Que coisas você se mete por estar quebrado monetariamente. Tudo que você ouve são frases do naipe É a crise em momentos como este. Por mais que procurasse, não encontrei emprego em minha área. Andei e andei, mas a famosa frase rebatia todos meus argumentos, jogava por terra todo meu conhecimento de que quer que fosse, desde sânscrito até a manutenção de computadores.
É a crise.
Um dia, farto de tanto procurar por algum ganha-pão, vi o anúncio que precisavam de um caseiro em uma cidadezinha do interior. Para ficar alojado na própria casa. Necessitavam de alguém solteiro. Sozinho. Necessário ter disponibilidade 24 horas. Blah blah blah.
Eu não era exatamente solteiro; a palavra divorciado causava-me arrepios, mas era esta alcunha que a lei soberana havia me declarado meses atrás, logo após eu ter perdido meu emprego. Perca seu emprego e perca sua mulher de lambuja. E por que não perder sua casa, suas economias e tudo mais para a sua ex-mulher?
Fui conferir. Consegui o tal emprego, parecia-me que o dono daquela coisa - sim, que casa horrenda - estava desesperado por alguém que tomasse conta daquele monstro enquanto ele se dirigia para alguma paragem no pacífico sul, ou algo assim. Para aquele sujeito, a crise não existia, pelo visto. A única crise que parecia existir era sua necessidade fremente de alguém para tomar conta daquele lugar.
A casa era imensa, mas era localizada em algum local que parecia ter sido tirado de algum livro de terror. E estava necessitando de várias reformas. Eu teria que cuidar de tudo ali, fazer isto e aquilo. Não me importei, não eram coisas realmente difíceis de serem executadas. E pagavam bem, muito bem, para um emprego aparentemente simples como aquele.
O dono acertou tudo comigo e zarpou para suas férias em abril - ele era alguém que realmente não parecia conhecer as famosas três palavras mais escutadas por todos os lados.
É a crise.
Eu estava grato de ter arrumado aquela coisa. Já tinha me fartado tanto tentando achar um emprego que fosse, aquilo ali não deveria ser muito complicado. Após ler meu currículo e ter se deparado com a palavra fatal - divorciado - ele começou a listar as obrigações e restrições.
Não poderia fazer festas ali, de forma alguma. Não poderia chamar profissionais do sexo para me acompanhar as noites intensas de inverno. Não deveria beber em serviço. Nada de drogas. Blah, blah e blah. Algumas de suas instruções eram hilárias, e tive que me segurar para não rir na cara daquele almofadinha.
Não que eu quisesse realmente um local para orgias regadas a álcool e anfetaminas e outras coisinhas mais, eu só quera alguma forma de ganhar algum dinheiro. Sendo um escritor falido, um professor desempregado e um fracassado técnico de informática, tudo que eu queria era alguma forma de conseguir me manter vivo por conta própria. E aquele lugar era ideal para a realização de outro feito que eu tanto ansiava: a distância de pessoas.
A casa ficava nos arredores de uma cidade do interior, longe o suficiente da mesma para se ter sossego suficiente para que eu fizesse o que bem entendesse ali enquanto o dono estava velejando no Taiti ou algo assim. Vizinhos, apenas uma floresta decrépita, mais adiante algum armazém abandonado, e quilômetros de nada até a cidade. Nada e nada por todos os lados. Para que eu fizesse compras, teria que dirigir uns 30 km para chegar até a loja mais próxima.
Maravilha. Eu estava farto de tudo e de todos no momento. Minha ex-mulher, esta eu queria ver morta. Meus ditos amigos, haviam sumido assim que eu havia ficado quebrado e sem dinheiro para pagar as rodadas que costumava ofertar nos bares que frequentávamos. Pessoas, todas elas me apresentavam problemas que eu não tinha a resposta. Agentes de literatura, todos me diziam a mesma coisa. O mercado estava estagnado. Você tem que entender, é a crise.
É a crise.
Assim que o dono saiu apressado para sua fuga de toda aquela merda que assolava o país, eu me dirigi para meus aposentos determinados pelo dono, um quarto minúsculo e mal isolado termicamente nos fundos da casa, tirando todas as minhas coisas dali e movendo-as para o quarto principal no andar de cima. Queria ver algum dono me tirar dali; estando curtindo a vida adoidado em alguma ilha vulcânica no pacífico sul, creio que esta seria o pensamento menos recorrente em sua cabeça. É a crise, mas eu não me importo com isso.
