quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2009.

Em 2009, eu abandonei certas coisas. Abandonei certas noções. Abandonei coisas, redigi textos e mais textos. Li coisas. Vi gente. Fiz coisas. Etissetera.

Em 2009, abandonei uma carreira promissora de DPS em um mundo que não existe, a não ser em meu computador. Evento este que me deixou sequelas que ainda estou lutando para tentar remediar, como minha fobia social, que chegou mesmo a níveis alarmantes em meados de 2009.

Em 2009, comecei o ano com grandes intenções e grandes planejamentos, em que quase todos não deram muito certo; de realização pessoal para 2009, só posso aqui listar duas coisas...este semi-diário que tanto ocupou minha atenção durante o ano....em que tanto me lamuriei por problemas tão imaginários e surreais, mesmo risíveis parar outrem, mas de tão forma tão chatos para mim.

No decorrer do ano e da redação incessante de meu dia a dia como enfeite de uma certa empresa limitadissíma, tentei inicialmente retomar as lides de meu personagem, criado por mim em 1999, que só tomou forma em 2005, para depois entrar em um hiato de quase 5 anos e de repente reaparecer meio que incompletamente em 2009.

Ele foi a única realização mais pessoal realmente palpável para o minguante ano, e muito eu deliberei, muito eu enrolei para fazer de mim o que eu esperava de mim. Coisa que ainda assim não está concretizada.

Em 2009, fui amparado por algumas pessoas que tenho em mais elevada consideração. E no final deste ano, realmente cheguei à conclusão que preciso de pessoas...ao menos as que me consideram como um não-frango, para ser eu mesmo. Para conseguir vencer meu lado mau e fazer algo de útil com as coisas que só eu faço. As coisas que me tornam diferente dos frangos.

Em 2009, entretanto, muito eu maldisse por vezes tais pessoas em meus devaneios de frustração e raiva. Peço aqui apologias a meu comportamento deplorável com as pessoas que me querem bem, que são meus amigos. Que realmente se importam comigo.

Em 2009, adquiri tecnologias e mais tecnologias. Me dei presentes, muitos presentes, e que creio que fiz por merecer todos. E se ainda não estava eu os utilizando em sua plenitude, em 2010 creio eu que tais presentes me serão bem úteis. A exemplificar:


(Rabiscos meus feitos inteiramente via Wacom, diretamente no Photochopps. Creio que isto pode vir a dar samba, eventualmente...)

Em 2009, fui impaciente e intrasigente, fatalista e radicalista. Mas tentei ser de mim o que poderia ser, o que poderia fazer, para tornar minha existência um pouco mais justificável.

Em 2009, tentei fazer muitas coisas. Falhei em várias, mas creio eu que as coisas não se acabaram em derrota, não foram consumidas pelo tempo; aqui estão em mim, presentes e querendo saltar para fora desta barreira quase intransponível deste ser escrevente que ainda assim quer ser mais.

Mais amigo, mais paciente, mais desenhante, mais produzinte, mais tolerante, mais...não sei.

Em 2009, eu quis que as coisas todas dessem certo. E ainda quero. Para 2010, 2011, 20xx. Sempre quero. Sempre quis.

E que venha 2010. Que tal ano seja(seje?) ainda mais cheio de realizações e eventos agradáveis para mim...e para todos que comigo se importem, de uma forma ou de outra.

Por um ano menos ordinário. Por uma vida menos cheia de recriminações vãs e idéias erradas. Por uma vida que se baseie na minha existência enquanto um ser que mesmo tendo que fazer parte da Grande Granja, com ela não concorda.

Enfim, o fim. Segunda feira estarei de novo incluso nas quatro paredes de meus grilhões, e a coisa retomará.

Boa virada de ano a todos que por aqui vieram durante o ano de 2009.

E até o ano que vem...



sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Bom sinal!

Eis que chegou um dia, belo dia este. E começou isento de chuvas e maldições semelhantes. Eis que chegou o dia 11. Dia em que serei isento temporariamente do maldito ruído que me obriga a abandonar o mundo de Orfeu e ter que me reconstruir enquanto cambaleio sonolentamente até o banheiro("tudo fica melhor depois da primeira mijadinha", como diz um grande desenhista que conheço.), e ter que vir a este escrotório. Férias, em suma. Abençoada palavra esta.

