao lado negro do mau humor e da realidade nua e crua e cinza: é segunda, e estou em serviço. Enfim. Até a próxima sessão...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ria se puder!

Não é engraçado?

Acho estranho isto, hoje ao chegar aqui eu pensava a respeito disso - o que nos faz rir? O que nos leva a achar algo engraçado? O que faz-nos disparar aquela sequência de movimentos de compressão da caixa torácica, seguido de risadas. Risadas. Alguém já parou para analisar as risadas das pessoas? Tenho um par de amigos que por mais cretina que fosse a piada, eles riam, e riam de uma maneira tão hilária, que era impossível manter-me calado, manter-me sério: qualquer um que estivesse perto se desmanchava de rir. Um deles era meu colega na biologia: o saudoso Leandro Malvadeza, assim conhecido por não perdoar ninguém com seu humor cáustico e sarcasmo elevado. Mas era um bom companheiro, e admito mesmo que sem a companhia dele e de um outro ex-colega meu, o Moita, seria difícil eu ter aguentado os últimos períodos daquele curso. Leandro ria e todos riam junto; depois ele ainda ficava dando uns "pinotinhos" de risadas, e frequentemente recomeçava o ataque de riso, junto com todo mundo.

O outro amigo, é o Antônio, o Gengiva. É extremamente recomendado assistir a filmes de comédia em companhia deste cara; se o filme for uma joça, ele ira rir, e sua risada pe feito a do Leandro, contaminante. No caso de Antônio, no entanto, acabamos rindo do tanto que ele acha um treco ridículo engraçado: ele se desmonta no chão, perde o fôlego de tanto rir.

Mas é estranho. Outro dia ouvi dizer que nossos "parentes" símios também riem, mas acredito que o ser humano é uma exceção à regra. Aliás, humanos sõa exceção à regra em todo este planeta. Não é à toa que dobramos, quebramos, inutilizamos a seleção natural. Não existe nenhum outro animal neste planeta que tenha feito tal proeza...e nem que tenha dominado o planeta inteiro, sendo o patético predador que é.

Mas voltemos às risadas. Ontem mesmo, eu estava num momento de "não há nada a ser feito aqui" que estava me dando nos nervos. Ficar sem ter o que fazer em casa é uma coisa; estar à toa em seu emprego é outra completamente diferente. No entanto, esta rede mundial de computadores interligados nos leva a descobrir coisas incríveis. Me deparei com sites feito este ou este ou ainda este. E tive que parar de navegar por estes locais virtuais por estar sendo absolutamente impossível me conter. Cheguei a chorar de rir. Não é o suficiente? Tente este.

E convenhamos: é uma coleção de bobagens, mas mesmo assim. Experimente ver tais sites e manter-se sério. Sério. Não dá. Por mais bobo que seja, por mais que "isto é montagem!" e etc, não adianta. é muito mas muito engraçado.

Eu queria saber, no entanto por que nos comportamos desta maneira. Porque rimos?

Sou realmente o cara das perguntas sem resposta. De fato, acredito que não exista resposta pra isto, não sei se pesquisadores pêssicológicos alhures já desenvolveram pesquisas séria a respeito deste tema nada sério mas intrigante. É estranho principalmente se formos analisar as pessoas de acordo com seu senso de humor. Tem gente que assiste algum daqueles vídeos hediondos que às vezes aparecem em nossas caixas de entrada de email - alguém sofrendo um prolapso retal, alguém sendo decapitado, atropelado, esquartejado, etc - e racha de rir, passa mal de rir. Eu passo mal de aflição. Alguém assiste um tombo de uma pessoa na rua e racha de rir. Eu fico preocupado com a pessoa ou sinto a dor dela. Claro, não sou nenhum santo(ani tofu!), e já ri de situações adversas, mas nem sempre.

O que leva alguém a achar isto ou aquilo engraçado? Estranho, não?

Riam de mim, pois estou atrasado para começar a trabalhar, gahhhhhhhhhhh!

Até segunda então e bão fim de semana. Creio que explorarei bem o tema proposto hoje no fim de semana, pois eis que aproxima-se mais uma reuniao de meus amigos que tanto gostam de assistir a filmes trash....Porque os filmes trash são engraçados? Porque são fudidos!

Ahahahahah.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Dez mais cinco.

Olhando para frente, olhe para a frente, não olhe para baixo. Não olhe para baixo. Existem milhares de histórias com estas famosas palavras, famosas últimas palavras.

Por que meu cérebro insistia em tentar fazer piadinhas e analogias em uma hora como aquela, não saberia dizer, acho que mesmo nunca. De qualquer maneira, olhar para a frente havia me salvado do afogamento, e parecia que continuava funcionando, pois no meio do zumbido de meus ouvidos praticamente ensurdecidos a esta altura, eu continuava ouvindo o berro daquela puta disfarçada de gente.

Nhec, senti o metal entortar mais um pouco. Droga de cano fraco dos infernos. Contrariando minha voz interior, olhei para baixo. Sim, seria meio difícil sair ileso daquela miríade de vidro estilhaçado espalhado no chão do ex-box.

Que estrago. Por um instante imaginei o que aquele almofadinha dono desta merda de casa diria ao ver aquilo tudo. Ah, cale-se, cale-se. Prioridades; primeiro eu tinha que sair vivo daquilo para depois fazer piadinhas a respeito.

Aquela casa tinha um pé direito bastante alto, felizmente. Nunca havia reparado nisso até aquele momento; quando se está dependurado num cano de chuveiro acima de um mar de sílica cortante, é bom que você esteja o mais distante possível de tais cacos.

Nhec.

Porra o que eu faço, era tudo que eu conseguia pensar naquele momento. Fodam-se os pés direitos e tudo mais. O cano iria quebrar a qualquer instante: era necessário que eu agisse o mais rapidamente possível.

Mas o que fazer?

Uma coisa insana qualquer.

O cano iria quebrar em segundos. Erguendo minhas pernas, apoiei-as contra a parede do box, firmando meus pés nas torneiras, aliviando um pouco o peso exercido pelo meu corpo no cano. Isto me deu um segundo a mais para ter outra brilhante idéia.

Contraí minhas pernas, me preparando para uma manobra nada segura. Fechei os olhos e torci para que ao menos eu conseguisse sair o menos cortado possível daquela merda toda. Puxei o cano com força, ao mesmo tempo que fiz outro esforço garantido pela minha adrenalina circulante em meu corpo.

Empurrei minhas pernas contra a parede com uma força descomunal.

Eu senti alguma dor ao mesmo tempo que sentia coisas passando por mim, raspando, cortando. E senti o baque do chão. Abri os olhos rapidamente e vi que olhava para o teto daquele banheiro infernal. Eu ainda estava ali, então ainda estava vivo. Ao mesmo tempo, meu confuso cérebro tentava equalizar as sensações, regular as coisas, abaixar minha pressão, manter meu coração batendo, coisas triviais.

Confuso, vi que a manobra havia funcionado em parte. Estava de fato, fora do box. Havia atravessado o restante do vidro previamente destroçado e tinha caído no chão, a alguma distância daquela josta. Estava livre daquele tormento, ao menos.

Enquanto tentava avaliar o que mais havia ocorrido, um rosto que eu gostaria de nunca ter visto invadiu meu campo de visão. Com aqueles mesmos olhos angelicais....para uma porra de demônio.

Ah, sim, como pude esquecer de você, meu bem.

Caralho.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

100. Cem. A hundred.

Céus, como o tempo passa, eu diria, vocês diriam, sei lá. Hoje é uma data especial para o arquivo, para o relato diário deste indivíduo que vos escreve. Já tinha visto em outros locais que costumo frequentar neste universo paralelo de nossas vidas modernas que é a internet, as comemorações decorrentes da proeza de se atingir este número. E posso afirmar que sim, por mais que não seja umja realização muito palpável(analisada do espectro capitalista), é um de meus mais estratosféricos feitos de minha vida. Cheguei aos 100, estando com 32. Cheguei aos 100, estando com a mente repleta de dúvidas e idéias; cheguei aos 100 e pretendo chegar além, muito além.

Certo, o que ganho escrevendo isto tudo? Nada. Mas o que ganharia não escrevendo? Nada também. Nada pelo nada, escrevamos. Ao menos de alguma forma eu ponho um pouco pra fora de tudo isto que se passa por aqui, nestas circunvoluções desta massa estranha e bilobada que tenho dentro deste crânio...E quem sabe, algo melhor virá, não sei bem ao certo. Hoje em dia posso afirmar que este exercício foi no mínimo um tanto quanto válido para que eu pudesse descobrir alguma coisa a meu respeito, sobre o que gosto de fazer. E por mais que alguns dias, especialmente meus dias mais negros e cheios de mau humor, eu me sinta um tanto quanto envergonhado de escrever as coisas que escrevo, afirmo-lhes que já posso incluir na minha listagem de "Top 5 Dream Jobs" algo relacionado a escrever como ganha-pão.

Se isto vai se concretizar algum dia, somente o tempo dirá...A ver.

Enquanto isto, as coisas continuam. Aqueles de vocês que porventura se perguntaram a respeito de meus outros projectos apresentados aqui - AKA Sr. Bode - não precisam se preocupar tanto, pois ele NÃO morreu. Ele não morrerá, mas o criador dele anda meio mal....e um tanto negligente, devo admitir. Mas ele só morrerá quando eu morrer. E como vaso ruim não quebra, creio que ainda terei forças algum dia para repetir o feito dos 100 com as tiras dele também.

