terça-feira, 5 de agosto de 2014

Matutina manhã segundina.

Bling-bling-bling. O celular toca, alarme. Segunda-feira. dia de retorno ao necrotério.

Acordado. Atordoado. Café, faz-se absolutamente necessário. Lentamente, vou acordando, apesar de me encontrar morto. À esta morta hora, não é de se espantar. O café, comprado ontem com o restante dos créditos consignados concedidos pelo necrotério, vai de seu vasilhame original para o coador permanente, boa aquisição que fiz, nos últimos tempos. Não possuo fogão, não frequento a Casa dos Fogões, "Não pode trocar de mulher? Troque seu fogão! Casa dos Fogões!" -mas possuo uma espécie de espiral elétrica, por muitos denominada ebulidor, e uma panelinha que há muito, roubei dos pertences da cozinha de minha mãe. Água? Da pia, claro. Pois segundo foi-me informado pela COPASA, anos atrás, em uma visita na época biologicamente falando, eles garantem a potabilidade da mesma. Ainda que saiba que tal água não provenha da rede "direta" de tal empresa, mas sim da caixa d'água, permanentemente fixada ao teto de meus domínios, num eterno pinga-pinga, que muitos que cá me visitaram, afirmam que teriam endoidecido com tal ruído.

Bem, dez anos se passaram, eu nem mais escuto tal pinga-pinga-pinga, e sei que deve existir algum vazamento na casa, pois o pingar é eterno, dura a noite inteira. Mas tal ruído, que devo confessar, muito me incomodou nas primeiras noites que para cá me mudei, agora apenas me embala noite afora. E sim, claro, não posso negar a juda farmacólogica do meu amado rivotril, pois sem ele, me torno de fato um zumbi, ainda mais agora, tendo como "alimento" de meu SNC o tal Parnate, cujo efeito colateral mais citado é: insônia. E como pude confirmar na noite de domingo para segunda, o aumento súbito da dosagem de tal fármaco, de 10 mg para 30 mg diários, me causou o tal maldito efeito, ainda mais tendo, por costume e por não saber mais o que fazer com o dia, ido para a cama Às sete da noite. Como temia a tal insônia, e ainda mais, por saber que desistira do dia em tal hora bem adiantada, porém deveras taciturna para mim, tomei dose e meia do tal comprimido, acrescentado de umas sete ou quinze gotas que "emprestei" do frasco de minha mãe. 

Resultado: dormi por duas horas, acordei todo desorientado, mas sem deveras conseguir pregar o olho, escrevi aqui impropérios delirantes, acerca da situação delirante que ando atravessando, neste ano de nosso Senhor(Adam Smith) - 2014. Planejado, em momentos igualmente taciturnos como aquele, para ser o derradeiro ano de minha existência...caso o "milagre" farmacológico falhe. Nesta nota infeliz, vejo que a água agora ferve, e a transfiro para o coador, três ou cinco colheres de pó, para uma mera caneca. I like my coffee like I like my men...er....não bem assim, não mesmo. Que coisa mais idiota. Estou tonto, atordoado. Pois, depois de ter escrito os tais impropérios acerca de minha vida, às nove da noite até umas dez e meia, tomei mais outra dose maciça de clonazepan. Precisava dormir. Precisava de encontrar a paz, que somente encontro quando dou o "shutdown" neste cérebro defeituoso e falante, muito falante, pro meu gosto. Enfim, apanho a caneca, me livro do pó fumegante à privada, e vou para minha mesa, de criação e destruição. Onde criei e destruí, diversos sonhos, diversas gramas de "grama" e ali fiquei, prostrado, anos a fio, ainda mais embalado pela inércia eterna da risperidona, cujas milhares e milhares de caixa encontraram o lixo, agradavelmente. Good fucking riddance. 

Não mais me é permitido curtir meu antigo e tão amado "irish coffee", pois existem tiraminas de montão em licores, feito meu amado (Buá) Baileys, que não mais compro, não mais comprarei, a não ser se...tudo mais der errado. Aí sim, farei a festa fatal, e seguramente nela me fartarei de Baileys, última bebida que tomarei na minha inexistência. Mas não falemos de futuros nefastos agora; o milagre ainda não aconteceu, e devo dar tempo ao tempo, como se diz. 

