terça-feira, 30 de novembro de 2010

Consumo.

-Eu quero.
-Eu sei que o senhor quer! E nós temos. O que o senhor quer?
-Eu quero um trailer. Quero saber o quanto custa um trailer??
-Não sei, senhor. Aqui vendemos artigos para o lar.
-Mas eu quero um lar! Um trailer é um lar.
-Não necessariamente senhor. Eu moro num apartamento de dezoito quartos e não o considero um lar.
-O quê? Então és rico!
-Não, senhor. Eu sou um dos quartos.
-O quê? Como assim!
-Eu sou uma dessas pessoas que é apenas um quarto do que poderia ser.
-Por sua infâmia, condeno-o a dez deméritos.
-Honra ao mérito! Eu?
-Não, demérito, sua anta!
-Eu me chamo Custódio, em verdade.
-Mas que diabo! O que o senhor quer, afinal de contas!
-Já disse, um trailer.
-Não temos, já disse.
-Mas que meeeeeerrrrrrr...cearia mais vagabunda, esta.
-Não é mercearia!
-Não se vende aqui, artigos para o lar??
-Sim. Mas não necessariamente somos mercearia!
-Eu sei. Já me disseste que és um mero quarto.
-...
-Diga.
-...
-O quê??
-Quartos não falam.
-Pare com isso, seu retardado. Acabastes de falar.
-Céus! Um quarto falante.
-Onde? Onde??
-Aqui, bem à sua frente, seu trouxa.
-...
-O quê? Que foi agora?
-...
-Diga logo!
-(Trouxas não falam)
-Prá meeeeeeeerrrrrrrrr...da, seu merda.
-(Eu não falo.)
-Você está falando! Só porque está entre parênteses, não quer dizer que estejas mudo.
-(Parênteses entre parênteses?)
-Pare com isso! Queres apenas me confundir, cão imundo.
-Au.
-O que foi agora?
-Sou um cão. E imundo. Au.
-Au é o símbolo do ouro.
-Quer dizer que sou feito de ouro??
-Ouro! Ouro! Venha cá!
-Se desafaste, seu sacripanta!
-Ouro!
-Pra merda, sai de perto de mim!
-Ouro!
-Não quero correr!
-Ouro!
-Saco, lá estou eu, correndo.
-Ouro!

(Nisso, todos os demais consumidores, ao ouvir as bravatas sobre o metal doirado, saem em procissão, correndo atrás do Consumidor.)

-Ouro! Ouro!!
-Não sou de ouro, caralho!
-Queremos ouro!!

(O Consumidor se vira de repente, esbaforido. E contempla a Turba com desprezo.)

-Tristes tempos, estes. Em que todos desejam o que não podem ter. Em tempos imemoriais, costumávamos trabalhar noite e dia, apenas para conseguirmos mero direito de mijar no muro. Eu me lembro, que em 1773, eu fui almirante regional de...

(CLANG! Um dos Consumidores acerta o Consumidor com um cano bem no meio da testa.)

-Ouro!

(Todos se lançam po cima do corpo do Consumidor, sobe aquela poeirinha clássica que tudo esconde, e depois de um tempo, a nuvem dissipa, restando apenas uma poça de sangue e tripas espalhadas no chão.)

-Mas que enganação! Ele não era feito de ouro bosta nenhuma.
-Bosta? Tem muito aqui, no interior dos intestinos.
-Seu porco.
-Oink.
-Oba! Bacon! BACON!
-Mas que merda! Oink!
-Bacon! Bacon! Bacon!

E assim, prossegue a humanidade.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Quá-quá-quá, 444.

Sair, levantar-se do mar de gelatina que encobre todo o ser, de domingo para segunda. Vencer a espessa camada de gel que existe entre a cama e o ar, entre as cobertas e o descoberto, tarefa quase impossível em situações assim, em dias assim, em momentos como aquele. Como despertar um morto-vivo?

Muitas coisas aconteceram, mas nada do que aconteceria em dias normais, em dias não-normais, nada de mais, nada de menos. Existir, apenas pela música e por mais nada, outros vícios mais terrenos nem foram visitados, vencidos pela relutância de novamente ter de recomeçar. Enfim, continuar a ser o que se é; em formas assim ou assadas, em forma de música, não linhas, não plugado, ligado, desligado: um violão, um microfone e mais nada. Nada além de 2 acordes e muita imaginação?

Ver e rever, subir e descer. Grave do agudo, cromaticamente falando. Pode dar samba? Não! Pode dar roque! Sempre a pedra, sempre a pedra. Sair? Daqui para ali, lá longe? Nem pensar. Fico, diga ao povo que fico, permaneço. Esteja. Assim se almeja, assim se deseja. Ficar e ficar, sem saber estar.

Acorde, levante, vá para seu lugar, pense n oque fez, no que não fez. Fez alguma diferença? Faz alguma diferença? Guerras, existem lá fora, onde eu não moro, onde nunca nem fui, onde não desejo ir. E lá dentro, um armistício, paz forçada a custas altas, elevados emolumentos, taxas, perguntas, tantas perguntas. Respostas? Em falta; volte talvez daqui a seis meses. Seis anos. Seis décadas. Talvez centênios, milênios. Nem sei.

Acordar, vencer a gelatina que nos prende às cobertas. Ter de desistir de todos os oníricos designíos, em prol de uma vida que nem sempre vale o que anunciam, nem sempre é o que não deveria ser, mesmo sendo. O que não é. Não foi. E talvez até seja.

Acordar, blob. Acordar, blec. Estique-se sobre a gosma do dia, do momento. Da segunda, primeiro dia até a próxima sexta, até a próxima libertação. Qualquer que seja ela.

Derrubar café quente por cima da geléia, por cima da baba gosmenta que nos prende ao pé da cama, ao travesseiro, ao outro mundo que adentramos todas as noites mas que nem sempre queremos sair pelas manhãs.

Ainda assim, levante-se. Hás de ganhar o dia, ganhar a vida! Neste dia, ao menos.

Levante-se. Levante-se.

Ou aperte o soneca mais uma vez...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Fim.

No final do túnel, havia a luz.

Negro túnel, coberto por estranhas ranhuras em suas paredes metálicas. Olhava e olhava, minutos e minutos se passaram, mas lá do fundo, nenhuma luz saía. E ao redor, naquelas paredes que pareciam cada vez mais se fechar, nada acontecia. O tempo não parecia estar correndo.

E apesar disso, algo dentro de si sabia que deveria estar ali por mais de hora. Mas tal era o estado prostrado que se encontrava, não saberia dizer com precisão quanto tempo ainda restava, quanto tempo passara. Tempo, tempo. Do fundo do túnel a luz emanaria, libertando-o para sempre de tudo, de todos. De todos? De si.

Lá fora, inexistência por todos os lados. Névoa branca cobrindo as montanhas, rasas montanhas, pequenas elevações do solo. A neblina escondia tudo, todos. Quanto tempo ainda passaria até a luz aparecer? Não saberia dizer. Enevoada era sua vista, tomada por tantos compostos, manufaturados por máquinas, embalados por máquinas, engolidos por um ser humano. Não tão humano, não tão ser assim.

Aparentemente.

O foco se dirigiu para pequeno parafuso no corpo metálico. Mais para o lado, madeira, e outro parafuso. Smith? Wesson? Estranhos dizeires, escritos. Impressos na máquina de projetar chumbo, pequenas porções de morte. Não pensava direito, não conseguia pensar direito. Lá no final estava a luz, o fogo, aguardando o estalido da mola, o impacto da espoleta. Clic. Bang.

