Glug, glug, embebede-se de Red Bull às dez para as oito da madrugada, sr. Buriol. Ao que vemos, o feriado foi bem proveitoso, não? Pois sim.
A canseira não se deve exatamente ao feriado, entretanto. Na data anterior a ele, fui ter à capital financeira - creio que podemos chamá-la disso - do país, mais conhecida como São Paulo. Para um capiau da roça belorizontina feito eu, que em 33 anos nunca havia sequer pisado ali, deveria ser uma experiência quase mística, dizem alguns. Eu digo que não; Sumpaulo não é nada disso que a capiauzisse nos leva a pensar. Ao contrário, achei ser imensamente parecida com nossa roça asfaltada, apenas em uma escala mais monumental. Os mesmos prédios velhos e caquéticos, a mesma quantidade imensa de pessoas que poderiam simplesmente nunca ter existido que não faria a menor diferença para a humanidade.
Fui para aquela selva de pedra juntamente com minhas irmãs para resolvermos assuntos pertinentes à obtenção de dupla cidadania, no consulado da República Tcheca. A coisa estava marcada para as duas da tarde, mas todos conhecem a má fama do trânsito local. Achamos melhor para lá irmos logo cedo, antes mesmo do raiar do dia. Acordamos às quatro da manhã , e mesmo assim só conseguimos apanhar o ônibus das cinco e vinte para o aeroporto. Foi a conta de lá chegarmos e embarcarmos.
Como eu e Marcela fomos em um vôo diferente de minha outra irmã, fomos para também em aeroportos diferentes, ela em Congonhas e nós em Guarulhos. Nos encontramos em Congonhas, após pegarmos um ônibus de conexão entre os aeroportos. No caminho fui constatando o que já disse, o fato que por mais que a cidade seja muito maior que nossa modesta capital, ela é tão somente isto - uma cidade maior, nada mais. As coisas eram muito parecidas, as construções tão sujas e parecidas quanto, tudo na mesma. Só muda a escala.
Felizmente, o horário matinal ajudou no quesito trânsito. De Congonhas, fomos para o consulado, que fica em área nobre de Sumpaulo, no Morumbi. As casas que ali existem são mais palácios que casas, de fato. Chegamos ao consulado, mas verificamos ter sido em vão ali chegarmos tão cedo: os europeus são muito estritos com seus horários e a vice-cônsul não nos atenderia antes do horário previsto. Logo, o que fazer?
Evidentemente, ir para um xópis da grande São Paulo, denominado Eldorado. Ali mataríamos o tempo até as duas da tarde, almoçando nesse interim. Logo de cara percebi algo ali que não temos aqui: o café Starbucks, com toda sua fama internacional, ainda não atingiu BH. Cumprindo meu papel de bom "cafeiólatra", tive que experimentar um dos espressos ali servidos, que são todos servidos em copos de pael, com gradação típica, pequeno médio e grande, mas curiosamente denominados tall, grande e um outro nome que a memória me falhou, mas que não são nada além de eufemismos internacionalizados para pequeno médio e grande, com a diferença única do grande ser médio e não grande. Entenderam? Nem eu. Pois bem, tirando este curioso porém irrelevante fato, afirmo que não sentirei falta de tal café em nossa cidade: é caro e ruim. Ao menos eu achei muito pior que um espresso normal, brasileiro, feito o Pilão, que experimentei no aeroporto de Congonhas.
Fora isto, o xópis era apenas um xópis como outro qualquer. A única diferença marcante que vi ali era o fato que alguns privilegiados seguranças se valiam do veículo mais inútil já projetado pelo homem para o transporte individual, ou Segway. Cá entre nós, o que representou de revolucionário aquele caríssimo patinete?
Depois do almoço McDonâldico, lá fomos novamente para o consulado, esperamos mais um tiquinho até dar as duas horas, e fomos atendidos. Agora é oficial, sou um gringo. Já tenho certidão de nascimento naquela língua esquisita, e o passaporte deve cá chegar daqui a uns dois meses.
Depois, fomos direto para Congonhas, onde Milena teria que esperar até as seis da tarde para apanhar o vôo de retorno a Minas. Já estávamos todos meio que fartos da cidade e dos paulistanos. Descobri mais uma vez que o sotaque deles me irrita profundamente, e bem sei que da parte deles, o nosso sotaque deve ser igualmente irritante ou patético, mas como nenhum de nós irá fazer nada a respeito além de falar mal mutuamente, ficamos neste zero a zero. Bem sei que nosso jeito de manifestar "os plural" e falar "mei qui cumendu as letra tudo" deve soar como um disco riscado aos "zuvidos" dos paulistanos, assim como o jeito deles de falar "cara DE pau, manoo" e estender os Rs até o limite do tolerável aos provincianos ouvidos dos mineiros soa como um festival de pernilongos à nossa cabeceira. Incomoda mesmo.