Vejo sentado ao meu lado, Jackie-Boy, que muito se ri de minha cara, no momento em que apanho os malfadados "coffin nails" que estavam na gaveta, juntamente com o isqueiro. E me diz, naquela voz de garganta cortada, "Got you smoking there, bud." E eu o mando calar a boca. Você está morto, caralho! Tem um cano de uma arma enfiado na sua testa, motherfucker. "Hntells you somethin 'bout your sstate a' mind don't it?... Ss'got you hearin things'got yer nerves shot. S'got you ssmoking... You know it's truuuuuuue nobody ever really quitsss... Smoker's a smoker when the chips're downn and your chips're down, pretty much." 

Essas coisas me aborrecem, ainda mais depois de uma noite mal dormida e que quase tomei umaoverdose de rivotril, olho para Gideon, que me retribui o olhar, com a cara gulosa. "Gideon, sic 'im!" E ele, urra de contentamento, expele uma bola de fogo que consome quase de imediato Jackie-Boy, e depois o devora, desordenadamente. Ah, meu dragão, como é bom ter você como "pet". Ao invés desses "pets" ridículos que se vêem por aí - cahorrinhos ridículos, quanto mais pequenos, mais irritantes, mais nervosinhos, mais cheios de frufrus. Posso ser o que sou - um viado, mas tenho o melhor animal de estimação do mundo: meu Gideon. Que, depois do horripilante para alguns, festim, vem-se enrolar em minha perna. 

Adoço o café, extremamente forte, do jeito que gosto, e aceno para Gideon, que emite chama controlada por suas narinas e me acende o cigarro(isqueiro mais legal, não há). E como diz Fernando, o Pessoa:

"Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando."

E saboreio a mistura fatal, porém única e última que me restou, nestes cafézes da manhã que natecedem minha descida aos Infernos. Por hora, nada de Baileys, mas café e cigarros...bem...como dizem, uma imagem vale mais que mil palavras:





"A fucking smoker's a smoker, when the chips are down..." O eco da voz agora extinta de Jackie-Boy, vindo de seus queimados destroços, de pedaços torrados de carne humana, me faz pensar como isto é verdade. Fucking nicotine, goes so well, with a fucking cup o' joe. Ainda deveras atordoado e muito irritado - aprendam, crianças, excesso de rivotril causa este efeito...além de outro, que não mencionarei aqui, de vergonha. Irritado, perdido, agradeço aos céus e a Rafael, outro anjo caído em minha vida, por ter-me presenteado com tal animal de estimação, meu Gideon. Vejo as horas, e me apresso, pois tenho que estar À Praça Papal, ou praça 4 e vinte, conforme dizem alguns dos malacos que à ela vão, de "grátis" no "busão", ou também conhecido por Milagre(quando aparece, é um milagre!) - o tal 4103, para apnhar tal milagre e para começar minha descida aos portões de Hades pós moderno, regida pelo Sr. Adam Smith, meu Dono. 

Suspiro ao pensar nisto, e mando Gideon se sentar, assumir a forma que os demais mortais o vêem de fato, quando me visitam. Ele protesta, emite fogo e fumo por suas ventas, quer ir comigo, quer fazer ali um festim diabólico, consumir tudo que me aborrece nesta manhã já aborrecida pelo excesso demsedido deste senhor irresponsável e inconsequente, que consumiu dose cavalar de clonazepan para tentar dormir, encontrar a paz que não encontra no mundo desperto. Bem queria, poder soltar a fúria de meu dragão em tal escrotório, mas...perderia muito mais que imagino. Eu sei disto. E não posso pôr tudo a perder, não nesta hora fatal, neste ano fatal , derradeiro em meus planos, sinistros planos, caso o "milagre" não aconteça... 

Repito a ordem, ele protesta, mas põe-se em seu lugar, onde ficará até a hora que retornar. Estático. Assim como Haroldo, ele vive, de fato, apenas aos olhos de mim, seu dono. Para o restante dos mortais, é apenas um dragão magnificamente entalhado em madeira...mas para mim, é muito mais que isto. Eu sei, e agradeço mentalmente, novamente ao meu amigo, que me presenteou com o melhor animal de estimção que alguém poderia ter, de fato. Alguém como eu. Doido, louco, sim, mas amante, e muito amante, de tais criaturas magníficas.

