terça-feira, 13 de abril de 2010

Tipo isso.

Um grande consultório médico. Algumas pessoas sentadas às cadeiras aguardam sua vez. Entra um senhor muito magro, trajando uma patética roupa de urso, que caberiam dez caras como ele. indiferente à galhofa alheia dos demais presentes, ele se dirige para a incrédula atendente, que muito faz esforço para segurar o riso. "Boa tarde e boa noite. Bom dia! Vim ter com o doutor Sacripantas acerca de meu procedimento cirúrgico."

A secretária, fazendo força para não explodir em riso, e ficando deveras avermelhada devido a tal hercúleo esforço, lhe pergunta o nome, entre risadas fracamente disfarçadas. "Pois, sou o Senhor Urso. Mas ainda pode me jamar de Austregésilo Bernardes." Ficando cada vez mais tingida de vermelho, com as faces em chamas devido àquele excesso de sangue, a secretária pede para que o Senhor Urso se sente.

As demais pessoas da sala, desprovidas da hipócrita necessidade de não ter que rir de um cliente de seus empregadores, se dobram de tanto rir da insólita cena. Finalmente, após umas duas ou doze horas de espera, como é de praxe que médicos façam esperar à seus pontuais pacientes, o médico sai de seu escritório e apanha a ficha do próximo.

Franzindo a testa e olhando para a secretária com cara de interrogação, ele anuncia o nome, "Senhor...Urso?" Ao que nosso herói se levanta, triunfante. "Cá estou doutor." O médico, finalmente percebendo do que se tratava, já começa a estressar. "Que brincadeira é esta? Isto é um consultório, e sou um médico sério!"

Ao que o outro replica, "E eu sou um homem, digo, urso igualmente sério, doutor. Baixe seu tom de voz pois estou pagando a consulta e exijo tanto respeito quanto o senhor exige!" O doutor olha incrédulo para seu paciente. "O que veio fazer aqui afinal? Isto é uma Central de Cirurgia Estética, não um circo!"

"Vim arranjar os detalhes para minha lipoinsiração." - "Creio que o senhor quer dizer LIPOSPIRAÇÃO, não é não.", diz um dos presentes na sala. O senhor Urso solta um olhar fulminante para ele. "De forma alguma. Eu quero que injetem gordura em meu corpo até que meu corpo preencha este espaço vazio que me circunda nesta pele."

Segue-se uma gargalhada geral na sala, e a secretária tomba ao chão, mandando às favas todo seu fingido profissionalismo para com pacientes. O médico continua sem acreditar no que ouve. "Que diabos o senhor está pensando? Eu sou um profissional sério! Nunca, jamais faria tal procedimento." O senhor Urso retira uma pistola Colt 1911 .45 de algum local indefinido por debaixo de sua "fantasia" e aponta diretamente para a cabeça do médico. "O senhor irá fazer minha cirurgia nem que eu tenha que lhe matar para isso."

O médico não se altera. Tira de seu bolso uma caneta e começa a mordiscar o cabo. "Pois, se estiver morto, será difícil de fazer qualquer coisa, não é verdade?"

Bang.

O médico tomba morto ao chão, e o pânico se instaura no consultório. Alguns dos pacientes mais inclinados a serem mais fatalistas, e com sérios sintomas de loucura induzida por uma infância regada a "Lemmings", se atiram em fila pela janela. A secretária nada ouve, nada vê, pois sua cabeça havia estourado devido a imensa pressão causada pelo riso contido. O senhor urso faz alguns passes estranhos, acompanhados da seguinte fala, "Eu sou o senhor dos mortos, um necromancer autêntico, treinado por um site da internet! Exijo que o médico se levante dos mortos!"

A secretária se levanta como um autômato leventemente defeituoso. "Droga. Eu sabia que deveri ter estudado mais a fundo aquela lição." A secretária levanta os braços e começa a grunhir, "Mioloooooo....." O Senhor Urso, levemente impacientado, indica a porta e diz, "Existe uma excelente casa de vinhos em oferta no final da rua. E se quer um conselho, compre um Bordeaux MCCXXXLLLCCCVVVVKKKKK. Excelente ano, este." - "Bordeauxxxxx......"

O senhor Urso refaz os passos e desta vez o médico se levanta. "Agora sim. Fará o que eu ordenar. Está frio demais, e quero passar seis meses hibernando feito um urso, e o senhor está me atrasando a vida." O médico-zumbi olha para ele com cara de vaca de presépio e diz, "Grainnnnnssss...." O Sehor Urso, esbaforido, se lamenta. "Mas que merda isso. Parece que abati um almofadinha que se gaba de falar inglês e ser vegan." Ao que o doutor zumbi olha para ele com ar ofendido e diz, "Grainnnnnssss.....braaaaannnnnn...."

"Mas que inferno isto. Quero só que me injete gordura, seu animal. É tão difícil assim?" O reanimado doutor pisca uma, duas vezes e replica, "Brown sugaaaaaaaar." O senhor urso perde a paciência e dispara vários tiros que abatem impiedosamente o ex-médico. "Eu odeio neo-hippies que só pensam nestas comidas saudáveis. Sou muito mais devorar uma bela fatia de bacon."

De repente a porta se abre e eis que ressurge a Secretária, já um tanto carcomida pelo acelerado processo de putrefação causado pela zumbiência. Estava carregando uma garrafa de vinho e duas taças. E trajava uma sensual lingerie que deixava ver todas aquelas pústulas fedidas e que vazavam um caldo esbranquiçado e fedido. Entre seus dentes está uma rosa. "Bordeauxxxx.......sexooooooo...." O Senhor Urso, ao perceber a merda que se meteu, tenta disparar contra a apaixonada reanimada, mas verifica para seu desespero que gastara todas as balas restantes no ex-doutor.

"Agora fudeu! Afaste-se de mim, criatura!" Ao que a cambaleante e provocante morta-viva replica, "Sexooooooooo...." - "Não! Não!" Em seu desespero, o atrapalhado necromante tenta executar uma manobra mais avançada por ele lida no site de necromancia, mas para seu horror, tal manobra só faz com que o doutor zumbi se reconstituísse magicamente e se reerguesse. Ele olha para a secretária e diz, "Vagabundaaaaaaaaaaa....." E a outra replica, "Broxaaaaaaaaaa...." E caem no tapa, na medida do possível permitido pelo estado que a zumbiência lhes permite.

O Senhor Urso tenta aproveitar a deixa para dali escapar, mas é apanhado pelo volume excessivo da fantasia. Ambos zumbis olham para ele e dizem, "Menage a troissssssssssss....." - "Não! Não! NÃÃÃÃOOO!!!"

A porta do consultório se fechou, e dali de dentro só escaparam sons estranhos daquela bizarra sessão de libertinagem sexual. E todos viveram - ou não - felizes para sempre, até que os vermes terminaram de comer toda aquela repugnância.

E fim.