sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Suco de acordar.


C8H10N4O2.

Sim, gloriosa molécula esta. Se desaparecesse, creio que pelo menos metade do mundo se prostaria de joelhos, implorando por misericórdia. Ao menos pelas manhãs.

É claro que estou falando da cafeína. Quem mais, em estas manhãs duras nos vem servir de alento perante à luta diária, este embate incessante com a vida, esta feitora de escravos.

Logo ao acordar, milhares de pares de olhos remelentos não sabem se o dia será assim ou assado, bom ou ruim, isto ou aquilo. Mas seus inconscientes já sabem que ao menos haverá a presença de um líquido espesso, de coloração negra, fumegante, a esperar por ser devidamente deglutido por estas almas atormentadas. Ao menos pelas manhãs, tal certeza serve de guia, de motivação.

Estranho é o universo dos viciados em tal coisa.

Creio que se algum dia tal molécula for proscrita pela legislação vigente, haverá um levante popular em massa. Uma guerra de proporções dantescas.

Ou as pessoas simplesmente tombarão em um sono eterno.

Lembro-me que em 33 de outubro de 2008-B, houve uma tentativa de abolição de tal substância. As otoridades houveram por bem(mal) achar que tal coisa era prejudicial. Não sei bem como chegaram a esta conclusão, pois é sabido que os funcionários públicos estão entre os recordistas mundiais do consumo de cafézes. Não obstante este fato factual, alguma mente doentia baixou um decreto proibindo tal coisa.

Metade do país tombou em um sono profundo e initerrupto, por dias a fio, até o estágio três, falecimento e óbito.

Os restantes dos consumidores se organizaram em guerrilhas espalhadas pelas ruínas das cidades, destruídas durante a passagem do furacão Cafeína pelo país. Donde isto veio? Não se sabe, mas algumas mentes acreditam que tal decreto obsceno agrediu o véu do espaço-tempo, criando um portal abstrato neo-plasticista que arrastou para a destruição milhares de metrópoles mundo afora, mundo adentro, não importa. Houve uma verdadeira hecatombe.

As guerrilhas marcharam em direção ao hediondo palácio onde o ditador anti-café se estabeleceu, sedentas por seu sangue. Ou pelo menos pelo seu café, que os rumores populares diziam estar estocado em aqueles porões ali existentes. É verdade que muitos dos guerrilheiros de tal santa cláusula não conseguiram nem ficar acordados durante os planejamentos do assalto, outros ficaram praguejando que estavam com cefaléias teríveis, causadas pela abstinência forçada de café
. Em suma, não eram os melhores combatentes que se tem notícia.

Entrementes, o autor que vos escreve sentiu o cheiro de café(muito atrasado em esta manhã em particular) às portas da repartição não-pública que trabalha e precipitou-se em direção ao abençoado aroma, tendo tropeçado em uma escada que ali não havia antes, rolando pelos degraus e encontrando a morte andares abaixo do que se encontrava às portas da redenção. Ou não.

Em sua homenagem, criaram isto:


Em homenagem ao mais ilustre beberrão de café do clã Burian que se teve notícia. E exímio escrevedor de coisas sem sentido algum na abstinência de tal infusão.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

SDA.


Fundada na virada do ano do milênio, para muitas desconhecida, somos a Seita do Declive do Alvorescer. Sim, bem sabemos que nossa fundação coincidiu com o fim do mundo, em 15 de Agosto de 1999, ano este em que foi-nos anunciado que as 8 da manhã o mundo iria sofrer uma série de cataclismos que iriam culminar na vasta destruição do mesmo. Como tudo isto ocorreu de fato, ainda que hereges afirmem o contrário, estamos todos cursando o purgatório do pós mundo, e apenas uma seleta selecção de pessoas realmente merecedora dos Céus ira se adentrar na morada do Senhor. Não, não o senhor que está aí assistindo o popozão popozando na televisão. Refirimo-nos apenas aos seguidores de nossa iluminada doutrina.

A idéia de salvação, pastoreamento das almas desgarradas e extintas na data em questão ocorreu a três iluminados espíritos, os sócios-fundadores e presidentes hereditários de nossa amada seita, a saber, Antônio, o Gengiva; Hugo, o devogado doutor e Marcos, o Buriol. Sendo que este último, que ocupa o cargo de presidente e xamã ocidental da ala oriental da Seita, em um momento iluminado, criou a imagem gráfica - acima reproduzida - que doravante iria servir de marcação gráfica para a pronta identificação visual dos templos de nossa única religião, a única que será defato aceita nos campos, pradarias, tundras e taigas do Senhor. Não, não estamos nos referindo ao senhor, criado a leite Moça e que fica escutando hinos blasfêmicos ao pé de seu aparato radiofônico, tais como Jonas Brothers, Abba, Idiota Quest, Panic at the disco e quejandos. Somente irão ser purificados os espíritos que escutam a verdadeira música Celeste. O index musicum proibitorum, bem como a listagem oficial da música oficial da Seleção Celeste pode ser adquirida pela módica quantia de R$ 500 reais,00 em todo e qualquer templo da seita. Afinal, estando todos mortos, a imagem virtual de algo tão nefasto artefacto manufaturado por agentes do demónio que mesmo desencarnados(afinal de contas, todos estamos mortos desde 15 de Agosto de 1999, não se esquecam nunca deste facto, irmãos!), ainda teimam em tentar as pobres almas desgarradas que vagam por este purgatório. Foi-nos encarregada a dura tarefa de apropriarmo-nos de tão malfada cousa do demônio para sua posterior expugarção. Sim, estamos nos referindo ao dinheiro, este papel amaldiçoado que têm em usas mãos e carteiras. Livre-se já deste mal doando tal malevolência para um dos Pastores Adventistas Xamanistas de nossa Seita.

Portanto, não se esqueçam, ainda há salvação. Visite hoje mesmo um dos templos de nossa iluminada Seita e purifique-se para todo o sempre dos agentes demonizantes que a todos cercam.


Sim, aproveitando a deixa do papo semi-religioso de ontem, resolvi fazer meu próprio edital da Seita do Declive do Alvorescer, que realmente foi "criada"(imaginada é a palavra mais adequada, creio eu) por 3 amigos com muito tempo livre nas mãos e idéias cretinas na cabeça na data citada acima. Sim, houve um burburinho na época, pois foi anunciada a data do fim do mundo. Sim, era um período que passamos - eu e o Hugo ao menos - por uma das famosas e intermináveis greves na UFMG, então nos mandamos para Itacaré em companhia de nosso ilustre anfitrião Antônio, o Gengiva. Sim, estavámos tão à toa naqueles dias que nos engajamos em inúmeras atividades construtivas, tais como a tentativa(infrutífera) de desvio de um rio, a confecção do primeiro estacionamento de pranchas de surf que se tem notícia, surf míope(assim o era para este que vos escreve), contemplação do vazio e criação de uma Seita religiosa. Existe até a comunidade naquele universo paralelo que é o orkut, com o infame desenho por mim elaborado. Como não frequento mais aquele universo, não sei bem a quantas andam as coisas por lá.

Sim, tudo isto é uma piada. Pode soar até de mau gosto para pessoas que não tenham o menor senso de humor, e até blasfemoso para outras pessoas que integram outras seitas e subseitas das religiões por aí existentes, tal como a Ooopps Dei. Não que eu creia que isto vá me causar agruras, uma vez que poucos ou nenhum ser vivo além deste praticante de solilóquios inúteis frequenta este pedaço deste imenso oceanod com 1 cm de profundidade que é a interneta.

Mas uma coisa garanto, se eu fosse picareta o suficiente para tentar levar a cabo a elaboração de uma autêntica religião autenticamente picareta como a SDA, aposto um bom dinheiro que conseguiria obter algumas ovelhas para meu rebanho. E estaria isento de impostos sobre minha arrecadação do dízimo de tais pobres diabos. Está ali, pertinho de mim o Templo da Igreja Universal do Reino Picaretal que não me deixa mentir. Existem poucas entidades mais 171 que aquilo ali.

Enfim, é a vida. Se quiser acreditar, creia em algo que não vá extorquir seu suado dinheiro em troca de vagas promessas que ninguém, absolutamente NINGUÉM poderá comprovar um dia. A não ser que alguém volte realmente dos mortos, pra nos dizer como é. Uma excelente idéia para os detentores de tais religiões...Arrumar um ator que assim o faça e lucrar com isto.

A título de curiosidade, inspiramo-nos em uma seita que de fato existe, em Brasília creio eu, a Seita Do Vale do Amanhecer. Ouvi dizer muitas histórias bizarras sobre tal seita...a recitação de passagens da bíblia em código binário, por exemplo.