Onde estava a luz naquele dia, naquele negrume raiado? Pesado, em sua mão, estava aquele artefato. Não matarás. Não mataria, apenas...liberaria. Liberdade. Para ser nada. Para abraçar o que sempre fora, nada, noves fora, nada, nada.

Tudo passava, tudo passa, diziam. Não. Nada passava. Nada passou. Nem mesmo o tempo, agora também deformado pela ação de tantos fármacos. Dê o melhor de si. Faça por onde. Vozes, estranhas vozes, já não saberia dizer se era efeito de um ou de outro, de sua cabeça ou do coquetel de coisas, garrafa de coisa, quebrada, cacos por todo o chão, naquele canto.

Músculos oftálmicos cansados desviaram o olho para o chão, para o canto onde os cacos jaziam. Que sujeira. Iriram achar uma bagunça miserável, lhe xingariam, amaldiçoariam seu cheiro, imprestável, apodrecendo. Tempo, tempo. Tic tac, tic tac. Tudo pesava, mesmo a morte em sua mão. A luz, deveria achá-la. Se não podes vencê-los, junte-se a eles. Mesmo? Não.

Não, não. Jamais.

Pesado era o cabo, pesado o gatilho. Onde mesmo conseguira aquilo? Roubara, de seu irmão que havia roubado de outro familiar, esquecido pelo tempo, enegrecido pelos óxidos de ferro. Lá no fundo estava a luz, lá no fundo estava. Clic. Bang. Retesar antigos e carcomidos mecanismos, em amolecida mão, era uma tarefa demasiado dura. Mas era necessário. Não sabia se iria aguentar muito tempo, mas tinha que tentar, tinha que encontrar.

Contração, lembrou-se de processos musculares, fibras, actina e miosina, sarcoplasma. Ecos, ecos numa imensidão vazia mas tão cheia de nada que tudo ali era apenas um eco, ainda mais agora. Força, bombas de sódio! De potássio! Potássio. Do Kazakistão? Daquele país onde um bigodudo cujo nome nem mais conseguia fixar em sua mente, havia...feito coisas, mas era tudo um filme. Uma mentira em série.

Força.

Clic.

Dizem muita coisa, dizem estar a luz lá no fundo. Dizem que sua vida passa diante dos olhos, mas o que via era apenas o túnel metálico, as raias que conduziam ao plúmbeo projétil, incisivo instrumento de aniquilação de idiotas que não sabem viver, aparentemente. A mola soltara, o cão se movimentava, martelo final com o qual fixaria o último prego naquele paletó de madeira que não existia, além de seu corpo, além das tábuas do chão, dos cacos mais adiante, da efusão química que naquele corpo circulava, naquelas veias. Um ou outro, a luz ou a corrente de tóxicos, lhe levaria dali.

Clic.

É muito rápido. Não dá para se pensar em nada. Não se consegue rememorar nenhuma lembrança, não existe nenhuma epifania num átimo de tempo feito aquele. O cão se aproximava, em milionésimo de segundo, mais e mais, para a fonte de luz e de escuridão. Clic.

O que mais queria? O que mais encontraria, naquele momento final? A redenção, a danação eterna, o condenamento por suas ações, por sua fuga? Não poderia saber, em menos de um segundo. Clic, era tudo que poderia ter ouvido, tudo que ouviu antes. Da luz. Do fogo.

Muito iriam dizer, muito iriam xingar, mas nada iriam saber, sobre tudo que naquele eterno eco, naquele vazio absolutamente cheio que ecoavam vozes e fatos, memórias e recomendações, assim e assado, isto e aquilo, nada, nada. Nada iriam saber. Muito poderiam dizer, mas nada iriam descobrir, porque será.

Clic.

Já era muito tarde agora, bang.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Descobrida tão óbvia.

...E então, de repente, o Noiado fez uma descobrida, descoberta, coisa assim, coisa óbvia, que sempre esteve à sua cara, bem ali, no seu nariz. Claro, claro. Era óbvio a todos.

O Noiado é um nerd. Sempre foi um nerd. Sempre será um. Sempre, sempre.

E o que é ser nerd? Não pertencer ao povão, aos frangos? Em parte. Irremediavelmente, bem sabe ele que faz parte do Grande Galinheiro, inexoravelmente. Mas, sempre se sentiu à parte de tudo aquilo, de todo este caos que o circunda, coisas que nunca entendeu nem nunca quis entender, apesar de ainda assim tantas questões, tantas inúteis indagações tenham circulado em sua cabeça, por toda uma vida.

Por dois anos, o Noiado tentou se negar como nerd, embarcando nisto e naquilo, mas sem ver sentido nenhum em nada do que fazia. Ele sabia que algo fazia falta. Algo com que se identificou tanto, mas tanto, que o fez sair da vida real, por assim parecer, para embarcar em um outro mundo. O mundo não-real dos nerds. Em especial, dos nerds qeu, como ele, são viciados em certa droga, certo escapismo denominado diversões eletrônicas, video-games, joguinhos. Joguinhos. Curiosa e malvista alcunha esta, condenada por todos os outros seres pensantes(ou nem tanto) que habitam este planeta. Condenada mesmo por outros tipos de nerd, aqueles que deste tipo de "nerdice" nunca gostaram.

Ali ele se reencontrou. Por mais estranho que possa parecer a todos os outros seres, frangos ou nerds não-electrônicos. E reencontrou sua tribo, seus amigos que são como ele, e não tentam negar. Ele, que nestes dois anos rechaçou com veêmencia tudo isto, em vã tentativa de se encontrar e sempre se perder diante do caos do mundo e de suas estranhas regras, teve de engolir tudo que havia sido dito. Tudo.

Bem sabe ele que as gentes que o conhecem bem irão menear a cabeça diante disto, mas bem sabe ele também que os verdadeiros amigos são aqueles que o entendem. Que continuam sendo seus amigos, mesmo que ele retorne ao antigo vício.

E ele sabe que não é o único a se valer de tais artifícios para escapar, ainda que momentaneamente de todo o absurdo que o circunda. Sabe que mesmo os frangos se isolam em suas novelas, suas partidas de futebol, suas fofocas. E os outros nerds se afundam em livros, em sites da internet, em imagens e mais imagens de bobagens gratuitas, em pornografia, em drogas menos legais e mais sintéticas. Todos têm este direito. Todos.

E a vida prossegue. Adictos, somos todos. Diferentes formas de fuga, encontramos todos. E sempre haverão diferentes escapistas condenando o escapismo alheio. Sempre assim, sempre assim.

A vida prossegue.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Músga, parte dois.

Pensei e pensei a respeito do tema, tentei elaborar alguma lista mais ou menos certa, mas creio que é uma tarefa meio que inexequível, ao menos sei que não faria justiça à todo meu universo musical que faço uso para ilustrar auditivamente falando, minhas emoções diárias. Então, achei melhor apenas fazer um relato sobre algumas músicas e suas associações.

Já afirmei antes, e volto a dizer, infelizmente me parece que a raiva é a emoção mais bem manifestada por pessoas de meu clã, esses malditos Burians, tchecos tortos transplantados para terras tupiniqunis. E se algum dia ouvires em minhas caixas sonoras estereofônicas canções da banda Soundgarden a todo volume, fiques avisado: O clima é de raiva, da mais absoluta possível. Caso esteja ouvindo músicas como "Ty Cobb", "Blow Up The Outside World", "Fell On Black Days", podes saber que o bicho está pegando mesmo. Agora, caso "The Day I Tried To live" esteja no repeat, aí aconselho manter distância, mesmo. É impressionante como uma música consegue ilustrar de forma tão acurada o que sinto em momentos de tremenda fúria. Podem categorizar a voz de Chris Cornell como sendo visceral, ou simplesmente gritada mesmo, não me importo. Já foi mais de uma vez que fiquei afônico de tentar acompanhar a letra de tal música.

