sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Duelo.



"The radio still plays
Amongst the mangled metal frames
Petroleum spirit daze."

--Swervedriver, Son of Mustang Ford.



Por um instante, parecia que não estava ali. Que estava sonhando. Sobre o quê, não poderia dizer. Mas era como se tudo fosse um sonho, de fato.

Um impacto atrás de mim, seguido do estrondo e o barulho de vidro quebrando provou-me o contrário.

Eu segurava o volante com um força descomunal. Mas nada fazia sentido. O que estava acontecendo? Estava dirigindo a mil por hora, numa estrada rude e aparentemente abandonada, numa região árida ou semi-árida e...

Mais um empurrão. Outro estrondo.

Olhei para trás. Através do vidro quebrado, vi um caminhão que me perseguia. Somente a parte frontal, sem o engate. Parecia um monstrengo, daquelas Scanias, e suas intenções pareciam ser nada amistosas. Pisei fundo. Não estava entendendo nada, mas não é preciso um relatório completo sobre a realidade momentânea para se saber que estamos correndo perigo. E de vida.

Vida....Céus, nada fazia sentido. O que eu estava fazendo ali?

Olhei ao meu redor. Não reconhecia nada. Estava num carro...numa caminhonete aparentemente velha, antiquada. Haviam cacos de vidro por todos os lados...O pára-brisa estava trincado e com alguns...Furos? Buracos de...

Balas?

Olhei para o banco do passageiro. Havia uma arma ali.
Olhei para minhas mãos que seguravam o volante. Ensanguentadas.

Olhei para o retrovisor...Não conheci o sujeito que me olhou de volta.

Outra batida dissipou meu estupor. Quem era aquele cretino? Por que queria me matar??

Um solavanco à frente me fez voltar minha vista para adiante. Olhos à frente, sempre dizem. Pelo menos enquanto se dirige ou....se foge desenfreadamente de um maluco que quer lhe matar a todo custo.

Que diabos estava acontendo?

Merda. Não entendia nada, não me lembrava de nada. Estava fugindo de um louco dirigindo uma cabine de caminhão gigante. Maravilha. Já estava a mil por hora, mas pisei mais fundo ainda. O motor se esgoelava. Não entendia como uma caminhonete velha daquelas estava correndo tanto, mas não estava num momento apropriado para reflexões do tipo.

A Scania me acertou de novo. Filho da puta!

Filho da PUTA.

Resolvi voltar minhas energias gastas com a minha exasperação, meu desespero, para a vontade de matar aquele cretino. Sem tirar uma das mãos do volante, apanhei a arma que estava no banco ao meu lado. Sem balas. Maravilha. Como extinguir um merda com uma Scania voando atrás de mim sem uma arma e dirigindo uma porra duma caminhonete velha?

Olhei rapidamente para a frente e elaborei um plano desesperado.

Fixei meus olhos na Scania, que bufava ainda, sedenta por meu sangue. Quando o miserável acelerou de novo, para me acertar novamente, joguei meu carro subitamente para o lado, diminuindo a aceleração e lutando para segurá-lo, apesar de toda a derrapada. Fechei os olhor por um segundo. Julguei ser o fim, mas me forcei a abri-los de novo.

Tinha dado certo, em parte. A Scania seguiu reto na estrada, enquanto eu fiquei um pouco para trás...Por trás dela. Ha! Agora eu estava atrás! Eu...

Eu havia feito uma grande bobagem. De que me adiantava estar atrás de uma Scania, dirigindo uma caminhonete que era uma pulga perto daquilo? Tamanha era minha raiva no momento, me xinguei uma porçaõ de insultos. Mas...algo aconteceu.

A Scania ganhou distância de mim enquanto eu me amaldiçoava, freou com fúria, e puxou um pião na estrada. Eu freei instantaneamente também.

Estávamos frente a frente agora.

Que beleza. O que eu poderia fazer? O que eu deveria fazer?
Que DIABOS estava acontecendo??
O QUE EU ESTAVA FAZENDO ALI???

Ninguém respondeu nada. Eu estava fudido. E muito puto.
A Scania roncou, acelerando e parando, sem soltar os freios, tal qual um touro que se prepara para atacar o toureador.

Certo. Foda-se. Estou dentro, seu cretino. Não me lembro de nada, então não me importo com nada.



Não tenho nada a perder.




Imitei o miserável, esgoelando a pobre caminhonete sem soltar os freios. Foda-se.

Se tenho que morrer, que seja de uma forma barulhenta, ao menos.


Vamos lá, seu filho da puta, pensei.
Ele soltou os freios primeiro. Por reflexo, fiz o mesmo.
O tempo parecia correr mais devagar, mesmo que isto parecesse absurdo.
Passei as marchas com fúria, arrancando reclamações veementes da caixa. Foda-se, foda-se.

80...100...120...140...160.

Não fechei os olhos.

Não poderia ter feito de outra forma.