Eu sei que estou muito arredio estes dias, conforme ode ser lido anteriormente, mas creio que hoje isto começa mudar. Fiquei uns bons dois meses num estado de espiríto muito chato, repleto de neuras e imbecilidades. Me remeteu ao final de 2005, data nefasta em que eu e alguns amigos comparecemos a uma horrenda festa à fantasia em que deu tudo errado, e que gerou-nos uma urucubaca(doravante apenas "uruca") que perdurou meses a fio. Meus amigos foram até em missa para ver se a coisa descarregava deles. Xô!

Pois, em mim parec-me mesmo que tal coisa ainda ronda, mas nem sempre se manifesta com plena força. Eu estava pronto a dizer que ela havia voltado com força total nestes dias em que se passaram, mas...

Aconteceu ontem. No final do expediente. Inicialmente, creio que algo dentro de mim quis levar para o lado errado, o lado da raiva(irracional) e criar confusão, protestar e etc. Mas eu sei quando estou errado e quando preciso de um empurrão, um safanão, um "pedala", algo do gênero. Pois, tomei um destes ontem, quase na hora de partir daqui. Algo que me pôs no lugar, que me devolveu a uma realidade que não pretendia abandonar, mas que estava prestes a fazer, caso não acontecesse algo como o que aconteceu.

Eu sei que sou péssimo chefe de mim mesmo. Sei, que preciso ser mandado. Sei que sou um excelente pau mandado. Não acho ruim ser desta forma, contanto que haja alguém CERTO para ser meu "chefe", por assim dizer. Infelizmente, esta é minha relaidade, e foda-se também. Não estou mais em idade de tentar dar murro em ponta de faca. Sou desta forma, e tento fazer de tudo para aprender a lidar comigo mesmo. Infelizmente, não posso ser como Jack e ter um Tyler Durden dentro de si para impulsionar-me a fazer as coisas, então preciso de alguém de fora deste caos de cabeça.

Agradeço muito ao "chefe". Pois eis que ontem eu fiz duas "descobertas" - uma é que eu destravei após o "safanão" - ontem à noite eu consegui produzir, ainda que devagar. Algo é melhor que nada, enfim. A outra é que eu possuía por anos e anos uma excelente guitarra e nem desconfiava que ela era tão boa. Ah, excelente descobrida!

Enfim, o que conta é que parece que haverá uma bonança de fato, após tanta tempestade.

Bem, não sei como ficará a regularidade do blog enquanto estiver na folga. Mas acho que não pararei por completo de escrever; apenas não prometerei fazê-lo todos os dias. O ano ainda não acabou, e tenho certas considerações a fazer sobre este ano de 2009. Creio que de certas formas, foi um ano seminal, que marcou algo.

Esperemos que seja assim mesmo, de fato, deveras. Enfim.

Bem ate a vista para os "cri cri cri cri"s que por aqui ainda se aventuram. Férias! Férias!!

Férias.

Uhu.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Auto-pessiquiatra.

-Diga-me o que passa pela sua cabeça. Tudo.
-Isto é uma grande mentira.
-Quê?
-Sim. Ninguém diz tudo que se passa na cabeça.
-Bem, ao menos tente.
-Certo. Estou ficando louco.
-E por que você diz isso?
-Por que estou ficando doido. Se não estivese, aqui não estaria.
-Então você vê isto como um hospício.
-Não, não vejo. Eu sei como é um hospício. No máximo eu diria que aqui é o purgatório do hospício.
-Então o hospício seria algo a se almejar.
-Hein? Claro que não. Ninguém quer aquilo. Ninguém quer ficar louco.
-E no entanto você me afirma que está ficando louco.
-E você acha que eu QUERO ficar louco? Começamos bem.
-Como assim?
-Estas palavras, "você está assim por que quer." Eu ODEIO tais palavras em tal ordem.
-Então você...
-Cale-se. Você não sabe nada, com estes seus diplomas, regras e regulamentos.
-Mas eu...
-Não me interessa. Eu não estou aqui por que QUERO. Não estou ficando louco por que QUERO.
-Diga então por que está aqui.
-Por que eu preciso de alguma forma de ajuda. Não sei se isto vale de algo, mas não posso continuar assim, não posso.
-Assim como?
-Odiando tudo e todos ao meu redor. Eu odeio tudo e todos.
-Hmm. Prossiga.
-não sei o que acontece. Sei que estou errado, pois sempre estou errado.
-Errado em relação ao quê?
-A tudo. Estou sempre errado, mesmo quando tenho certeza de estar certo. É só esperar pra me provarem que estou errado.
-Então existe uma chance que você esteja assim por que quer.
-...

