quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ecos do passado.


Senão vejamos.

Conforme comentei anteriormente, no ano de 2006 escrevi algumas coisinhas para a extinta publicação virtual Moconautas, e infelizmente o devagar aqui não se lembrou de salvar os textos em momento algum, coisa que tenho que me lembrar de não repetir também aqui. Eu gostei de alguns daqueles textos que postei lá; hoje, como exercício de memória, vou tentar reescrever um deles.


"Tudo começou em alguma noite remota do ano de 2006. Por força de alguma necessidade fremente, encontrava-me em alguma aglomeração pública destinada à obtenção de um artigo supostamente de luxo para alguém como eu, a saber, alguma pessoa do sexo oposto. Após o consumo de algumas doses d'algum líquido alcoólico qualquer, supostamente para inferir-me coragem para alguma abordagem audaz, eis que encontrei-me balbuciando bobagens defronte a uma mulher, que evidentemente se divertia horrores às minhas custas. Após momentos que fluiram como horas a fio, lembro-me de ter conseguido obter o número do celular da mesma; por sua vez, ela havia por bem feito algum passe de prestidigitação qualquer e tinha sumido do recinto. Fiquei alguns momentos a mais ali, saboreando esta pequena vitória(sim, para o tímido incorrigível a simples obtenção de um número como este representa uma vitória icomensurável, ainda que vã e efêmera), juntamente com mais alguns copos de bebidas amargas.

Aos tropeções, saí do local infecto e dirigi-me cambaleante pelas ruas quase desertas da cidade. Não sei bem como, subitamente encontrei-me diante do posto de reciclagem de dejetos industriais que posteriormente são ofertados como refeições aos estudantes da UFMG. Sim, estava diante do mausoléu denominado, ordinariamente, Bandejão. Não sei bem por que, mas uma aflição tomou conta de mim; talvez fosse o efeito do álcool, quiçá das emanações furibundas dos tonéis marcados com o símbolo de "radioativo" diante de mim, mas ocorreu-me que deveria ligar, agora mesmo para o número da mulher fatal desta historieta.

Obviamente, o número era falso ou meu celular, este muderno Tijorola que possuía na época e que teimava em apresentar falhas, não conseguiu realizar a tarefa com êxito. Subitamente, subiu-me um acesso de fúria e arremessei o aparelho fatídico em direção aos tonéis que ainda se encontravam à minha frente. Houve uma reação adversa qualquer, seguida de um clarão, que logo se converteu em um momento de inconsciência. Tudo sumiu.

Acordei supostamente no mesmo local, mas imediatamente percebi que algo de estranho havia ocorrido. O Bandejão não mais ali estava; ao conrário, encontrava-me num terreno baldio onde havia uma tabuleta com a seguinte inscrição: "Local destinado às futuras instalassoes do restaurante universitario". Havia algo de errado, obviamente. Andei a esmo até encontrar uma estrada de terra, e decidi segui-la. Ainda era madrugada, mas sentia que o raiar do dia aproximava-se.

Depois de uma extensa caminhada, avistei civilização adiante; prédios muito estranhos, com ar muito retrô abundavam ao meu redor, sendo que a maioria dele não tinha mais do que três ou cinco andares. Foi com horror que percebi que algo de fato estava muito errado. Apanhei um jornal em uma lixeira perto de mim e vi a data: 17 de Setembro de 1943. Céus. Justamente a data de meu aniversário, porém algumas décadas antes. Eu teria aproximadamente -34 anos. O que fazer diante desta situação?

Ao mesmo tempo que constatava aonde de fato estava - na Avenida Afonso Pena, agora repleta de imensas árvores - notei que as poucas pessoas que já estavam acordadas olhavam-me com estranheza, algumas até com receio estampado nos olhos. De repente, um exaltado qualquer, ao se deparar com a minha triste pessoa, berrou a plenos pulmões: "MATEM O ALEMÃO NAZISTA!!!"

Evidentemente, não tentei argumentar com a turba sedenta de sangue que se precipitou atrás de mim, saindo correndo o mais rápido que podia. Desci a Rua da Bahia, onde mais e mais transeuntes se espantavam comigo e se juntavam a multidão que clamava minha iminente morte. A cada metro, espantava-me mais e mais de como a cidade era agradável naquela época, com prédios intocados, de fachadas imaculadas. Pena a situação não me deixar apreciar as coisas ao meu redor de forma mais despreocupada.

Cheguei à margem de um ribeirão, que presumi ser o nosso Arrudas. Como a turba ensandecida aproximava-se com rapidez, não tive escolha: arremesei-me nas águas escuras.

Felizmente tal rio ainda não era tão esgoto como o conhecia, mas mesmo assim fui arrastado por muito tempo. Quando consegui sair do rio, achei-me em safo, porém muito quebrantado: havia ferido-me em minha fuga, estava esgotado, estava no passado. Entrei em depressão imediata e passei a cambalear pelas estradas poeirentas que me conduziram à paragem de Caeté, onde fui capturado por agentes da polícia, por estar imundo, trajando roupas esquisitíssimas e por estar delirando, balbuciando em vão o suposto nome da mulé que ainda nem havia nascido ainda.

Fui recolhido a um asilo de loucos, onde fui tratado a pão de ló, com direito a sessões de banhos frios vindo de mangueiras de alta pressão e sendo pioneiro nos experimentos com eletrochoques. Ou não, não me lembro muito bem. Deram-me acessoa materiais de desenhos toscos, onde produzi imagens de diversos aparelhos telefônicos, que se tornaram minha obsessão nos anos que me restaram. Morri em 1947, de tuberculose pulmonar, morte esta digna de meu título que foi-me atribuído postumamente: O último dos românticos, que nunca conseguiu completar a ligação."

Ufa. Eis aí minha versão actualizada do conto em questão. Consegui também postar a imagem que usei para ilustrar o texto. Era mais fácil que imaginava postar imagens; infelizmente ela não ficou do tamanho certo, perdoem a minha falha.

Tenho que começar a trabalhar, eis que olham-me torto aqui. Tenham todos um bom dia...