Bem...escovo os dentes, tomo minha porção matinal do tal "milagre", dou descarga no café da privada, ponho as canecas em seu lugar, apago as luzes e dou uma última olhada em minha Torre - meu refúgio mais seguro, mais bem-amado e...mais solitário, infelizmente, que existe no mundo. No meu mundo. Onde estão concentradas, quase todas minhas posses, pequenas posses, mas por mim tão amadas...minhas meninas de seis cordas, que já foram chamadas erroneamente de "coisa excessiva, ter quatro guitarras!", apesar de que, bem sei, EU sei, não tenho sequer a metade de tais objetos por mim tão pareciados. Cada qual com sua alma, cada qual com seu timbre, cada qual com seu visual...Eu entendo, outros não. Enfim. Me despeço delas, me despeço da pedaleira e do Fuzz, queestão permanentemente ligados ao pequeno "Marechal" que possuo desde 1997. Barulho, muito barulho. Mas que soa como música, aos ouvidos transtornados deste doido, deste cadáver adiado que anda porém não procria. Nem procriará. 

Desço as escadas na penumbra, não acendo as luzes. Todos ainda dormem, a hora é deveras morta para orestante dos habitantes deste lar. Vou, aos encontrões, à porta da frente, abro-a, sou cumprimentado pelo Felino sem Nome que em nossa casa habita, e que recentemente ficou meio doido, diz minha mística irmã que absorveu a energia ruim da casa(Eu) e pôs-se meio doido, feito o dono de tais energias nefastas, EU. Rejeita veementemente sua filha, até então sua companheira de todas as horas, e só temos por explicação tal suposição de minha irmã. Não duvido. Talvez animais absorvam, de fato, as doideiras de seus donos, apesar de que não sou eu seu dono de fato...ainda assim, deve ter sido isto. Não existe outra explicação tangível.

Saio para a rua, morta como eu, porém isenta da raiva, da irritação que sinto, que acreditava ser devido ao retorno aos portões de Hades, mas hoje sei que era, de fato, a dose cavalar de clonazepan ingerida na tal noite que o Parnate me causaria insônia...e por ter-me retirado do mundo em tal hora, tão cedo, para todos os normais mortais. Eu só queria paz. Só queria dormir.

Chego à Praça das quatro e vinte, apesar do relógio celuloso acusar seis e cinco, acendo mais um de meus pregos de caixão, e deixo que ele me fume, enquanto espero pelo milagre do mundo do transpote púbico desta roça asfaltada, que à esta hora, não costuma falhar. Dito e feito, depois de cinco ou quinze minutos, lá vem ele. Subo, pago eletronicamente a passagem, e mais uma vez me dou conta, que fui sovinamente privado de  recarga de créditos por ordem ou direta do Sr. Adam Smith, ou por meio de seu subalternos. Me faz ficar ainda mais irritado, ainda mais que já sei, já sabia, que teria o mesmo desdém de créditos em meu cartão alimentar. Eu, neste momento, detesto todo o mundo, detesto todas as sonolentas pessoas que habitam as ruas, odeio os carros, as árvores, a grama, tudo. Rivotril em excesso, crianças. Faz mal. 

Pulo de um ônibus para outro, desço nas imediações do Diamongol, vou pro Verdemar, comprar pão, para mim e para meus compatriotas....pois sou eu, o gente boa, apesar de tanto me dilapidar mentalmente. olho de soslaio para os alimentos agora enumerados como "venenos" em minha dieta, enquanto aguardo o efeito do "milagre", como meus amados - e agora proibidos - pães de queijo, os outros queijos, o tal licor de whisky...tudo potencialmente fatal para mim, durante o uso de tal sulfato de blah blah blah. O "milagre" vem da caixa amarela. 

Mas, nesta manhã, nesta segunda feira, não vejo nenhum milagre, não experimento nenhum momento de carividência, não tenh onenhum êxtase em minha mente - só irritação em excesso, por conta do meu knock-out consumido em excesso na noite anterior. E novamente, me questiono, se tal coisa, de fato acontecerá...fortalecendo, mentalmente os sinistros planos.

E dali me vou ao necrotério. Ao portão de Hades. À sede do Império. 

Onde ainda, me pergunto diariamente: "What the FUCK am I doing here?"

E de certa forma, eu sei, que doravante, será assim: