segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Quá-quá-quá, 444.

Sair, levantar-se do mar de gelatina que encobre todo o ser, de domingo para segunda. Vencer a espessa camada de gel que existe entre a cama e o ar, entre as cobertas e o descoberto, tarefa quase impossível em situações assim, em dias assim, em momentos como aquele. Como despertar um morto-vivo?

Muitas coisas aconteceram, mas nada do que aconteceria em dias normais, em dias não-normais, nada de mais, nada de menos. Existir, apenas pela música e por mais nada, outros vícios mais terrenos nem foram visitados, vencidos pela relutância de novamente ter de recomeçar. Enfim, continuar a ser o que se é; em formas assim ou assadas, em forma de música, não linhas, não plugado, ligado, desligado: um violão, um microfone e mais nada. Nada além de 2 acordes e muita imaginação?

Ver e rever, subir e descer. Grave do agudo, cromaticamente falando. Pode dar samba? Não! Pode dar roque! Sempre a pedra, sempre a pedra. Sair? Daqui para ali, lá longe? Nem pensar. Fico, diga ao povo que fico, permaneço. Esteja. Assim se almeja, assim se deseja. Ficar e ficar, sem saber estar.

Acorde, levante, vá para seu lugar, pense n oque fez, no que não fez. Fez alguma diferença? Faz alguma diferença? Guerras, existem lá fora, onde eu não moro, onde nunca nem fui, onde não desejo ir. E lá dentro, um armistício, paz forçada a custas altas, elevados emolumentos, taxas, perguntas, tantas perguntas. Respostas? Em falta; volte talvez daqui a seis meses. Seis anos. Seis décadas. Talvez centênios, milênios. Nem sei.

Acordar, vencer a gelatina que nos prende às cobertas. Ter de desistir de todos os oníricos designíos, em prol de uma vida que nem sempre vale o que anunciam, nem sempre é o que não deveria ser, mesmo sendo. O que não é. Não foi. E talvez até seja.

Acordar, blob. Acordar, blec. Estique-se sobre a gosma do dia, do momento. Da segunda, primeiro dia até a próxima sexta, até a próxima libertação. Qualquer que seja ela.

Derrubar café quente por cima da geléia, por cima da baba gosmenta que nos prende ao pé da cama, ao travesseiro, ao outro mundo que adentramos todas as noites mas que nem sempre queremos sair pelas manhãs.

Ainda assim, levante-se. Hás de ganhar o dia, ganhar a vida! Neste dia, ao menos.

Levante-se. Levante-se.

Ou aperte o soneca mais uma vez...