quarta-feira, 29 de abril de 2009

Fascismo de terceira categoria.

Em dias sem muitas coisas agradavéis a se dizer, o nonsense ainda é o melhor remédio.

-Estamos aqui, em plena Itália dos anos 30, onde um grupo de militantes do partido Fascista tomou as ruas de supetão para fazer uma dantesca passeata. Vemos aqui que todos os integrantes filiados ao partido estão trajando seu uniforme típico, daí seu nome, "camisas-negras". Mas na passeata de ontem, um grupo de quatro indivíduos trajando camisas rosas foi escorraçado rudemente do movimento, pelo ultraje de trajar tal traje; estamos agora aqui no estúdio com estes individuos e realizaremos uma entrevbista com os mesmos. Boa noite.
-Boa noite.
-Boa noite.
-Gesundheit.
-Eu acho que eu não deveria estar aqui. Eu só vendo estas camisas cor de salmão.
-Sim, sim, o senhor mesmo, comecemos com o senhor. O senhor, que veste esta camisa rosa--
-Não é rosa, é salmão!
-Salmão é um peixe de água fria; eles não são rosa, pelo que me lembre.
-Sim, mas a carne deles é desta cor!
-Cor de rosa? Então o senhor deveria chamar a esta cor de "cor de carne de salmão", não?
-Sim, mas podemos abreviar para simplesmente "salmão", não?
-Não. O senhor está obscurecendo a verdade. O senhor não está além da verdade!
-Dane-se a verdade, eu só vendo estas camisas salmão!
-Não irei permitir abusos em meu tribunal!
-O senhor não é juiz, isto não é um tribunal, nem eu cometi crime algum.
-Sim, eu sei, mas drama gera audiência. E o senhor não consegue suportar a verdade!
-A verdade é que eu vou embora daqui. Fui!
-Maldito. Pois bem, e os senhores, o que vocês têm a dizer sobre vossa afronta ao partido fascista?
-Não temos nada a dizer. Somos integrantes de outro partido, o dos camisas-verdes.
-Mas as camisas de vocês são salmão, digo, rosa.
-Não, não são.
-Sim, isto não é verde, isto é salmão...rosa!
-Não, o senhor está enganado.
-Verde é tipo a camisa que eu estou usando.
-Quer dizer que o senhor é de nosso partido! Camarada!
-Não, não estou usando camisa cor de salmão, digo, rosa, caralho!
-O senhor é o caralho? Ou veste camisas do caralho?
-Sim, sei que esta camisa é do caralho.
-Vá pro caralho.
-Vá o senhor! Eu exijo ordem em meu tribunal!
-O senhor não é juiz.
-Mas eu poderia ser.
-Foda-se.
-Enfim, porque os senhores estavam trajando camisas salm...ROSA em plena passeata dos camisas-negras?
-Já disse que somos dos camisas-verdes.
(som discreto de um tiro de revólver. O cadáver do primeiro camisa-rosa é removido discretamente do recinto)
-Sim, sim. E o senhor, porque estava vestindo camisa rosa em uma passeata dos camisas-negras?
-Não sei de nada!
-Como não sabe de nada?
-Não sei qual é a capital da Assíria, por exemplo.
-Isto não vem ao caso.
-Então o que vem ao caso?
-PORQUE DIABOS O SENHOR USAVA CAMISA SALMÃO, DIGO, ROSA NA PASSEATA DOS CAMISAS NEGRAS???!!
-Não me grite. Eu não sou surdo.
-Pois não parece.
-Hein?
-Qual o motivo, o significado, o enigma destas camisas rosas, porra!
-Hein?
-Responda a pergunta! Lembre-se que o senhor está sob juramento.
-Não, não estou. Quero dizer, "Hein?"
-Ahá! Perjúrio é crime! O senhor disse que não era surdo!
-Disse, mas não jurei, não estou sob juramento e isto não é um tribunal. Hein?
(BANG. Mais um cadáver é removido dali)
-E o senhor, o único restante, porque DIABOS estava usando uma camisa rosa na passeata??!!
-Porque eu quis inovar. E salmão é muito menos demodê que estas cores nada fashion que os fascistas usam em seus trajes, tão vulgares.
-Quer dizer que o senhor assume que tentou tirar a vida do Duce?
-Tia Dulce? Não, nunca fui ao programa dela...snif....meus pais me maltratavam! Não quiseram me levar lá, nem no parque de exposições. E eu sempre quis ser bombeiro, não um integrante de um partido fascista qualquer.
-Cale-se.
-Não, a justiça deve prevalescer. O senhor está escondendo a verdade!
-Cale-se! Este tribunal é meu!
-Não, não é. Pelo poder a mim outorgado por ser integrnate dos camisas-verdes, eu tomo posse.
-Meu rei!
-Isto não é uma monarquia. Guardas, matem este biltre.
(BANG. O orador e juiz tomba morto. O camisa-salmão, digo, rosa, digo, verde, restante contempla a cena em camêra lenta, em replays incessantes.)
-Está tudo feito. O rei está morto, longa vida ao rei.
(Mas eu achei que isto não era uma monarquia)
-Quem disse isto? Quem esta aí?
(Apenas o narrador)
-Quem?
(O narrador, PORRA)
-Narrador da porra? Ahahahahahaha!!!
(Chega desta merda. Fim.)
-Não espere, o senhor não deseja comprar esta camisa salmão?
(FIM!!!)
-O senhor não pode fazer isto! Onde fica a democracia??
(FIM. THE END. FINITO.)
-Isto é um abuso de poder--

(E então o cavaleiro negro se apossa da cabeça do camisa salmão, digo ROSA, caralho, e se dirige ao crepúsculo. O bar, não o evento. E acaba-se a história do lobo mau.)

-Não entendi nada.

(VOCÊ ESTÁ MORTO, PORRA!)

-A porra está morta?? AHAHAHAHAHAHAHA!

-Transmissão encerrada aqui-