Ainda bem que não tenho público, porque acho que a leitura desta coluna por tais individuos poderia me custar caro, imagino.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Cinza-feiras.

Bem. Eis que mais um carnaval veio e passou, e nós os assalariados mínimos largamos do ócio para retornamos ao escrotório para encararmos...mais cinco horas de ócio pago. Sim. Por pessoas para "trabalhar" em uma data morta como esta, a meu ver, deveria ser punido. Mas como diz o velho deitado, "os de cima mandam e os de baixo bedecem." Ou algo assim.

Como sou um dos "de baixo", obedeço. Não maldigo este fato. Prefiro trabalhar hoje do que permanecer no sótão o dia inteiro, como foi o que se sucedeu neste feriado prolongado. Não foi exatamente péssimo, uma vez que descanso é sempre bem vindo e necessário, mas esteve longe de ser maravilhoso também. O ponto mais alto foi a visita inesperada de amigos que não apreciam pros lados da Mangabolha por muito tempo. Isto foi muito bacana. Esperava que pudesse fazer uma reuniao maior também, mas isto teve de ser adiado, uma vez que muitos dos companheiros imprescindíveis havia desaparecido para pular o carnaval em outras partes.

Enfim. De volta às lides; cheguei aqui bem mais cedo que de costume e como estivesse sem material novo para a ilustração, rabisquei meu querido personagem ilustrado acima. É estranho, mas sou mais parecido com ele do que imaginava. Estive ponderando sobre o assunto nestes dias, que não andaram às mil maravilhas, como se pôde ver(se é que alguém de fato viu) nos textos da semana passada. Sim, a moral andou em baixa por estes dias.

Nestas horas é que me identifico mais ainda com o Sr. Bode. Pois uma das inspirações para criá-lo foi exatamente esta: a luta do personagem contra seu criador., que o põe a prova, o tenta, o testa...Explanarei melhor com um pensamento que já me ocorreu por vezes...Sinto que todas as vezes que me proponho melhorar, tomar rumo, mudar, etc, parece que tem alguém me observando e me analisando. Não irei discutir religiões nem crenças aqui, uma vez que tal discussão só gera dissabores entre os homens. Afirmo entretanto, que sou agnóstico, portanto, não tenho uma opinião "convencional" sobre estas coisas. Penso, por vezes, que se existe de fato algo ou alguém comandando as coisas, somos como a sua sitcom. Seu divertimento, seu experimento, seja lá o que for. "Ah, então com que então queres mudar? Resolvestes mudar? Senão vejamos. Vamos por isto em prova." Ou seja, por vezes sinto que tem alguém me examinando e rindo horrores das minhas atitudes, de minhas ações, especialmente quando o destino me põe à prova diante da vida em si... Sinto como se eu fosse seu personagem. Seu divertimento. Sim, sei que seria excomungado - ou simplesmente ridicularizado - se alguma "autoridade inquisitória" porventura lesse esse pinçamento.

Ridículo? Pode ser. Mas é algo que me ocorre por vezes. E tal pensamento me ajudou na idéia da construção do personagem...Um exemplo desatualizado do tema eu já ilustrei em uma outra tira que estou reeditando; ainda não está pronta, mas na falta da versão re-editada(com efeitos 3D e monstros adicionados ao pano de fundo! Viva Hollywood.), posso pôr aqui a versão antiga mesmo, de 2006:


Enfim, embora eu não seja militante de tal teoria, por vezes me flagro agindo e pensando como se eu fosse um personagem de alguém - sim, me rio muito disto quando paro pra pensar em tal absurdo. É como se alguem admitisse que somos todos marionetes(embora alguns militantes de algumas religiões parecem pensar e agir assim). E como eu mesmo me divirto sacaneando meu personagem, por que não poderia haver algum "ser superior", "o criador", etc. que se divertisse às custas de suas criações? Seria um tema interessante para um debate(embate) teólogico. Ou não, pois como já disse, discussões sobre divindades, geralmente só dão em merda. Temos exemplos de bárbaries causadas por difereças religiosas por todo este planeta...

Enfim, a data é supostamente sagrada, então não pisemos nos calos de ninguém. Paremos por aqui, eis que existe uma pilha de documentos a serem digitados aqui. Se eu fosse o Sr. Bode eu estaria provavelmente agindo como o primeiro rabisco da coluna d'hoje...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Duelo.



"The radio still plays
Amongst the mangled metal frames
Petroleum spirit daze."

--Swervedriver, Son of Mustang Ford.



Por um instante, parecia que não estava ali. Que estava sonhando. Sobre o quê, não poderia dizer. Mas era como se tudo fosse um sonho, de fato.

Um impacto atrás de mim, seguido do estrondo e o barulho de vidro quebrando provou-me o contrário.

Eu segurava o volante com um força descomunal. Mas nada fazia sentido. O que estava acontecendo? Estava dirigindo a mil por hora, numa estrada rude e aparentemente abandonada, numa região árida ou semi-árida e...

Mais um empurrão. Outro estrondo.

Olhei para trás. Através do vidro quebrado, vi um caminhão que me perseguia. Somente a parte frontal, sem o engate. Parecia um monstrengo, daquelas Scanias, e suas intenções pareciam ser nada amistosas. Pisei fundo. Não estava entendendo nada, mas não é preciso um relatório completo sobre a realidade momentânea para se saber que estamos correndo perigo. E de vida.

Vida....Céus, nada fazia sentido. O que eu estava fazendo ali?

Olhei ao meu redor. Não reconhecia nada. Estava num carro...numa caminhonete aparentemente velha, antiquada. Haviam cacos de vidro por todos os lados...O pára-brisa estava trincado e com alguns...Furos? Buracos de...

Balas?

Olhei para o banco do passageiro. Havia uma arma ali.
Olhei para minhas mãos que seguravam o volante. Ensanguentadas.

Olhei para o retrovisor...Não conheci o sujeito que me olhou de volta.

Outra batida dissipou meu estupor. Quem era aquele cretino? Por que queria me matar??

Um solavanco à frente me fez voltar minha vista para adiante. Olhos à frente, sempre dizem. Pelo menos enquanto se dirige ou....se foge desenfreadamente de um maluco que quer lhe matar a todo custo.

Que diabos estava acontendo?

Merda. Não entendia nada, não me lembrava de nada. Estava fugindo de um louco dirigindo uma cabine de caminhão gigante. Maravilha. Já estava a mil por hora, mas pisei mais fundo ainda. O motor se esgoelava. Não entendia como uma caminhonete velha daquelas estava correndo tanto, mas não estava num momento apropriado para reflexões do tipo.

A Scania me acertou de novo. Filho da puta!

Filho da PUTA.

Resolvi voltar minhas energias gastas com a minha exasperação, meu desespero, para a vontade de matar aquele cretino. Sem tirar uma das mãos do volante, apanhei a arma que estava no banco ao meu lado. Sem balas. Maravilha. Como extinguir um merda com uma Scania voando atrás de mim sem uma arma e dirigindo uma porra duma caminhonete velha?

Olhei rapidamente para a frente e elaborei um plano desesperado.

Fixei meus olhos na Scania, que bufava ainda, sedenta por meu sangue. Quando o miserável acelerou de novo, para me acertar novamente, joguei meu carro subitamente para o lado, diminuindo a aceleração e lutando para segurá-lo, apesar de toda a derrapada. Fechei os olhor por um segundo. Julguei ser o fim, mas me forcei a abri-los de novo.

Tinha dado certo, em parte. A Scania seguiu reto na estrada, enquanto eu fiquei um pouco para trás...Por trás dela. Ha! Agora eu estava atrás! Eu...

Eu havia feito uma grande bobagem. De que me adiantava estar atrás de uma Scania, dirigindo uma caminhonete que era uma pulga perto daquilo? Tamanha era minha raiva no momento, me xinguei uma porçaõ de insultos. Mas...algo aconteceu.

A Scania ganhou distância de mim enquanto eu me amaldiçoava, freou com fúria, e puxou um pião na estrada. Eu freei instantaneamente também.

Estávamos frente a frente agora.

Que beleza. O que eu poderia fazer? O que eu deveria fazer?
Que DIABOS estava acontecendo??
O QUE EU ESTAVA FAZENDO ALI???

Ninguém respondeu nada. Eu estava fudido. E muito puto.
A Scania roncou, acelerando e parando, sem soltar os freios, tal qual um touro que se prepara para atacar o toureador.

Certo. Foda-se. Estou dentro, seu cretino. Não me lembro de nada, então não me importo com nada.



Não tenho nada a perder.




Imitei o miserável, esgoelando a pobre caminhonete sem soltar os freios. Foda-se.

Se tenho que morrer, que seja de uma forma barulhenta, ao menos.