Este é apenas um exemplo dos diálogos que se passam em minha cabeça. Estou tentando ser pessiquiatra de mim mesmo, mas flahando miseravelmente. Sou um péssimo paciente. Nunca tomo minha medicação, mesmo por que não aceitam receitas inexistentes na fármacia. A coisa se estende assim por horas e horas:

-Fazem semanas que não consigo desenhar nada direito. Umas quatro ou cinco.
-E porquê não está conseguindo, você sabe?
-Não bem ao certo. Me parece que depois do entusiasmo inicial que existe em cada projeto pessoal que me disponho a fazer, me imponho uma qualidade que nunca consigo atingir, e à medida que o tempo passa, fico cada vez mais e mais frustrado por não conseguir atingir tal patamar. E acabo ficando à deriva, desanimado, derrotado.
-Mas que qualidade é esta afinal?
-Não sei definir; apenas acho tudo horrível.
-Mas você SABE que não é assim.
-Não sei se sei. Eu queria fazer algo que fosse diferente, memorável...não sei.
-Você já conversou com seu amigos a respeito disso? Com seus amigos que também desenham.
-Não. Ainda mais com eles. Falhei miseravelmente com eles.
-Como assim?
-Quando precisava mostrar algum resultado, algum serviço, eu travei e não fiz nada. Não mereço ajuda por ser idiota. Eu tenho que resolver tais coisas sozinho.
-Então você vai ficar tentando resolver seus "problemas" sozinho a vida inteira.
-Não existe lógica nisto, eu sei. Mas sinto vergonha de mim mesmo. De ser assim. Não quero incomodar meus amigos com tanta imbecilidade. Eu vejo eles pegando as coisas e resolvendo e tocando a vida pra frente e digo pra mim mesmo, "seu inútil, por que você não pode ser assim?" E evito a todo custo incomodá-los com minhas inutilidades.
-Você exige muito de si mesmo.
-Eu preciso! Sou muito mole! Eles têm problemas tão chatos quantos os meus, às vezes muito piores que os meus "probleminhas de neurótico" e fazem as coisas. Eu TINHA que ser assim. Eu TENHO que ser assim. Eu exijo isto de mim mesmo. Quem sabe um dia não poderei chegar para eles como um igual, como alguém que faz valer seu trabalho. Quem sabe se algum dia eu não conseguirei provar a eles e a mim mesmo que posso ser algo.
-Sozinho? Boa sorte.

E vai e vai, a conversa virtual e imaginária se estende, acabando geralmente em pizza, pois de uma forma ou de outra eu tento silenciar minha mente, e retorno ao começo cada manhã. Mas existem muitos e muitos exemplos a mais:

-E por que você acha que continua sozinho a esta altura do campeonato?
-Estou aquiescendo a vossa teoria de estar "assim por que quero". Deve ser isso. Fim.
-Não me satisfaz tal resposta.
-E a mim, acha que traz-me alguma satisfação ser assim? Querer ser assim? É lindo, não é?
-Não adianta se exaltar. Não posso ser agredido.
-Bem, eu sei que sou um imbecil que romantiza demais todas as coisas. Eu busco o IDEAL, sendo que esta merda de noção já foi posta por terra fazem milhões e milhões de anos, mas não adianta querer resgatar alguma lógica nisto tudo. É irracional. Eu me acho tão necessitado, tão carente, e exijo tanto, mas tanto de tudo e de todos que ninguém pode atender tais exigências.
-Já tentou rebaixar tais parâmetros?
-Já tentou nascer de novo?? Pois parece-me que é a única maneira de consertar isso.

Eu queria poder trocar de cabeça. Pôr uma que funciona melhor que esta merda.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Nada. Ninguém sabe.

Ninguém sabe nada.
Não somente no título, mas em tudo. Tudo mais. Tudo menos.
Ninguém sabia que existia
além da visão
algum local além da linha reta
dos mares, dor bares,
dos lares.

Lares alheios, onde várias e várias noites ali estive,
ali estive. Ali existo enquanto nada, enquanto tudo
tudo mais
se esvai em cinzas e tempo, tiques e taques,
cliques e claques, ninguém. Sabe. Nada.

E sempre, sempre, soube eu tudo!
Soube eu que ali não estava
que ali não deveria estar,
que nunca ali deveria eu estar,
mesmo que ali estivesse,
sempre estivesse
sempre soubesse.

De que saberia eu, se soubesse o que sei agora,
agora, em estas horas a mais tardia,
a mais arredia, a que mais irradia
nada
em tudo.

