Em momentos assim,
prefiro estar aqui,
onde tudo faz mais sentido
embora sentido algum exista,
em qualquer lugar daqui
-ou dali.
Enfim, olho ao redor,
busco algo que me incite,
que me seja escrevível.
Ali está uma porta,
atrás dela não sei de nada,
não vi nada,
nada de nada.
Olhemos para outro lado,
aqui temos uma caneca
- de café, do que mais?
que fumega, perfuma meu ar,
profusamente, me leva a crer
que há algo dentro dali,
algo que me faça escrever,
algo que me faça crer,
algo que me faça despertar.
Mais adiante, temos a pia,
esta que está vazia,
eis que outrora cheia esteve,
mas tudo esvazia-se
quando simplesmente deixamos
aberta, sem tampa,
sem rede, sem nada.
- nada de nada.
Caixas, papéis, lápis
- sonhos? -
empilham-se aqui e ali,
ali temos um bicho,
um artrópode, um inseto,
um ser; ao lado temos
traças que comem os
papéis, que devoram
as fibras, as lidas,
as tramas, os traços
- os sonhos? -
os rabiscos que tanto
circulam por outro lado,
este nada definível,
este nada visível,
que habita
em esta
cabeça.
O que há aqui?
Nada? - tudo.
Tudo que sempre quis,
tudo que sempre pensa,
tudo que sempre neura,
tudo que sempre tenta.
Tudo? - nada.
Pois eis que aqui estou,
mas aqui não estou,
estou ali, na fumaça do
café, na água da pia,
na trama do papel,
- comida de traças -
nada de nada.