Vamos lá, seu filho da puta, pensei.
Ele soltou os freios primeiro. Por reflexo, fiz o mesmo.
O tempo parecia correr mais devagar, mesmo que isto parecesse absurdo.
Passei as marchas com fúria, arrancando reclamações veementes da caixa. Foda-se, foda-se.

80...100...120...140...160.

Não fechei os olhos.

Não poderia ter feito de outra forma.



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Ret-Lit. A portê de napadequá. Ou mais do mesmo.



Quando tudo mais falhar, tente o caos. Talvez faça mais sentido que a normalidade em si.


Lembrou-se bem do espanto que experimentou ao entrar naquela ante-sala. Sim, na verdade era um vestíbulo, mas o corredor que passou por ele falou que era parte de um todo. Pois todos não o eram? Ou não o são? São? Não saberia dizer ao certo. Sabia que seua olhos não o enganavam; havia uma celebração em andamento ali, mas não poderia dizer por qual motivo celebravam.

Enfim, celebrar é sempre mais divertido que se lamuriar por injúrias por todos esquecidas. Procurou se integrar às pessoas ali presentes. É verdade que esta integração nem sempre é possível, muito menos quando a música presente é extremamente desconfortável. Teve de ser obrigado a ver as pessoas sorrirem falsamente aos acordes bemóis sustenidos diminutos aumentados que o moderníssimo aparato sonoro exalava aos gritos. Enfim, a casa era grande: haveria de haver outro local de mais agradável localização em suas entranhas. Adiante, então.

Mais à frente, deparou-se com uma cena muito comum: um homem trajando um terno cáqui forçava uma moça a aceitar suas opiniões hediondas. Delicadamente, aproximou-se e defenestrou este, em uma nobre tentativa de receber as eternas graças daquela. Mas a vida é traiçoeira, e tal moça precipitou-se janela abaixo pois preferia alguém com mais confiança e menos bondade. Procurando conter-se, ele seguiu à frente de todos os bonzinhos ali ausentes, mas plenamente representados por seu eminentíssimo Rei.

Não obstante ter boa vontade, não encontrou alento em nenhum dos aposentos da casa em si. Praguejando mentalmente, perguntou-se o que é que estava fazendo ali. Imediatamente, todos se voltaram contra ele: era o chato da festa, uma vez que não conseguia se divertir como uma pessoa normal. Um agente da moral e dos bons costumes ofertou-lhe o mapa da saída mais próxima, e vendo sua hesitante hesitação, acrescentou à sua oferta a graça de que se ele agisse com velocidade, este não o privaria de seus joelhos. Como tais artigos não sao recauchutáveis, ele houve por bem - por mal - pôr-se dali para fora.

Cambaleou aturdido até o templo mais próximo(um bar), onde seu séquito o saudou efusivamente com olhares mortiços e sorrisos tristes. O REI havia chegado. Alguns de seus semelhantes entornavam por suas goelas um volume nada escasso de drogas legalizadas, fossem sejam elas alcoólicas ou nicotínicas. Pediu sua porção de anéstesico barato e pôs-se a praticar seu esporte preferido, o da elucubração e confecção dos mais diversos aforismos inúteis. Ao seu lado, um de seus compatriotas tentava juntar moedas para comprar a coragem necessária para o término auto-infligido de sua já escassa vitalidade. Outros tentavam lhe dar apoio, mas não encontravam palavras, uma vez que todas estavam afogadas na solução alcoólica previamente ingerida. Ele saiu arrastando seus pés em direção ao desconhecido, este conhecido dos seguidores da sua religião. Pórem, todos ali sabiam também que os seguidores de tal religião são excelentes covardes e/ou nutrem uma certa vã esperança que algum belo dia irão se resolver, ou que a vida irá se resolver, ambas tarefas inexequíveis aos fiéis. Logo, tinham a certeza de tornar a vê-lo ali outras vezes.

(Como nos dias de hoje - devido aos avanços da merdicina - a tuberculose não mais consegue mais agir como mecanismo de seleção natural para estas pragas da zoociedade moderna, há que se aguardar para que eles mesmos se exterminem, quer seja pelo abuso de coisas ou simplesmente pelo lento declínio. O único conforto é que não conseguem deixar descendentes; lentamente tal praga vai sendo erradicada, de uma forma ou de outra.)



Outro deles olhava fixamente para o copo vazio à sua frente e balbuciava: "a gente só valoriza as estrelas quando não consegue mais vê-las" Nada mais certo; nada mais poético; nada mais boçal. Sabia que não conseguiria encontrar ninguém ali que pensasse de forma diferente. Tampouco o desejava: saber que havia outros como ele ao redor era ao mesmo tempo reconfortante e inútil. Mesmo assim, deixou-se cair em um banquinho defronte ao balcão, seu trono.

Comprou pois, muito mais que seu volume prescrito da coisa etílica e pediu um canudo nicotínico, sendo atendido prontamente por um de seus súditos. Acendeu-o e deixou que ele o fumasse, enquanto esforçava-se cada vez mais para afogar em álcool as vozes inúteis em sua cabeça.

Enfim. Mais uma noite se passou, e nada mudou. Como sempre.


E eis que isto acabou fazendo sentido, ao menos para o autor.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Last Drink to Satansville.


- O senhor parece que não tem dormido direito.
- Nada mais certo. Estou tendo aqueles sonhos, novamente.
- Quem sonha, desdenha a realidade.
- Ou não. Não sei se é assim.
- Entretanto, o que se passa no momento?
- Passa o tempo, aqui e ali. Mas não necessariamente nesta ordem.
- Entendo. Mas o que o senhor deseja?
- Uma beberagem alcoólica. Preciso esquecer.
- Não me lembro. Entretanto, creio que posso lhe ajudar. Pois não.
- Sim, pois sim. Quero álcool, em sua forma mais bruta.
- Aham. Creio que isto possa lhe satisfazer.
- "Biotônico Fontoura". Sim, sei que isto tem mais álcool que uma cerveja.
- E é um excelente fortificante. Mas não sei se é forte o suficiente.
- Há de servir, pois meu propósito não é puro.
- Quem apareceu no sonho?
- Ela. Sempre ela. Creio que vi um átomo de hélio também, no pano de fundo.
- E este pano, era de seda, linho, jeans ou algodão?
- Não sei. É tarde para saber.
- Nunca é tarde. A não ser que se esteja atrasado.
- Atrasaram os relógios no domingo, logo deve ser tarde.
- Não necessariamente. Apenas restituíram a hora roubada anteriormente.
- E quem vai me restituir o tempo perdido no processo de atrasar o relógio?
- Talvez os bancos. Ouvi dizer que estão contratando.
- Contratando ou com tratantes?
- Contrabando. Trouxe este maravilhoso relógio suíço e paraguaio.
- Sei, sei. Mas olhe, mas veja. Ali aparece sempre a cara dela.
- Não vejo, eis que o sonho é seu. Mas posso imaginar.
- Imagino que sim. Mesmo assim, isto não me conforta.
- Bem. O que importa é que não nos importemos com frivolidades.
- Não creio que meu desespero seja tal coisa.
- Basta uma breve consulta ao pai dos burros para se determinar isto.
- Isto o que?
- O que?
- Não sei.
- Nem eu. Deseja mais alguma coisa?
- Respostas.
- Ah, todos desejam respostas. Mas nunca perguntam.
- Bem sei.
- Então por que perguntou?
- Não sei.
- Nem eu.
- Estamos quites então?
- Creio que sim, mas pode ser que não.
- Certo.
- Errado. O senhor me deve.
- Não sei se devo.
- Sim, deve. Vá atrás dela agora.
- Bom conselho. Obrigado.
- De nada.
- De tudo.
- Até a vista.
- Prefiro o XP. Mesmo assim, lhe agradeço.
- Já sei. Vá-se embora!
- Não precisa gritar. Estou indo.
- Bem sei. Desejo-lhe sorte, de toda sorte.
- Ah sim. Até amanhã.
- O quê? Hoje já é amanhã. Se bem que o amanhã nunca chega.
- Ah sim. Adeus então.
- A Deus o futuro pertence.
- Ou não.
- Sim. Certo. ponha-se daqui pra fora.
- Assim o farei.
- Adeus.
- Até amanhã.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Nhé.



Por estes dias, consegui arrumar para mim uma cópia do jogo de computador intitulado GTA 4, franquia esta tão famosa por toda sua controvérsia sobre a violência em videogames. Sim, o jogo é violento(mesmo no sentido da arcaica gíria em questão; é do caralho!), assim como seu predecessores. Em todas as versões anteriores admito que joguei não pelo jogo em si, mas pelo caos que pode-se fazer naquele ambiente virtual. As missões e etcoeteras nunca me interessaram, mas sim o nonsense caótico que pode-se criar. É extremamente absurdo...e divertido, admito. Utilizo-o como válvula de escape, faço ali atos vis e divertidos, em se tratando de faz-de-conta(tipo atropelar inocentes transeuntes virtuais) sem as penalidades impostas pela lei do mundo real, que me poriam a ferros se assim o procedesse aqui no mundo real.