Que saberia eu se soubesse
o que hoje saberia se soubesse
o que deveria eu saber quando
precisava de fato saber? Que faria
eu
se soubesse o que deveria saber?

Que faço eu, eu que sei o devo fazer?

Que faço eu?
Que faz você, em sua redoma de alheamento
- não é de minha a parte
não é daqui que me interesso
não é aqui que me interessa -
que fazes tu, com sua inútil vida
inúteis opiniões
inúteis conselhos, que fazes?

Eu, que aqui nunca estive, sempre estarei a procurar
este mesmo local, este mesmo lugar,
estas mesmas paragens, estes mesmos ares.
Eu que não sei de nada, de nada sei enquanto aqui
não estou, não estarei, não estive

Não,
não agora, não depois,
mesmo nunca, não.

Que aqui me deixem, que aqui me enterrem, se assim o for,
se assim o valer, se assim
tiver de ser.

Que aqui exista apenas eu,
eu e minhas coisas,
eu e meus nadas, que ainda assim para mim
são tudo.

Que aqui, apenas aqui,
eu possa existir,
sem ter que ser alguém,
sem ter que ser algo,
além do que não sou.

Que aqui, apenas aqui,
eu possa ser eu,
eu possa ser aquele
que com tudo se preocupa
mas que com nada se relaciona.

Aquele que, não estando aqui
sempre estará ali, esperando,
inventando, existindo,
sendo
o que não quiseram que fossem.
Fazendo
o que nunca quiseram que fizesse.
Existindo
além da mera existência alheia.

Mas, disso o que o sei eu?
Nada.
Alguém, será que alguém sabe?

Nada?

Ninguém sabe nada.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Platôs.

Estamos todos mofados, depois de um final de semana inteiramente chuvoso e isolado. Cortaram o telefone lá de casa, e ainda não sei bem por que....Esqueci-me de meu carregador de celular aqui no serviço e cortaram meu MSN desde sexta.

Presumo que realmente esteja precisando ficar sozinho, para tentar pôr esta cabeça inoperante no lugar ou algo assim. A providência já tomou conta destes detalhes.

A semana começa, em plena véspera de feriado para os que ainda trabalham em Belzonte. E tem cara de segundo tempo de domingo. Algo assim.

Acho que doravante escreverei apenas platitudes aqui. Fazem menos mal que erradas viagens à uma psiquê chata e melosquenta.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Vregonha, parte dois.

Bem, voltando ao nada.

De posse de minha renovada convicção na inutilidade da coisa, tornei a frequentar a vida real: inócua e sem sabor. Por meses e meses nem conseguia chegar perto de uma folha em branco. Por mais que digam que trauma é bobagem, que isso e aquilo, comigo posso afirmar que não é bem assim. Naquele dia que fui usado como pano de chão do banheiro da rodoviária pelo tatuador lá, saí de lá com uma estranha sensação de nada. Eu havia me tornado um nada. Acho que quase nada em minha vida doeu tanto e ao mesmo tempo me deixou tão catatônico quanto aquele dia. Mas não foi isento de motivos que levei tal surra: as coisas que a ele mostrei eram verdadeiras porcarias, ainda mais para serem impressos definitivamente na carne de uma pessoa. De certa forma, fui salvo naquela empreitada.

Não obstante isso, desde então essa merda nunca foi removida de minha memória e...de meu ressentimento. Mas, como a coisa nunca te abandona nem te deixa em paz, uns 8 meses depois voltei a conseguir desenhar, de uma hora para outra. Mas ainda estava bem à deriva, num emprego que detestava e sem nenhuma perspectiva. Foi quando um dia encontrei um flyer no chão que percorro para aqui chegar, indicando cursos numa tal de Casa dos Quadrinhos. Lá fui ter, mas de lá saí novamente de mãos vazias: era algo além de minha alçada financeira. Minha mãe, que sempre, de uma forma ou de outra, tentou me impelir a fazer as coisas, me financiou 50% do custo e eu consegui ali entrar.

Foi uma experiência significativa. Não apenas pela prática ali realizada, mas pelas pessoas que conheci, especialmente por elas. Pois tenho amigos que conheci ali naquele local até hoje. Em relação a aprendizado, evidentemente evoluí, mas o que contou ali mesmo foi a convivência com as pessoas que ali estudavam e ensinavam. Tenho grandes amigos que dali me foram provenientes, e com eles novamente me senti uma pessoa, alguém que não simplesmente existe como um frango de granja, mas alguém que faz algo que me diferencia da manada.