Entrementes, queria agradecer atodos que tiveram paciência de ler tudo isto. Foi um longo caminho, e por mais estranho que este ano esteja sendo, ao menos esta mudança ocorreu de concreta em meus projetos tão adiados. É verdade que o projeto inicial de "Noiado no Sótão" resumia-se a uma sitcom girando em torno de mim mesmo. Lembro-me quando criei tal coisa em minha cabeça, estava eu a conversar com um outro amigo meu - Rubens - a respeito de como seria um sucesso de risadas me filmar em meus aposentos, especialmente na época que estava completamente fudido na vida, desempregado e desenganado com meu falido curso de "belas artes". Sim, seria um tanto quanto engraçado.

Infelizmente, as organizações Globo rejeitaram meu projeto, afirmando-me que se tratava de um clichê ambulante, e que preferiam realizar reality shows do naipe de BBB, que dava mais audiência. Igualmente infrutífera foi minha peregrinação às outras emissoras televisivas. A Band não quis nem saber, o SBT me afirmou que já tinham uma criança que daria muito mais audiência que um adulto falido, e a Record quis me converter; quando recusei-me a fazer tais ritos, eles me ameaçaram me purificar em nome de Cristo. Em uma fogueira.

Logo, aqui estou; ao invés de meu sótão tenho este nada aconchegante escrotório. Mas assim é a vida. Dá tudo errado no final, ehehehehe. Certo, certo. Irei calar-me de pensamentos negativistas na crônica do dia de hoje da semana de amanhã do mês que vem. Mas não pensem que irei deixar de tentar provar que no final dá tudo errado e que só Murphy tem a razão.

Eheheh, alguns devem estar pensando, "criamos um monstro", mas não se preocupem. O monstro já existia desde 17 do 09 de 1977. Tão velho quanto o Punk Rock; se ao menos fosse também tão conhecido e influente quanto ele....

Enfim, voltemos ao mundo real e sua contabilidade maldita. Pecado?? Pecado é essa coisa hedionda em que trabalho, isso sim. Por Mitra!

E em nota mais desprovida de sentido, foi-me anunciado no momento que odia de ontem oficialmente não existiu; o governo das Filipinas está a bater em mibnha porta exigindo a imediata restituição de os royalties a eles competentes. Terei que me esgueirar feito um rinoceronte pelo restante do dia, ao que vejo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Rantin' bitchin' whorin' whateverin'.

É estranho, muitas vezes paro pra me peguntar. O que há de errado. Não apenas comigo, mas com...tudo. Os que já me conhecem desde muito, irão rolar os olhos e dizer, lá vem mais uma confissão emo-adultescente-deprê-etcoeteral. Não me esquivo disto; parece-me mesmo que foi com este desígnio que fui enviado a este planeta de loucos - o de maixar a bola, murchar a festaq, espalhar a rodinha, etc. Se é pra ser assim, que eu seja. Sempre o fui, desde que me entendo por gente, por assim dizer. São tantas, mas tantas coisas bizarras e estranhas acontecendo-me e ocorrendo ao meu redor, que não consigo me esquivar disto, não há muito o que dizer a mais.

Ontem, eu fui reduzido a cinzas por uma simples conversa via este aparato magnífico que é a interneta. Uma simples conversa com um de meus amigos mais estimado, me reduziu a um nada que sou. Não irei adentrar-me em detalhes, mas posso afirmar que foi uma das piores conversas que já tive na vida. Não pelas palavras usadas nem nada: não fui insultado. Fui apenas reduzido ao nada que sou por uma sucessão de palavras, simples e espontânea, a mim dirigida sem nem muita emoção. Nenhum ressentimento, nenhuma injúria, nada. Apenas a verdade, nada mais que a verdade.

E como diria Nicholson, "You can't handle the truth."

Algo assim, eu diria.

Uma simples sequência de palavras acabou com meu dia, estando eu até o momento atordoado com a coisa. Não, não passou. Fui lembrado disso pelo despertador com seu ruído interruptor de todos os sonhos. Esta vida é assim. Ainda me surpreendo como é possivel que realmente existam pessoas que realmente queiram viver mais que 100 anos. Para quê?

Para quê, eu me pergunto. E vêm me dizer que eu não deveria ser assim. Não posso ser assim. É crime ser assim. Pecado. Errado. Incorreto. Imoral. Apolar.

O caralho.

Dizem-me que deveria ser feliz; pensar no infortúnio de tantas e tantas pessoas, com câncer, com fome, sem dinheiro, sem lugar pra morar, que perdeu a família, que encravou a unha, que furou o pneu, que vive num país onde todo seu dinheiro pago em impostos só serve pra engordar político filhos da puta.

Agora, eu digo: sim, eu estou bem a par do sofrimento alheio, sim, eu conheço bem tudo isso. Sim, existem pessoas muito mais fudidas e mal pagas que eu, sim, reconheço.

Eu devo me alegrar com isto?

Sério. Este é o conselho? Devo realmente me alegrar que existe gente na pioral, sem braços sem pernas com câncer sem pai sem mãe sem comida sem bebida sem água sem dignidade sem respeito com ódio com rancor que teve os pais comidos pelos cachorros e o caralho?

É isso?

Belo conselho de merda este.

Faz-me sentir ainda masi sórdido que eu, este ser humano quase 100% funcional, tenha que se tornar infuncional por conta de sua prórpia culpa, sendo que tem muitas pessoas ainda mais fudidas, infinitamente mais fudidas que eu que são bem mais felizes ou mais realizadas com as vidinhas delas. Se esta realização, este "insight" faz alguém se sentir melhor, não espere que eu vá fazer o mesmo. Na verdade, se existe quem se sente melhor diante destes fatos, em minha opinião, é um ser vil, baixo, hediondo.

Sério, este é o conselho mais idiota de todos os tempos.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Relato.

Como ocorreram as coisas no fim de semana?

Bem, obrigado. Fomos agraciados pela visita inesperada, e doravante por um certo período haverá barulho, muito mais barulho que o esperado. Pelo menos durante algum tempo. A medição correta ou incorreta do tempo está assegurada, basta olhar para o inesperado artefacto atado ao pulso.

Enquanto isso, alguém enlouquece alhures, muito para desdém de sua família.

Cafeína nem sempre é garantia para se manter acordado ou para produzir algo que presta, nem que ao menos sejam artigos manufaturados, extraídos directamente da essência do grafite. Apesar disso, houveram muitas linhas, muitas linhas; nem todas aproveitadas, mas engrossantes, capacitantes, hilariantes ou não, lá estão. Para a posteridade ou para as traças, o tempo dirá, ou não, assim o é, assim o foi.

Entrementes, novas nascentes, novas sementes, novas esperanças. Novos comportamentos! À prova, ao lar, ao bar, ao mar. A ver. Enfim, pois é.

Houve muita música, como não poderia deixar de ser, como poderia falhar. Entrementes, aqui e ali, o tempo continua a passar, e continuo a tentar. Encontrar. Ali. Aqui. Em algum lugar. O quê? Nem bem sei, mas sei que ainda hei de achar, ou morrer tentando. Morrer, a cada dia morrer, renascer, dormir e comer, acontecer e dormir. Entreter. Acontecer.

Aceitar.

O que foi acontecido, o que vai acontecer, o que se passou. Passou, sim, passou. Tudo passa, tudo cala, tudo acontece se deixarmos, se tentarmos, se conseguirmos. Vencer-mo-nos.

Vencer, progredir, acudir. Acudir. Acusar. Traçar, sempre traçar. Planos, metas, cabeças. Olhos, malditos olhos; porque não se encaixam? Acaso não sei eu que são esferas? Acaso não sei eu que devo fazer? Acaso não fui treinado assim? Para o sucesso, para o acontecido, para a luz?

Talvez sim, mas parece-me que não. Não, não e não.

Manuel, o Bandeira. Procurem por toda a parte. Ela desapareceu, ia nua. Pecai com todos pecai por todos. Depois comigo. Tu desfalecerás.

Voltar. Vida. Acontece por todos os lados, não se para o tempo. Acontece o tempo, acontecer tempo. Acontecer, existir, sobreviver. Viver. Viver. Até quando? Até passar, até ser, até acontecer? Ou não. Até quando?

Não sei, não sabes, não sabemos.

Ir, até onde for. Até onde der. Até onde calhar.

Dia após dia. Palavra por palavra. Letra por letra, traço a traço, nota a nota. Som a som. Dia a dia.

Até onde for, até onde der, at´r onde for, pro que der e vier. Acontece. Aconteceu, acontecerá.

Calar. Trabalhar. Até mais tarde, até amanhã. Assim, assado.

"Just drop me here
I can find my way clear
back to my house
I'm finding it hard
trying to stay on my feet on my own
i'm thinking of ways
I can get out of things
just like always
with a head full of beer
I will try and tell someone tonight
I gotta get away step on the gas
go giles!"

--Boo Radleys, Thinking of ways.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

The great People-dodger.

Ah, it's been a long time. Long time no see, long time we'll see. I'm about to let go of all the restraints on these fingers for a while; it feels good to let go from time to time, don't y'all think? It makes me wonder what the hell I'm hiding from, actually. I know it makes no sense, but to me it does. A lot of things that make no sense to some people makes sense to me, it's just like I'm living on this parallel universe, where humanity does not count; it's like I've been an alien on this planet. Just like the Schulz's cartoon: and believe me, I try to make sense out of it every single day. Every passing day, every fleeting moment.

There goes my initial proposition, and here I am ranting once again; I suppose it's an inherent condition, a character flaw of mine if you will: I tend to complain, to whine just as much as your regular bitchin' girlfriend on her worst days. I'm not going to mention the "thing", lest I'll be accused of sexism and male bitchin', whatever. I'm no sexist, I'm no whatever, feel what you feel like, read what you feel like. There are no facts, only interpretations, or so I was told by that infamous, long dead moustache.

