quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Nada. Ninguém sabe.

Ninguém sabe nada.
Não somente no título, mas em tudo. Tudo mais. Tudo menos.
Ninguém sabia que existia
além da visão
algum local além da linha reta
dos mares, dor bares,
dos lares.

Lares alheios, onde várias e várias noites ali estive,
ali estive. Ali existo enquanto nada, enquanto tudo
tudo mais
se esvai em cinzas e tempo, tiques e taques,
cliques e claques, ninguém. Sabe. Nada.

E sempre, sempre, soube eu tudo!
Soube eu que ali não estava
que ali não deveria estar,
que nunca ali deveria eu estar,
mesmo que ali estivesse,
sempre estivesse
sempre soubesse.

De que saberia eu, se soubesse o que sei agora,
agora, em estas horas a mais tardia,
a mais arredia, a que mais irradia
nada
em tudo.

Que saberia eu se soubesse
o que hoje saberia se soubesse
o que deveria eu saber quando
precisava de fato saber? Que faria
eu
se soubesse o que deveria saber?

Que faço eu, eu que sei o devo fazer?

Que faço eu?
Que faz você, em sua redoma de alheamento
- não é de minha a parte
não é daqui que me interesso
não é aqui que me interessa -
que fazes tu, com sua inútil vida
inúteis opiniões
inúteis conselhos, que fazes?

Eu, que aqui nunca estive, sempre estarei a procurar
este mesmo local, este mesmo lugar,
estas mesmas paragens, estes mesmos ares.
Eu que não sei de nada, de nada sei enquanto aqui
não estou, não estarei, não estive

Não,
não agora, não depois,
mesmo nunca, não.

Que aqui me deixem, que aqui me enterrem, se assim o for,
se assim o valer, se assim
tiver de ser.

Que aqui exista apenas eu,
eu e minhas coisas,
eu e meus nadas, que ainda assim para mim
são tudo.

Que aqui, apenas aqui,
eu possa existir,
sem ter que ser alguém,
sem ter que ser algo,
além do que não sou.

Que aqui, apenas aqui,
eu possa ser eu,
eu possa ser aquele
que com tudo se preocupa
mas que com nada se relaciona.

Aquele que, não estando aqui
sempre estará ali, esperando,
inventando, existindo,
sendo
o que não quiseram que fossem.
Fazendo
o que nunca quiseram que fizesse.
Existindo
além da mera existência alheia.

Mas, disso o que o sei eu?
Nada.
Alguém, será que alguém sabe?

Nada?

Ninguém sabe nada.