Mesmo assim, nunca me senti à vontade para exercer o que supostamente perto deles deveria acontecer sem nenhum impedimento: desenhar. Principalmente com dois deles. Minto, três. Quer dizer, todos eles. Sim. Não consigo muito funcionar perto deles. Porquê?

Presumo eu que seja a boa e velha frescura, que eles tanto me disseram. Não é: acho que é questão de ego mesmo. Inutilidade do gênero: "sou muito mas muito pior que eles, eu que não vou fazer papel de idiota perto deles". Idiota, não? É mais ou menos assim. Mas, não sei bem ao certo o que fazer. Existem, de fato, dois destes meus amigos que me intimidam até a medula dos ossos, a saber: Daniel Pinheiro Lima e Eduardo Damasceno. E os dois são grandes amigos, excelentes pessoas. Mas me paralisam. Por quê? Um dia eu descubro. No momento, eu só posso me lembrar de uma coisa que aconteceu em 2004, um evento carnavalesco que reuniu quase todos estes seres desenhantes em minha casa....

Estavámos eu, Damasceno e Daniel ainda acordados numa das noites do carnaval e fomos à sala de casa, onde evidentemente, os dois começaram a desenhar. Eu, que devo dançar conforme a mpusica, ou pelo menos me forçar a ser menos fresco, tentei fazer algo também. Depois de algum tempo, cada um deles mostra para a "platéia" o desenho produzido. Daniel comenta o de Damasceno e vice-versa. Eu também. Aí me exigem ver o que fiz. Mostro, já com a relutância usual. Recebo nenhum comentário e caras de interrogação. Calo-me. "Que merda" é o que eu penso, "só desenho nada mesmo". Acho que foi desde aqui que me anulei perante eles, estendendo tal viagem errada para todos os outros integrantes da galera.

Blah. A coisa esteve sempre assim, mas tentei me forçar a ignorar estas minhas viagens erradas, mas...existe algo que age em contrário. Sempre que estou diante deles, fico tão tenso - "ah, putamerda estou diante de mestres, tenho que fazer o meu melhor. Vai dar errado. Vai dar errado. Vai dar errado." - mas tão tenso, que acabo fazendo tudo errado, duro. Tenso.

Anos se passaram, e me lembro que naquele mesmo ano eles tentaram me empurrar para o lado espontâneo e desleixado que a coisa deveria ser, fazendo uma zoação à minha triste figura na forma de um texto - foi a primeira vez que ouvi o termo que NOS define: adolescente terminal. Lembro-me que a coisa doeu - inda mais por ser verdade - mas tentei levar na boa, fazendo o tal texto de réplica, e ilustrando a coisa. Tal desenho foi "modificado" para estar melhor apresentável para o site em que os textos circulavam, sem que eu ficasse sabendo.

Não sei dizer por que fiquei tão revoltado. O desenho estava ruim, mas a "correção" me pareceu ainda pior. Me fez mal, muito mal. E mais ainda me fez mal por ter me deixado levar tal "injúria" tão a sério. Eu quase briguei com eles por conta disso. De porrada. Mas eu sei que a coisa não pode ser resolvida assim. Por que de quem foi a culpa da coisa ter inicialmente sido desqualificada? Minha, uma vez que eu não tive competência para fazer a coisa direito sem requisitar de nenhuma maquiagem posterior.

As coisas foram indo neste pé. Outra coisa horrenda que me lembro foi uma remota noite em que estes meus amigos me voluntariaram para comparecer à uma festa de uma destas universidades "boate" feito UNA e FUMAC, digo FUMEC, para fazer caricaturas ao vivo. Foi uma das piores noites de minha vida: não fiz nada direito, e fiquei com os nervos à flor da pele. Ficou tudo horrível. Mas sobrevivi, ao menos. Mas o que não me matou não me tornou mais forte.

Acho que a ironia disto tudo sempre foi esta: ao contrári odo que seria esperado, a cumulação de tais experiências apenas me tornou ainda mais desconfiado e arredio. não sei bem desde quando me tornei o "parnasiano" que sempre busca uma perfeição que é intangível. Mas sei que a vergonha ainda existe. Desde que comecei a re-fazer as tiras do Sr. Bode, que geram em torno de umas 12 hoje em dia, não mostrei a mais ninguém além do meu mais recente "patrono" - Fernando Mascarenhas - e continuo hesitando em fazê-lo. Ah, minto: mostrei-as para outras pessoas sim. Meu velho amigo Rafael, sua namorada Jade e sua irmã. Minha mãe e minha irmã. Todas pessoas que me têm em consideração, eu que gostam de mim.