Well, what can you do when you don't belong to a place as worldwide as the whole planet? There ain't no other thing just as global as my uncomfortable feeling: I do possess the ability of feeling miserable wherever I go, whatever I do, wherever I follow. Mine is the honor of being the eternal people-dodger: I dodge people. It's a dying art, though. And it should be, or else we'd be already extinct, I suspect. Alas, it is a solitary task. But a necessary one, since I've been planning to end the line on me. No heirs shall have to endure this legacy of nothingness, this continuos madness that has got roots as deep as the old man's family goes back in time. It shall end right here on this lost one, on this lost soul, that shot himself with rock'n'roll.

Yes, pretty gloomy words for such a great day, it is Friday, it is the day that we'll all go away, at least for two days, only to come back, right as rain on next Monday.

Until the day that we'll all cease to be.

So is the life, so is the cycle, the ouroboros. No wonder why I've got mine permanently etched upon my back, upon my skin, upon my very soul, if there is indeed such a thing. I shall endure, I shall take no shortcuts: let life itself be my own personal hell. Let the Great Flaw Finder make its own solitary way through his existence. Then, when the glorious day arrives, when he'll finally leave us in peace, we'll sell all his rubbish, all his scribbles, all his lost memories and make a ton of money. To continue our lives, to endure our existence. To let go of the restraints, of the feelings, of the life itself.

Woe is me, for I've been wrong all my life, and I'll be wrong for the rest of my days. Thus it is written, thus it shall be, said the thing I read just yesterday, when I was supposed to be working here, encased in these four walls, in this rotting flesh.

And I'm tired. I'm tired of being sorry, of being wrong all the time. I'll just let it slide, I'll glide along. I'll have no more in a few days. In a few years. Whatever.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Décimo 4.

Não sei por quanto mais temo eu resistiria a tudo aquilo, mas eu precisava tentar. Eu precisava acabar com tudo aquilo. Diante de mim, a criatura me olhava com aqueles horríveis e rubros olhos, que continuavam a desejar freneticamente minha morte. Ansiosamente.

Estava tão fraco que não tinha certeza que conseguiria fazer algo tão simples. Mas era preciso.

Mexi meus braços na gélida água, para que conseguisse me virar. Notei que a expressão da coisa se tornou um tanto inquisitiva, como se não estivesse entendendo o que estaria eu fazendo. A "voz" dela já havia sido silenciada em minha mente, mas não precisava de mais nenhuma instrução.

Fechei bem os olhos e busquei as forças onde quase mais nada havia. Girei meu corpo lentamente, dando as costas para a criatura. Mantendo os olhos fechados, comecei a ouvir um rugido de ódio esclarecido vindo do exterior daquela líquida tumba.

Ela estava berrando. Emitindo sons inimagináveis daquela garganta horrenda.

Abri os olhos, mas continuei de costas para tudo. O tom da gritaria estava se tornando impraticavelmente alto. Tom, não o volume. Mesmo estando um tanto isolado do exterior pela camada de água, meus ouvidos começaram a doer. Pesadamente, ergui os braços e tampei minhas orelhas com as mãos. Mas não me voltei.

O som se tornava cada vez mais e mais insuportável. Mas eu estava tão desorientado, tão intoxicado com minha própria acidez de meu sangue carente de oxigênio que quase não me importava.

De uma maneira ou de outra, logo estaria acabado.

Comecei a sentir estranhas vibrações ao meu redor, e abrindo os olhos mais uma vez, notei que havia uma nuvem rubra ao meu redor. Sangue. De meus ouvidos, de meu nariz, não sei. Sei que novamente comecei a sentir muito, muito sono, quase a ponto de apagar todo orestante das sensações dolorosas dentro de mim. Quase não ouvia mais nada.

De repente, senti algo completamente diferente. Água se movendo pelo meu corpo. Abri os olhos para ver que haviam imensas bolhas de ar subindo em minha direção.

Algum princípio primordial de sobrevivência me fez engolir muitas destas bolhas, juntamente com muita água, mas de qualquer forma, aquilo me supriu com mais alguma resistência. Um zumbido em meus ouvidos abafa quase todos os sons ao meu redor, mas eu conseguia ainda ouvir alguma coisa como vidro se quebrando e água correndo.

A gravidade subitamente fez mais sentido também. Agarrei-me, não sei bem por que, na haste metálica que encontrei no caminho para o chão. O cano do chuveiro.

Não me atrevia a girar o corpo, no entanto. Continuava de frente para a parede azulejada.

Com o pouco que me restava de audição, conseguia identificar também o inimaginável clamor de protesto daquela coisa. Ela ainda estava ali. Ela ainda estava ali...

Eu tentava ao máximo me restabelecer por completo, mas eu estava em um estado deplorável. O ar entrava dentro de mim mas não se comportava direito. E eu tossa muito, emitindo água, catarro e sangue para todos os lados.

Mas algo dentro de mim me alertava para não soltar o cano em que encontrava-me dependurado.

Lentamente, minha visão começou a melhorar, e meus outros sentidos se tornaram mais funcionais. Sacudi a cabeça e olhei para baixo. A água gelada continuava a sair do chuveiro, mas o box estava praticamente vazio agora.

Entretanto, logo abaixo de mim, haviam milhares de imensos cacos de vidro blindex. Meus pés estavam praticamente raspando o canto vivo de alguns destes fragmentos.

E o maldito som emitido por aquela merda de demônio continuava a retumbar em meu convalescente cérebro.

Mas eu respirava melhor agora. Como era bom poder respirar. Ar, algo tão comum. Você só sente a falta dele quando se está encerrado em um box cheio de água.

De repente, o cano se entortou com meu peso. A gravidade novamente falava. E obviamente, aquele cano nunca havia sido projetado para aguentar o peso de uma pessoa como eu.

Debaixo de mim, milhares de cacos pontiagudos me aguardavam.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Colchetes. Feldspato. E quejandos.

(O Engravatado entra no recinto. Todos olham, mas não se importam. Todos notam, entretanto que tal sujeito traja um terno azul e uma gravata rosa)

ENGRAVATADO
Ah, aqui estou. Em pleno coração dessta cidade nefasta, pútrida, hedionda. E almejo obter uma refeição. Garçon!

(aproxima-se do mesa um pequeno sujeito)

GARÇON
Oui?

ENGRAVATADO
O que fazes aqui, seu mancebo inútil? Desejo um garçon!

GARÇON
Este é meu nome. Garçon dos Santos Silva Costa.

ENGRAVATADO
Pois sim. Desejo obter uma refeição. Será que o senhor poderia me ajudar em tal quesito, em tal ânsia, em tal hercúlea tarefa em dias tão tratantes, em tempos tão nauseabundos, em mares e ares tão díspares para que um simples sujeito possa existir?

GARÇON
Será que ao invés disto, o senhor não gostaria de obter um exemplar de algo bem dramático? Recomendo Shakespeare.

ENGRAVATADO
Que dizes tu? Almejo eu a obter uma refeição!

GARÇON
Então eu recomendo que o senhor vá a um restaurante. Isto aqui é um biblioteca.

ENGRAVATADO
Eu sei que estou no local certo! Pois eis que realmente crês que não existam outras fomes além da carnal? Além da normal? Meu repasto é interior, meu anseio é puramente espiritual! Almejo eu por pães que alimentem meu espírito.

GARÇON
Vá encher o saco do padre então. Obtenha umas hóstias por lá.

ENGRAVATADO
Isto é uma ignomínia! Eu desejo falar com o gerente deste infecto estabelecimento acerca de vossa maldita conduta, caro senhor!

GARÇON
Pois não. Sou eu o gerente.

ENGRAVATADO
Há pouco afirmaras que era o garção deste local!

GARÇON
Não o garção, não! Sou Garçon e exijo respeito! Fora daqui!

ENGRAVATADO
Me recuso terminantemente a sair daqui enquanto não for atendido.

GARÇON
E eu me recuso a atender uma pessoa tão mal vestida.

ENGRAVATADO
Pensei eu que não existia código de vestimenta para se obter acesso a uma biblioteca.

GARÇON
Ceci ne pas une bibliotteque. Vous les vou ouvrir le croissant?

ENGRAVATADO
Não adianta tentares me lubridiar com tal conversa em chinês! Sou fluente em mandarim e analfabeto em hebraico.

GARÇON
O senhor esta a me encher a paciência. E eu já estou a falar feito o senhor, maldito seja!

ENGRAVATADO
A-há. Bem o sei que meu magnetismo pessoal é irresistível.

GARÇON
Ponha-se daqui para fora, biltre!

ENGRAVATADO
Não. Terminantemente não.

GARÇON
(sacudindo a cabeça de ódio)
Pois bem. Digas o que queres, energúmeno e verei se posso vos atender.

ENGRAVATADO
Desejo apenas um copo de purê de batata e três canudinhos.

GARÇON
Está bem. Qualquer coisa para ver-me livre de vossa pessoa em este estabelecimento.
(sai para providenciar)

(o Engravatado olha ao redor triunfante. As pessoas restantes na biblioteca são apenas duas, uma senhora de meia-idade e um cacho de uvas. O engravatado senta-se em uma mesa e começa a devorar aos pouquinhos o livro que ali jazia.)

GARÇON
(voltando, esbaforido)

Aqui está sua droga de purê. Agora, para que três canudinhos?

ENGRAVATADO
Um deles é para que me acompanhes. E o outro é para a Senhora ao nosso lado, que possui tão belos brancos dos olhos.

SENHORA
Não, não e não! Não serei casada com alguém que se traja tão ultrajantemente!

(Sai andano com o peito estufado em ar de repugnância. Bate a porta ao sair.)

ENGRAVATADO
Pois sim, que lástima. Enfim, deixemos o outro então para o cacho de uvas então.

CACHO DE UVAS
...

ENGRAVATADO
Quem cala, consente. Aproxime-se.

CACHO DE UVAS
...

GARÇON
Ele não quer saber! Está a vos desprezar.

ENGRAVATADO
Tristes tempos este. Enfim.