Outra banda que faz-me experimentar uma certa catarse de raiva, é Alice In Chains, mas esta banda, ao contrário de Soundgarden, consegue ter músicas mais amenas que escuto em momentos mais normais de meu dia a dia. Das bandas de Seattle, boa e saudosa fase dos anos 90 que tanto curti, estas duas são as que mais se sobressaem ainda quando o assunto é ter raiva.

Outro elemento muito presente em esta personalidade tão pessoal, é a melancolia, a tristeza, evidentemente(que surpresa, titio Buriol.) Existem algumas experiências sonoras que costumo reservar para momentos em que o bicho pega para este lado. Existe uma música, "Reverse Soundtrack", da conhecidíssima banda Something for Kate(Goddamned fuckin' nice aussies. Highly recommended), que já me fez ter ânsias de choro em público, em pleno ambiente de trabalho, anos atrás. Desde tal época, só a escuto em momentos de profunda depressão. Mas acredito que nenhuma sequência musical me remeta mais a tristeza do que as primeiras seis músicas do segundo disco daquilo que considero uma moderna ópera do roquenrou; falo de "The Wall", Pink Floyd. Quando o disco chega em certos versos de "Nobody Home", é meio que difícil para mim segurar o choro, se o dia estiver muito mas muito deprê. As letras das músicas que integram este "movimento" do disco são a definição definitiva bem definida do que considero a mais absoluta derrota perante o ocaso da vida...

Músicas para momentos alegres...(Alegria? O que ser isso?) Blah. Sim, existem momentos que me sinto meio abobalhado, meio que ululante. Nada melhor que coisas mais animadas. E sim, existem músicas deste tipo em minha imensa coleção de mp3Z: Apples In Stereo: escute o disco "Discovery Of a World Inside The Moone" e veja do que estou falando. Aquilo ali eu não consigo ouvir se não estiver completamente retardado de animação - acontece, mui raramente, mas acontece. Existem músicas de outra banda, esta denominada Spoon, que me fazem até quere dançar feito um idiota, caso o momento esteja bom; o disco "Girls Can Tell" é um exemplo clássico disso. Músicas com letras mais intensas, não necessariamente alegres por si, mas com melodias mais "dançantes", podemos encontrar em discos de Jane's Addiction. Escute "Been Caught Stealing" e "Stop!", por exemplo. Uma míriade de canções estupidamente alegres da banda que mencionei ontem, GbV, também podem ser ouvidas em momentos de extrema descontração.

Músicas para momentos, raros momentos que eu só consigo definir como "pós-orgásmicos", aqueles momentos em que se alcançou uma meta, conseguistes alcançar o inalcançável, deu tudo certo e no final você ainda ganhou a mocinha ou mocinho, seja lá o que for, aqueles raros momentos que tudo dá certo e a esperança no futuro está em alta. Sim, existe uma trilha sonora para estes raríssimos momentos. Trata-se de músicas que me definem enquanto pessoa, enquanto este ser humano muito estranho que habita esta vida, este planeta.

Tão raros são tais momentos, quão raras são as músicas que adotei para escutar nestas horas. Consigo me lembrar apenas de duas. Uma delas, é de minha banda inglesa preferida, daquelas raras músicas que costumo escutar e ser completamente arrebatado logo na primeira audição. Trata-se da canção "Duress", da excelente boa ótima banda Swervedriver. Podem me falar o que quiser - que é longa, que a letra não é exatamente alegre, que isto e aquilo - Dane-se. Não consigo definir uma música cujo impacto tenha sido tão fulminante e revelador para mim. Acho que nunca me esquecerei do momento que escutei-a pela primeira vez. Posso afirmar que, se eu pudesse casar-me com uma música, seria com esta.

A outra, não é tão significativa para mim quanto Duress, mas é igualmente certa para me definir musicalmente; trata-se de "Fripp" da banda Catherine Wheel. Eu adoro tal música, e só costumo escutá-la em tais momentos, raros momentos.

Em verdade, sei que tal compilação de nomes e bandas é injusta para o panorama musical que frequenta meus ouvidos, pois bem sei que estarei esquecendo de várias musicalidades no processo de inventar tal textículo. Mas, no exercício quase diário de aqui comparecer e dar meu pitaco em assuntos tão pessoais como este, é o que saiu. Bem sei que sou um maldito roqueiro de meia-idade e que é tendencioso a generalizar seu gosto em bandas de língua inglesa. Já escutei muitas acusações do tipo, "você só gosta de coisas americanas"(não é verdade) e "porque não escutas coisas brasileiras" blah blah blah.

Respondo da seguinte maneira: por dois motivos: um - o que escutei não fez minha cabeça e dois - porque tenho preguiça. Tá, podem voar novas acusações. Não me importo muito. Não escuto isto ou aquilo porque é "em inglês."

Somente escuto o que me faz a cabeça, e não aquilo que me faz parecer "cult", por assim dizer. E sinto ter de usar tal exemplo, já pedindo perdão aos que realmente curtem a coisa: eu vejo muita gente que escuta bossa-nova apenas para parecer ser cult. E abomino, muito mesmo, tal comportamento. E acontece não somente no campo musical. Aposto que alguns de vocês conhecem alguém que leu aforismos de Nietzsche, ou leu "Zaratustra" e se diz intelectual. Sendo que nem sequer entendeu nada do que leu.

Eu tenho imensa preguiça deste tipo de gente.

Em suma, por hora é isso. Tenho que trabalhar, meu trabalho, ganha pão, de fato.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Músga, parte um.

Música, nos zuvido. Pessoas como eu, têm a música como algo diferenciado, essencial para um dia a dia menos opressivo, menos brutal. Dizem que gosto não se discute; não é bem verdade, pois todos discutem gostos alheios. Talvez esta versão mais correta do velho deitado seja mais adequada: "gosto não se discute, só se lamenta." Eu sei que não adianta muito discutir tais coisas, pois a variação das opiniões das pessoas varia de tal forma, que é de fato improdutivo ficar discutindo se alguém curte Beatles e não gosta de Rolling Stones. "Mas como você não gosta dos Stones? É rock clássico também!"

Não importa. Não faz minha cabeça, por assim dizer. Assim como Guided By Voices pode, para mim, parecer coisa de gênio, para a maioria das pessoas não passa de uma banda de garagem avacalhada. Não adianta, discutir isto não leva a nada.

Mas concedo que faço parte das pessoas que realmente dão um valor especial para a música em meu dia a dia. Acho que não me lembro de sequer um dia que não tenha escutado ao menos alguma canção de minha (estranha) preferência. E vou além. A música tem tamanho peso, tamanha importância em minha vida, que costumo associá-la a outras experiências. A música reinante em um ambiente legal, num momento bacana, por exemplo. Se sei que música é, ela fica para sempre associada a um momento mais aprazível, logo, ela se torna trilha sonora obrigatória para futuros momentos semelheantes àquele em que primeiro a escutei.

