terça-feira, 9 de novembro de 2010

Esquizo.

Abrir caminho por dentro deste tijolo de cristal pode ser das tarefas mais inglórias do universo. Mas é preciso continuar. É preciso viver, ainda que não saibamos por quê, para quê. Viver e viver, ainda que sua existência tenha se tornado algo feito água destilada, sem gosto, sem cheiro e que de quebra ainda sequestra eletrólitos vitais nos rins ao passar.

E ironicamente, é assim que muitos nos tratam quando passamos por tais momentos na vida, como se fôssemos algo incômodo, inoportuno. Concedo; ninguém é obrigado a tolerar alguém como nós, os diversos seres que habitam dentro de uma pessoa apenas, se todos eles se tornam demasiado lamurientos, por assim dizer. Mas nós, as vozes que habitam este vale imenso e vazio de uma cabeça humana, só ansiamos por alguma espécie de direção, alguma sorte de salvação, bem no olho do furacão.

Quem irá se aventurar no interior deste vazio, onde somente as vozes existem, caixa de pandora onde tudo que é ruim ainda se encontra encerrado e a esperança lá fora ficou, versão invertida do conto, ponto por ponto.

Dizem ser necessário trocar, mudar. Troque de sonhos! Troque de cabeça, não seria mais fácil dizer? Troque de vida. Re-comece. Faça, faça!

No eco de toda essa confusão, o ribombar de todas as vozes fazem-nos entontecer, forte sabor de álcool na boca, nos rins, no fígado. E álcool causa perda de memória, ou pior ainda, perda de memória. Logo, é necessário afogar-se em tal etílica substância. Dizem que devemos afogar as mágoas na sopa de etanol, mas bem sabemos, as vozes não morrem. Nem mesmo nadam, somente flutuam, existem dentro deste eco do eco do eco. De algo que já foi e não mais é.

Peça ajuda, mas como? Uma vez que não querem, não devem dar ajuda a um "mindingo", um "pilingrim", ele deve aprender a se ajudar. Fica mal. Queima o filme ajudar a pôr de pé aquele que irá cair novamente. Façamos de conta que lá não estão, ignoremos seus telefonemas, seus apelos; um dia ele cessarão, um dia eles morrerão.

Aí poderemos todos nos unir e dançar um rumba por cima da terra que os comeu.