(Reclina-se e apanha seu canudinho. Faz vácuo e tenta heroicamente aspirar as batatas esmagadas pelo cilindro oco de matéria plástica. Faz uma pausa e pressiona as têmporas, evidentemente em franco sofrimento. Tenta novamente. Faz força sobre-humana para tentar obter sucesso. Veias ficam estufadas em sua testa, ao redor dos olhos e no pescoço. Toda a extensão de seu rosto transfigura-se e torna-se ruborizada.)

GARÇON
O senhor não está aparentando estar muito bem.

ENGRAVATADO
Hmmmmmmmmmmm.....arghhhhhhhhhmmmmmm.

(Torna-se cada vez mais avermelhado. As veias continuam a aumentar seu calibre, periculosamente, cada vez mais e mais, até que a hiperemia seja evidente até mesmo em seus olhos, que começam a se tornar cada vez mais exoftálmicos. Após mais alguns minutos de luta, os olhos do Engavatado pulam para fora, ao mesmo tempo que sua cabeça implode.)

GARÇON
Que lástima, deveras. Minha vez. Aguarde a sua.
(aponta para o cacho de uvas)


(Apanha seu canudinho e começa a tentar obter sucesso na falida empresa. Neste momento, arrebentam as portas aos gritos:)

MONSENHOR
Ninguém espera a Inquisição Espanhola!

GARÇON
Jamais me apanharão com vida!

(Sai correndo segurando o copo com as extintas batatas. Atravessa o portal de vidro de uma das janelas e se atira no vazio.)

MONSENHOR
Sujeito estranho. Pois bem rapazes, prendam o elemento! Cuidado, é extremamente violento!

(Os inquisidores se dirigem cautelosamente em direção ao cacho de uvas. De repente, todos os bagos de tal cacho explodem em uníssono e letal estrondo. Todos tombam mortos ao chão. Aparece o Fisioterapeuta, que contempla o cenário e diz, desconsolado:)

FISIOTERAPEUTA
Eu queria ter feito medicina. Ou astronomia Fenícia.

(O planeta todo explode. Fim.)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Décimo treis.

Algo que preenche toda sua mente. Algo que não te permite pensar. Algo que somente existe por existir, por haver necessidade absoluta de me fazer sentir. Sentir. Sentir.

Tudo que eu sentia era dor. Inimaginável, se fosse considerar tudo que já havia sentido até o momento e que havia previamente tachado disto. Dor, mas algo a mais. Algo se mesclando com o sentimento de dor física e outro tipo, este mais visceral, mais...indescritível por meras palavras.

Então isto devia ser algo parecido com estar morrendo. Deveria ser isto que estava acontecendo naquele exato instante, que minha mente lutava para criar algum sentido, alguma lógica, alguma explicação. Sempre me ative ao mundo real, sempre fui real, tudo era real; até este momento.

Pelo turbilhão de imagens estranhas que passava diante de minha...vista, eu via outros fragmentos de acontecimentos, fatos, coisas...que não faziam o menor sentido. Era como se estivesse assistindo a uma central de informações televisivas, mas tudo ao mesmo tempo agora. Todos os canais tinham de ser sintonizados ao mesmo tempo.

Algo inexequível. Algo impossível.

Deveria realmente estar batendo as botas, pois o dito "sinal" se tornava cada vez mais fraco, mais difuso: era como se estivesse prestes a acabar a força proveniente de alguma bateria. Entretanto, no meio daquela bagunça de rubor e chuvisco de imagens distorcidas, da televisão, comecei a ouvir algo...algo que não consegui distinguir direito o que era, mas...

Era como se alguém estivesse falando comigo. Mas, não se tratava de alguma linguagem, por assim dizer. Era como se...um pensamento alheio invadisse os meus. Diferentemente de tudo aquilo que já havia vivenciado naquele momento de morte, era como se alguém estivesse voltando-se diretamente para mim e tentando se comunicar.

As imagens no dito "pano de fundo" estavam se distanciando, se tornando cada vez mais e mais fracas...e seu movimento turbilhonado estava parecendo que estava se desacelerando mais e mais. Não sei quanto tempo se passou, mas parecia que já estava ali por uma eternidade. E já estava começando a me fartar daquele festival de absurdos.

De repente, tudo parou. Ao mesmo tempo. Mas...senti aquela...voz, aquela...presença se tornando cada vez mais real. E houve um momento de claridade, um momento de abstenção de tudo aquilo. Não mais rubor, não mais dor.

Senti a presença dela invadir minha mente moribunda. E ela falou. Ela me disse tudo. Mas...não com palavras, não com sons. Eu...sentia tudo. Não precisaria nem de imagens nem de sons para poder entender o que ela estava me dizendo.

Naquele instante, senti algo diferente. Frio. Denso. Mais denso que o ar.

Era como se estivesse suspenso...

Em um box imerso de água. Dentro de um banheiro em uma casa esquecida. Em um local que nunca ouvira falar. Diante dela. A causa de tudo.

Era ela que me dizia tudo, mas de algum outro local...algum distante, ermo local. Algum lugar que não parecia estar muito próximo daquela porta. Daquele portal.

E apenas sentindo, compreendi tudo que se passava. E sabia o que precisava ser feito.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Lá, lá, lá, lá, sol bemol.

Se estar aqui é alguma prerrogativa para estar aqui, fisicamente e/ou possivelmente, não o posso afirmar que assim o é. Ou foi. Por beber, estive à deriva pelos dias que não bebi; para eu que não bebo, fez-me imensamente mal ter bebido, assim o foi. Enfim, enquanto não bebia, bebi, e estive prestes a declarar meu amor taciturno e morituro ao opal, isto é, da opa.

Saí em seguida para arrumar-me a desculpa necesária para ficar em casa. Enquanto isso tiveram a idéia de pôr as ideias desta forma, não acentuada. Evindente abuso de poder; matei a colheradas todos os integrantes de tal revolução às avessas. E mais adiante, descobri que as abóboras não eram feitas de algodão, muito menos dos doces. Então, dirigi-me ao centro do amargor mundial, mais conhecido como meu umbigo. Mas ele ali não estava; percebi que enquanto lamuriava-me em excesso, meu próprio umbigo havia se tornado o embigo, e havia por bem decidido-se a se mudar dali, para tornar ao aqui de ali, enquanto não estava bem ali, ou aquém. Ali? Não sei.

Estive aqui, alguma outra vez; creio eu que já estive aqui. Ou não. Eis este o grande paradoxo de ser, esta simples afirmativa sempre é o cantraditor supremo em todas as ocasiões. Ou não. Afirme qualquer coisa. Pense e m qualquer coisa; qualquer que seja seu argumento, experimente pôr logo em seguida tal frase. Ou não. Vê bem como tudo cai por terra. Ou não. Ou não, ou sim. Enfim. Dito pelo não dito, escusado-me é de afirmar que curti, em muito, não ter feito nada, enquanto fazia tudo. Tudo errado, inclusive. Ou não. Afim de encontrar meu fim, procedo da seguinte forma apenas para reafirmar-me que aqui estou, aqui estou, aqui estarei, aqui serei, não estarei, bno entanto, em algum lugar, se é que isto seja possível. Sim, creio o ser, pois lá estive várias vezes. Seguidas. Ou não.

Aqui, estive. Estive a procurar aqui, aqui agora, aqui ali. Ali ali, babá. Ou não.

Café, para sempre café. Para sempre, até que algum profissional da saúde resolva de mim separar-te. Assim o é, assim o foi, assim o será. Desejas ter saúde? Não vás ter com estes profissionais, eis que eles sempre examinarão-te até encontrar-vos algo que não desejavas saber, algo que não necessitavas saber, algo que não tinhas, até o momento.

Café, até que o médico nos separe, café. Café e cigarros, estes já abandonados devido ao curto espaço de tempo a ser corrido, devendo ser percorrido da forma menos agradável possível, se possível; Café e café, então, até que a terra me coma, café. Até que os vermes me devorem, café.

A sitcom divina de algum ser divinal, vidros e alcatifas. Vidas, exemplares ou não. Sendo que ounão impera em sua imensa maioria, em imensa maioria dos casos, noventa e nove por cento do tempo, noventa por cento do tempo existente e já decorrido. Uma piada. De mau gosto, que seja. Mas quem somos nós para com ele discutir? Sua audiência? Seus seguidores? Seus criadores?

Ou não.

Siga, siga adiante. Tente, descubra seu objetivo. Tente, por mais que saiba que não o seja, encontrar alguém, este aquele aquilo aquela que não existe, que não existiu, que não existirá.

Ou não.

Tentem, tente encontrar alguém, tente ter alguma idéia que julgue brilhante. Que julgue sua. Que julgue ser a idéia. Provarei, contudo, que não sabes de nada, que nunca soubes de nada, que nunca serás nada. Nunca. Se existo, trago-vos a infortuniada existência de saberes que nunca serão o que fui. O que sou. O que serei.

Ou não.

Quem me afirma tais coisas, quem me julga, quem me existe por existiur. Quem supostamente sabe de mim, olha por mim, teme por mim, sofre por mim? Eu? Não.

Não.

Simplesmente, não.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Rants United.

Nussa. Um momento, por favor. A manhã é estranha, por estar aqui diante deste monitor, deste computador, dentro destas quatro paredes, no dia de hoje. Eis que meu feriado foi interrompido pelos maus fígados de meus empregadores, e como sou apenas uma peça nada indispensável na máquina capitalista que faço parte, apenas meneio positivamente com a cabeça, lavanto-me sonolentamente de minha cama e venho aqui dar meu parecer sobre a emocionante experiência de vir aqui "trabalhar" neste dia. Por dez horas iremos todos "trabalhar", isto é, ficaremos todos vegetando aqui enquanto as horas escorrem lentamente pelos ponteiros dos digitais relógios de ponto.

