No final do túnel, havia a luz.
Negro túnel, coberto por estranhas ranhuras em suas paredes metálicas. Olhava e olhava, minutos e minutos se passaram, mas lá do fundo, nenhuma luz saía. E ao redor, naquelas paredes que pareciam cada vez mais se fechar, nada acontecia. O tempo não parecia estar correndo.
E apesar disso, algo dentro de si sabia que deveria estar ali por mais de hora. Mas tal era o estado prostrado que se encontrava, não saberia dizer com precisão quanto tempo ainda restava, quanto tempo passara. Tempo, tempo. Do fundo do túnel a luz emanaria, libertando-o para sempre de tudo, de todos. De todos? De si.
Lá fora, inexistência por todos os lados. Névoa branca cobrindo as montanhas, rasas montanhas, pequenas elevações do solo. A neblina escondia tudo, todos. Quanto tempo ainda passaria até a luz aparecer? Não saberia dizer. Enevoada era sua vista, tomada por tantos compostos, manufaturados por máquinas, embalados por máquinas, engolidos por um ser humano. Não tão humano, não tão ser assim.
Aparentemente.
O foco se dirigiu para pequeno parafuso no corpo metálico. Mais para o lado, madeira, e outro parafuso. Smith? Wesson? Estranhos dizeires, escritos. Impressos na máquina de projetar chumbo, pequenas porções de morte. Não pensava direito, não conseguia pensar direito. Lá no final estava a luz, o fogo, aguardando o estalido da mola, o impacto da espoleta. Clic. Bang.
Onde estava a luz naquele dia, naquele negrume raiado? Pesado, em sua mão, estava aquele artefato. Não matarás. Não mataria, apenas...liberaria. Liberdade. Para ser nada. Para abraçar o que sempre fora, nada, noves fora, nada, nada.
Tudo passava, tudo passa, diziam. Não. Nada passava. Nada passou. Nem mesmo o tempo, agora também deformado pela ação de tantos fármacos. Dê o melhor de si. Faça por onde. Vozes, estranhas vozes, já não saberia dizer se era efeito de um ou de outro, de sua cabeça ou do coquetel de coisas, garrafa de coisa, quebrada, cacos por todo o chão, naquele canto.
Músculos oftálmicos cansados desviaram o olho para o chão, para o canto onde os cacos jaziam. Que sujeira. Iriram achar uma bagunça miserável, lhe xingariam, amaldiçoariam seu cheiro, imprestável, apodrecendo. Tempo, tempo. Tic tac, tic tac. Tudo pesava, mesmo a morte em sua mão. A luz, deveria achá-la. Se não podes vencê-los, junte-se a eles. Mesmo? Não.
Não, não. Jamais.
Pesado era o cabo, pesado o gatilho. Onde mesmo conseguira aquilo? Roubara, de seu irmão que havia roubado de outro familiar, esquecido pelo tempo, enegrecido pelos óxidos de ferro. Lá no fundo estava a luz, lá no fundo estava. Clic. Bang. Retesar antigos e carcomidos mecanismos, em amolecida mão, era uma tarefa demasiado dura. Mas era necessário. Não sabia se iria aguentar muito tempo, mas tinha que tentar, tinha que encontrar.
Contração, lembrou-se de processos musculares, fibras, actina e miosina, sarcoplasma. Ecos, ecos numa imensidão vazia mas tão cheia de nada que tudo ali era apenas um eco, ainda mais agora. Força, bombas de sódio! De potássio! Potássio. Do Kazakistão? Daquele país onde um bigodudo cujo nome nem mais conseguia fixar em sua mente, havia...feito coisas, mas era tudo um filme. Uma mentira em série.
Força.
Clic.
Dizem muita coisa, dizem estar a luz lá no fundo. Dizem que sua vida passa diante dos olhos, mas o que via era apenas o túnel metálico, as raias que conduziam ao plúmbeo projétil, incisivo instrumento de aniquilação de idiotas que não sabem viver, aparentemente. A mola soltara, o cão se movimentava, martelo final com o qual fixaria o último prego naquele paletó de madeira que não existia, além de seu corpo, além das tábuas do chão, dos cacos mais adiante, da efusão química que naquele corpo circulava, naquelas veias. Um ou outro, a luz ou a corrente de tóxicos, lhe levaria dali.
Clic.
É muito rápido. Não dá para se pensar em nada. Não se consegue rememorar nenhuma lembrança, não existe nenhuma epifania num átimo de tempo feito aquele. O cão se aproximava, em milionésimo de segundo, mais e mais, para a fonte de luz e de escuridão. Clic.
O que mais queria? O que mais encontraria, naquele momento final? A redenção, a danação eterna, o condenamento por suas ações, por sua fuga? Não poderia saber, em menos de um segundo. Clic, era tudo que poderia ter ouvido, tudo que ouviu antes. Da luz. Do fogo.
Muito iriam dizer, muito iriam xingar, mas nada iriam saber, sobre tudo que naquele eterno eco, naquele vazio absolutamente cheio que ecoavam vozes e fatos, memórias e recomendações, assim e assado, isto e aquilo, nada, nada. Nada iriam saber. Muito poderiam dizer, mas nada iriam descobrir, porque será.
Clic.