Não é uma prática normal, devo admitir. Ao menos, nunca ouvi pessoas que não valorizem tanto o peso da trilha sonora de seus dias, procederem de maneira análoga à minha. E pode ser uma prática meio que chata, por vezes, também. Existem músicas que gosto muito, mas que hoje em dia estão irremediavelmente associadas a maus momentos, e portanto, não são mais canções que escuto com a frequência que deveria. Sempre fica aquele estigma de estar irremediavelmente atrelada a uma má memória. Que maravilha.

Aspectos maravilhosos de ser doido? Talvez.

Tenho me deparado com algumas listas nos blogs que frequento(sim, olho para O Símbolo e o senhor PAR), e penso em compilar alguma, mas sempre me deparo com esta questão de discussão acerca de gostos, tão frequente, nem sempre útil.

Mas, "para lutar contra o pragmatismo e a horrível tendência à consecução de fins úteis", em dias tão tediosos, chuvosos, como temos tido "acá" nesta província interiorana do Brazil tão Brasil, tudo é válido para se combater o cinzento tédio.

Creio ser-me impossível elaborar uma compilação realmente adequada sem pensar muito no assunto, e como meu chefe já chegou e já me olha de soslaio, creio ser melhor continuar o assunto no dia de amanhã.

Sendo assim, boas salenas a todos os cronópios, famas e esperanças por aí. Eu sou um cronópio. Quem é você?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Necrologia.

Adicto que nada.

Qual é a denominação para aquilo que não mais sente, nada?

Zumbi. Deve ser isso.

Morri mas ainda não percebi.

Nem mesmo a mais infalível ilusão de vida a ela me devolveu.

Comofas////////?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Retorno.

O Adicto anda pelas ruas, anda pelos lugares, vê pessoas e gentes por todas as partes, mas não Pessoas, muito menos Gentes. Ele sabe que deveria encontrar, sabe que deveria achar, mas não sabe onde. Procura e procura, mas tudo lhe faz perguntar, questionar. Sente o retorno se aproximar, o retorno, a proximidade dele, e se assusta. Com o tanto que deseja, precisa retornar.

Para onde? O Adicto é adicto, é viciado. Não precisa de uma razão, um motivo, se assim apenas o fosse. Mas não é. Ele sabe de sua razão, sabe de seus motivos. Tenta e tenta se manter distante, mas sabe que não dá mais conta. Infiel, dirão uns, maluco, dirão outros, e todos o apedrejarão. Todos, menos seus companheiros de vício, que ele sabe bem onde encontrar, assim que o retorno acontecer. E deve acontecer, vai acontecer, bem sabe ele.

O tempo passou, anos passaram, longe. Mas em verdade, ele sabe que não saiu do lugar, não encontrou algo que só o retorno pode oferecer, naquele lugar, naquele mundo que só ele sabe acontecer, ali, somente ali, onde ele sabe que deve se encontrar. O Adicto sabe que talvez, porventura, não devesse agir como tal, mas está cansado. Cansado de tanto tentar, nunca conseguir. Tanto olhar mas nunca encontrar. Adiantará retornar? Conseguirá, de fato, retornar? E se depois ali não mais se encontrar, conseguirá ele voltar?

Não sabe. Não pode saber. Repire fundo, senhor Adicto. A coisa irá engrossar, o tempo irá passar, a vida prosseguirá, por todos os lados, por todos os lugares. Mesmo para ti, que retornarás. Que está retornando, mesmo sem saber se deve, se pode. Mas Adictos sabem: eles se afastaram, mas nunca dali saíram. Eles sabem, e o Adicto não é diferente. Ele sabe. E teme. Mas todos se cansam. Todos aqueles, que tentam encontrar mas não acham, sabem. Sabem que o tempo passa e as coisas deveriam acontecer, mas não acontecem. Não àqueles que são como ele. Adictos.

Prossiga, vá em frente. Caso tudo dê errado, o mundo real cá estará, ele sempre esteve. E o tempo passa, bem sabemos todos. Assim ou assado, acontecerá. Os relógios não param, ainda mais com tanta fonte de energia sustentável, tantos servidores, tantos reatores. Tantas células independentes, tanto progresso. Para o Adicto, nada disso presta, nada significa. Chega.

O retorno, irá acontecer. Está próximo. Em seu sangue, a sensação é de fissura. Tremores. O coração dispara quando vê a coisa diante de si. O mundo, o Mundo. Todo o Mundo, toda sua inutilidade e toda sua glória; todas suas cores, sons, criaturas. Tudo que ali está, encerrado dentro daquela caixa, daquele local. O Adicto suspira e pensa mais uma vez no outro mundo que está prestes a abandonar. Valerá a pena?

Só existe uma maneira de saber. Somente uma.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Conserto.

Entro na assistência técnica. Logo ao balcão, encontro-me com certa pessoa, mesma espécie, mesma altura, talvez algumas diferenças fundamentais na estrutura físico-química em funcionamento mental no momento. Bom dia, boa tarde. Que desejas. Existe um defeito, explico eu, que me impede de permitir acesso a certas áreas ditas prazeirosas e/ou motivacionais em mim. Pois não, chamarei o técnico.

Duzentas e cinquenta passos de formiga depois, vem a mim o Técnico, taciturno como a noite, e me perguinta, sabes onde fica o defeito? Pois sim, bem aqui, no interior desta caixa craniana, que trago imediatamente por cima de meus ombros. Ah, um caso clássico. Brandindo uma pequena marreta pesando 300 Newtons, ele desfer golpe oblíquo às minhas têmporas. Sentiu isto? Sim, evidentemente. O que não sinto é o rumo, é o caminho, são os pés no chão. Ah, então o caso é mais complicado. Terei de fazer exame mais demorado. Acompanhe-me.

Sangrando da ferida causada pelo prévio exame, e um tanto atordoado, sigo adiante naqueles corredores, onde vislumbro de relance várias pessoas com partes defeituosas aguardando conserto, aguardando peças. Um homem dito apaixonado segura nas mãos quebrado coração, à espera de algum socorro, alguma coisa que o valha. Outro se contorce ao chão, aparentemente possuído por ataque de cólera. No final do corredor, entramos em uma sala com diversos e obscuros equipamentos. Sente-se aqui, diz o técnico, enquanto preparo os instrumentos.

Fico ali à espera, enquanto ouço o vago rumos de um instrumento sendo esfregado em uma áspera superfície. Clamores vêm do corredor, da sala ao lado, rudes chamdos, palavras sem sentido, coisas, coisas. Enquanto fixo o olhar em uma pequena rachadura no chão, surpreendo-me com certa incômoda sensação de estar sendo eu rachado ao meio, por estranhas e indefiníveis forças. É a serra que me arranca o topo da cabeça, aparentemente. O Técnico se debruça por sobre aquela sangrenta confusão e mexe daqui e dali, me fazendo sentir assim ou assado, dependendo da área mexida em o cortéx defeituoso. Enferrujados eletrodos são inseridos naquela massa em meu coco, e sinto vontade indefinível de comer raviólis, de escutar Mozart.

Mexe daqui, mexe dali,o Superior me faz ir de eufórico para deprimido, de acordo com a área sendo eletricamente estimulada. Me ponho a pensar em Gorki, para depois me lembrar de certo parafuso que perdi em uma remota instância ao sul da Bahia, anos atrás. É, diz o superior para o Técnico

É, o caso é feio. Espere mais um momento, vou trazer meu superior. Enquanto aguardo a chegada do mais experiente funcionário local, sinto estranha sensação de estar sendo esvaído da força vital, e me pergunto se a poça de sangue aos meus pés tem algo a ver com tal sensação. O Superior chega, e de longe já consegue verificar a gravidade da situação. Desilusão, falta de sentido. Sei como é. Traga a bateria de 1200 volts. Estranhas cores se formam em minhas vistas, estranhos sons pareço escutar, além dos lamentos alheios oriundos de outras partes do prédio.

