Entro na assistência técnica. Logo ao balcão, encontro-me com certa pessoa, mesma espécie, mesma altura, talvez algumas diferenças fundamentais na estrutura físico-química em funcionamento mental no momento. Bom dia, boa tarde. Que desejas. Existe um defeito, explico eu, que me impede de permitir acesso a certas áreas ditas prazeirosas e/ou motivacionais em mim. Pois não, chamarei o técnico.
Duzentas e cinquenta passos de formiga depois, vem a mim o Técnico, taciturno como a noite, e me perguinta, sabes onde fica o defeito? Pois sim, bem aqui, no interior desta caixa craniana, que trago imediatamente por cima de meus ombros. Ah, um caso clássico. Brandindo uma pequena marreta pesando 300 Newtons, ele desfer golpe oblíquo às minhas têmporas. Sentiu isto? Sim, evidentemente. O que não sinto é o rumo, é o caminho, são os pés no chão. Ah, então o caso é mais complicado. Terei de fazer exame mais demorado. Acompanhe-me.
Sangrando da ferida causada pelo prévio exame, e um tanto atordoado, sigo adiante naqueles corredores, onde vislumbro de relance várias pessoas com partes defeituosas aguardando conserto, aguardando peças. Um homem dito apaixonado segura nas mãos quebrado coração, à espera de algum socorro, alguma coisa que o valha. Outro se contorce ao chão, aparentemente possuído por ataque de cólera. No final do corredor, entramos em uma sala com diversos e obscuros equipamentos. Sente-se aqui, diz o técnico, enquanto preparo os instrumentos.
Fico ali à espera, enquanto ouço o vago rumos de um instrumento sendo esfregado em uma áspera superfície. Clamores vêm do corredor, da sala ao lado, rudes chamdos, palavras sem sentido, coisas, coisas. Enquanto fixo o olhar em uma pequena rachadura no chão, surpreendo-me com certa incômoda sensação de estar sendo eu rachado ao meio, por estranhas e indefiníveis forças. É a serra que me arranca o topo da cabeça, aparentemente. O Técnico se debruça por sobre aquela sangrenta confusão e mexe daqui e dali, me fazendo sentir assim ou assado, dependendo da área mexida em o cortéx defeituoso. Enferrujados eletrodos são inseridos naquela massa em meu coco, e sinto vontade indefinível de comer raviólis, de escutar Mozart.
Mexe daqui, mexe dali,o Superior me faz ir de eufórico para deprimido, de acordo com a área sendo eletricamente estimulada. Me ponho a pensar em Gorki, para depois me lembrar de certo parafuso que perdi em uma remota instância ao sul da Bahia, anos atrás. É, diz o superior para o Técnico
É, o caso é feio. Espere mais um momento, vou trazer meu superior. Enquanto aguardo a chegada do mais experiente funcionário local, sinto estranha sensação de estar sendo esvaído da força vital, e me pergunto se a poça de sangue aos meus pés tem algo a ver com tal sensação. O Superior chega, e de longe já consegue verificar a gravidade da situação. Desilusão, falta de sentido. Sei como é. Traga a bateria de 1200 volts. Estranhas cores se formam em minhas vistas, estranhos sons pareço escutar, além dos lamentos alheios oriundos de outras partes do prédio.
Hum, me parece que este pedaço está meio emperrado. Falta aqui um parafuso. Chave de fenda. Porcas. Porcos. Borracha de silicone. Rejunte de cimento. Olho casualmente para o teto, e vejo que ali só existe indefínivel túnel de luz, como se estivesse a me chamar. Não se assuste nem se encha de esperança, me diz o Superior. É por causa do marcapasso que instalei por trás de seus olhos que vês tal manifestação aparentemente benévola. Ah sim, digo em russo, continuando em romeno, achei que fosse a tão afamada luz, ou Luz, se assim o preferir.
Trazem ácido muriático para a limpeza do restante grosseiro do rejunte de cimento que une as metades de meu coco, e para desengripamento de certas juntas da máquina do mundo, de meu mundo, devo dizer. Apertam junturas, fazem acertos, sintonias finas. Substituem o processador, tão obsoleto, tão antigo, tão româtico, bobinho, por assim dizer. Trocam as memórias, mas e aquelas que eu queria guardar, como é que faço? Não faz, é simplesmente assim. Não fazes, não farás. Não mais.
Colam alguns decalques indicando a moderna placa de vídeo, o processador mais atualizado, Intel, NVidia, sei lá. Peças chinesas, mas de confiança. Me dão amigável tapinha nas costas e me recomendam rebootar o sistema e formatar o disco duro de seis em seis meses. De quebra, instalam o Word como pprocessador de texto padrão, e me perco em configurações de idioma. Agradeço em esperanto, e de lá me retiro, ainda sem rumo, mas com um mundo novbo e digitalmente alheio ao meu redor, nada mais me importando com certas trivialidades modernas.