Curiosamente, este dia também representa, comercialmente falando, uma ocasião muito especial de gastar nosso sofrido dinheiro para demonstrarmos que temos dinheiro o suficiente para provarmos à nossos "cônjuges" que os valorizamos, em especial neste dia especialmente designado pelos arquitetos do comércio como sendo o "dia dos namorados". Sim, isto vindo de minha parte pode soar como apenas um irado desabafo vindo de um...er, solteiro vitalício que vos escreve.

Mas que dia melhor para desabafos, para uma explosão de uma torrente de fúria incontrolável que um feriado interrompido? E melhor ainda, quando tal dia coincide com um dos dias mais 171 já criados pelo Clube dos Dirigentes Lojistas! Perfeito, perfeito.

Enfim, falemos então. Sim, de fato, acho de certa forma execrável que haja necessidade de haver um dia, comercialmente designado, para que possamos nos dirigir às pessoas ditas nossas "companheiras", "namoradas", concubinas, etc, com o intuito de provarmos nosso "amor" por elas ofertando alguma prenda comprada em algum estabelecimento comercial qualquer por aí.

Isto traz-me à tona a necessidade de tornar pública(por mais escassa que seja tal publicidade), a minha teoria sem nome que andei formulando durante toda minha vida. Frase prerrogativa, no mais puro inglês, "sex is overrated".

Sim, sim, tenho pleno conhecimento que este meu pensamento me torna ainda mais vulnerável aos vexatórios comentários alheios de que "você não tem a menor idéia sobre o que está falando" ou mais poeticamente falando, como uma ex-colega de meus tempos da biologia o diria, "você precisa amar alguém". Pois sim. Agradeço que tal pessoa seja apenas minha EX-colega. Cuz credo. Já vai tarde.

Mas enfim, o que me leva a dizer tal ultrajante proposição pode até ser derivado de meu insucesso na área-tema do dia de hoje, do dia dos namorados. Sim, não me esquivo de tal acusação; como diria um infame "chato preferido" de meu conhecimento, a solução para todos os meus problemas encontra-se no puteiro mais próximo. Discordo, mas não deixo de tirar toda a razão deste meu amigo(sim, a expressão anteriormente empregada, chato preferido, é excelente para definir nosso amigos, não? eheheheheh), pois eis que somos um mero acidente evolutivo, biologicamente falando, e como bom falido biólogo que o sou, juntamente com a lucrativa profissão de ser filósofo de sótãos e locais empoeirados per se, não pude deixar de formular tal teoria em minha idiótica existência, tal qual Nietzsche formulou teorias sobre relacionamentos, sendo um eterno fracassado em relação a este mesmo tema que estou a chatear, digo, discutir.

Pois sendo um ser pensante e chato que o sou, não deixo de admitir que a coisa em si é...bem, ninguém que já o tenha feito terá a coragem de falar que tal coisa é desprazeirosa. Se o fizer, estará mentindo deslavadamente. Todos que já experimentaram do "fruto proibido", por assim dizer, bem sabe do que estou falando.

Mas, novamente, recorrendo às minhas raízes amargas, sulcadas em cátedras biológicas, nunca consegui esquecer de uma aula, se não me engano sobre Evolução das espécies de fato, em que o professor disse algo a respeito de como seres humanos representam uma escassíssima(se é que tal adjetivo de fato existe) porção dos seres vivos em que o sexo representa algo a mais que simplesmente o ato de perpetuar a espécie em si. Vocês sabem do que eu estou falando. Não tentem me enganar.

Agora, tente realizar tal experimento mentalmente. Experimente tirar o prazer do ato sexual, e torne-o apenas um ato que fazemos para a obtenção de herdeiros genéticos.

Pronto? Quando a hedionda idéia se estabelecer em suas cabeças, tente ser o mais sincero possível ao responder a seguinte indagação - se assim o fosse, será que teríamos tantos problemas relacionados à miséria que envolve a busca por tal ato?

Será que alguém iria perder-se por conta de alguma mulher? Será que alguém iria gastar algum dinheiro com putas? Será que alguém iria ter necessidade de frequentar ambientes hediondos, com músicas ridículas, pessoas dubiamente vestidas e todos os etcoeteras relacionados, para conseguir alguma "foda"("amor"??) para a noite?

Podem me alcunhar do que quiserem. Não abro mão desta minha amarga certeza. Se assim o fosse, existiriam muito menos pessoas no planeta - logo, menos problemas - e haveria muito menos miséria em nossas vidas, isto em se tratando da miséria decorrente dos atos que fazemos para encontrarmos mais algum outro ser desgarrado à procura deste mesmo ato.

Como podem ver, ser obrigado a "trabalhar" em dias impróprios causa danos à saúde. E ser um pensante fracassado na obtenção da "coisa"("amor"??), faz com que pessoas aparentemente normais escrevam coisas hediondas sobre o "amor" que todos buscam. Lindo "amor" este.

E sei que algum dia menos mau-humorado lerei isto e terei vergonha. Ou não, foda-se também. Assim o é o bizarro mundo dos seres humanos, esta diversidade linda que destruirá este planeta em busca do "amor".

Enfim, calarei-me aqui e estarei a "trabalhar" enquanto espero este dia acabar.

Feliz dia dos solteiros fracassados a todos que compartilharem de minhas idéias malfadadas sobre estas coisas que tanto alegram as pessoas. E que tanto noiam os noiados. Ainda mais se estiverem em sótãos.



quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dôzimo.

Imagine estar assistindo TV. Você vê tudo que se passa diante da camêra, mas não pode participar, interagir com o ambiente que te circunda.

Era exatamente assim que eu estava me sentindo. Um mero espectador de algum programa de gosto duvidoso. Uma pessoa na platéia. A única diferença era que eu não estava diante de algum aparelho televisivo, ou mesmo sentado confortavelmente em um sofá.

Eu estava preso dentro da cabeça de alguém.

E esse alguém abraçava aquele demônio do banheiro. Eu tentava, tentava, mentalizar, emitir algum comando para aquele corpo que não era meu. Algum alerta. Mas...o que pode uma coisa feito eu, um intruso forçado na cabeça de alguém, fazer numa hora dessas? Nada.

De repente, como se fosse de fato uma imagem de televisão, a visão que assistia tornou-se opaca, cheia de chuvisco, tal qual um aparelho desprovido de uma boa antena. A imagem ficou difusa por alguns instantes, e depois começou novamente a ter foco.

Estava diante daquela mesma mulher, agora toda vestida de branco, com um olhar angelical, que segurava "minhas" mãos e me dizia, "Eu aceito." Que singelo. Quem quer que fosse o dono daquela cabeça em que me encontrava encerrado estava se casando com um monstro. Rapidamente, o olhar desviou-se para os bancos da igreja, ou seja lá o que fosse aquele lugar, onde estavam sentados os convidados...percorreu rapidamente as fileiras e localizou seu foco.

Se eu fosse realmente o dono daquelas pernas, eu teria feito bom uso delas agora.

Sentada numa das fileiras da igreja estava...exatamente a mesma mulher que acabava de professar "amor eterno" àquele sujeito por mim vivenciado.

A única diferença era que aquela sósia estava com um olhar desolador estampado em seu rosto. Algo que mesclava medo com extrema aflição. Com tons de tristeza intercalados com ligeiro inconformismo. Algo bem diferente daquela outra figura.

De repente, uma voz grave soou aos ouvidos daquela cabeça, "Ahem...E você, Felix Weiss, aceita Delores Zaratz como sua esposa?" Os olhos de minha emprestada cabeça se voltaram rapidamente para a noiva, que agora estampava um olhar nada angelical em sua cara.

A imagem se desfez novamente, e voltou a fazer sentido alguns segundos depois. Caminhávamos em direçao a uma porta. Não me espantei muito quando uma das mulheres fatais(qual delas?) abriu-nos a porta. "Você não deveria estar aqui.", ela me disse. Parece que meu hospedeiro disse alguma coisa, mas estranhamente eu não consegui ouvir a voz de minha própria cabeça. Própria, de fato. Ela olhou para o chão e seu rosto se transfigurou...mas ela não se tornou um monstro. Ao contrário, ela se tornara ainda mais...bela, sei lá.

"Você fez sua escolha, Felix. Vá embora, por favor." O dono daquele corpo segurou nas mãos daquela mulher e ela olhou diretamente nos olhos dele. Um par de lágrimas rolou de cada um daqueles olhos. Ela sacudiu a cabeça e tentou se desvencilhar dele, mas ele se aproximou cada vez mais de sua face.

Justamente quando a coisa estava ficando interessante, a estação "ecos do além"saiu novamente de sintonia e fui agraciado com chuvisco por alguns instantes. Quando a imagem se formou novamente, estava diante de uma antiquada máquina de escrever, naquele mesmo malfadado quarto daquela casa. Ouvi aquela voz atrás de mim novamente, "Onde você esteve hoje à tarde, Felix?" A cabeça dele se virou em direção àquela mulher e pareceu-me dizer algo. Ela sorriu maliciosamente, "Não adianta tentar mentir para mim, Felix. Eu sei de tudo. Eu vi tudo."

Nessa hora, a imagem se tornou novamente disforme, mas desta vez eu...senti algo, como se estivesse novamente com meu próprio corpo. Dor. Sim, era algo deste naipe. Dor. E das bravas.

A imagem se enegreceu, tornando-se rubra em seguida.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Skyscraper.

Há algo errado por estes dias. Tenho acordado com o corpo pesado feito chumbo, por dias agora. Presumo eu, este ser sempre pensante, sempre noiante, que a vida é repleta destes episodios, momentos em que as coisas parecem perder completamente o sentido. Acho que é algo assim, uma maré incontrolável de coisas que não temos controle algum, e por isso mesmo ficamos frustrados quando as coisas não andam conforme planejamos. Enfim.