Hum, me parece que este pedaço está meio emperrado. Falta aqui um parafuso. Chave de fenda. Porcas. Porcos. Borracha de silicone. Rejunte de cimento. Olho casualmente para o teto, e vejo que ali só existe indefínivel túnel de luz, como se estivesse a me chamar. Não se assuste nem se encha de esperança, me diz o Superior. É por causa do marcapasso que instalei por trás de seus olhos que vês tal manifestação aparentemente benévola. Ah sim, digo em russo, continuando em romeno, achei que fosse a tão afamada luz, ou Luz, se assim o preferir.

Trazem ácido muriático para a limpeza do restante grosseiro do rejunte de cimento que une as metades de meu coco, e para desengripamento de certas juntas da máquina do mundo, de meu mundo, devo dizer. Apertam junturas, fazem acertos, sintonias finas. Substituem o processador, tão obsoleto, tão antigo, tão româtico, bobinho, por assim dizer. Trocam as memórias, mas e aquelas que eu queria guardar, como é que faço? Não faz, é simplesmente assim. Não fazes, não farás. Não mais.

Colam alguns decalques indicando a moderna placa de vídeo, o processador mais atualizado, Intel, NVidia, sei lá. Peças chinesas, mas de confiança. Me dão amigável tapinha nas costas e me recomendam rebootar o sistema e formatar o disco duro de seis em seis meses. De quebra, instalam o Word como pprocessador de texto padrão, e me perco em configurações de idioma. Agradeço em esperanto, e de lá me retiro, ainda sem rumo, mas com um mundo novbo e digitalmente alheio ao meu redor, nada mais me importando com certas trivialidades modernas.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Normalidade.

Tec, tec, tec.

O que tanto escreves? Coisas. O que são estas coisas? Coisas que vivencio, que penso, nos dias que ainda estou vivo, estou acordado, lúcido. Lúcido, sei. Você. Sim; apesar de sempre ter sido tachado de doido, sei que não sou mais doido que as pessoas ao meu redor. Faço isto e aquilo, coisas estranhas, maravilhosas ocupações, mas somente para mim. Olhe ao redor. Quem está a volta de você é normal? Se responderes sim, estás enganado.

Ninguém é normal. Não ao menos como querem que sejamos, não como afirmam ser. Todos, todos temos as esquisitices que só mesmo nós compreendemos. Bela desculpa, esta, para ser esquisito e se apaziguar. Não é bem assim, eu diria. Pense, veja se tal normalidade existe em todos planos de sua vida. Pense. Seja sincero.

Conheco gente normal que fala sozinho. Conheço gente normal, que é consumista compulsiva de porcarias tecnológicas que compram apenas por comprar. Conheço normais que só conseguem dormir se antes de se dirigir ao leito, lavam a mão umas quinze vezes. Conheço normais que adoram mijar em seus quintais, mesmo estando o banheiro ali, de seus lados. exisstem normais que trocam filhos por cachorros, gatos, iguanas, marmotas, e quejandos.

Existem seres absolutamente normais que se frequentam igrejas, cantam no coro, e pagam por seu lugar no "céu," religiosamente, por assim dizer, e roubam a internet do vizinho, fazem cópias ilegais de softwares, de cds de música que prega a palavra do senhor deles, este que sempre apregoa que não deves roubar. Normais, normais. Que são inteligentíssimos, produzem teses científicas, permitem o avanço da sociedade, ganham prêmios Nobel, mas que não conseguem interagir com pessoas do sexo oposto.

Normais.

Que se acotovelam diante de um aparelho televisor para verem dois homens se batendo, quebrando a cara um do outro, sangrando, em exibição típica e idiota de força. Que julgam quem não aprecia tal violência como seres aparentemente retardados, idiotas, afeminados, coisa que o valha. Normais, que se inscrevem em cursos que não querem fazer, aprendem matérias que não querem aprender, apenas com o intuito de arrumarem um emprego que lhes renderá estabilidade infinita para coçarem o saco e atrofiarem seus tão inteligentes cérebros em empregos absolutamente inertes.

Normais, que escutam música clássica e ainda assim conseguem apreciar um "fanque" carioca. Como seria possível conciliar tais extremos? Sendo normal, aparentemente. Normais, que desenham, desenham, desenham, e não conseguem render um puto com tal atividade, mas que ainda assim não param de tentar. Normal. Seres típicos, que pregam a paz no mundo mas realizam a desforra contra seus compatriotas em violentos videojogos. Requintados seres, que nunca permitem a pronúncia de palavras de baixo calão em sua presença, mas que não hesitam em julgar os outros ao seu redor, que não trajam roupas de marca, camisas de botão.

Pessoas que sempre têm de estar acompanhadas. Que não conseguem ficar sem sair de casa. Que não conseguem juntar dinheiro. Que se excitam com coisas impublicáveis, que riem de grosseiras piadas, que fazem parte de estranhas instituições, que ganham a vida explorando a fraqueza alheia. Que fazem dos outros alvos inimigos, mesmo que estes nunca tenham sequer lhe dirigido a palavra. Normais.

Gente que precisa de oito talheres à mesa para apreciar uma refeição com dito requinte. Que gostam de comer caviar. Que gostam de Campari. Que tomam drogas para recriar um mundo paralelo e lá tentarem viver. Que se refugiam da realidade em eletrônicas diversões, que procuram apenas o lado negro das pessoas, para depois usar tais apontamentos como armas contra tais pessoas aparentemente tão normais, tão triviais.

Pessoas que têm dinheiro suficiente para comer no desjejum notas de cem euros mas que regateiam preço ao comprarem camisas de camelô. Gente que apregoa o amor divino, a glória aos céus, a moral e os bons costumes mas que têm escondidas em algum canto de seus computadores arquivos de pornografia infantil.

Gente que coleciona cascas de ovos. Pessoas que vivem em apartamentos regidos por seus animais de estimação, que dormem com gatos, que levam o cachorrinho na acunpuntura. Gente que habita a casa de seus familiares mas que não lhes considera familiares.

Normais, normais. Que escrevem e escrevem, coisas estranhas, que moram em mofados sótãos e tanto maldizem a humanidade, mesmo sendo irremediavelmente parte dela, parte da mesma "escória" que tanto apregoa em seus escritos...

Normais, estes seres. Eu e todos nós. Todos vós. Eu tu ele nós vós eles.

Normal, é ser doido. Aparentemente.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Planejamento.

Vá para a casa de seu amigo, seu irmão. Vá e se reencontre. Em meio à trivialidade e saudosismo, se reafirme no que és. Feriado, feriado, tão poucos, tão queridos, por todos nós meros mortais que não nascemos em dourados berços de diamantes e ouro branco, ainda que mesmo assim seriam prateados, por assim dizer. Relembre tempos passados, ressurja das cinzas que antecederam tal data. Encontre.

Sinta a umidade do ar, beirando a casa dos milhares, uma vez que centena nenhuma poderia ser mais descritiva, sinta o frio local, que tão bem conheces, desde tempos primordiais. Chegastes preparado? Deveras, deveras, bem conheces tal clima, tal local. Névoa, "neve" a perder de vista, mesmo que avista não valha para muito no presente momento, em presentes circunstâncias.

