Num repente, repentino como foi
o ínicio de tudo, a ingestão
dos fármacos que me induziram
a ignorar o dia, a tarde, que cai
conforme caiu sobre mim o dia,
pesado dia, em que nada,
absolutamente nada
aconteceu-me, além de
vislumbrar, no chão,
a poeira, eterna poeira
que contiuamente cai,
me cobre, cobre minhas
coisas, mas essencialmente
me cobra, deste desígnio,
obscuro de nada ser,
nada querer, num dia
como este, em que
procurei e encontrei,
deveras, imagens, subliminares
ou nao- encontrei-as
por aí, por aqui, neste universo
paralelo
que chamamos de internet
mas mesmo assim, imagens
não dizem muita coisa,
não traduzem nada
a nao ser o eterno
eterno
desejo de ser,
de ser,
o que deveras
deveria ser,
mas não sou,
não sou,
não ainda,
não a esta altura
do dia,
do meu dia,
que se aproxima de
sua metade,
meia-vida,
crise, de meia vida,
de meio-viver,
sempre este
lado, eterno
da metade
não correspondida
não comprometida,
desprovida
de vida,
presente
apenas no que vejo
por aqui, por aí,
vejo e revejo,
milhares de sonhos,
milhares de vidas,
todas vividas
pela metade,
por assim ser,
por deveras ser,
sempre esta metade,
incompleta,
incoerente,
tudo tem
mas nada
possui.
de fato, nada
nada.
possuo em mim
o nada, de ser
sem ser,
de não sequer
tentar ser,
deveras.
aspiro, e aspiro,
este fumo que
faz-me mal,
enche de algas
meu eterno ser
incompleto em ser
não sendo,
não ser,
não desejar ser?...
desejo, mas falho,
a cada dia, a
cada olhar
dirigido ao chão,
ao nada,
sempre ao nada,
nada me oferece
e não ofereço nada
nenhum risco, nenhum
arranhão,
nenhum olhar,
nada.
sinto-me às vezes
como aqueles
carros
usados, uma vez,
e depois gaurdados
para sempre numa
garagem,
debaixo de lençõis,
para depois
serem descobertos,
imaculados,
zerados,
desperdiçados.
em vão fabricados,
em vão surgidos,
não toco a ninguém,
ninguém me toca.
Sempre assim,
sempre foi,
sempre será.
tudo tenho, mas nada
nada
me macula,
me mancha,
me encosta,
olho para o chão,
procuro o que não devo,
encontro o que busco,
certas vezes,
o brilho eterno
de uma mente
repleta de
lembranças,
lembranças de sonhos
todos entrecortados,
todos despedaçados
ao meu redor,
sendo coberto de poeira
assim como eu,
cobertos de poeira
amargos gostos à
boca, fruto destes
cigarros, que assim
como eu, são
meus conhecidos,
meus amigos,
nesta tarde a morrer
morrer
como eu morro,
não vivo,
nunca vivi,
apenas sobrevivi,
pelas metades,
um lado obscuro,
para sempre encerrado
nas sombras do que sou,
mas não sou,
olhando pro chão,
nunca ao céu,
não ao céu,
repleto de anjos
querubins,
a tocar, harpas
eternas,
a canção de meu
exílio, minha vida
metade que seja,
meia vida,
vivida, sofrida,
mas nunca de fato
experimentada,
testada,
amarga, sempre amarga
feito esta palha,
este fumo,
esta música
que agora preenche
meu interior,
este vazio
desprovido
de algum
destinatário
para tal música,
que neste ano,
em seus piores
momentos,
me fez pensar
a respeito
do que perco,
do que estou a perder,
vivendo
sem viver,
sem ser,
sem querer ser.
meia vida
meia v i d a
não vivida, mas
lentamente aspirada
a cada ar que
me entra, juntamente
com esta amarga fumaça
de meus amigos,
neste dia,
dia
que não houve,
apenas em imagens,
pensamentos,
vontades,
absurdas?
talvez.
Amargas.
Sinto-me
empoeirado,
esquecido,
por mim mesmo
olvidado,
por mim mesmo
abandonado,
por não ser,
o que sou,
metades desconexas
de um ser
que não sou,
não sou,
nunca fui,
não.
Nunca fui.