Não digo que os outros mencionados neste relato não gostem de mim, mas creio que são mais, er, digamos, sinceros que os outros. Ou ao menos, não tentam pôr pano quente para apontar minhas falhas e imperfeições. Mas mesmo assim, me sinto absolutamente paralisado ainda em relação a eles.

O moral da história toda é o mais legal de todos: se eu que não tenho CORAGEM para mostrar o que faço nem para meus AMIGOS, o que quero tentando fazer algo que estará exposto a todo tipo de gente mundo afora? Evidentemente, haverão pessoas que odiarão e tantas outras que acharão massa demais. Mas parece que só as más opiniões são as que me valem. As que têm maior peso.

Por quê?

Excelente pergunta. Uma que não tenho resposta, mas excelente pergunta.

A ausência de reação também me mata, e não sei explicar igualmente. Uma das pessoas a quem mostrei, reagiu de maneira similar à narrada no Farrapostock de 2004: cara de interrogação e mais nenhum comentário. O que passa na minha cabeça nesta hora???

"Nuh, deve estar ruim demais mesmo. Puta merda. Desisto."

Assim como este diário que aqui publico e que qause não obtém comentários. Minha reação? Achar que tá tudo uma bosta, e portanto as pessoas nem comentam por que sabem que se falarem isto - "tá uma bosta!" o EMO EMA aqui vai ter um colapso nervoso, como a boa bichinha que é.

E o mais engraçado(eu tenho que achar isto engraçadamente irônico ou sarcástico)Um dos poucos que comenta, o Robot Max, fez um comentário jocoso outro dia, sem maldade nenhuma, em um de meus posts, mas que me gerou um ataque de raiva ontem. Comentei com ele, numa confissão raivosa, ao que recebia a resposta, "porra, nem vou comentar mais então."

Claro. Como fazer algum comentário a uma pessoa que reage de tal forma? Melhor ficar calado. Melhor olhar e fingir que não viu. Ou melhor nem olhar. Algo assim.

Ai ai. Creio que irei desativar isto em breve. Creio que pessoas idiotas como eu não têm o direito de fazer nada, se só esperam que sejam adulados, elogiados, que falem sempre bem, que agrade a tudo e todos. Tudo e todos. Gregos e Troianos. É possível isto??

Claro que não. Tudo o que quero, tudo que anseio são fantasias cheias de bala de goma, plumas e paetês, sendo que o mundo real NÃO é assim.

Alguém que já tenha pensado em se atirar do prédio em que trabalha por que alguém disse que um rabisco estava mal-feito, não merece viver, não merece tentar fazer algo. Não DEVE tentar fazer algo. Deve calar-se e deixar que os homens, as pessoas normais existam e trabalhem. Deve para de encher o saco delas.

Ou seja: adapte-se ou morra, seja eliminado. Lei natural. Darwin. Eu não sou assim, então tenho que ser eliminado. É muito, mas muito patético tudo isto. Sou um erro, uma aberração.

Veremos o que acontece. Mas não garanto.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Vregonha. Parte um.

Alguns temas ficam mais em minha cabeça do que outros. Não são bem temas, pra ser sincero, mas coisas recorrentes. Assuntos que me intrigam, neste caso de mim para mim. E no caso, andei pensando sobre a vergonha, o medo de se expor. De mostrar coisas que faço.

Andei pensando nisto estes dias, desde que meu amigo robô outro dia veio a ter comigo dizendo que havia entendido em parte este meu dilema, quando pela primeira vez se viu assaltado por esta insegurança, depois de ter criado uma música. Bateu a dita cuja, a apreensão de mostrar pros outros. É, pra quem nunca sentiu tal coisa, de fato, não é uma experiência agradável.

Eu sei bem o que é isso, mas não sei precisar o motivo. Imagino muitas coisas, que vão desde alguns traumas enraizados muito tempo atrás até simples empáfia, vaidade, orgulho, e quejandos. Por que eu tenho auto-crítica ferrenha o suficiente para me ferrar nestas horas; mas mesmo assim, acho que é mais uma mistura de tudo.

Eu sempre, sempre fiz o que faço, ou seja, rabiscar. Desde que me lembro, eu passava horas e horas rabiscando papéis quando estava sozinho em casa, ou na escola, ou seja lá onde. No princípio nem me importava com nada, se alguém visse tava de boa. Nunca tive problemas. Creio que com o passar do tempo, alguma espécie de ambição cresceu em mim, não sei bem dizer. Eu queria ser foda no que fazia. Acho que foi algo assim.