Amigos, amigos, bem vindos sejam, bem aventurados sejam, que nos fazem rir, sorrir, no meio de tanta chatice humana, desumana, profissional, pessoal, passional, seja lá o que mais. Beba, beba, sorria, fume, se divirta. É uma ocasião especial, deveras. Sinta o etanol rodar, rodopiar sua cabeça, ameaçar expurgar além das mazelas triviais, banais, boçais, de tua cabeça, o conteúdo de peixes e cogumelos comestíveis de seu estômago. Resista! Visites a cama, porém não o banheiro.

Não sem antes desastrada e etílica mão quebrar em pedaços alheia propriedade. A vergonha, a vergonha. Acontece com os melhores e piores bebuns. Enfim.

Reencontre velhos amigos, cada qual de seu jeito, cada qual com seu jeito, sinta raiva daquele que é mais contundente mesmo sem ser um cretino, sinta a inexistência crescer dentro de você diante de tal comentário, tão normal a seu amigho quanto o ar que respiramos. Sinta a raiva aflorar, mas aquiesças em silêncio. Bem sabes o tão retardado e reclamativo andas em seus escritos, em seu ser.

Entretanto, tenha a errada viagem de crescer tal certeza em tua cabeça enquanto recusas novas socializações. No interior lúgubre de teu barco sem mar, seu quarto especialmente arranjado, sintas a inexistência tomar conta de teus pensamentos antes de dormir. Tenha raiva mais uma vez de teu amigo, mas saibas que foi culpa sua, sempre é culpa sua.

Não estragues o feriado. Passe por cima, acorde no dia seguinte, tudo em seu lugar, todas as paredes e muros com suas pedras e tijolos de silêncio e resignação.

Apareçam, outros companheiros! Aquele que foi seu companheiro em outro mundo nada real, e aquele que todos insistem em caçoar, de seus repentes e dizeres não muito pensados. Converse com este e aquele, sinta novamente a inexistência aflorar, a necessidade quase insana deste mundo abandonar, e retomares irreal vida, irreal ocupação no mundo das máquinas, da fantasia cibernética que já foi oitenta e cinco por cento de sua vida. Sinta o apelo de tal chamado, irresistível e perigoso, pelo ponto de vista de certa porção dita racional de tua mente e aos olhos de psicólogos, antropólogos, psicanalistas e quejandos.

Vá dormir, novamente. Mais cedo, mais faminto por sentidos, antes de perder os mesmo, naquele embalar mole da cama, da sonolência, de teu barco sem mar. Dia seguinte, reencontre o dono da casa, tudo em seu devido lugar, mas o vazio tomando conta de tudo. Sinta novamente a tentação de seguir adiante o plano de tudo abandonar, e ceda levemente, tome o primeiro passo. Pouco falta agora, para tudo recomeçar. Tudo terminar. Veja maus filmes, coma boas comidas, veja discussões alheias, se pergunte se existe união realmente valiosa, questione pele enésima vez a possibilidade das pessoas ficarem juntas. Vá dormir, novamente.

Acorde e vá trabalhar, sentindo o distante apelo da virtualização de teus problemas. Se pergunte se existes deveras, sendo humano sem deveras assim se sentir.

Onde está seu lugar? Aqui, neste mundo, dito real, ou ali, onde nada é de fato verdadeiro?

Sinta, em plena terça-feira, o ocaso de uma segunda que não teve lugar.


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Boas Salenas Cronópios.

Em referência ao texto anterior, e como recomendação de leitura, imensamente recomendável por minha parte, mesmo que pulhas como Max não lerão por não saberem apreciar um bom e velho nonsense, cá está um link deveras interessante.

Maravilhosos Afazeres, ou apenas 433.

De fato, deveras. Enfim.

Que maravilhoso afazer é acordar, descer a escada aos pulos, apanhar na estante livro de Cortázar, ler aos remelexos, sair de casa disposto a abrir caminho por entre as pessoas a golpes de envelopes com selos.

Que maravilhoso afazer é pegar o ônibus, passar a catraca, e transitar frente a ela, enquanto se contam moedas de um centavo, ao passo que atrás de nós a fúria cresce; querem matar-me mas estou protegido pela roleta e pelos louros da lei, da moral e dos bons costumes. Assim que termino de contar duzentas e quarenta moedas, retirar do bolso uma nota de cem euros e oferecê-la ao trocador, fique com o troco, e o restante dos passageiros que se fodam.

Que maravilhoso afazer é descer no centro, defronte ao pirulito da praça Sete, que poucos se lembram de que Setembro, se munir de pá e picaretas e tentar fazer dali um sítio arqueológico, evidentemente, tal monolito só poderia ter sido deixado ali por fenícios ou trácios; instituir palanque e falar aos transeuntes aos gritos, "o fim está próximo", com uma bíblia debaixo da asa esquerda e dedo indicador acusador em riste; condenar o consumismo ao passo que vejo a cotação das ações da Igreja Universal na internet, em meu iPhone.

Que maravilhoso afazer é entrar num café e pedir chá. Chá, outra vez chá, para depois pedir um sanduíche de rúcula com agrião, embebê-lo no litro de chá e depois sair à rua assobiando o Tannhäuser, para júbilo e lágrimas de um velhinho alemão e nazista oculto que por ali passava, com o intuito apenas de denunciá-lo à subcomissão de quinhentos ou doze agentes da OTAN que coincidentemente por ali passavam.

Que maravilhoso afazer é assistir à execução fria e sumária, em praça pública, de tal velhinho, não importa se ele era isso ou aquilo, se já tinha se arrependido de seus crimes ou não., se tinha netinhos ou mesmo alguma senhora que dele dependa financeiramente. O que conta é divertir o público. A turba se acotovela diante do patíbulo e acompanha a tudo.

Que maravilhoso afazer é tomar do microfone, plugá-lo num poderoso sistema de PA esterofônico, preparar seu melhor trejeito de locutor esportivo e narrar a execução com ênfase futebolística e verificar como a multidão se empolga e mesmo torce contra a vida de tal infame prisioneiro. Quando a vida de seu corpo expirar, berrar, "Está MOOOORTOOO!!!!" a plenos pulmões, como se narrasse um gol. Observar como a multidão faz festa.

Que maravilhoso afazer é sequestrar um avião, desviá-lo para Salvador, oferecer a desculpa de insanidade temporária à polícia baiana, juntamente com acarajés e oferendas a Iemanjá, se livrar de custoso processo criminal.

Que maravilhoso afazer é se postar defronte à mais famosa escadaria da capital Baiana, distribuir panfletos timbrados, oficiais, acerca das instruções de como subir uma escada e verificar com imenso júbilo como as pessoas, diante de tais impressos, se esquecem de como faziam para subir tais degraus. Ali permanecer por vinte ou duas horas e anotar num caderninho o número de pessoas que levantam o pé e o pé, respectivamente, e imediatamente caem ao solo, e tal qual baratas, não conseguem mais se pôr de pé.

Que maravilhoso afazer é contratar um cronópio paraassumir a direçao geral do imposto de renda e outros para a casa da moeda e casa civil; ver como depois de dois meses como a economia brasileira, tão em voga neste decadente mundo, se desfaz em um turbilhão de lágrimas e sangue, após a conversão da moeda do Real para a Rúpia Indiana.