Mas creio que isto faz parte de sermos integrantes deste tão vasto país, em que bastam algumas centenas de quilômetros de distância para que a realidade mude por completo, mesmo no quesito pronúncia do português. São vários países que aqui existem, ao contrário do país que agora sou cidadão oficialmente, que não vale nem a extensão somada dos estados rivais a Minas, Rio e São Paulo.
De resto, no final da tarde fomos de ônibus até Guarulhos, e conheci outro aspecto nada lisonjeiro da capital paulista - o trânsito infernal. Ficamos duas horas presos no tráfego intenso. O que salvou minha vida neste momento - aliás, por toda a viagem em si - foi o fato que eu estava acompanhado de minhas divertidas irmãs. Eu teria me desfeito de tédio se estivesse preso sozinho naquela prisão sob rodas que demorou duas horas para chegar ao outro aeroporto. E tenho certeza que o dia teria sido infinitamente menos divertido se estivesse ali sozinho. E como tivemos que ali mofar até as onze da noite, foi muito bom estarmos ao menos bem-acompanhados, não é mesmo?
Depois de sofrermos mais um vôo(eu detesto voar), cá chegamos em cima da hora para apanharmos o último ônibus de volta para BH. O próximo só sairia às duas da matina. E confesso que tive mais medo deste ônibus do que do avião. O motorista se aproveitou do horário para voar sob o asfalto, fazendo o trajeto de retorno em 35 minutos, aproveitando para bater um "pega" com um caminhão tanque no caminho, muito para meu desepero e para a indiferença de minha irmã, que agora dormia tranquilamente, ignorando todo aquele absurdo. Ela nem viu o comboio que transportava um helicóptero militar naquela avenida, àquela hora da madrugada. Coisas bizarras.
Enfim, agora cá estou, à espera de lá ter que ir novamente. Se tiver que ser uma viagem análoga aque tivemos na terça feira, não será tão problemático assim. Eu achei que seria um dia terrivelmente lento e enfadonho, mas achei até que passou bem rápido e foi afinal de contas um dia proveitoso, não só por termos resolvido esta coisa, mas pelas conversas e experiências que vivenciei no decorrer de tal dia. Fizeram valer a pena.
Agora, ontem eu tive um verdadeiro "crash" de cansaço durante todo o dia. Ainda bem que era feriado, ou eu teria dormido horrores em cima deste teclado. Pude dormir tranquilamente em minha casa, em minha cama. Creio que quando tivermos que repetir a dose, não poderei contar com esta vantagem. Veremos.
Agora, vamos voltar ao mundo real e trabalhar, enquanto espero o passaporte que - quem sabe? - irá me proporcionar uma forma de mudar radicalmente de vida daqui a um tempo.
A ver.
A canseira não se deve exatamente ao feriado, entretanto. Na data anterior a ele, fui ter à capital financeira - creio que podemos chamá-la disso - do país, mais conhecida como São Paulo. Para um capiau da roça belorizontina feito eu, que em 33 anos nunca havia sequer pisado ali, deveria ser uma experiência quase mística, dizem alguns. Eu digo que não; Sumpaulo não é nada disso que a capiauzisse nos leva a pensar. Ao contrário, achei ser imensamente parecida com nossa roça asfaltada, apenas em uma escala mais monumental. Os mesmos prédios velhos e caquéticos, a mesma quantidade imensa de pessoas que poderiam simplesmente nunca ter existido que não faria a menor diferença para a humanidade.
Fui para aquela selva de pedra juntamente com minhas irmãs para resolvermos assuntos pertinentes à obtenção de dupla cidadania, no consulado da República Tcheca. A coisa estava marcada para as duas da tarde, mas todos conhecem a má fama do trânsito local. Achamos melhor para lá irmos logo cedo, antes mesmo do raiar do dia. Acordamos às quatro da manhã , e mesmo assim só conseguimos apanhar o ônibus das cinco e vinte para o aeroporto. Foi a conta de lá chegarmos e embarcarmos.
Como eu e Marcela fomos em um vôo diferente de minha outra irmã, fomos para também em aeroportos diferentes, ela em Congonhas e nós em Guarulhos. Nos encontramos em Congonhas, após pegarmos um ônibus de conexão entre os aeroportos. No caminho fui constatando o que já disse, o fato que por mais que a cidade seja muito maior que nossa modesta capital, ela é tão somente isto - uma cidade maior, nada mais. As coisas eram muito parecidas, as construções tão sujas e parecidas quanto, tudo na mesma. Só muda a escala.
Felizmente, o horário matinal ajudou no quesito trânsito. De Congonhas, fomos para o consulado, que fica em área nobre de Sumpaulo, no Morumbi. As casas que ali existem são mais palácios que casas, de fato. Chegamos ao consulado, mas verificamos ter sido em vão ali chegarmos tão cedo: os europeus são muito estritos com seus horários e a vice-cônsul não nos atenderia antes do horário previsto. Logo, o que fazer?