A medida que o tempo passava, eu ia tentando melhorar, apesar da primeira desavença que podemos pessicologicamente chamar de "trauma" ter ocorrido quando eu tinha uns 9 ou 10 anos de idade, época que a criança aqui havia decidido que queria ser desenhista, como mandavam meus genes maternos e de meu avô materno. Mas houve alguém em minha família que se apressou em mandar um banho de água fria em mim, "essa porra não dá dinheiro, largue essa merda". Isso eu com 10 anos de idade.

De fato, dizem que devemos ter cuidado com o que falamos com crianças. De fato. Eu me lembro vivamente desta minha primeira decepção, do dia, da hora, tudo. Talvez a tal ambição que tenha me referido antes tenha vindo deste acontecimento, e nem possa ser chamada de ambição de fato. Mas sim uma teimosia, uma...necessidade de provar para a outra parte da discussão que ele estava errado. Que eu poderia fazer a diferença. Não sei se é isso, mas creio que foi um agravante. Os Burians sempre foram teimosos. Mesmo que tal parte não seja propriamente um de nós(Burian), dele faço parte, por assim dizer. Infelizmente.

A medida que fui crescendo, eu fui meio que acreditando no lado errado da coisa. Eu não evoluía, travei. Apesar de um lado meu querer continuar a desenhar, eu sentia que a pessoa estava com a razão, que eu realmente tinha que abandonar algo que não dava dinheiro e....dava tanto trabalho para resultados medíocres a meus olhos.

E a olhos de outrem, é verdade.

No segundo ano do segundo grau, eu desenhava histórias toscamente desenhadas que envolviam meus colegas e os professores. Eu me divertia com aquelas porcarias. Mas sabia que não era o melhor que poderia fazer: tentei levar meu desenho para outro lado, um pouco mais "maduro", mas falhei bem em continuar a prosseguir. Pois o desenho continuava o mesmo, apesar das histórias terem ficado maiores. Cheguei às 43 páginas ilustradas. Aí, no ano seguinte, após ter definitivamente desistido de entrar em uma faculdade de Belas Artes, após ter desistido também da medicina, eu comento o caso com um amigo meu, "desenhei uma história de mais de 40 páginas". Ele: "nó, doido. Mas é naqueles desenhos fudidos seus?"

Pra quê. Não quis nem mais saber de nada. Havia uma pequena porção de mim que queria ir de novo para a tal das Belas Artes, mas aí optei pela biologia. "Chega dessa merda. Vamos à realidade."

A realidade foi que anos depois, eu me encontrava num estado de depressão icomensurável. A biologia havia sido um fracasso completo. Eu já estava tendo que trabalhar com contabilidade ara ter algum dinheiro, ainda que miserável. E neste inteirim houve o outro grande baque. Eu, por algum motivo desconhecido, seja pela teimosia latente em mim desde aquela remota discussão aos dez anos de idade, ou seja lá por que - eu estava novamente tentando fazer alguns desenhos. Nesta época, eu havia feito minha primeira tatuagem e estava empolgado com a coisa. E em minha ingenuidade imbecil, havia arquitetado um "plano".

Eu mostraria para o tatuador que eu era bom no desenho, seria contratado para ser seu ajudante e disso viveria. Hu-há. Fácil assim. Pus-me a desenhar novamente, nos horários "vagos" da empresa, ou seja - nas horas normais de trampo que não tinha absolutamente nada para fazer, apesar de ter perguntado a todos os "superiores" ao meu redor.

Evidentemente, deu tudo errado. O cara odiou os desenhos, e fez questão de me reduzir a um menos que nada enquanto me dizia porquê. E no trampo, fui de certa forma caluniado para os chefes - "ele não trabalha, só fica desenhando". Tive que me explicar para o dono da empresa. Deu tudo errado, de fato.

Depois dessa, mais uma vez tornei à realidade - sou um bosta e desenho é um cu. Algo que não serve pra nada, só rende dissabores e faz falta quando não o faço. Grande merda isso.

Bem, irei continuar a epopéia amanhã. Tenham um tiquinho de paciência, ou tenha um pouquinho de paciência. Parece que só o Robô tem lido ultimamente minhas muralhas de lamentações. Enfim, fazer o quê.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Canseira.

Tem dias que estamos mais cansados que outros.