Que maravilhoso afazer é viajar de trenó ao Japão, se logar em um dos milhares de ciber-cafézes do país, verificar as instruções Googlianas de como chegar à China, e proceder como tal, especialmente seguir a instrução de número 43:


Que maravilhoso afazer é trajar traje típico e muita fita adesiva fixada ao canto dos olhos, mesclando-me irremediavelmente à população local e me tornando irreconhecível às autoridades, invadir a central de censura da internet na China, liberar a pornografia e acesso às páginas da central de segurança deste imenso país e se dirigir à Praça da Paz Celestial, para assistir à tão prometida e adiada sequência.

Que maravilhoso afazer é verificar como o mundo entra em colapso após a queda do governo chinês e a queima de todas as manufaturas nada manuais de tal longínquo país.

Que maravilhoso afazer é apanhar uma escopeta, arrumar um cachorro a tiracolo e sair vagando pelas ruínas do mundo, enquanto se canta a décima primeira segunda de Beethoven, versão cover de Guided By Voices, evidentemente.

Que maravilhosos afazer é verificar que feriado se aproxima, e do caos estarei alforriado até terça feira, após as dez-a-oito da data de hoje; que maravilhoso afazer é beber muito álcool e realizar retiro espiritual, situação esta em que o espiríto prefere se retirar do corpo após o coma alcoólico.

Que maravilhoso afazer é escrever coisas sem sentido, lembrando-me de um de meus prediletos livros.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Validade.

No meio dos dias
que se tornaram noites
nada faz muito
sentido.

No obscuro sótão
que se tornou lar
refúgio
prisão
procuras o que não há.

Na manhã cinza
acordas
mas continua a dormir
dia afora
noite adentro.

No alto de sua empáfia
não encontras nada
nem ninguém
-não procuras mais nada
tampouco alguém.

Inerte vida
onde queres levar?
Inexistência
sobrevivência
sub-existência
onde queres chegar?

Não procuras ajuda
pois acha que não a merece
Não encontras ajuda
pois não pode se ajudar

Preferes a névoa,
a confusão de sentidos
químicos refúgios
abstratos sonhos
irrealizavéis ambições.

Não se lembram de ti
pois assim o quiseste
és o rei dos inexistentes
ausentes
desistentes.

Na calada da noite
ali estás
sozinho
ausente.

Onde você foi parar?
Onde queres chegar?

Até quando existirás?

Noite-dia após dia-noite,
a pergunta não quer calar.

Longe de tudo,
longe de todos
você vive
você morre.

dias que se tornaram
noites
insones
eternas.

Até quando?
Irás resistir
irás existir
conseguirás fingir
que vives
ao passo que cada dia
cada noite
morres
mais e mais.

Até quando?

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

FunCHAOS.

Trabalho num lugar chamado Funchal Ltda(díssima).

Que de repente se tornou FUNCHAOS e me fudeu toda esta manhã.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Esquizo.

Abrir caminho por dentro deste tijolo de cristal pode ser das tarefas mais inglórias do universo. Mas é preciso continuar. É preciso viver, ainda que não saibamos por quê, para quê. Viver e viver, ainda que sua existência tenha se tornado algo feito água destilada, sem gosto, sem cheiro e que de quebra ainda sequestra eletrólitos vitais nos rins ao passar.

E ironicamente, é assim que muitos nos tratam quando passamos por tais momentos na vida, como se fôssemos algo incômodo, inoportuno. Concedo; ninguém é obrigado a tolerar alguém como nós, os diversos seres que habitam dentro de uma pessoa apenas, se todos eles se tornam demasiado lamurientos, por assim dizer. Mas nós, as vozes que habitam este vale imenso e vazio de uma cabeça humana, só ansiamos por alguma espécie de direção, alguma sorte de salvação, bem no olho do furacão.

Quem irá se aventurar no interior deste vazio, onde somente as vozes existem, caixa de pandora onde tudo que é ruim ainda se encontra encerrado e a esperança lá fora ficou, versão invertida do conto, ponto por ponto.

Dizem ser necessário trocar, mudar. Troque de sonhos! Troque de cabeça, não seria mais fácil dizer? Troque de vida. Re-comece. Faça, faça!

No eco de toda essa confusão, o ribombar de todas as vozes fazem-nos entontecer, forte sabor de álcool na boca, nos rins, no fígado. E álcool causa perda de memória, ou pior ainda, perda de memória. Logo, é necessário afogar-se em tal etílica substância. Dizem que devemos afogar as mágoas na sopa de etanol, mas bem sabemos, as vozes não morrem. Nem mesmo nadam, somente flutuam, existem dentro deste eco do eco do eco. De algo que já foi e não mais é.

Peça ajuda, mas como? Uma vez que não querem, não devem dar ajuda a um "mindingo", um "pilingrim", ele deve aprender a se ajudar. Fica mal. Queima o filme ajudar a pôr de pé aquele que irá cair novamente. Façamos de conta que lá não estão, ignoremos seus telefonemas, seus apelos; um dia ele cessarão, um dia eles morrerão.

Aí poderemos todos nos unir e dançar um rumba por cima da terra que os comeu.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

2a.

Não sei de mais nada.

Sensação de vazio da porra.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Traição. Vingança.

A semana deu seus dias, malditos dias.

Pessoas como eu são facilmente derrotadas por cretinos diversos, e desanimam facilmente das coisas. Aparentemente. Não sei se sou apenas teimoso em aceitar que o mundo é o que é, esta merda, ou simplesmente sou um bobinho que ainda tem algum resto de esperança vã e pueril, que ainda podem haver pessoas que têm integridade, honestidade, palavra, honra.

Aparentemente, não.

Mas tirando meus patéticos momentos teatrais, onde amaldiçoô a humanidade e suas práticas nada louváveis, desprovidas de toda e qualquer ética, eu sei que assim é o "cerumano", conforme descrito pelos regulares do ENEM. Má neeeemmm. E se revoltar com pessoas que agem como abutres, é o mesmo que se revoltar contra o verdume das árvores.

O importante é continuar vivendo, e tentar encontrar no meio desse turbilhão de porcos, aquelas pessoas que são realmente humanas. Existem, bem sei. O que me deixa exausto é como é difícil encontrá-las. A busca é incessante, e por vezes julgamos ter encontrado algumas gentes dignas de serem chamadas de companheiros nessa busca, apenas para descobrirmos que são apenas lobos vestidos de cordeiro, santinhos do pau oco e tantas outras alcunhas.

Por vezes, dá vontade de mandar tudo e todos à merda, e proceder de forma "insensata", como diriam alguns, abandonando este mundo feito já me disseram, "quem se mata com um tiro na cabeça sai desse mundo batendo a porta", ou simplesmente proceder como alguns antepassados meus, que surtaram e abandonaram a sociedade. Saciedade, de fato. Por vezes, creio estar prestes a realizar alguma destas práticas.

Mas, lado outro, quando passa a tempestade, toda esta fúria que os idiotas feito eu experimentam diante de tais circunstâncias ditas tão "normais" na nossa selva moderna, analisamos mais friamente toda a situação, e chegamos à conclusão que nos livramos foi de uma boa, ou seja, de um péssimo negócio. E tais desilusões me fazem remeter a uma citação recortada de algum jornal e cuidadosamente colada no interior de uma gaveta, como um eterno lembrete para quem quer que abrisse tal gaveta: "as inquietações são formas de despertar."

De fato. Alguém me deu um pé na bunda, passando por cima de mim. Apesar de todo o melodrama que se seguiu, me fez ver também que não valia a pena apanhar tal "promoção", uma vez que só aumentariam as encheções de saco dentro desta moderna senzala capitalista que habito, e o incremento salarial seria inexistente. Mau negócio, evidentemente. Pois tudo que o idiota que me fudeu vai receber são vazias promessas de crescimento e prosperidade, coisas que sei bem, NÃO irão acontecer. Não neste escrotório.