Talvez também, eu esteja mais melancólico nesta manhã de hoje devido ao fato que concluí ser absolutamente, irremediavelmente viciado em música. Grande novidade, muitos devem pensar. Sim, certo, certo. Acho estranho pensar néste hábito como se pudesse ser tachado de vício, mas não fui eu que o fiz inicialmente; esta idéia eu tirei de um dos livros de um certo cara, que admiro muito. Em uma passagem de um de seus livros ele relata como estamos tornadno-nos viciados em um mundo barulhento, onde ser mais barulhento significa vencer; um mundo onde o silêncio causa-nos tamanha estranheza que se torna uma coisa opressiva, aflitiva.

Não sei se é assim, e meu caso vem a ser muito mais banal; não quero eu vencer os demais seres humanos me tornando ainda mais barulhento que eles, apenas não quero me sujeitar a escutar os sons chatos por eles emitidos. O que aconteceu-me esta manhã foi que verifiquei, muito para meu desagrado, que havia esquecido o aparato musical e isolante do mundo externo que é meu iPod juntamente com aquele famoso fone de ouvidos. Caminhei para o escritório ouvindo a sinfonia que deixo de ouvir todas as manhãs ao caminhar para cá devidamente aparelhado. Não estou perdendo absolutamente nada ao fazê-lo, creio eu.

E precisamente em esta manhã estava eu muito desejoso de escutar uma música em particular, que faz título a estas mal escritas linhas - sim, aposto uns 200 reais como ninguém conhece tal faixa, integrante do disco Everything's Alright Forever, da banda inglesa Boo Radleys; na data de ontem estive com ela pulsando em minha cabeça boa parte do dia. É uma dessas músicas que você gosta de imediato. E desde que ouvi tal faixa, desde sua primeira audiência, estive com o "riff" dela em minha cabeça. É uma melodia muito bem manjada, daquelas nada originais mas que soam muito bem aos nosso ouvidos. Presumo que seja apenas uma questão de gosto, mas não sei.

O que eu tinha quase certeza é que eu sabia, ou mais apropriadamente, eu sabia que poderia vir a saber(que maravilha de frase) tocar tal faixa por conta própria. Sou um cara ilhado em meus gostos, e mais ilhado ainda quanto à necessidade fremente de aprender a tocar as músicas que gosto; creio eu que é o mais aproximado de um estudo musical que eu consigo fazer com meu escasso conhecimento musical, ao menos no quesito erudito, por assim dizer. Pois bem, ontem a noite eu escutei tal disco, e quando alcancei tal faixa, apanhei meu violão, este mais silencioso e mais..."wireless" que qualquer guitarra elétrica que exista por aí, e fiquei tentando descobrir a pegadinha da música. Eu tinha certeza que havia uma, fosse ela afinação alternativa ou apenas uma maneira não-usual de tocar.

A segunda hipótese provou-se verdadeira. De fato, não é uma música muito complicada como eu esperava e ao mesmo tempo, ainda que involuntariamente, eu sabia que seria assim. Meu gosto musical é complicado, mas isto apenas no quesito não ser muito conhecido, mas sinceramente, eu não tolero muito coisas muitíssimo complicadas, tecnicamente falando. Não tolero os ditos virtuosos da guitarra, que exploram exaustivamente os solos de beira de penhasco e pouca emoção em suas músicas. Questão de gosto, bem o sei. Não tiro o mérito dos caras, eles realmente tocam pra caralho....mas isto apenas não faz meu gênero. Por vezes, um acidente musical de duas notas me faz ter arrepios, enquanto um solo de dez minutos a la Steve Vai me enche de tédio. Enfim.

Como dizia, fazia muito tempo que não tirava uma música, e evidentemente, ainda não a sei na sua íntegra, mas a pegadinha principal foi desvendada, e isto causou-me muita satisfação. Fazia tempos que não me sentia bem em relação às minha afinidades feito ontem a noite.

É estranho isto, tal coisa não foi mais que um simples acontecimento, um simples exercício destas coisas que em mim residem...Mas me rendeu muita satisfação.

Creio que preciso aprender a destilar melhor tais coisas simples, e mais tangíveis. Talvez seja esta a reflexão do dia, por mais inútil e trivial que possa aparentar ser...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Informe.

Ah....um dia que começa estranho tende a permanecer estranho A estranheza parte do princípio que aqui cheguei e não iniciei prontamente minha atividade-mestra diária da minha "jornada" de trabalho. Deve ser o cansaço. Cansaço? Logo após um fim de semana? Pois é, acontece várias vezes, é algo que observo frequentemente nas pessoas hoje em dia. Usamos nosso dito "tempo livre" para de fato realizarmos algo que consideramos de fato um trabalho, por assim dizer, algo que realmente faça sentido. Vejo isto acontecer comigo desde que comecei a trabalhar em este regime fixo de inalterável de trabalho diário.

Não sei se todas as pessoas têm esta visão fatalista e dramática que costumo empregar em minhas sentenças, em meus textos. Pois creio eu que não são todas as pessoas que se encontram no modo "noiado" ativado quase o tempo inteiro, pensando incessantemente sobre tudo. Mas, enfim. Estive pensando sobre isto momentaneamente no caminho para cá, e de certa forma, faz um pouco de sentido. Fazemos o que realmente nos interessa, o que gostamos de fazer de fato, em nossas ditas horas de folga. Cai aqui mais uma das grandes mentiras que todos conhecem: "trabalhe com o que gosta e não irás trabalhar dia algum em sua vida", ou algo assim. Não me lembro das palavras exatas da sentença.

Sei que muitos irão de mim discordar, e veementente me afirmarão que fazem o que gostam e trabalham com isto, e que adoram seu serviço, amam seu ofício. Pois sim, se este é o seu caso, ótimo. Fico feliz por você. Toda regra tem sua exceção, ninguém é um sabe-tudo, muito menos eu, mas deixem-me continuar a discorrer sobre o tema. Vejo todos ao meu redor trabalhando ferrenhamente em tarefas nada glorificantes ou dignas de menção em momentos de prosa alta entre amigos, mas mesmo assim, cá estamos todos, dia após dia, religiosamente cumprindo nossos deveres, nossas tarefas. Para quê? Para termos dinheiro. Esta é a explicação mais simples e destilada de todo o processo, acho eu que não existe uma mais verdadeira que esta. Pensem um pouco a respeito e respondam sinceramente se este não é o caso. Algo que todos nós seres humanos modernos e atuais precisamos. Nossa constante. Ninguém está isento desta necessidade.

Muitas vezes, ou na grande maioria das vezes, não levamos a cabo nossos sonhos de crianças, não levamos adiante nossos pueris ideais daquela dita tenra idade. Não é à toa também: alguém aí se tornou astronauta? Nossas idéias de fato amadurescem ao longo deste processo initerrupto que é o nosso desenvolvimento. Mas são poucos os ex-infantes que conheço que de fato levaram plenamente adiante os sonhos iniciais da meninagem. Acabamos por fazer outras tarefas, que às vezes de fato execramos com todas as forças, mas que temos que curvamo-nos a tais coisas, apenas com o intuito de ganharmos algum papel-moeda, absolutamente necessário para nossa existência.

Lado outro, em toda esta lógica pessimista que estive a desenvolver até o momento, de repente proveu-me com um pensamento mais acalentador. Acabamos por usar muito de nosso tempo para realizarmos tarefas chatas com o único objetivo de conseguirmos fundos....para que nos momentos de alforria transitória reinemos absolutos realizando as coisas que realmente queremos fazer, mas não de fato podemos. Pouco alento pode ser encontrado neste pensamento meio derrotado, mas ele existe de alguma forma: nestes momentos somos de fato vencedores, e continuamos a sonhar, de uma forma ou de outra, independetemente da forma que somos oprimidos pelas necessidades modernas...

É raro quando consigo extrair algum alento de meus áridos escritos diários: creio eu que no fundo sempre terei alguma esperança, no entanto. Quem sabe.

No momento, no entanto, tenho que tornar às ditas lides ingratas, para que eu continue a sonhar com a inexequibildade das coisas que anseio ou não.

E assim vai.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Rabugentos Inc.

Bom dia, este. Sexta feira de fato é um excelente dia. E ao escrever tais palavras formam-se mais idéias à minha cabeça. Sim, reconheço que este é um modo um tanto caótico e bizarro de escrever, mas venho praticando tal prática praticamente todos os dias desde que iniciei este falatório silencioso e digital em este ano, então pretendo continuar tentando manter esta maneira de se praticar a "arte" de escrever, escrever e escrever, que tanto admiro em outrem.

Mas estou a divagar. A idéia que se passou em minha cabeça hoje foi a respeito de como dias como o que virá após este fim de semana - a saber, a segunda feira - pode ser determinante no modo de agir das pessoas. E pensei exatamente no personagem de cartuns mais famoso por divulgar seu ódio à sexta feira e seu amor às sextas. Aposto que vocês sabem de quem estou a falar ou mais propriamente, a escrever. Foi uma de minhas primeiras influências no âmbito das tiras. Como estou devedor neste quesito, deixemos de falar sobre tiras e voltemos ao cerna da discussão do dia.

Sei que pertenço a uma raça de rabugentos irremediáveis, e sei que de fato compartilho da opinião que as segundas são de fato um dia tenebroso, que nos drena do bom humor, este fator que parece de fato ser de fato abundante em pessoas....digamos, bem-sucedidas socialmente falando. Ando a formular mais uma de minhas teorias, que de fato é mais uma observação que uma teoria propriamente dita; parece-me que todas as pessoas com tendências anti-sociais são mau humoradas por natureza. Bela descobrida que eu fizeu, não é mesmo? Mas deixem-me expor meu ponto de vista.

