quinta-feira, 15 de abril de 2010

Johnnie Walker ou o doido que anda feito doido.

Hoje, encontro-me confortavelmente aquecido, por mais frio que a manhã esteja, neste iníco de inverno belorizontino meio que fora de hora. Pois vim andando, da Afonso Pena até aqui, uma caminhada que já me acostumei nestes anos que me encontro encerrado na contabilidade dos numerários alheios. São quase dois quilômetros de caminhada. Não acho grandes coisas, mas me parece que a sedentária população mundial considera isto como uma intransponível distância. Me olham estranho todas as vezes que comento a respeito de meu hábito de para cá vir, usando apenas meus pés. Presumo que andar seja algo em desuso nestes dias de tantas opções menos onerosas para as solas de nossos sapatos, algo assim.

Comentei o fato com uma pessoa hoje de manhã, e diante da reação de estranhamento, prontamente acrescentei mais dados andarílhicos de minha pessoa. Ao que recebi aquele olhar típico: este cara é doido. Tem à mão passagens pagas pela empresa em que trabalha e não os utiliza; prefere chegar no emprego a pé. De fato, não é muito lógico, se formos analisar a coisa por este lado. Acontece que sou um cara que fica dez horas por dia sentado à frente de um computador, estou ficando cada vez mais velho e portanto propenso a ter problemas de saúde, e creio que todos sabem que sedentarismo aumenta em muito sua não-saúde. 
Logo, o que fazer? Tenho a mesma falta de tempo que todos que passam dez horas por dia aqui enfurnado. Preferi aliar a necessidade de cá chegar com a vantagem "esportiva" de para cá vir andando. Assim posso chegar em casa à noite e não ter que me preocupar com eventuais caminhadas e mesmo me permitir certas comilanças de quando em vez, coisa que muito aumenta o diâmetro de meus companheiros escrotoriais, que lá ficam reclamando de suas crescentes barrigas sem nem saber por que elas estão aumentando cada vez mais. 

Certo, sou meio doido mesmo por fazer tal coisa, ainda mais agora que vejo tal fato por escrito. Mas é um hábito que me acompanha já faz muito tempo. Na época em que entrei na biologia, uma das épocas mais negras monetariamente falando de minha vida, eu recebia grana para apannhar quatro ônibus por dia - dois para ir e dois para voltar - e mais uma quantiazinha para almoçar no infecto bandejão do campus. Eu não tinha grana nem para xerocar os textos necessários para as provas. Depois de um mês, descobri uma "brilhante" maneira de conseguir salvar um dinheiro. 
Passei a pegar um ônibus para ir de minha casa até o ponto final dele, que ficava na boca da favela perto do xópis Del Rey, e andar o resto até o ICB. E quando voltava, fazia o caminho oposto. Junte-se a isto o fato que passei também a embolsar o dinheiro do almoço, passando a me alimentar de quatro fatias de pão de forma todos os dias....e você tem um cara que perdeu vinte quilos em seis meses. 
Saudável, de fato. Muito. Eu precisava de perder peso naquela época, pois tinha o traseiro do tamanho da lua e calças que não me serviam. Hoje em dia, cabem dois de mim naquelas calças que não me serviam. Mesmo que tal dieta tenha sido eficaz para emagrecer, não a recomendo a ninguém. Credo. Mas desde então, sempre que me apanhei com a necessidade de chegar nalgum lugar que os carros e autocarros desta cidade não possam me transportar, já planejo a minha caminhada. Pé por pé. Naquele maldito dia da greve infernal dos ônibus, andei e cá cheguei, sem atrasos, sem ziguiziras. No dia da paralisação dos professores, eles pararam o centro da cidade. Lá fui eu a pé para casa. Cansei, muito, mas cheguei sem maiores problemas.

Bem sei que soa deveras patético um cara de 33 anos relatar que anda muito mais do que deveria, em uma idade que o que se é esperado é que tal marmanjo possua ao menos um carro, mas eu sou este ser abjeto e à parte da normalidade, conforme qualquer um que já tenha lido as coisas que cá escrevo pode constatar, mas não me apoquento muito por este fato. Se a necessidade surgir, ando sem problemas. E sinceramente, prefiro agir detal forma do que me tornar um ser cada vez mais rotundo, a exemplo de meus colegas de escritório.

E neste inverno incipiente, já comprovei que cá posso chegar pelas manhãs sem maiores problemas; digo isto por que tenho o bom senso - ainda que esparso - de saber que uma caminhada para cá na época do calor, faz-me aqui chegar suado feito um porco. Neste período me comporto como um reles assalariado normal e apanho o ônibus para cá. Não sou tão doido a ponto de trabalhar todo melado e fedido. 

Bem, a normalidade passa longe deste ser que tnato escreve, como podem perceber. Ao menos tenho hilárias histórias de auto degradação em tediosos momentos. Ao menos isto eu posso afirmar que possuo. 

E agora, o ser andante deve aqui ficar estacionado pelas próximas 9 horas, aproximadamente, e tentar fazer algo com sua inutilidade. Vejamos se a leitura do maravilhoso mundo dos servidores de rede hoje rende...