Acordei já cansado de estar cansado, e fui cansado para o mijatório matinal, que como diria um amigo meu, faz melhorar bastante qualquer manhã. Mascontinuei cansado, e fui fazer o restante das coisas cansado. Depois, muito cansado, fui para baixo, arrumar outras coisas, cansando-me mais um tanto. Tomei o café sem café, cansando-me de estar cansado, e logo em segida rumei cansadamente para o ponto de ônibuso, onde fiquei ali me sentindo um pedaço de grama, enquanto aguardava cansado a chegada do autocarro, que logo veio e portava duas canseiras de profissionais do trânsito urbano, os quais me odeiam, pois havia mandado um deles tomar no cu dias antes, e o trocador tomou as dores de seu amante. Canseira.

Sem muita paciência, segui cansado para o centro, onde fui à padaria, apanhando dois pães na cesta e os entregando cansado para a atendente que também tinha cara de sono; para o caixa, é necessário pagar o pão nosso de cada dia, não com o suor da canseira, mas o vale refeição do chip.

Esperar, mais um ônibus, este amarelo. Todos com a mesma cara. Mesmo cansaço, imagino. Não: a canseira dos outros deve ser diferente em algum grau ao menos, da minha canseira. A minha é por não conseguir fazer algo. A deles é de outras fontes, talvez semelhantes, mas nunca iguais, imagino eu.

Cansado, cumprimento o motorista e o trocador do amarelo, uma vez que estes eu conheço bem e me simpatizam, não me abandonando no meio da rua enquanto poderiam muito bem abrir a porra da porta. Foda-se. Estou cansado de ter que sentir raiva por idiotas, mas estou cansado de saber tais teorias e mais cansado ainda de saber que a mim não se aplica tais metodologias. Saco.

Aqui, chego, verifico cansadamente que não está na hora legal, e apanho os pães, passo-lhes manteiga demoradamente - cansadamente - e bebo uma água para ver se me animo. Nada. Água na cara, portanto. Nada. Canseira. Saco. 7:45. Dedo no leitor, suba escadas. Estou cansado demais para esperar algum elevador. Andares, degraus. Um. Dois. Foda-se. Sexto andar, contabilidade.

Canseira.

Sala. Clic, liga. Computador. Café. Mais café. Café. De novo. Repita. Café. Café.

Blog. Blog? Sobre o que, hoje. Sobre a canseira. Cansaço.

Contabilidade. Cu de saco dos infernos.

Preciso de férias.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Mudãças.

Difíceis estas horas, em que somos obrigados a ver as coisas com outros olhos, com outra visão. Horas em que somos literalmente surpreendidos pela vida. Aconteceu com minha irmã na data de ontem: o afamado bilhete azul foi-lhe oferecido por chefas que não mediram mesuras em afirmar que "você não possui o 'perfil' compatível com nossa empresa e blah blah blah", merdas do gênero, coisas que todos ouvimos nestas horas. Maravilhas da hipocrisia humana.

Como eu mesmo afirmei, que seja para melhor, ao menos. Falei esta mesma frase para outro amigo cuja namorada se tornou ex, novamente: que seja para melhor. Por vezes, não enxergamos como certas perdas são mais que necessárias. O emprego era uma merda; a namorada de meu amigo uma vagabunda que achava que o havia decifrado e que o tinha na coleira, por ser pessicóloga. Mau negócio se ver livre de tais coisas? Não.

Ao menos para nós, os "de fora" né. É o outro lado que esquecemos nestas horas e que só nos lembramos quando vivenciamos tais situações. E por mais fria e racional que seja uma pessoa, todos sentimos o baque na hora que acontece. E é difícil tentar manter uma perspectiva otimista nestas horas de negrume mental. Difícil lembrar-se das merdas que passamos por conta de tais coisas eo tanto que será bom se ver livre de tais empecilhos.

A não ser, claro, que você seja um robô, como descobri que um de meus amigos mais próximos o é. Eu não sou, Marcela não é, o Gandaia não é. O Max é. Nuh. Se é. Mas, como casos como o dele são à parte da realidade contemplada em todos os outros participantes desta narrativa, eu nem me preocuparei em estender demais qualquer discussão sobre o assunto; ao menos não hoje.

Enfim, que a mudança tenha vido para melhor, como re-afirmo. Talvez o Gandaia ache uma mulher menos mala que a anterior, talvez Marcela encontre um emprego menos horrível que o anterior. Em ambos os casos, creio não ser tão difícil, uma vez, que - ao menos em minha opinião - eles aguentaram tais merdas até demais.

Boa sorte para todos que porventura se encontrem diante de tais situações...E que as mudanças venham, para melhor.