Já era muito tarde agora, bang.
Negro túnel, coberto por estranhas ranhuras em suas paredes metálicas. Olhava e olhava, minutos e minutos se passaram, mas lá do fundo, nenhuma luz saía. E ao redor, naquelas paredes que pareciam cada vez mais se fechar, nada acontecia. O tempo não parecia estar correndo.
E apesar disso, algo dentro de si sabia que deveria estar ali por mais de hora. Mas tal era o estado prostrado que se encontrava, não saberia dizer com precisão quanto tempo ainda restava, quanto tempo passara. Tempo, tempo. Do fundo do túnel a luz emanaria, libertando-o para sempre de tudo, de todos. De todos? De si.
Lá fora, inexistência por todos os lados. Névoa branca cobrindo as montanhas, rasas montanhas, pequenas elevações do solo. A neblina escondia tudo, todos. Quanto tempo ainda passaria até a luz aparecer? Não saberia dizer. Enevoada era sua vista, tomada por tantos compostos, manufaturados por máquinas, embalados por máquinas, engolidos por um ser humano. Não tão humano, não tão ser assim.
Aparentemente.
O foco se dirigiu para pequeno parafuso no corpo metálico. Mais para o lado, madeira, e outro parafuso. Smith? Wesson? Estranhos dizeires, escritos. Impressos na máquina de projetar chumbo, pequenas porções de morte. Não pensava direito, não conseguia pensar direito. Lá no final estava a luz, o fogo, aguardando o estalido da mola, o impacto da espoleta. Clic. Bang.
Onde estava a luz naquele dia, naquele negrume raiado? Pesado, em sua mão, estava aquele artefato. Não matarás. Não mataria, apenas...liberaria. Liberdade. Para ser nada. Para abraçar o que sempre fora, nada, noves fora, nada, nada.
Tudo passava, tudo passa, diziam. Não. Nada passava. Nada passou. Nem mesmo o tempo, agora também deformado pela ação de tantos fármacos. Dê o melhor de si. Faça por onde. Vozes, estranhas vozes, já não saberia dizer se era efeito de um ou de outro, de sua cabeça ou do coquetel de coisas, garrafa de coisa, quebrada, cacos por todo o chão, naquele canto.
Músculos oftálmicos cansados desviaram o olho para o chão, para o canto onde os cacos jaziam. Que sujeira. Iriram achar uma bagunça miserável, lhe xingariam, amaldiçoariam seu cheiro, imprestável, apodrecendo. Tempo, tempo. Tic tac, tic tac. Tudo pesava, mesmo a morte em sua mão. A luz, deveria achá-la. Se não podes vencê-los, junte-se a eles. Mesmo? Não.
Não, não. Jamais.
Pesado era o cabo, pesado o gatilho. Onde mesmo conseguira aquilo? Roubara, de seu irmão que havia roubado de outro familiar, esquecido pelo tempo, enegrecido pelos óxidos de ferro. Lá no fundo estava a luz, lá no fundo estava. Clic. Bang. Retesar antigos e carcomidos mecanismos, em amolecida mão, era uma tarefa demasiado dura. Mas era necessário. Não sabia se iria aguentar muito tempo, mas tinha que tentar, tinha que encontrar.
Contração, lembrou-se de processos musculares, fibras, actina e miosina, sarcoplasma. Ecos, ecos numa imensidão vazia mas tão cheia de nada que tudo ali era apenas um eco, ainda mais agora. Força, bombas de sódio! De potássio! Potássio. Do Kazakistão? Daquele país onde um bigodudo cujo nome nem mais conseguia fixar em sua mente, havia...feito coisas, mas era tudo um filme. Uma mentira em série.
Força.
Clic.
Dizem muita coisa, dizem estar a luz lá no fundo. Dizem que sua vida passa diante dos olhos, mas o que via era apenas o túnel metálico, as raias que conduziam ao plúmbeo projétil, incisivo instrumento de aniquilação de idiotas que não sabem viver, aparentemente. A mola soltara, o cão se movimentava, martelo final com o qual fixaria o último prego naquele paletó de madeira que não existia, além de seu corpo, além das tábuas do chão, dos cacos mais adiante, da efusão química que naquele corpo circulava, naquelas veias. Um ou outro, a luz ou a corrente de tóxicos, lhe levaria dali.
Clic.
É muito rápido. Não dá para se pensar em nada. Não se consegue rememorar nenhuma lembrança, não existe nenhuma epifania num átimo de tempo feito aquele. O cão se aproximava, em milionésimo de segundo, mais e mais, para a fonte de luz e de escuridão. Clic.
O que mais queria? O que mais encontraria, naquele momento final? A redenção, a danação eterna, o condenamento por suas ações, por sua fuga? Não poderia saber, em menos de um segundo. Clic, era tudo que poderia ter ouvido, tudo que ouviu antes. Da luz. Do fogo.
Muito iriam dizer, muito iriam xingar, mas nada iriam saber, sobre tudo que naquele eterno eco, naquele vazio absolutamente cheio que ecoavam vozes e fatos, memórias e recomendações, assim e assado, isto e aquilo, nada, nada. Nada iriam saber. Muito poderiam dizer, mas nada iriam descobrir, porque será.
Clic.
Já era muito tarde agora, bang.