Aquele quarto era imenso, uma suíte luxuosa e confortável. Uma das instruções do dono havia sido especificamente esta: "Não tente entrar na suíte principal, nem para limpeza. Aquilo deve ficar trancado o tempo todo." Após pensar um pouco, ele trancou a porta e não me deu a chave. Eu não disse nada, apenas assenti com a cabeça.
Uma simples porta não iria me impedir de usar tal quarto. Em um de meus empregos, um de meus colegas havia me ensinado a abrir qualquer tipo de fechadura antiga. Abri a porta sem problemas, valendo-me de um par de arames. Eu tomei posse do lugar, assim que consegui vencer a fechadura. Coloquei minha máquina de escrever portátil em cima da luxuosa escrivaninha do quarto. Algo digno de Luís XVI, ou XVII, LCMXXDXX, ou seja lá o que fosse.
Olhei ao redor. Porque alguém iria querer manter um quarto como aquele fechado por 5 meses? Era muito confortável, o único dos oito quartos maiores da casa que tinha lareira e banheiro integrado. Talvez o banheiro fosse o motivo, talvez ele estivesse com o encanamento arrebentado, com o esgoto fedendo, algo assim.
Abri a porta do banheiro e entrei, para me certificar que não estava fazendo nada que pudesse me arrepender depois.
Nada de errado ali. Havia uma imensa banheira antiquada, um box com chuveiro, uma pia colossal dotada de igualmente imensa bancada, um bidê e outras coisas normais de um banheiro. Nenhum mau cheiro, nada de anormal. Havia um armário imenso debaixo da pia, e um armário de remédios quase tão grande por trás do espelho. Abri tal armário...Talvez o dono guardasse ali seu estoque ilegal de heroína, coisa assim.
Ha, ha, ha, disse para mim mesmo assim que abri a portinha e vi que a única coisa que estava armazenada ali era...ar. Fechei a portinha rindo. E senti um arrepio na nuca quando vi algo refletido no espelho, atrás de mim.
Me virei e não havia nada atrás de mim. Credo. Mal havia chegado ali e já estava imaginando coisas.
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N. Do A. - Eu queria escrever um conto curto que imaginei ontem a noite, e como era de se esperar, não consegui muito resumir a coisa. Vou escrever a continuação e postar outro dia. Aguardem....TAM TAM TAM!
É a crise.
Um dia, farto de tanto procurar por algum ganha-pão, vi o anúncio que precisavam de um caseiro em uma cidadezinha do interior. Para ficar alojado na própria casa. Necessitavam de alguém solteiro. Sozinho. Necessário ter disponibilidade 24 horas. Blah blah blah.
Eu não era exatamente solteiro; a palavra divorciado causava-me arrepios, mas era esta alcunha que a lei soberana havia me declarado meses atrás, logo após eu ter perdido meu emprego. Perca seu emprego e perca sua mulher de lambuja. E por que não perder sua casa, suas economias e tudo mais para a sua ex-mulher?
Fui conferir. Consegui o tal emprego, parecia-me que o dono daquela coisa - sim, que casa horrenda - estava desesperado por alguém que tomasse conta daquele monstro enquanto ele se dirigia para alguma paragem no pacífico sul, ou algo assim. Para aquele sujeito, a crise não existia, pelo visto. A única crise que parecia existir era sua necessidade fremente de alguém para tomar conta daquele lugar.
A casa era imensa, mas era localizada em algum local que parecia ter sido tirado de algum livro de terror. E estava necessitando de várias reformas. Eu teria que cuidar de tudo ali, fazer isto e aquilo. Não me importei, não eram coisas realmente difíceis de serem executadas. E pagavam bem, muito bem, para um emprego aparentemente simples como aquele.
O dono acertou tudo comigo e zarpou para suas férias em abril - ele era alguém que realmente não parecia conhecer as famosas três palavras mais escutadas por todos os lados.
É a crise.
Eu estava grato de ter arrumado aquela coisa. Já tinha me fartado tanto tentando achar um emprego que fosse, aquilo ali não deveria ser muito complicado. Após ler meu currículo e ter se deparado com a palavra fatal - divorciado - ele começou a listar as obrigações e restrições.
Não poderia fazer festas ali, de forma alguma. Não poderia chamar profissionais do sexo para me acompanhar as noites intensas de inverno. Não deveria beber em serviço. Nada de drogas. Blah, blah e blah. Algumas de suas instruções eram hilárias, e tive que me segurar para não rir na cara daquele almofadinha.
