Vagar, vagar, de-vagar.
vagar, vagar, mudar!
mudar o que não muda
"não muda porque não queres"
não...não quero
certas mudanças, nunca quis
certas ambições, nunca as tive.
certos sonhos...os tive, sim, deveras,
traí-me em todos
contraí todo tipo de sonho
que não pode ser executado
não agora, não.
aumentem as doses,
aumentem os remédios
não existe remédio
para o que sinto deveras
e o que sentes?
paixão, ardor, ódio, ciúme?
inveja?
certas feitas invejo até mesmo
mendigos, por não serem
quem de fato sou...
inveja, de dinheiro, de poder
poder fazer o que quiser
por ter dinheiro
para fazer o que bem entender
e o que bem entendes?
nada, deveras, nada.
nada da vida
nada das pessoas
nada de mais
muito de menos
vagar, vagar, vagar
pela noite afora, vagar
em sonhos incompletos
em esperanças natimortas
e o aborto dos sonhos
que nunca verão
a luz do dia
nem da noite,
as luzes da noite,
que erram, tudo erram,
tudo encerram
algumas vezes, nem todas
mas
todas as noites
existe algo
que me faz
me fez
temer
o que
sou
o que
sempre
serei
aquilo
que é-me
conhecido,
por tantos odiado
por tantos judiado
por todos hilarizado
hilário! ha ha ha
gente, enquanto dia,
enquanto público
enquanto gente
a mais nas gentes
mas às noites,
não.
quimera
monstruosa quimera
por tantos julgado,
condenado,
encerrado
em sua própria jaula
criada por sua própria
existência
por sua própria
negligência(?)
por ser
o que não
sou, aos olhos
de outrem,
mas sou,
diante de mim
diante do espelho
diante do que vejo
em meus sonhos,
em meus desejos,
meus anseios,
nunca. Nunca se farão.
Nunca, nunca.
quiçá exista
mundo afora
outro de mim
outro pra mim
mas, donde?
como?
onde estás
que não vejo
não verei
não conseguirei
não conseguiremos
encontrar-mo-nos
nunca.
In vino veritas
in vita, vanitas
ars moriendi
memento mori
sim, sim, morrerei
morreremos todos
mas alguns de nós,
vivem mais que os
demais...os Monstros...
por serem, haverem,
obtiverem, obtiveram
o que jamais
obterei
jamais.
nasci, como qualquer um
nasce, mas morrerei
da forma que poucos morrem
em uma última ceia
arquitetada, planejada
para o momento em que
tudo mais falhar,
feito tem falhado,
feito tenho falhado.
Mude!
Viva!
Saia!
pra onde?
pra quê?
como?
monetários não há,
não haverão
viver, sem deveras
estar vivo,
este é meu suplício,
que me anseia
isolar-me,
esconder-me
ninguém incomodar
ninguém me incomodar
não machucar
nem ser machucado
querer o sabor
sem sentir a dor
dor
que sempre haverá,
sempre existirá
entre dois seres,
duas pessoas,
duas gentes
presumo que o mesmo
seja verdadeiro
para nós, os Monstros
encerrados
escondidos
desabitados.
Ars moriendi.
Memento mori.
requiem
para o Monstro,
em breve, em breve
tal qual, dirão
alguns, erroneamente,
foi sua estada
entre as gentes
Gentes!...
tantas e tantas gentes,
não encontro sequer
um outro Monstro
para me aceitar,
me fazer companhia,
talvez até me alegrar,
me amar.
"love yourself first."
como?
como amar um morto
ou que se planeja morto,
em breve, quando tudo
mais falhar,
todos os remédios
falharem,
todo o dinheiro
acabar...
já acabou.
acabou-se tudo,
coisas que sequer nem
começaram,
já se acabaram.
Nunca começarão,
nunca terminarão.
Que tens? Inveja?
Sim, admito, invejo
invejo até certas
escórias que são alcunhadas "gente"
sem nem o serem,
mas por haverem,
ao contrário do Monstro,
terem vivenciado
a vida, ou aspectos dela
que jamais vivenciarei.
Certa feita, lembro-me
bem, me disseram, com
raiva na voz, "você precisa
amar alguém!"
sim...preciso...sempre precisei...
mas falhei. Sempre falhei.
por ser o que não era
e tentar ser o que nunca fui,
nunca serei.
Gente.
Apenas aos olhos
das desatentas gentes,
sou gente, como elas.
mas sei que não.
sempre soube que não.
sou o Monstro no armário,
fora do armário, que seja,
mas ainda assim Monstro,
deveras Monstro,
à procura
de outro Monstro
assim como eu
mas não os há! em parte alguma
não os há.
Viver sem viver,
morrer por morrer,
por estar farto
de nunca ter encontrado
aquilo que sempre
procurei, mas não existe.
Não. Existe.
Memento mori,
morrerei sem conhecer
o sabor sempre acompanhado
de amargor, bem sei, sempre soube,
sempre disto fugi, e agora -
- agora é tarde.
És Monstro,
serás Monstro,
enquanto permanecer,
inexistente
a outro Monstro qualquer,
que não os há!
não os há!
viver estando morto.
morrer, tendo ainda acesa
dentro de mim
a chama que nunca se apagou
mas nunca se encontrou
com outra similar chama,
e se apagará, também,
quando o requiem chegar,
a última ceia ocorrer,
o Testamento lavrado
por muitos testemunhado,
fará-se valer
de mim se livrarão
das débeis palavras
débeis mentalidades,
debéis anormalidades,
Monstro.
Memento mori,
a todo dia,
toda hora,
todo lugar
que vou,
fui, estive,
compareci
depois desapareci
por não haver nunca
encontrado
o que queria, deveras
encontrar.
Não. Os. Há.
Mude!
Lute!
Procure!
É tarde.
Sempre foi tarde.
sempre foi inútil,
pois não os há.
mudaria, deveras,
de Monstro pra Gente,
mas não sou capaz,
apenas fui capaz
do extremo oposto.
Monstro, sozinho estás,
por não ter procurado!
Não. Sozinho estou,
por não os haver,
nunca hei de haver,
nunca hei de obter,
o conselho raivoso
que me deram.
Ame-se a si mesmo
primeiro.
Não, nunca a mim, nem a
outrem. Não os há.
Como posso amar
o que vive mas é morto,
o que ladra mas não morde,
o que jamais existiu,
apesar de ter, deveras,
enchido o saco de tanta Gente?
Gentes. Memento mori.
Ars moriendi,
sempre aprendendo,
cada dia mais,
cada dia a menos.
cada hora a mais,
cada segundo a menos,
"esta é sua vida,
e está acabando
um minuto por vez."
"esta é minha vida,
e ela acabou,
dez anos atrás."
Morto, semi-morto,
zumbi entre as Gentes
cópias de cópias de cópias,
de algum ideal de beleza
que jamais persegui,
jamais quis,
jamais fiz força
para obter tal ideal.
meu ideal é outro,
um outro Monstro,
que não há.
Monstro, patético,
a chorar, ao se dar
conta do que fez
e o que deveria ter feito,
mas não o fez. E agora
Monstro és,
Monstro serás.
Memento mori.
Ars moriendi.
Cada dia mais,
cada dia menos.
Nunca amou,
nem amará.
Ars moriendi, de fato.
SSDD.
Same
Shit
Different
Days...