Duzentas e cinquenta passos de formiga depois, vem a mim o Técnico, taciturno como a noite, e me perguinta, sabes onde fica o defeito? Pois sim, bem aqui, no interior desta caixa craniana, que trago imediatamente por cima de meus ombros. Ah, um caso clássico. Brandindo uma pequena marreta pesando 300 Newtons, ele desfer golpe oblíquo às minhas têmporas. Sentiu isto? Sim, evidentemente. O que não sinto é o rumo, é o caminho, são os pés no chão. Ah, então o caso é mais complicado. Terei de fazer exame mais demorado. Acompanhe-me.
Sangrando da ferida causada pelo prévio exame, e um tanto atordoado, sigo adiante naqueles corredores, onde vislumbro de relance várias pessoas com partes defeituosas aguardando conserto, aguardando peças. Um homem dito apaixonado segura nas mãos quebrado coração, à espera de algum socorro, alguma coisa que o valha. Outro se contorce ao chão, aparentemente possuído por ataque de cólera. No final do corredor, entramos em uma sala com diversos e obscuros equipamentos. Sente-se aqui, diz o técnico, enquanto preparo os instrumentos.
Fico ali à espera, enquanto ouço o vago rumos de um instrumento sendo esfregado em uma áspera superfície. Clamores vêm do corredor, da sala ao lado, rudes chamdos, palavras sem sentido, coisas, coisas. Enquanto fixo o olhar em uma pequena rachadura no chão, surpreendo-me com certa incômoda sensação de estar sendo eu rachado ao meio, por estranhas e indefiníveis forças. É a serra que me arranca o topo da cabeça, aparentemente. O Técnico se debruça por sobre aquela sangrenta confusão e mexe daqui e dali, me fazendo sentir assim ou assado, dependendo da área mexida em o cortéx defeituoso. Enferrujados eletrodos são inseridos naquela massa em meu coco, e sinto vontade indefinível de comer raviólis, de escutar Mozart.
Mexe daqui, mexe dali,o Superior me faz ir de eufórico para deprimido, de acordo com a área sendo eletricamente estimulada. Me ponho a pensar em Gorki, para depois me lembrar de certo parafuso que perdi em uma remota instância ao sul da Bahia, anos atrás. É, diz o superior para o Técnico
É, o caso é feio. Espere mais um momento, vou trazer meu superior. Enquanto aguardo a chegada do mais experiente funcionário local, sinto estranha sensação de estar sendo esvaído da força vital, e me pergunto se a poça de sangue aos meus pés tem algo a ver com tal sensação. O Superior chega, e de longe já consegue verificar a gravidade da situação. Desilusão, falta de sentido. Sei como é. Traga a bateria de 1200 volts. Estranhas cores se formam em minhas vistas, estranhos sons pareço escutar, além dos lamentos alheios oriundos de outras partes do prédio.
Hum, me parece que este pedaço está meio emperrado. Falta aqui um parafuso. Chave de fenda. Porcas. Porcos. Borracha de silicone. Rejunte de cimento. Olho casualmente para o teto, e vejo que ali só existe indefínivel túnel de luz, como se estivesse a me chamar. Não se assuste nem se encha de esperança, me diz o Superior. É por causa do marcapasso que instalei por trás de seus olhos que vês tal manifestação aparentemente benévola. Ah sim, digo em russo, continuando em romeno, achei que fosse a tão afamada luz, ou Luz, se assim o preferir.
Trazem ácido muriático para a limpeza do restante grosseiro do rejunte de cimento que une as metades de meu coco, e para desengripamento de certas juntas da máquina do mundo, de meu mundo, devo dizer. Apertam junturas, fazem acertos, sintonias finas. Substituem o processador, tão obsoleto, tão antigo, tão româtico, bobinho, por assim dizer. Trocam as memórias, mas e aquelas que eu queria guardar, como é que faço? Não faz, é simplesmente assim. Não fazes, não farás. Não mais.
Colam alguns decalques indicando a moderna placa de vídeo, o processador mais atualizado, Intel, NVidia, sei lá. Peças chinesas, mas de confiança. Me dão amigável tapinha nas costas e me recomendam rebootar o sistema e formatar o disco duro de seis em seis meses. De quebra, instalam o Word como pprocessador de texto padrão, e me perco em configurações de idioma. Agradeço em esperanto, e de lá me retiro, ainda sem rumo, mas com um mundo novbo e digitalmente alheio ao meu redor, nada mais me importando com certas trivialidades modernas.