Então, o fidumaégua que se deleite em sua prática abjeta. Se torture com os telefonemas e problemas consecutivos. Eu ficarei na minha, até alcançar o novo objetivo que estou me propondo, que é sair desta budega aqui. Existe um limite que um homem pode aguentar de pilantragem. E o que mais acontece aqui é isso. Quero só visualizar o dia que poderei chegar na sala do filho da puta e dizer com aquele sorriso, "tofie esta joça de emprego no seu rabo," e virar as costas sem nem esperar resposta.

Ainda assim, mesmo tendo em vista tal visão alentadora, fico embasbacado em pensar como tais gentes não têm consciência. Como conseguem dormir? E é esta lição que dão ao seus filhos?

Algumas lições carregarei deste evento. Não confie em crentes. Há males que vêm para bem.

Viver bem será minha vingança, conforme diz a canção.

E enquanto isso, eu ainda posso me vingar graficamente de tais frangos.


"E assim, a vida prosseguiu..."

Bom final de semana à todas as PESSOAS de bem que existem. E o inferno na terra para os frangos fidumaégua, fudumajega, fisdaputa ordinários de uma figa. Que seus malditos e imuindos rebentos lhes rendam boas noites de insônia.....e tenho dito.




P.S. - Não seria legal matar um cretino enfiando um guarda-chuva na nuca do ordinário? Seria uma excelente cena para um bom filme para nosso tão-amado cineplex trash, creio eu...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

404 #6578674856E+46.

Hoje tem não. O treco que eu tava preparando não ficou pronto a tempo, então nem faz sentido fazer texto sem o complemento.

E em nota adicional, basta dizer que a ira dos Burians, esses tchecos malditos porém abrasileirados, dura em média de 7 dias a 12 meses, ou mais, e consome-lhe os "figos" e o resto neste longo intervalo. Resultado, longas e nervosas insônias.

Normal.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Front stabbing.

Você já foi "esfaqueado pelas costas"?

Prática aparentemente regular em empregos mundo afora, somente quem já tomou uma dessas sabe como é desagradável. Não somente em relação a planos que já estavam sendo traçados, baseados na mentira que lhe disseram. Dói ser enganado, lubridiado, de fato.

Mas o que mais dói é saber que isto é considerado "normal" no mundo. Todos lhe dirão, "Acontece," com caras de vacas de presépio. E caso você fique indignado e afirme que sofrer tal prática hedionda em sua pele é o mesmo que fazer com que você perca ainda mais a fé quase já inexistente nas pessoas, é o mesmo que ser esfaqueado na alma em si, lhe dirão pastosamente que você nada mais é que um ingênuo. Um inocente.

Pobrezinho, dirão sarcasticamente todos os demônios ao seu redor, ele ainda crê que existe alguma decência neste mundo.

Concedo que tais demônios existam. Mas estes são os espertos, os que fazem os planos de atrapalhar sua vida, esculhambar sua vã alegria. Seres ignóbeis, estes se deliciam em saborear a desilusão alheia. De outro lado, existem as vacas, os frangos, seres que se deixam levar pela influência de tais demônios, que cumprem suas ordens. Na maioria das vezes, os demônios agem terceirizando suas vis ações. Apanham o primeiro frango que veêm na reta e passam a tarefa adiante.

"O mundo é dos espertos."

Pois que fiquem com ele, filhos da puta. Fiquem com ele. Fodam-se todos também.

O que pode o esfaqueado fazer? Terminar de sangrar e morrer. Abandonar este ninho de víboras, "este válio de lagrimas, esta merda." Como diria o Sargento, Getúlio de nome.

Fodam-se todos vocês e seu doentio deleite na dor alheia. Suas nojentas elucubrações cheias de mentiras e falsas promessas. Queimem todos nas vidinhas ordinárias e infames que tais práticas lhes garantirão.

Seria bom poder resolver isso na ponta da peixeira, na esquentada chuva de chumbo que tais criaturas merecem levar. Mas a moral e os bons costumes impedem-me.

Por hora, só posso ficar tremendo de ódio. Sem nem saber como reagir sem levar uma metralhadora à língua e alvejar todos os seres dos infernos com as palavras compatíveis com seu calão enquanto "pessoas".

E, a vida prossegue. É assim. Aceite. You are not a beautiful or unique snowflake.

Merda dançante e ululante, é o que somos todos.

E diante disso tudo, só me resta escutar a trilha sonora para momentos de extrema fúria:


"The Day I Tried To Live"

I woke the same as any other day
Except a voice was in my head
It said seize the day, pull the trigger, drop the blade
And watch the rolling heads

The day I tried to live
I stole a thousand beggar's change
And gave it to the rich
The day I tried to win
I dangled from the power lines
And let the martyrs stretch
Singing

One more time around
Might do it
One more time around
Might make it
One more time around
Might do it
One more time around
The day I tried to live

Words you say never seem
To live up to the ones
Inside your head
The lives we make
Never seem to ever get us anywhere
But dead

The day I tried to live
I wallowed in the blood and mud with
All the other pigs

I woke the same as any other day you know
I should have stayed in bed

The day I tried to live
I wallowed in the blood and mud with
All the other pigs

And I learned that I was a liar
Just like you.


-------Soundgarden.

Say it ain't so.


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Conversa interna.

-Chove lá fora. Céu abaixo.
-Bem sei disso.
-E não vais ficar zangado com isso?
-Não. Há mais com o que me preocupar.
-Ah, esse lance de ser promovido sem esperar, não é mesmo?
-Isso e mais outras coisas. A chuva é a menor de minhas preocupações no momento.
-Cronópio cronópio?
-Cronópio cronópio.
-Eu sabia que gostarias de ler tal obra novamente.
-Eu sei. Gostaria também que a vida fosse apenas um tijolo de cristal, tal qual é no livro.
-No fundo, sempre é.
-Não. Lá no fundo, está a morte. Mas não tenho medo. Sempre chegamos antes, e já não nos importa.
-Assim é a vida.
-Ou a morte, né.
-É.
-E agora, o vais fazer?
-Assumir o cargo, evidentemente.
-E vais dar conta?
-Tenho que dar. Agora sou só eu tomando conta dali.
-Pesado.
-Deveras. Pavio longo.
-Pavio longo. Há que se desenvolver tal faculdade.
-Sem férias?
-Sem férias. Me sinto tão adulto.
-E é uma merda né.
-Bastante. Não foi essa a vida que quis.
-Ah, ninguém recebe aquela que pediu.
-Bem sei.
-E abandonarás o resto?
-Em verdade, já havia abandonado, seis anos atrás. Somente me dei conta disto agora.
-Eu sabia, mas não te disse.
-Eu sei. És um filho da puta.
-Você que é um tonto. Estava na sua cara.
-Na nossa cara, mané. É tanto meu quanto seu.
-Eu sei, mas não me importo. Não existo, a não ser aí dentro.
-Mesmo assim, faz parte de mim.
-Eu sei, maldito. Sou uma voz na sua cabeça, e você, na minha.
-Filho da puta.
-Ha, ha. Não darás conta.
-Vá lá pro fundo com o resto da gentalha, mané.
-Claro, por hora. Nos veremos de novo, em breve.
-Bem sei disso.
-Ainda bem que sabes. O que não sabes...
-...é , eu sei o que é. Foda-se. Suma daqui.
-Até daqui a pouco, seu inútil.
-Até.