Agora, quanto à eterna discussão se isto torna quem o joga um facínora, um sociopata, posso afirmar que...NÃO. Se alguem no caralhoplano jogou tais jogos e depois matou um taxista, atropelou velhinhas e quejandos, não é por culpa do jogo. Não abro mão desta opinião. Se existe alguém culpado, é o próprio imbecil que o fez. Não culpem um jogo por conta da estupidez humana. "Estímulos" à violência existe em milhares de outras formas de entretenimento - televisão, cinema, livros, rádio, etc.

Como exemplo e como desabafo pela minha indignação, irei citar aqui um fato ocorrido no último fim de semana, dia que os dois times de futebol mais tradicionais desta cidade se degladiaram em campo. Um adolescente trajando a camisa de um dos times(não importa se era deste ou daquele), foi baleado de forma fulminante enquanto esperava um ônibus na área central da cidade. Não sei todos os fatos acerca do ocorrido - não sei se prenderam a criatura que fez tal coisa, por exemplo - mas me pergunto: foi culpa do futebol? Foi culpa do time que o pilantra torcia? Não. Foi culpa do filho da puta, única e exclusivamente. Que ninguém tente me dizer o contrário, e que ninguém me venha defender este ordinário. A morte horrenda de tal criatura é pouco para puni-lo, em minha opinião. E ainda assim não restituirá a vida do menino que exterminou.

Citarei aqui outro exemplo que vivenciei, em minha pele. A maioria não deve saber deste fato, uma vez que ele é vexatório e certamente irá gerar risadinhas e comentários jocosos. Foda-se, estou cansado de ocultar minhas opiniôes por conta da imaturidade de outrem. Acontece que, dou aulas particulares, e o local que ministro tais aulas é...famoso por ser ponto dos mais diversos profissionais do sexo em suas redondezas. Em uma noite de calor, encontrava-me trajando camiseta sem mangas, e estava aguardando o ônibus para voltar para casa, devidamente acompanhado(no sentido de estar próximo de) de duas "mulheres"(eis que travestis abundam na área em questão, então não sei ao certo). Então, estava ali bendomeu, quando passa um carro digno de ilustra a crônica da sexta passada: uma SUV com os tais fárois cegadores. Assim que me avistaram, berraram um nome que, segundo a cartilha de 2005 de nosso ilustre presidente, ofende aos cervídeos por designar homossexuais, ou coisa que o valha. Logicamente, ignorei os sacripantas, mas o que aconteceria se estes estivessem armados e resolvessem se livrar de mim apenas por estar no local errado na hora errada?

De quem seria a culpa se isto acontecesse? De um videogame que ele teria jogado horas antes de fazê-lo? Do jogo de futebol televisionado? Quem me responde?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Noiado, pt II.


Curiosidade da segunda feira. O eremita, que normalmente é uma torrente de mau humor, em especial em datas como esta(segunda-feira), não está a cuspir marimbondos, mesmo que o fim de semana tenha sido repleto de indagações inúteis a respeito da vida, o universo e todo o resto. Como diz um ilustre desconhecido do roquenrou:

"And I can't tell you how many ways that I've sat,
And viewed my life today, but I can tell you
I don't think that I can find easier way"

-St. Andrew's Fall, Blind Melon

Estive com amigos neste semana-fim, em um encontro sazonal que fazemos de tempos em tempos, para pormos a velha conversa inútil em dia; eventos como este são acompanhados de salgadinhos, cerveja, outras beberagens alcoólicas sortidas, e refrigereco, para os "frescos" como eu que não apreciam aquele gosto maravilhosamente amargo e ridículo do suco de cevada. É um grande mistério para mim o tanto que tal coisa é imensamente apreciada, mesmo sendo uma vil bebida que é. Mas, isto é apenas minha opinião, e este cerne de assunto não sera aqui explorado, pelo menos não hoje.

Quero discorrer mais sobre certas disposições de ânimo estranhas que me aparecem em eventos como este. Trata-se da tendência abjeta de tornar-me taciturno, mui pensante sobre diversas agruras da vida, questionamentos aparentemente nobres mas nada úteis sobre as coisas. Sim, sei que estou falando do Noiado Do Sótão(alcunha de quando não estou em meu reduto), e estas coisas são de praxe no quotidiano desta complicada figura. Sim, bem o sei. Não obstante, o que me deixa emputecido é porque cargas d'água estas coisas me aparecem em momentos em que estou em um local agradável, cercado de amigos, a conversar animadamente sobre diversos assuntos engraçados e a fazer piadas dos frangos que nos circundam e habitam este mundo.

Do nada, lá vêm elas: as perguntas sem resposta que não querem se calar:

Por que há gente triste no mundo?
Por que agimos de forma errada mesmo sabendo que estamos agindo erroneamente?
Por que repetimos os erros de nossos pais?
Why the hell we always envy others? (Yeah, sometimes they come in english)
Por que estou pensando nisto?
Quanto custa um trailer?

E outras coisas assim. Ultimamente, ando pondo este meu modo cretino de agir para fora do estabelecimento; consegui fechar a porta na cara deles inumeras vezes, mas não fui bem sucedido todas as vezes que eles bateram, exigindo se manifestarem. Blá.

Consegui curtir bem o tempo que ali passei com meus compatriotas, mas quando tornei ao meu esconderijo secreto - a torre de marfim, a cela solitária, a ilha, o reduto inacessível - também conhecido como o Sótao(acrescente o clarão de raios e o trovão subsequente aqui), eis que elas tornaram a aparecer. Como ja não estava mais a interagir com pessoas, deixei rolar. Por vezes calei-as com o som desfinado de Cremilda e Rúbia, estas devidamente plugadas ao meu arsenal de efeitos. Graças aos céus existem tais coisas na vida - Fenders Stratocasters, Epiphones Special II e Boss ME-50, entre outras coisinhas mui interessantes para mim. Como diria Karen Eiffel (Veja o filme, Stranger than fiction), "estas coisas existem para salvar nossas vidas".

Não poderia concordar mais, mesmo que meu vizinho - o maldito alemão de araque, patriarca de "that fuckin' kraut family" - discorde disto e vive me xingando em alemão.

Enfim, ele que se dane, em momentos como este, quase nada cala melhor as vozes chatas em minha cabeça que minhas meninas de seis cordas e seus acessórios.

E já está tarde. Melhor acabar isto por aqui.

Que as coisas feitas para salvar nossas vidas abundem no dia de V. Sas. Adieu.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Srs. Volantes, perigos constantes.


Pensei, pensei e pensei, mas não determinei um tema relevante para a dissertação diária semanal do funcionário do mês. Talvez seja assim, em dias como este. Sexta feira 13, chuvas torrenciais que despencaram por toda a cidade no decorrer da madrugada. Enfim. pude notar que os velhos rebentos do caos estavam aflorando por todos os lados, feito ervas daninhas no cimento quebradiço da capital. Capital de onde, não saberia dizer, uma vez que a diferença d'esta paragem para Epaminondas Otoni é talvez apenas seu tamanho mais avantajado e a presença de asfalto por sobre as estradas de terra. Basta uma chuva como esta para revelar a face oculta das mesmas: buracos, por todos os lados buracos.

Isto não ajuda em nada a melhorar a torrente de veículos automotores circulantes, cada um deles provido de seu respectivo Sr. Volante, estes exemplos de cordialidade, inteligência(seja esta emocional ou matematical), cidadania e quejandos. A chuva de insultos e imprudências cometidas voluntariamente é proporcional ao volume das águas que caem. Como vivemos na cidade que se orgulha de seu recorde mundial inquebrantavél - o maior número de semáforos por milimetro quadrado(cada um no seu quadrado!) do mundo, isto contribui imensamente para que não seja necessário necessariamente comprar o modelo mais arrojado: basta comprar um carro parado. Se voce comprar o carro do ano de 1922 estará tão bunito na fita quanto o nouveau richie idiotique que comprou o carro do ano de 2200, a suaves prestações de 1 milésimo de centavo por dia. De uma forma ou de outra tá valendo, uma vez que o trânsito não se move, apesar do clamor incessante das milhares de buzinas que todos querem vender todos os dias. Na verdade, acho que este é o pré-requisito básico para se ter carro neste local de péssima localização: a presença de buzina. Quanto mais estridente melhor.

