sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Suco de acordar.


C8H10N4O2.

Sim, gloriosa molécula esta. Se desaparecesse, creio que pelo menos metade do mundo se prostaria de joelhos, implorando por misericórdia. Ao menos pelas manhãs.

É claro que estou falando da cafeína. Quem mais, em estas manhãs duras nos vem servir de alento perante à luta diária, este embate incessante com a vida, esta feitora de escravos.

Logo ao acordar, milhares de pares de olhos remelentos não sabem se o dia será assim ou assado, bom ou ruim, isto ou aquilo. Mas seus inconscientes já sabem que ao menos haverá a presença de um líquido espesso, de coloração negra, fumegante, a esperar por ser devidamente deglutido por estas almas atormentadas. Ao menos pelas manhãs, tal certeza serve de guia, de motivação.

Estranho é o universo dos viciados em tal coisa.

Creio que se algum dia tal molécula for proscrita pela legislação vigente, haverá um levante popular em massa. Uma guerra de proporções dantescas.

Ou as pessoas simplesmente tombarão em um sono eterno.

Lembro-me que em 33 de outubro de 2008-B, houve uma tentativa de abolição de tal substância. As otoridades houveram por bem(mal) achar que tal coisa era prejudicial. Não sei bem como chegaram a esta conclusão, pois é sabido que os funcionários públicos estão entre os recordistas mundiais do consumo de cafézes. Não obstante este fato factual, alguma mente doentia baixou um decreto proibindo tal coisa.

Metade do país tombou em um sono profundo e initerrupto, por dias a fio, até o estágio três, falecimento e óbito.

Os restantes dos consumidores se organizaram em guerrilhas espalhadas pelas ruínas das cidades, destruídas durante a passagem do furacão Cafeína pelo país. Donde isto veio? Não se sabe, mas algumas mentes acreditam que tal decreto obsceno agrediu o véu do espaço-tempo, criando um portal abstrato neo-plasticista que arrastou para a destruição milhares de metrópoles mundo afora, mundo adentro, não importa. Houve uma verdadeira hecatombe.

As guerrilhas marcharam em direção ao hediondo palácio onde o ditador anti-café se estabeleceu, sedentas por seu sangue. Ou pelo menos pelo seu café, que os rumores populares diziam estar estocado em aqueles porões ali existentes. É verdade que muitos dos guerrilheiros de tal santa cláusula não conseguiram nem ficar acordados durante os planejamentos do assalto, outros ficaram praguejando que estavam com cefaléias teríveis, causadas pela abstinência forçada de café
. Em suma, não eram os melhores combatentes que se tem notícia.

Entrementes, o autor que vos escreve sentiu o cheiro de café(muito atrasado em esta manhã em particular) às portas da repartição não-pública que trabalha e precipitou-se em direção ao abençoado aroma, tendo tropeçado em uma escada que ali não havia antes, rolando pelos degraus e encontrando a morte andares abaixo do que se encontrava às portas da redenção. Ou não.

Em sua homenagem, criaram isto:


Em homenagem ao mais ilustre beberrão de café do clã Burian que se teve notícia. E exímio escrevedor de coisas sem sentido algum na abstinência de tal infusão.