Evidentemente, ir para um xópis da grande São Paulo, denominado Eldorado. Ali mataríamos o tempo até as duas da tarde, almoçando nesse interim. Logo de cara percebi algo ali que não temos aqui: o café Starbucks, com toda sua fama internacional, ainda não atingiu BH. Cumprindo meu papel de bom "cafeiólatra", tive que experimentar um dos espressos ali servidos, que são todos servidos em copos de pael, com gradação típica, pequeno médio e grande, mas curiosamente denominados tall, grande e um outro nome que a memória me falhou, mas que não são nada além de eufemismos internacionalizados para pequeno médio e grande, com a diferença única do grande ser médio e não grande. Entenderam? Nem eu. Pois bem, tirando este curioso porém irrelevante fato, afirmo que não sentirei falta de tal café em nossa cidade: é caro e ruim. Ao menos eu achei muito pior que um espresso normal, brasileiro, feito o Pilão, que experimentei no aeroporto de Congonhas.
Fora isto, o xópis era apenas um xópis como outro qualquer. A única diferença marcante que vi ali era o fato que alguns privilegiados seguranças se valiam do veículo mais inútil já projetado pelo homem para o transporte individual, ou Segway. Cá entre nós, o que representou de revolucionário aquele caríssimo patinete?
Depois do almoço McDonâldico, lá fomos novamente para o consulado, esperamos mais um tiquinho até dar as duas horas, e fomos atendidos. Agora é oficial, sou um gringo. Já tenho certidão de nascimento naquela língua esquisita, e o passaporte deve cá chegar daqui a uns dois meses.
Depois, fomos direto para Congonhas, onde Milena teria que esperar até as seis da tarde para apanhar o vôo de retorno a Minas. Já estávamos todos meio que fartos da cidade e dos paulistanos. Descobri mais uma vez que o sotaque deles me irrita profundamente, e bem sei que da parte deles, o nosso sotaque deve ser igualmente irritante ou patético, mas como nenhum de nós irá fazer nada a respeito além de falar mal mutuamente, ficamos neste zero a zero. Bem sei que nosso jeito de manifestar "os plural" e falar "mei qui cumendu as letra tudo" deve soar como um disco riscado aos "zuvidos" dos paulistanos, assim como o jeito deles de falar "cara DE pau, manoo" e estender os Rs até o limite do tolerável aos provincianos ouvidos dos mineiros soa como um festival de pernilongos à nossa cabeceira. Incomoda mesmo.
Mas creio que isto faz parte de sermos integrantes deste tão vasto país, em que bastam algumas centenas de quilômetros de distância para que a realidade mude por completo, mesmo no quesito pronúncia do português. São vários países que aqui existem, ao contrário do país que agora sou cidadão oficialmente, que não vale nem a extensão somada dos estados rivais a Minas, Rio e São Paulo.
De resto, no final da tarde fomos de ônibus até Guarulhos, e conheci outro aspecto nada lisonjeiro da capital paulista - o trânsito infernal. Ficamos duas horas presos no tráfego intenso. O que salvou minha vida neste momento - aliás, por toda a viagem em si - foi o fato que eu estava acompanhado de minhas divertidas irmãs. Eu teria me desfeito de tédio se estivesse preso sozinho naquela prisão sob rodas que demorou duas horas para chegar ao outro aeroporto. E tenho certeza que o dia teria sido infinitamente menos divertido se estivesse ali sozinho. E como tivemos que ali mofar até as onze da noite, foi muito bom estarmos ao menos bem-acompanhados, não é mesmo?
Depois de sofrermos mais um vôo(eu detesto voar), cá chegamos em cima da hora para apanharmos o último ônibus de volta para BH. O próximo só sairia às duas da matina. E confesso que tive mais medo deste ônibus do que do avião. O motorista se aproveitou do horário para voar sob o asfalto, fazendo o trajeto de retorno em 35 minutos, aproveitando para bater um "pega" com um caminhão tanque no caminho, muito para meu desepero e para a indiferença de minha irmã, que agora dormia tranquilamente, ignorando todo aquele absurdo. Ela nem viu o comboio que transportava um helicóptero militar naquela avenida, àquela hora da madrugada. Coisas bizarras.
Enfim, agora cá estou, à espera de lá ter que ir novamente. Se tiver que ser uma viagem análoga aque tivemos na terça feira, não será tão problemático assim. Eu achei que seria um dia terrivelmente lento e enfadonho, mas achei até que passou bem rápido e foi afinal de contas um dia proveitoso, não só por termos resolvido esta coisa, mas pelas conversas e experiências que vivenciei no decorrer de tal dia. Fizeram valer a pena.
Agora, ontem eu tive um verdadeiro "crash" de cansaço durante todo o dia. Ainda bem que era feriado, ou eu teria dormido horrores em cima deste teclado. Pude dormir tranquilamente em minha casa, em minha cama. Creio que quando tivermos que repetir a dose, não poderei contar com esta vantagem. Veremos.
Agora, vamos voltar ao mundo real e trabalhar, enquanto espero o passaporte que - quem sabe? - irá me proporcionar uma forma de mudar radicalmente de vida daqui a um tempo.
A ver.