Creio que os motoristas desta cidade tentam provar há anos que o som ensurdecedor de suas buzinas move montanhas, ou pelo menos os carros à sua frente. Como bons brasileiros que são, nunca desistem, por mais infrutíferas que tenham se apresentados as inúmeras tentativas de fazê-lo. Ao cair da noite, a coisa geralmente se complica ainda mais, eis que agora além dos tradicionais mocorongos ao volante temos o privilégio especial de sermos cegados por faróis dianteiros dotados de uma luz azulada de brilho tão intenso que poderiam(deveriam) ser usados para guiar o destino de embarcações perdidas em allto-mar, daqui mesmo destas montanhas tão distante do sonho aquático dourado de todos os mineiros.

Não sei como se denominam tais artefactos mudernos: eu os chamo de "babaquice", "imbecilidade" e outras alcunhas igualmente carinhosas, porém nada publicavéis. Nada melhor e mais salutar que ficar cego ao volante porque um idiota insiste em dirigir com uma luz absurda daquelas à frente de seus carros. Geralmente tais faróis existem por default em carros mais avantajados, feito aquelas modernas barcas ditas SUVs para os norte-americanos: carros feitos para aguentarem o rebento da cidade(rebentando tambem a vida urbana), e supostamente igualmente robustos para estradas mais acidentadas(normalmente se esfacelam assim que avistam uma estrada de terra, mas tudo bem, eu realmente não me importo com isso), mas tais luzes estão sendo avistadas(ou não, uma vez que cegam quem as avistou)em carros mais, digamos, populares, devidamente xunados por seus proprietários.

Como se diz, basta se ver algo diferente que todo mundo quer ter igual.

Enfim, nestas horas creio que um taco de um dos esportes mais cretinos do mundo - a saber, o beisebol - deveria ser acessório indispensável para o muderno motorista. Bastava vislumbrar um detentor de tal artefacto para se exercer uma tarefa de cidadania: parar veementemente o veículo em questão, e utilizar o taco para a quebra dos faróis, do carro, e se possível, do dono do carro, não necessariamente nesta ordem. Mas acho que tal proposta é considerada radical demais para os agentes do trânsito local, os BHTRANSsexuais, que por sua vez são coligados ao glorioso órgão público BHTRANStorno(alcunhas delicadamente emprestadas da desciclopédia, bem dito). Eu os chamo por vezes de BHTRASH, mas isto não vingou muito. Reafirmarei aqui outro teorema de tal publicação virtual, o paradoxo de tostines dos agentes BHTRANSsexuais: "eles esão lá porque o trânsito está lento ou o trânsito está lento porque eles estão lá?" Acho que a última é mais verdadeira...

Enfim, eis que acabei falando do trânsito desta cidade. O tema é deveras extenso, e o tempo urge aqui, conjurando-me às lides diárias para a finalização desta semana particularmente hostil para minha pessoa. Deixarei-vos a pensar sobre o assunto. Beijo na bunda, até segunda.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Epitáfio.


Não.

Nada te prepara para isto.

Após uma viagem apreensiva de táxi, cheguei ao famigerado IML. Haviam me despertado no meio da madrugada por uma ligação nada agradável. Nada.

Ainda tonto de sono, não podia acreditar no que ouvia. Simplesmente me recusava a acreditar. Mas ninguém brinca com uma coisa dessas. Saí às pressas, ainda zonzo. Não eram nem cinco da matina.

Fiquei aguardando em uma sala fria. Tudo ali era frio. Mas não esperava ser diferente.

Seria verdade, mesmo?

Ao mesmo tempo que procurava negar, sabia que tudo aquilo não estava longe de ser verdade. No fundo, eu até esperava isto. Tentava me preparar por vezes, nas fases piores que ele atravessara. Ultimamente, ele havia passado por uma fase terrível, em que se isolou ainda mais que o de costume. Muitos de nossos amigos diziam que ele devia estar imerso em um mundo de drogas pesadas e sabe-se lá mais o quê. Nunca perguntei. Tentava respeitar sua privacidade.

Talvez tenha sido este meu erro: por vezes sentia seu desespero, sua incapacidade de se comunicar. E sentia mesmo às vezes uma certa hostilidade nele, como se indignasse de não tentar saber o que estava errado. Porque algo estava errado, sempre.

A maioria de nossos companheiros havia desistido de tentar argumentar, de tentar fazê-lo ver as coisas de forma diferente. Sim, muito da culpa era dele mesmo: por vezes, ele se tornava tão fatalista, tão...teatral, exagerado perante problemas comuns, e com reações negativas aos comentários jocosos(porém raramente cruéis) de nossos compatriotas, que a maioria de nós havia desistido de tentar argumentar.

Ele percebia e se calava. E mais e mais, se tornou inacessível, tal era sua soberba. Por vezes, isto complicava ainda mais as coisas. Raramente ele pedia ajuda. Parecia que era algo ofensivo para ele mesmo.

Sim, não nego que a culpa era dele, eis que realmente poucas pessoas conseguem lidar com seus problemas e ainda ter que lidar com alguém tão complicado. Como um deles já havia lhe dito uma vez em um momento de impaciência, "não tenho filho deste tamanho".

Mas sempre tinha sido um bom amigo; parece que sempre tentava se desviar de suas próprias aflições tentando ajudar seus amigos. Tinha uma conversa boa, quando estava bem.

Eu tentava manter o contato, sempre que possível, sempre que ele me permitia ter acesso, ainda que restrito ao seu mundo. Ele sempre troçava de si mesmo, "acho que faltou pouco para eu ser um autêntico autista. Várias vezes sinto que não pertenço a este mundo" É estranho isto. Para nós, ele tinha tudo para dar certo, apesar de não conseguir fazer as coisas funcionarem.

Muitos de nós gozavam-no pelas costas, chamando-o de fresco, mimado...Haviam chamado-o de "adolescente terminal" uma vez, tal era sua incapacidade de lidar com estas "bobagens" e ser tão fresco. Ao que me calava, pois muitos de nós eram modelos típicos de "adultescentes". Eu tentava me manter distante de tais comentários, mas devo admitir que por vezes eu mesmo me sentia puto com ele. Dava vontade de bater, mesmo.

Mas cada um de nós tem sua forma de agir diante das agruras da vida. E acho que todos se esquecem que o refrão é verdadeiro: pimenta nos olhos dos outros é refresco.

Acho que ninguém nunca soube o que ele sentia de fato.

E ultimamente ele até parecia estar melhorando. Não, devia ser um engano. Tudo aquilo, eu digo. O fato de estar em uma sala de espera no IML. Era engano.

Chamaram meu nome. Acompanhei um senhor de jaleco por um corredor frio nas entranhas daquele edifício, com uma sensação difícil de ser definida. Um misto de apreensão, tristeza e...raiva. Aquilo era o cúmulo. Se ele realmente estivesse ali, eu dizia pra mim mesmo que iria despertá-lo a bofetadas. Ora! Vai dar susto na puta que o pariu.

Não, no fundo eu ainda não acreditava.

Me falaram para aguardar diante de uma janela fechada, escondida por uma persiana branca externa. Foi ali que o tremor tomou conta de mim. Os momentos que ali passei ninguém merece experimentar.

Abriram a persiana.











Não.


Nada te prepara para isto.


Nada.









Estonteado, assenti com a cabeça para o responsável por aquele frigorífico de gente morta. As pernas bambearam.

Tinha que sair dali.

Saí cambaleando pelos corredores. Um legista veio atrás, dizendo coisas que não entraram em meus ouvidos, desistindo de me seguir quando saí daquele malfadado lugar.

Me apoiei em uma parede e senti.



O choro. Espasmos como se fossem ondas de vômito.



Não.

Nada, nada pode te preparar para isto.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Altas emoção.

Curioso. Tem dias que sinto uma hostilidade no ar, como se o dia estivesse pronto para me jogar num ringue e me encher de porrada, algo semelhante a um pressentimento. Por vezes, estou certo, e o dia é ruim; outras vezes meengano. Prefiro a segunda opção. Como já disseram em alguma máxima anônima por aí, "o otimista nunca tem uma surpresa agradável." Como sou um pessimista nato, por vezes tenho estas surpresas. Enfim, espero que assim o seja hoje, uma vez que os dias anteriores foram bem turbulentos.

No caminho para acá, fui mal-encarado por ilustres desconhecidos no busão; senti a agressividade no ar sem o menor motivo. Nessas horas, agradeço muito por existirem os modernos campos de força musicais, que tanto me protegem destas coisas. Este refúgio é muito bem vindo em horas como esta. Ainda mais quando se está munido de fones de ouvido de cancelamento sonoro; como o próprio nome diz, eles literalmente cancelam o mundo exterior, permitindo que voce ouça suas musgas em ambientes barulhentos como os "balaios" sem ter que por o volume no máximo e ficar surdo daqui a uns anos. Foi o fone mais caro que já comprei, mas recomendo: realmente funciona.