Não que eu quisesse realmente um local para orgias regadas a álcool e anfetaminas e outras coisinhas mais, eu só quera alguma forma de ganhar algum dinheiro. Sendo um escritor falido, um professor desempregado e um fracassado técnico de informática, tudo que eu queria era alguma forma de conseguir me manter vivo por conta própria. E aquele lugar era ideal para a realização de outro feito que eu tanto ansiava: a distância de pessoas.
A casa ficava nos arredores de uma cidade do interior, longe o suficiente da mesma para se ter sossego suficiente para que eu fizesse o que bem entendesse ali enquanto o dono estava velejando no Taiti ou algo assim. Vizinhos, apenas uma floresta decrépita, mais adiante algum armazém abandonado, e quilômetros de nada até a cidade. Nada e nada por todos os lados. Para que eu fizesse compras, teria que dirigir uns 30 km para chegar até a loja mais próxima.
Maravilha. Eu estava farto de tudo e de todos no momento. Minha ex-mulher, esta eu queria ver morta. Meus ditos amigos, haviam sumido assim que eu havia ficado quebrado e sem dinheiro para pagar as rodadas que costumava ofertar nos bares que frequentávamos. Pessoas, todas elas me apresentavam problemas que eu não tinha a resposta. Agentes de literatura, todos me diziam a mesma coisa. O mercado estava estagnado. Você tem que entender, é a crise.
É a crise.
Assim que o dono saiu apressado para sua fuga de toda aquela merda que assolava o país, eu me dirigi para meus aposentos determinados pelo dono, um quarto minúsculo e mal isolado termicamente nos fundos da casa, tirando todas as minhas coisas dali e movendo-as para o quarto principal no andar de cima. Queria ver algum dono me tirar dali; estando curtindo a vida adoidado em alguma ilha vulcânica no pacífico sul, creio que esta seria o pensamento menos recorrente em sua cabeça. É a crise, mas eu não me importo com isso.
Aquele quarto era imenso, uma suíte luxuosa e confortável. Uma das instruções do dono havia sido especificamente esta: "Não tente entrar na suíte principal, nem para limpeza. Aquilo deve ficar trancado o tempo todo." Após pensar um pouco, ele trancou a porta e não me deu a chave. Eu não disse nada, apenas assenti com a cabeça.
Uma simples porta não iria me impedir de usar tal quarto. Em um de meus empregos, um de meus colegas havia me ensinado a abrir qualquer tipo de fechadura antiga. Abri a porta sem problemas, valendo-me de um par de arames. Eu tomei posse do lugar, assim que consegui vencer a fechadura. Coloquei minha máquina de escrever portátil em cima da luxuosa escrivaninha do quarto. Algo digno de Luís XVI, ou XVII, LCMXXDXX, ou seja lá o que fosse.
Olhei ao redor. Porque alguém iria querer manter um quarto como aquele fechado por 5 meses? Era muito confortável, o único dos oito quartos maiores da casa que tinha lareira e banheiro integrado. Talvez o banheiro fosse o motivo, talvez ele estivesse com o encanamento arrebentado, com o esgoto fedendo, algo assim.
Abri a porta do banheiro e entrei, para me certificar que não estava fazendo nada que pudesse me arrepender depois.
Nada de errado ali. Havia uma imensa banheira antiquada, um box com chuveiro, uma pia colossal dotada de igualmente imensa bancada, um bidê e outras coisas normais de um banheiro. Nenhum mau cheiro, nada de anormal. Havia um armário imenso debaixo da pia, e um armário de remédios quase tão grande por trás do espelho. Abri tal armário...Talvez o dono guardasse ali seu estoque ilegal de heroína, coisa assim.
Ha, ha, ha, disse para mim mesmo assim que abri a portinha e vi que a única coisa que estava armazenada ali era...ar. Fechei a portinha rindo. E senti um arrepio na nuca quando vi algo refletido no espelho, atrás de mim.
Me virei e não havia nada atrás de mim. Credo. Mal havia chegado ali e já estava imaginando coisas.
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N. Do A. - Eu queria escrever um conto curto que imaginei ontem a noite, e como era de se esperar, não consegui muito resumir a coisa. Vou escrever a continuação e postar outro dia. Aguardem....TAM TAM TAM!