Não sei se todas as pessoas bem-sucedidas na vida são bem-humoradas e falantes, mesmo pelo simples motivo que ser bem-sucedido na vida, assim como muitas coisas, é dependente de uma análise do ponto de vista. Concentremo-nos no âmbito social. Evidentemente, a lógica não permite-nos afirmar o contrário. Mesmo deixando a lógica de lado, fazendo um esforço mental, acho que não conheço ou nunca conheci nenhuma pessoa rabugenta, casmurra, que fosse um sucesso nos relacionamentos sociais. Conhecem alguém assim? Eu não consigo me lembrar, de forma alguma.

E estou perdendo o fio da meada. Creio que preciso ingerir mais cafééééééééé para continuar. Glug. Pronto. Senão vejamos.

Enfim, sei que não estou só na condição de ser rabugento, mas ao menos tenho a faculdade de me analisar do ponto de vista exterior para às vezes chegar às conclusões que já sei antes mesmo de me perguntar. Tenho uma teoria sobre meus hemisférios cerebrais, que irei expor melhor em outra data. A divagação reina. Bem, ao que me parece pessoas mau-humoradas ou são mais pensantes, ao menos no quesito pensar demais e tendar entender o universo caótico que as cerca, falhando miseravelmente, pois isto é algo impossível de ser mudado. Isto gera frustração, que gera mau humor.

Pensar demais faz mal, eu acho. Muitas vezes tenho a nítida certeza que se me tornasse acéfalo como a maioria de nosso "el pueblito" e só me preocupasse com o resultado do jogo de futebol, com o que aconteceu na novela, com o resultado do paredão do Big Brode e quejantos, eu acho que seria mais...imbecil. Não sei se posso afirmar que os imbecis são felizes, mas creio eu que não se preocupar, ligar o foda-se para tudo - como o fazem 80%(no mínimo) dos brasileiros - os torna de fato tão alheios a tudo, tão despreocupados, que isto dá a sensação de falsa felicidade.

Falso? Não sei se é bem assim...por mais que afirme que estas pessoas são burras, e por isso são felizes, sei que não é bem assim. E que não é todo mundo que se comporta desta maneira. Eu mesmo, admiro muito pessoas que conseguem manter o otimismo mesmo nos momentos mais críticos. Eu não consigo fazer isto. Admiro de fato pessoas que conseguem focar suas preocupações em problemas mais "reais", digamos. De que adianta preoocupar-se com o declínio dos valores, com a escassez da honra, com a desvalorização da palavra das pessoas? Serei eu, -- um reles cretino que reside em um sótão e fica lá noiado(novamente reitero que noiado foi inicialmente empregado com o sentido de "repleto de neuroses", malditas gírias) com tudo e todos -- o fator decisivo para a expurgação de tais males da humanidade??

Não.

O que me adianta então, ser assim? Nada. Mas, quanto mais o tempo passa, mais creio eu que é algo que não irá mudar nunca. Enfim, Acho que faço parte da tal diversidade humana, que dizem ser o que faz a vida ser bela e ímpar. Se fossem todos iguais a mim, creio eu que a humanidade já estaria extinta há uns quatro bilhões de anos. Se bem que o acidente evolutivo denominado Homo sapiens não existe há tanto tempo.

Buriol, seu idiota rabugento! Pare de escrever coisas desanimadas e vá trabalhar, seu inútil. Sim, obedeço minha voz interna. E de fato, inútil foi esta coluna do dia, credo.

Enfim, bom fim de "sumana" a todos, beijo na bunda, até segunda. Hu-há.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Ônzimo.

Jamais pensei que fosse tudo acabar daquele jeito.

Mesmo assim, faltava pouco agora. Mais alguns instantes e a água iria preencher todo o parco espaço restante no box. Eu continuava a me debater inutilmente, por mais que uma réstia do meu bom senso ainda teimasse em dizer que isso só iria acelerar as coisas. Eu estava respirando freneticamente devido ao meu pânico, e acabando rapidamente com meu ar.

De que adianta, dizia outra parte de minha cabeça. Se é pra acabar com tudo, que seja mais rápido. Faça a vontade dessa vaca, ela que se foda.

Pelas águas revoltas ao meu redor, eu conseguia ver a deformada imagem daquela coisa. Aquele hediondo sorriso tornara-se ainda mais malévolo. Já tinha que manter a cabeça inclinada e pregada ao teto para conseguir obter algum ar para meus desesperados pulmões. Minha cabeça estava para explodir...Por um breve momento afastei meus pensamentos daquele caos e percebi que deveria estar tendo a pior dor de cabeça de minha vida enquanto lutava desesperadamente pela minha vida.

Minha vida...Não creio eu que é no instante derradeiro que vislumbramos toda nossa existência passar diante dos olhos. É um pouco antes. Restava pouquíssimo ar agora; e minha cabeça desenterrou de seu arquivo morto aquele retrospecto de tudo que tinha me acontecido até então.

Enquanto eu rememorava passagens remotas de minha infância, o ar terminou.

Estava completamente imerso na água agora, que se tornara rubra devido aos estranhos reflexos da luz emitida por aqueles bizarros olhos. Um pouco de meu próprio sangue - decorrente de meus punhos arrebentados nas tentativas de quebrar aquela parede de vidro que me encerrava ali - provavelmente ajudara a criar o efeito, mas o pouco da sanidade que me restava dizia que tal volume não seria suficiente para tingir aquele aguaceiro.

Belo pensamento para uma hora daquelas. Ha, ha, ha.

Po incrível que pareça, eu havia me tornado calmo àquela altura. Zen. Conformado com meu destino, com meu inevitável destino. Com minha iminente morte.

A visão deformada daquele demônio agredia meus olhos. Fechei meus olhos, e continuei a assistir a película, "Esta foi sua vida"

As imagens mentais se tornavam cada vez mais vívidas, coloridas, quase palpáveis. Creio que já era os primeiros sintomas da anoxia em meu cérebro.

De repente....senti que algo me puxava dali....não fisicamente, mas....em outro aspecto menos definível. Minhas recordações se dissolveram, dando lugar à visão...daquele rubro corredor de mil portas. Era como se estivesse voando naquele corredor, cada vez mais rápido.

Não sei quanto tempo durou esta viagem, mas subitamente parecia que estava rumando em direção à...luz, por assim dizer. Uma massa branca me englobou, e minha mente ainda teve forças para fazer uma piadinha infame, "vá em direção à luz!"

Ha, ha, ha.

De repente, levantei-me da cama, como se estivesse chegando à superfície de algum lago ou coisa assim, após ter passado mais tempo que o necessário debaixo d'água.

Estava olhando para um teto, em um quarto parcamente iluminado. Mas eu não conseguia ter domínio sobre minhas ações...era como se estivesse vendo...através dos olhos de outra pessoa.

Tal pessoa se levantou da cama e se dirigiu ao banheiro. Não me surpreendi muito quando vi refletido no espelho a cara daquele sujeito de suíças.

Ele ficou ali alguns momentos a analisar suas próprias feições no reflexo, parecendo estranhar o que via. Eu estava dentro da...cabeça, do corpo, sei lá, daquela pessoa, e não conseguia fazer nada além de assistir.

O sujeito saiu da cama e dirigiu-se ao quarto.

"Volte para a cama, Felix."

Independente do pânico que tomou conta da minha mente, não pude evitar que meu...hospedeiro girasse o corpo e ficasse à frente daquela mulher....o mesmo demônio que havia me sentenciado à morte...ou seja lá o que fosse aquilo tudo...momentos atrás.

Ela sorriu de maneira angelical, e senti que meu corpo emprestado fez o mesmo, aproximando-se afetuosamente dela.

Em um átimo de segundo, no entanto, vislumbrei uma expressão de malícia que transfigurou as feições daquela...coisa.

Minha mente continuava a protestar, O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI???

Eu não sabia. Ainda.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Frio, frio.

Puta merda, esse nosso país de fato é um local de contrastes, e que contrastes. Até ontem a temperatura estava plenamente tolerável, mas veja bem o que aconteceu nesta madrugada em esta cidade - no meu bairro os termômetros indicavam a imensa temperatura de nada menos que...10 degraus. Não é à toa que o vento na manhã vespertina matinal d'hoje estava mais parecido com uma torrente de lâminas de barbear congeladas, bem dito.

E isto é apenas o começo de tudo. Antigamente, eu gostava mais de frio, época esta em que surgem os casacões e a boa comida de inverno, fondues, lareiras, vinhos e quejandos. Continuo gostando destas coisas - excetuando-se o vinho, que nunca gostei muito - mas recebo o inverno com uma certa impaciência na maioria das vezes, pois apesar de ser "quase um nórdico" como me dizem por aí, creio que não herdei de meus avós maternos a resistência ao frio. Tenho de fato, uma certa alergia a ele, ou melhor dizendo, não propriamente ao frio, mas às mudanças de temperatura bruscas; coisa boba, por assim dizer - sair da cama quente e ir no banheiro à noite por exemplo. É uma sessão gratuita e garantida de espirros e entupimento das vias aéreas superiores. Esta madrugada mesmo eu vivenciei tal situação. E não raro tal ataque alérgico me custa boas horas de sono ou uma insônia gratuita. Hu-há.

Nunca entendi este processo alérgico; já tratei anos a fio com diversos médicos, mas nunca consegui expurgar plenamente esta coisa, creio mesmo ser uma daquelas famosas condições em que os médicos nada podem fazer. Uma situação que você supostamente tem que se habituar. Irá te acompanhar para o resto da vida. Não sei se é bem assim, mas se tem uma coisa que aprendi no curso de biologia, mais especificamente na disciplina Imunologia é que...ninguém sabe quase porra nenhuma sobre isso. O livro em que tínhamos que estudar, além de ser a coisa mais monocromática - tons frios, azul, cinza e preto - e tediosa do universo, tinha como palavras-chave as expressões idiomáticas "não se sabe", "não temos certeza", "ninguém sabe", "pode ser", "talvez", "que saco"(não, não, não) e coisas do genêro. Teria sido melhor se não tivesse cursado tal matéria em absoluto.