Bem, quando subi no outro ônibus, após a aquisiçao do pão meu de cada dia para o pequeno-almoço, fui mais bem recebido e sentei-me calmamente no fundão, aguardando o término da curta viagem. Eis que uma música surgiu lentamente em meus ouvidos...uma que não ouvia há muito tempo, mas que é de minhas preferidas. Ao término da introdução sonora, senti um arrepio a me percorrer a espinha.

É estranho isto. Como já ouvi tal fenômeno ser relatado por outrem, então suponho que isto ocorra com as pessoas. Parece que coisas que nos emocionam demais positivamente causam tal sensação. E ao que me parece, trata-se de um fenômeno muito pessoal, ou seja, acontece com estímulos diferentes de pessoa para pessoa. No meu caso, só senti até hoje com músicas boas. O mesmo ocorre com minha irmã mais nova. Um outro amigo meu diz que sente tal coisa com aleitura de obras-primas, como Os miseráveis, de Victor Hugo. Outra pessoa já me disse que sente tal coisa quando contempla alguma paisagem particularmente agradável, como as existentes em certas paragens ao sul da Bahia.

Devem existir outros exemplos menos mencionavéis aqui, que considero menos, er...digamos, "nobres", tal como a satisfação consumista e quejandos. Como existem muitas pessoas por aí que só se sentem bem quando compram coisas caríssimas(por exemplo, a "mulher-propaganda da muóda do Xópin Diamongol" daqui de Belzonte). Enfim, como gosto não se discute, só se lamenta, não everedemo-nos em tal discussão. Estou apenas divagando aqui sobre este fenômeno que é o "arrepio" diante de coisas que mexem conosco.

Já ouvi até dizer que a presença de outras pessoas podem causar isto. Mas, como diria o bom e velho Sargento Getúlio: "dizem, nunca vi."

Como bom biológo falido que sou, sempre me pergunto como este mecanismo funciona. Que parte do cérebro decide que este estímulo é tão agradável a ponto de causar tal frisson. Quais sinapses são ativadas e porquê. E como sou, aparentemente um filósofo barato também, sempre pensante, sempre com um 'célebro' ululante, nunca deixo de pensar nestas coisas. Queria entender isto. E porque isto varia de pessoa para pessoa. Sei lá. Fazer uma pesquisa mesmo sobre tal assunto seria interessante, porém nada conclusiva, imagino. Posso apenas supor quantos estímulos diferentes causariam tal sensação.

Enfim, enquanto podero sobre isto no decorrer do dia, pensarei em outras coisas mais terrenas, como o que leva uma pessoa a gostar de contabilidade. O que fazer para se ganhar um salário de mais de três casas decimais. O que leva uma pessoa a falar sozinha em um ambiente virtual. E quejandos.


terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Sr. Bode, reboot.

Tem dias que são piores que outros. E por mais que esteja tentando conter meu mau gênio, por vezes ele me vence. Como foi o caso de ontem. Enfim, acontece. Não sou nenhum zen master nem estou constantemente sob efeito de fluoxetinas e afins.

Outrossim, bola pra frente: eis que ontem atendi direitinho o chamado da cafetina. Portanto, fiquei ate as 2 horas da manhã desenferrujando minhas juntas em cima de papel, debaixo da luz de abajures, diante de meu computador, enfurnado no sótão, a rabiscar o retorno. Portanto, sem mais delongas, aqui está o que resultou.
Não é preciso dizer que o Sr. Buriol aqui não ficou satisfeito, mas estou determinado a parar de falar incessantemente e fazer mais, por o lado lamurioso a ferros. Matéria prima para a confecção de futuras tiras já existe, agora é por em prática. Embora já tenha desencanado da idéia pueril de meu velho sonho dourado, tentarei pelo menos fazer isso com mais regularidade. A ver.

Entrementes, creio que esta mesa não era verde abacate até ontem, e nem que este computador era fosforecente e etéreo. As paredes brancas do escrotório estão sendo tingidas de flicts. E vejo que o embaixador de Portugal mudou suas instalações do nono andar deste prédio para o meio da praça defronte, e naõ me lembro de antes haver ali alguma praça. Curioso isto.

Acho que estou dando pau na minha placa mãe, ou infectado por trojans, eles se aproximam, eles se aproximam! São os do norte que vêm! São os do norte que vêm!

Acho que vou tomar um caféééééééééééééééé ali e tentar espantar este sono.

Feliz terça-feira magra a todos.

P.S. - Porque esta josta reduz tanto o tamanho das imagens? Quanto custa um trailer?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sr. Bode, uma introdução.



Conforme planejado, irei falar hoje do projeto secreto de 2009: a (provável) retomada das atividades do meu mais infame personagem - O Sr. Bode.

A imagem acima foi a primeira tira que fiz, em 2005. A idéia do personagem em si surgiu muito antes disso, nem sei bem quando; acho que foi em meados de 1999, quando imaginei fazer um personagem extremamente irritadiço e rabugento(sim, admito que me inspirei em mim mesmo, ehehehe), mas a "brilhante" idéia de fazê-lo como um bode, literalmente expiatório, veio à tona no ano que a tira surgiu, quando ainda estava cursando a infame faculdade de belas(não tanto assim) artes(idem).

Fiz poucas tiras em 2005, nunca ficando plenamente satisfeito com o resultado visual das mesmas. Sim, eis que sou um maldito cara estranho e eterno insatisfeito; isto, juntamente com outros fatores nefastos que assolaram minha pessoa naquele conturbado período da infâmia das "artes", me impediram de progredir muito.
Entretanto, no decorrer deste período(2005-2009), nunca deixei a idéia morrer plenamente(sou um cara teimoso também), e continuei tentando retomar a coisa plenamente, fazendo milhares de estudos de design do personagem, como pode-se ver na imagem acima. A maioria dos cartunistas propriamente ditos teria simplesmente deixado o barco correr e ir evoluindo o dito design no decorrer dos acontecimentos; acontece que não sou assim. Sempre exijo de mim mesmo muito mais do que deveria, a ponto de me travar por completo às vezes, como foi exemplificado anteriormente.

Neste mesmo período, muitas vezes amaldiçoei minha dita aptidão para o desenho, de tanto que sofro com essa porcaria - ultimamente tenho dito que tal aptidão é minha cafetina: se insisto em negligenciá-la, ela me atormenta. Semprei fiquei frustrado com tudo isto: nunca consegui fazer tal coisa me servir de ganha-pão(embora este tenha sido sempre meu sonho dourado, desde a minha infância); nunca tive desenvoltura o suficiente para fazê-lo sem ser assolado por minha ferrenha auto crítica; sempre tive a bizarra tendência de acreditar piamente nas críticas negativas de outrem(a ponto de me travar por completo), e por algum desvio de conduta qualquer de meu cérebro, sempre desconfiei das opiniões positivas acerca de meu "trabalho"; sempre fui envergonhado(ou orgulhoso, escolham vocês que me conhecem) o suficiente para me anular perto de outros desenhistas a ponto de simplesmente não conseguir fazer nem o esboço de um ovo perto deles; sou tão, mas tão detalhista e perfeccionista que não consigo resolver um desenho ridículo em menos que duas ou treze horas(ou quatro anos, como está sendo o caso relatado aqui). E por aí vai.

Entretanto, neste ano estou disposto a tentar, mais uma vez, mandar tais empecilhos para o caralhoplano e retomar, nem que seja para amenizar um pouco a tortura da cafetina, as ditas atividades "artísticas"(tomei ojeriza da palavra arte depois de minha curta estada naquele covil de cretinos que é aquela faculdade). Ontem mesmo, passei umas duas ou vinte horas refazendo a primeira tira. Ainda não a finalizei(ha, ha ha!), mas verei se consigo fazer isto hoje, a tempo para continuar a discussão dobre tais agruras amanhã; agora é hora de fazer atividades realmente rentáveis(nem tanto assim, mas mais que os apelos da cafetina me geram)e prosseguir na minha iminente carreira de contador/técnico de informática/catilógrafo/contínuo/quebra galho e quejandos aqui no escrotório.

Tenham todos um bom dia, e me perdoem se o descarrego soou deveras amargo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Baixa tecnologia.

Ah, eis mais uma sexta feira que vem nos salvar. Sim, sim, alforrie-nos por favor.

Calma. Ainda temos que aguardar as 18 horas. Tudo bem, sem problemas. A espera vale a pena. Ontem, estive brigando com aparatos tecnológicos, tais como scanners que se tornaram absolutamente incompatíveis com o Ruimdows 64 bits que fui obrigado a instalar em meu computador. Tudo bem, só fui obrigado a adiar um pouco a postagem de imagens acerca de um tema que não irei comentar hoje. Suspense! Emoção! Ha!

Enfim, imaginei outro tema, e como as tecnologias me deixaram na mão ontem, falarei sobre elas, não especificamente as atuais mas outras não tão velhas mas que já se tornaram absurdamente obsoletas. Vamos começar pelo nosso falecido amigo, o disquete. Uau. Quem, que não seja uma criança ou pré-aborrescente, não passou raiva com estas maravilhas. Especialmente se você fazia cópias ilegais de joguinhos na casa de algum amigo. 14 disketes ARJeados. Aí você chegava em casa, inseria o disco número 1, digitava um comando gigantesco no DOS(outra maravilha arqueologica moderna) e ia inserindo os discos adicionais. Geralmente, chegava no último ou penúltimo e...nhec nhec nhec nhec. O General Protection Fault(afinal, quem era esse cara??) teimava em não deixar você saborear sua cópia ilegal. Absurdo.

E hoje temos tantas opções de canetadiriges por aí, o de 1 giga já está ficando demodê.

Lembro-me que, até pouco tempo atrás, quando eu saía do serviço em direção ao fim de semana nerd: a internet ainda era incipiente, e eu tinha acabado de adquirir um...fax Mulder de 56 kbps! Internet discada! A novidade suprema do momento. Eu esperava ansiosamente até a meia noite para conectar-me, uma vez que as tarifas telefonicas são mais baratas neste horário. Estendia a extensão telefonica improvisada de 20 metros, que passava discretamente pela área e pela cozinha. Aí, era acionar o discador IG(ou ARGH) e ouvir aquela sinfonia de ruído branco. E...no meio do processo...TU TU TU TU TU. Ah, maravilha. Repita o processo por favor.

E os nem tão velhos CDs?? Credo, olho meu velho DiscMan e sinto um alívio por não ter que utilizar aquilo mais, por mais caro que tenha custado na época. CD original é caríssimo, então faziamos cópias. E as mídias piratas são uma maravilha: basta olhar mais forte para o CD para arranhá-lo. Depois falam que não existe poder da mente...

Hoje em dia temos iPods, MP4, MP7, mp63835673489673894, sei lá. Toca vídeo, toca música, faz pipoca, e por aí vai.

Imagino o que ainda virá por aí...Ainda somos jovens, por assim dizer. Eu penso muito sobre as coisas que serei futuramente ridicularizado por não saber usar. Meus pais não entendem direito um aparelho de DVD, e ficamos perplexos por não entenderem uma coisa "simples" como aquilo.

Os pais deles não sabiam operar um tocador de discos bolachão de vinil. A televisão era um mistério. E tantos outros exemplos...

Aí daqui a uns anos, não saberei operar o transmogrificador telepático, e serei ridicularizado por uma criança de sete anos de idade.

É a vida. Nestas horas que lembro-me que temos que ter mais paciencia ao sermos requisitados para prestarmos assistência técnica para nossos pais e familiares mais velhos. Nestas horas, precisamo tornar-nos "zen masters"...

Enfim, deixo aqui a deixa para a reflexão semanal do dia. E a idéia de recordarmo-nos sobre outras tecnologias já ultrapassadas, mas que somos gratos por estarem ultrapassadas. Lógico que existe algum saudosismo, mas não sou entusiasta disso. Não sinto falta NENHUMA de discos de vinil. Mas é somente minha opinião...

Este fim de semana verei se ponho em prática o plano adiado. Novidades no decorrer dos acontecimentos...

Hasta la vista entonces, e um bão semana-fim a todos.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ecos do passado.


Senão vejamos.

Conforme comentei anteriormente, no ano de 2006 escrevi algumas coisinhas para a extinta publicação virtual Moconautas, e infelizmente o devagar aqui não se lembrou de salvar os textos em momento algum, coisa que tenho que me lembrar de não repetir também aqui. Eu gostei de alguns daqueles textos que postei lá; hoje, como exercício de memória, vou tentar reescrever um deles.


"Tudo começou em alguma noite remota do ano de 2006. Por força de alguma necessidade fremente, encontrava-me em alguma aglomeração pública destinada à obtenção de um artigo supostamente de luxo para alguém como eu, a saber, alguma pessoa do sexo oposto. Após o consumo de algumas doses d'algum líquido alcoólico qualquer, supostamente para inferir-me coragem para alguma abordagem audaz, eis que encontrei-me balbuciando bobagens defronte a uma mulher, que evidentemente se divertia horrores às minhas custas. Após momentos que fluiram como horas a fio, lembro-me de ter conseguido obter o número do celular da mesma; por sua vez, ela havia por bem feito algum passe de prestidigitação qualquer e tinha sumido do recinto. Fiquei alguns momentos a mais ali, saboreando esta pequena vitória(sim, para o tímido incorrigível a simples obtenção de um número como este representa uma vitória icomensurável, ainda que vã e efêmera), juntamente com mais alguns copos de bebidas amargas.

Aos tropeções, saí do local infecto e dirigi-me cambaleante pelas ruas quase desertas da cidade. Não sei bem como, subitamente encontrei-me diante do posto de reciclagem de dejetos industriais que posteriormente são ofertados como refeições aos estudantes da UFMG. Sim, estava diante do mausoléu denominado, ordinariamente, Bandejão. Não sei bem por que, mas uma aflição tomou conta de mim; talvez fosse o efeito do álcool, quiçá das emanações furibundas dos tonéis marcados com o símbolo de "radioativo" diante de mim, mas ocorreu-me que deveria ligar, agora mesmo para o número da mulher fatal desta historieta.

Obviamente, o número era falso ou meu celular, este muderno Tijorola que possuía na época e que teimava em apresentar falhas, não conseguiu realizar a tarefa com êxito. Subitamente, subiu-me um acesso de fúria e arremessei o aparelho fatídico em direção aos tonéis que ainda se encontravam à minha frente. Houve uma reação adversa qualquer, seguida de um clarão, que logo se converteu em um momento de inconsciência. Tudo sumiu.

Acordei supostamente no mesmo local, mas imediatamente percebi que algo de estranho havia ocorrido. O Bandejão não mais ali estava; ao conrário, encontrava-me num terreno baldio onde havia uma tabuleta com a seguinte inscrição: "Local destinado às futuras instalassoes do restaurante universitario". Havia algo de errado, obviamente. Andei a esmo até encontrar uma estrada de terra, e decidi segui-la. Ainda era madrugada, mas sentia que o raiar do dia aproximava-se.

Depois de uma extensa caminhada, avistei civilização adiante; prédios muito estranhos, com ar muito retrô abundavam ao meu redor, sendo que a maioria dele não tinha mais do que três ou cinco andares. Foi com horror que percebi que algo de fato estava muito errado. Apanhei um jornal em uma lixeira perto de mim e vi a data: 17 de Setembro de 1943. Céus. Justamente a data de meu aniversário, porém algumas décadas antes. Eu teria aproximadamente -34 anos. O que fazer diante desta situação?

Ao mesmo tempo que constatava aonde de fato estava - na Avenida Afonso Pena, agora repleta de imensas árvores - notei que as poucas pessoas que já estavam acordadas olhavam-me com estranheza, algumas até com receio estampado nos olhos. De repente, um exaltado qualquer, ao se deparar com a minha triste pessoa, berrou a plenos pulmões: "MATEM O ALEMÃO NAZISTA!!!"

Evidentemente, não tentei argumentar com a turba sedenta de sangue que se precipitou atrás de mim, saindo correndo o mais rápido que podia. Desci a Rua da Bahia, onde mais e mais transeuntes se espantavam comigo e se juntavam a multidão que clamava minha iminente morte. A cada metro, espantava-me mais e mais de como a cidade era agradável naquela época, com prédios intocados, de fachadas imaculadas. Pena a situação não me deixar apreciar as coisas ao meu redor de forma mais despreocupada.

Cheguei à margem de um ribeirão, que presumi ser o nosso Arrudas. Como a turba ensandecida aproximava-se com rapidez, não tive escolha: arremesei-me nas águas escuras.

Felizmente tal rio ainda não era tão esgoto como o conhecia, mas mesmo assim fui arrastado por muito tempo. Quando consegui sair do rio, achei-me em safo, porém muito quebrantado: havia ferido-me em minha fuga, estava esgotado, estava no passado. Entrei em depressão imediata e passei a cambalear pelas estradas poeirentas que me conduziram à paragem de Caeté, onde fui capturado por agentes da polícia, por estar imundo, trajando roupas esquisitíssimas e por estar delirando, balbuciando em vão o suposto nome da mulé que ainda nem havia nascido ainda.