Creio que tal estudo, acerca do sistema imune humano, esbarra em delicadas questôes de ética, pois sabemos que pessoas não podem, não devem ser tratadas como cobaias. Certo; não irei propor aqui nenhuma nazi-reforma sobre o uso de pessoas para melhor estudo da imunologia, mas bem sei que de fato, isto significa que eventuais avanços nesta área são decorrentes do acaso que se estenderá por anos e anos a fio. Com os animais, é um caso bem diferente, eis que somos o topo absoluto da cadeia alimentar e evolutiva desta joça de globo terrestre, e temos como exemplo claro disso vacinas óctuplas para gado. A ética para com os animais é bem diferente, pois não. "Olha, morreu. Ah, busca um outro boi. A gente faz um churrascão depois."

Novamente, não endosso nenhuma prática a la Josef Mengele aqui, apenas desejaria que houvesse uma forma de realmente avançar os estudos em tal área; não somente olhando para meu alérgico umbigo, mas pensando além - um dos motivos que mais temos problemas com os transplantes é que não sabemos controlar a reação de rejeição que o corpo disfere contra o órgão transplantado, fazendo-se necessária a supressão completa(ou quase completa, não me lembro) do sistema imune da pessoa transplantada. Isto para não falar das famosas - e fatais - doenças auto-imunes, onde o corpo vira inimigo de si mesmo. E muitos outros exemplos.

Enfim, enquanto não descobrimos uma maneira, aguentemos o Abbas(não a infame banda, mas o infame livro previamente citado sobre o assunto), e fiquemos hesitantes em levantarmo-nos da cama em frias madrugadas, com receio da reação alérgica, que existe e ninguém entende, muito menos eu.

Aproveitemos também os fondues, as lareiras, os cobertores e etcoetera. E se você curte um suco de uva estragado, beba um bom exemplar caríssimo de vinho, chileno, francês ou Canção! Sangue de boi! Vinhadas! Eita, o tempo e a memória não me deixam esquecer os episódios da universidade.

Pelo menos temos boas histórias para contar, não é mesmo?

terça-feira, 2 de junho de 2009

Décimo.

Quem era ela?

A pergunta não se calava em minha mente....e por mais que eu soubesse quem era - a mulher que aparecera naquele...delírio por mim vivenciado dias antes, eu tinha a nítida impressão que a conhecia...

Mesmo assim, as circunstâncias não eram das mais amigáveis para que eu pudesse puxar um papo, canastra, "Te conheço de algum lugar, quer conhecer minha casa, meu quarto, minha cama?"

Ha, ha, ha.

Não se cantam mulheres trajando vestes negras, com olhos vermelhos fulgurantes e que transpiram ódio. Muito menos o fazemos quando estamos pelados dentro de um box, em um local que até então costumava ser um banheiro numa casa esquecida pelos deuses...

Mesmo assim, não conseguia me desvencilhar da sensação quase gutural de saber quem era aquela mulher.

Ela sorriu, mostrando-me uma fileira de dentes serrilhados, pontiagudos e deformados. Mas aquilo, além de estar bastante longe de ser um sorriso colgate, estava cheio de escárnio. Um arrepio percorreu minha espinha, enquanto ela me perscrutava com aqueles olhos. Logo em seguida, ela ergueu ambos braços, como se fosse demonstrar uma atitude afetuosa....como se desejasse um abraço.

E por mais que intimamente soubesse que estava fudido, que estava diante de uma espécie de demônio ou algo que o valha....sentia uma estranha...atração por ela.

Sim, muito inteligente, muito interessante.

Ela continuava a sorrir de maneira sarcástica. Inclinou a cabeça para o lado e fechou um pouco os olhos, parecendo estar se concentrando. Nesta hora, senti um frio me atingir em cheio nos...

Pés?

Olhei para baixo e percebi, para meu horror, o que estava acontecendo. A água do chuveiro, que continuava a correr, começou a apresentar uma certa profundidade.

O box estava enchendo de água. Rapidamente.

Toda a lógica do mundo, toda a ciência e ceticismo que em mim habitavam de nada valeriam para mudar tal situação. Me virei e tentei fechar as torneiras, mas elas não se mexiam. Pareciam estar firmemente, permanentemente soldadas. E o volume de água que passava pelo chuveiro parecia ter sido multiplicado por vinte. A água agora já estava batendo nos meus joelhos.

Tentei abrir a porta, mesmo sabendo que de nada adiantaria. Aquela...criatura estava me prendendo ali, querendo assistir minha morte, que provavelmente seria integrada ao relatório das mortes mais improváveis da história. Causa mortis: afogamento no chuveiro.

Ha, ha, ha.

A água estava magicamente sendo contida no interior do box. Nem sequer escorria por entre a fissura da porta com a parte fixa do vidro do box. E como aquele era de fato um box inteiriço, que se estendia do chão ao teto, eu estava encerrado em uma tumba líquida.

A água agora já batia numa certa altura, causando-me uma sensação de arrepio e desconforto bastante desagradáveis. Se eu não morresse afogado, eu tinha quase certeza que no mínimo estaria infértil devido àquele choque térmico naquele local.

Olhei para o demônio que agora muito se ria de meu desconforto, exibindo todos aqueles dentes deformados e uma negra língua bífida, que se agitava muito enquanto a criatura ria. Uma risada de gelar o sangue, ainda mais do que já estava devido à situação toda.

O pânico tomou conta de mim, e comecei a bater com ambos punhos no vidro blindex. Inútil, bem o sabia. Aqueles vidros resistiam até a pedradas. O que meus punhos conseguiriam fazer?

Nada. O vidro já naturalmente duríssimo parecia uma parede.

Comecei a gritar de desespero, involuntariamente, respingando aquela água gelada por todos os lados. A criatura continuava a emitir aquela sua risada malévola. A água agora já passava de meu peito, continuando a subir rapidamente.

Alguns instantes desesperados depois, percebi que tinha que nadar para manter minha cabeça fora da água.

Dentro de alguns minutos eu não teria mais ar.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Começar, semana.

Despertar.

Pensar. O que fazer, pensar. Levantar é quase sempre um problema, mas que não pode ser contornado de outra forma. Levantar. Analisar vista da janela principal; nublado dia, cara de sugunda per se, de fato, realmente, deveras. Dia feio, nublado. Sinal dos tempos, sinal do iminente frio? O tempo dirá. Enfim. Sonhos. Houveram sonhos, decorrentes do submundo devastado por uma suposta guerra nuclear, não real, criada em algum escritório para a engenharia de diversões eletrônicas. Engraçados sonhos, sim. Derivados do consumo em excesso do digital entretenimento.

Mais adiante. Realizar poda semanal da cabeleira facial. Não esquecer disto na data anterior; eis que só ira atrasar a coisa. Cortar bastante a cara com a gilete de 3 meses de uso, sim. Pois não, bom dia. Café, sempre café. Que isto sempre exista. Não atrasar o mundo em um mês. Sair dali, par ir para ali, apanhar busão, sempre busão, este mais nauseabundo que outros; cheiro de merda. Não minto. Lembrar que alguém deverá saltar um pouco dantes do previsto, quase esquecer, esquecida? Acontece. Sendo segunda, ainda mais. Adeus, até logo. Música. Salve a música no interior dos ouvidos. Cancelar ruídos externos, característica indispensável nos dias que procederam após a compra. Fone, maravilhoso fone. Adeus, ruído, bem vinda seja, música. Música.

Saltar no ponto, em ponto, um pouco além do ponto, em se tratando de tempo. A tempo, entretanto. O pão meu de cada manhã comprar na padaria, após lutar para conseguir meu lugar. Ignorar a pedinte miserável à porta. Dinheiro não há; dinheiro não me pertence, existe em algum outro lugar. Ainda assim, remorso sentir, mas escolher a ele não se segurar. O dia ainda irá longe. Adiante. Por entre os menos favorecidos passar, sentir a tentação de ali aumentar o pensamento, arespeito da miséria, humana ou não, pessoal ou coletiva, que ali se encontrava, além dali, em outras partes, em outras artes, em outras sortes. Não. Música, focar na música.

Sinais, pedestres. A arte sublime e sutil das pessoas se desviar; pessoas a olhar, pessoas a falar, pessoas a existir; triste é esta inconveniência de ser humano não sendo. Ou ainda assim não o sentir, apesar de que o fenótipo não me deixar mentir, não me deixar desviar, não deixar dúvidas. Assim sendo, contemplar folhas outonais, a cobrir as ruas, e pensar novamente no mundo pós-hecatombe. Como seria, como seria, se de fato não existisse mais ninguém no mundo além deste, que tanto pensa em ser o único, autista emancipado o é. Ou é. Ou foi, ou será. Adiante, o tempo ruge, as lides esperam, as pessoas existem e eu existo; em planos diferentes, existimos e nos confrontamos. Embate diário, vil embate, fútil embate.

Música. Ignorar sons. Ignorar mundos e fundos. Vossas vidas não são minha vida; vossas pessoas aqui não se encontram, em minha música, ainda que negligenciada. Música.

Escadas; elevadores não queimam calorias, mesmo sendo automâtos seres, imunes a toda sorte de pré-conceito, exterior ou de cunho próprio. Errada idéia ou não, escadas. Degraus. Subir tanto quanto desejei subir, porém em outro espectro, em outro âmbito. Bom dia. Manteiga, bom dia; biométrico ponto, escadas. Bom dia, bom dia. Café. Pão. Café.

Escrever, escrever, escrever. Tentar aqui registrar o que acontece, o que aconteceu, o que acontecerá.

Trabalho. Parar de escrever, "trabalho". Vil função; necessária função, necessários fundos, ainda que escassos o sejam. Não. Não pensar. Trabalhar. Durar. Esvanecer.

Enxaguar. Repetir. Ad finitum.