Fui recolhido a um asilo de loucos, onde fui tratado a pão de ló, com direito a sessões de banhos frios vindo de mangueiras de alta pressão e sendo pioneiro nos experimentos com eletrochoques. Ou não, não me lembro muito bem. Deram-me acessoa materiais de desenhos toscos, onde produzi imagens de diversos aparelhos telefônicos, que se tornaram minha obsessão nos anos que me restaram. Morri em 1947, de tuberculose pulmonar, morte esta digna de meu título que foi-me atribuído postumamente: O último dos românticos, que nunca conseguiu completar a ligação."

Ufa. Eis aí minha versão actualizada do conto em questão. Consegui também postar a imagem que usei para ilustrar o texto. Era mais fácil que imaginava postar imagens; infelizmente ela não ficou do tamanho certo, perdoem a minha falha.

Tenho que começar a trabalhar, eis que olham-me torto aqui. Tenham todos um bom dia...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Noiado.

Eis que um novo dia começa. E embora, esteja começando, para muitas pessoas pode parecer que já acabou? Absurdo? Nem tanto, basta analisar os problemas de cada um para se saber que por mais que as coisas estejam indo bem para nós, para mim, para seu vizinho e outros, muitos estão a sofrer horrores em algum lugar do mundo, ou às vezes em alguma localidade mais próxima que imaginamos.

Passando por estes corredores urbanos, muitas vezes encontro-me irritado com coisas frívolas, e almadiçoô(reforma ortográfica de cu é rola, viva o "chapeuzinho")outras pessoas ao meu redor, por bloquear meu caminho, e coisas idiotas. Quantas pessoas dessas não têm problemas muito, muito maiores que a minha patética pressa?

É estranho isso, quando pondero sobre uma coisa como essa é que vejo o quanto me preocupo com assuntos que passam batido pela maioria das pessoas. Daí veio a designação "Noiado" que vem no título deste, por assim dizer, diário virtual. Preocupo-me por coisas que, em minha confusa cabeça, são assuntos pertinentes, nobres, sei lá. Quando na verdade não adianta nada fazê-lo, por mais, er, humanitário que isso possa soar. É uma imensa contradição, pois que preocupar-se com estas coisas de nada adianta; não ajuda ninguém muito menos a mim mesmo. Só me deixa mais estressado.

Po vezes, eu já me flagrei desejando uma mente menos "neurada", que só se preocupasse com coisas mais amenas. Mas isto é algo que denomino "configuração de fábrica". Sou noiado. Não que tenha que me resignar a ser assim para sempre, mas sei que isto nunca deixará de existir em mim. Mas, como disse ontem, por estes dias estou tentando refrear certos comportamentos que considero chatos em mim. Vejamos o que acontecerá no decorrer dos acontecimentos...

Não se preocupem que não hei de tornar-me um cara que só se preocupa com o resultado do jogo de futebol ou quem vai sair do Big Bosta Brasil. Isto nunca.

Caso aconteça, peço a todos que me abatam a tiros, por favor.

Se existir alguém lendo por aí, tenha um bom dia. E até a vista.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sea of changes.

Creio eu que nenhum habitante desta cidade deixou de presenciar a borrasca que assolou a área central no final da tarde. Foi algo realmente impressionante, com ventos fortissimos e mesmo algumas pedras de granizo. Felizmente, não precisei a enfrentar, uma vez que me ofereceram uma carona motorizada para casa, que aceitei sem hesitação. Houve queda de luz em casa, mas mesmo isso foi um tanto interessante, pois que é raro conversar com seus familiares à luz de velas. Agradavelmente retrô, por assim dizer.

Hoje de manhã acordei após uma noite meio que mal-dormida, esperando que o dia fosse se apresentar hostil feito ontem(que foi um dia particularmente chato), e ao olhar para fora da janela, achei que fosse ser mesmo; onde eu moro o céu estava encoberto com espessas nuvens ameaçadoras. Após a rotina usual de exercícios físicos que pratico logo ao acordar(mui excelente despertador), fui preparar o café e alimentar os diversos animais que residem em minha residência, tais como gatos, cachorros e papagaios, sempre com a impressão que o dia seria difícil. Verifiquei, minutos mais tarde, que minha brilhante idéia de maneirar um pouco na quantidade de pó de café resultou em uma autêntica "água de batata", denominação jocosa esta feita por compatriotas de serviço ao café ralo que nos é servido diariamente.

Mais um sinal de que o dia poderia ser uma josta? Talvez.

Ou não.

Saí de casa, em caminhada ao ponto de ônibus, que não é muito perto de casa. Como é de praxe, pus o iPod para funcionar, uma vez que a maioria das atividades é melhor executada com som na caixa, zin! Tenho a tendência de atribuir às músicas estados de "esprito", para o bem ou para o mal. Eis que o shuffle me apresentou como música de abertura do dia "Thorn in my pride", do Black Crowes, música esta que atribuo a momentos agradáveis. Em frente, então, cantarolando desafinadamente a melodia em questão.

Após subir no ônibus e descer a "serra" em que moro, eis que verifiquei com certo espanto que o tempo encontrava-se límpido, céu azul, sem nenhum nimbo ameaçador a pairar por cima das cabeças dos cidadãos. E a trilha sonora do transporte público continuou a ofertar-me músicas agradáveis. Claro, volta e meia apareciam as eventuais faixas "nada a ver" com o clima que agora já planejava para o dia. Sim, a partir daquele momento, decidi que o dia seria legal.

Costumo ser um cara tachado de mau-humorado e rabugento a maior parte do tempo, e costumava aceitar tal rótulo normalmente, pois tenho auto-crítica altamente desenvolvida(creio eu). Mas ultimamente, mais precisamente no final do ano de 2008, algo mudou dentro de mim, não sei precisar o quê, mas me fartei de ser o eterno reclamão, e desde então tenho tentado me corrigir, passo a passo. Claro que não desejo tornar-me uma "Pollyanna"(ARGH NÃOOOO), mas também não desejo tornar-me tão repelente a ponto de afastar todos ao meu redor. Eis que não estou ficando mais jovem, muito pelo contrário.

E, enquanto escrevia as linhas anteriores, o bicho pegou absurdamente aqui no escrotório: computadores dando pau, vírus pipocando por todos os lados, ameaçando todo o império, formatações de HDs e quejandos, etcoetera et al.

Normalmente, eu estaria irado a ponto dedefenestrar máquinas e colegas de trabalho, e iniciando atividades pirotécnicas diversas. Mas, por increça que parível, ainda mantenho o bom humor! Hu-Há! Será que é um sinal dos tempos, ou simplesmente as oitavas de final dos tempos? Esperemos que seja apenas de facto um indicador que mesmo os rabugentos incuráveis não sejam tão incuravéis assim.

Enfim, o almoço se aproxima, então vamos ao churrásquio. Que Mitra esteja iluminando vossos caminhos. Hasta la vista.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Austregésilo de Andrade Barros Mendonça.

...então o senão foi levantado. Entrementes, o relógio despertador se despertou e começou a preparar-se para a lide diária. Muito havia que ser feito naquela manhã de 2215. Ano curioso este, começou numa terça e acabou ontem. Como é de praxe em casos como este, fui levado a me informar no guichê de número três, que haviam outros guichês a me aguardar em sequencia aleatória na repartiçao de bipartições.

Entrementes, mais adiante, o pão nosso de cada dia rezava um Credo, para escapar do Putz, uma vez que este estava tornando-se deveras demodê. No supermercado, anunciava-se que os produtos da ala nove estavam agora alados, e as recepcionistas distribuíam redes a granel, para a captura de tão asiados produtos de beleza e higiene mental. Ou bucal. Ou oral. Ou, me disseram que ali adiante existia um proposito para a existencia, levemente usada.

Apesar de ser inverno, o sol ardia como acarajé quente, eis que me encontrava-me na Bahia, na esquina da intervenção pública de resolução de final de ano. Dessarte, fui orientado a dirigir-me para o volante; já que desejava dirigir, melhor lugar não havia. Ou haveria. Ou haverá. Haverá vida em Marte? Creio que não, embora esteja convicto que sim. Será? Não saberia dizer, ainda mais depois que grossas gotas de água teimavam em descer da face oculta da Lua. Lágrimas ou suor, não saberia dizer.

Sei que adiante teria que ir, que adiante teria que estar.
À frente de tudo e de todos,
Em conjeturas similares,
Em outra parte e em outro lugar,
Alem do tempo e do espaço,
Noutro lugar.

Algo disso fez algum sentido? Não? Não se preocupem, assim como as manhãs de segunda feira - que não fazem o MENOR sentido - tenho a tendência de escrever textos nonsense às vezes. Considero-os extremamente divertidos por vezes. Às vezes é bom lembrarmo-nos que por mais que queiramos que tudo seja bonitinho e funcional, nem sempre isso acontece. Em especial nas segundas feiras pela manhã...