Integralmente,
nunca fui,
olho para o chão,
em busca
das luzes falsas,
do falso passatempo,
do asfalto
que nada me diz,
apenas me oferec,
vez ou outra,
alguma dose
de tolerância,
falsa tolerância
para tentar
ser o que sou,
mas ainda assim,
às escondidas,
nesta Torre,
empoeirada
e inerte,
desprovida hoje
de sons e ruídos,
esquecidas estão
as fontes de meus
dedos, sonoros
por vezes sonoros,
mas que transmitem
quase nada
que deveros sinto,
ao despertar,
me ver,
me olhar,
meia-vida,
meio-estar,
parecer estar,
cercado de
coisas,
cercado de poeira
cercado, por
todos os lados,
por mentir,
e continuar mentindo
em ser o que,
deveras não sou,
nunca fui,
normal.
Normal.
Normal. Tradicional.
Nunca quis a vida
daqueles que fazem
desejos aos poços
de suas vidas...
anseiam por coisas
que não anseio,
nunca ansiei.
Anseio por algo,
bem sei o que é,
mas nunca o direi
pois nunca dirás
quem deveras és,
Coisa a habitar
o reino da poeira,
o reino dos sonhos,
pelas metades,
metades,
de mim e mim,
separadas,
eternamente,
para sempre,
assim seja.
Amen.
O que mais dizer?
nesta tarde a morrer,
morro eu também,
mais um pouco que ontem,
mais um pouco que semana
passada, que não passou,
não ocorreu, foi discutida
brigada, combatida,
embate eterno
entre o ser
e o não ser.
Não ser.
Ganhar, de não ser,
o quê?
Não sei, mas ganho,
ganho algo,
algo que me dá vida
e morte, ao mesmo tempo,
simultaneamente,
mais morte que vida,
conforme os anos
passsam, e cá permaneço,
guardado,
imaculadamente
resguardado,
coberto de poeira,
mas sem um arranhão,
que seja,
um desgaste sequer,
a não ser o que me
inflinge a mente,
sempre a mente,
pois ela sabe,
ela não seengan,
sabe o que sou,
ainda que aos
outros, não seja,
deveras.
Minta, sempre minta,
sempre
procure,
na escuridão
esquecida,
empoeirada,
reguardada,
a resposta:
não acharás
nada
aqui.
A não ser a ti mesmo,
sua imagem,
cada vez mais
Monstruosa,
distorcida
pelos anos
de desuso,
de resguardo
eterno e inútil,
eternamente
protegido.
Contra quem?
Contra o quê?
Gideon me olha,
e sente, por mim,
o que deveras sinto
por ele, a afeição
que somente pode
ser explicada em tal
ato, de tal presente,
de tal imprevista
surpresa.
Ele me rodeia,
voa ao meu redor,
planeta sem luas,
planeta sem sol.
Ainda que tente,
fazer-me despertar,
não quimicamente,
mas internamente,
o que deveras
encontra-se morto,
ou quase,
pois como dizem,
existe uma luz
que nunca morre,
dentro de nós.
deve ser tal luz
que o faz rodear-me,
pousar em minha cabeça
me fazer agrados,
me fazer arranhados,
a pele nunca tocada,
sempre resguardada,
sempre imaculada.
Amargo foi o dia,
amarga será a noite,
noite sem deveras ser,
noite, desprovida
de mim mesmo,
de algum destinatário
para estes repentes
emotivos repentes,
que sempre carrego,
que faz Gideon ter vida,
assim comop faz
Razk'sh tentar remover
a lança, eterna dor,
que o trespassa.
Não possuo tal lança,
mas às vezes sinto-a
em mim, como algo
a me corromper,
me trazer para
a falsa segurança,
deste lar,
leste lugar,
onde fiz-me Monstro,
deveras,
ao passar dos anos
e anos, em viver,
à meia-luz,
meias verdades,
meios sonhos,
tornados nada
ou quase nada,
nada.
Tenho, em meu entorno,
dragões, deveras,
que vivem enquanto eu viver,
enquanto cá continuar
a frequentar,
a viver, a morrer,
dia pós dia, noite após noite,
fracos e comprimidos,
e vazios cachimbos,
outrora usados
para tetar esconder
minha negra metade,
que mais sombria se tornou,
ano após ano, fumo após
fumo, gsto amargo porém
igualmente tentador, de ser
sem deveras ser, de fato,
nada.
apenas a fumaça
de eternos sonhos
e pensamentos,
para sempre perdidos
neste emaranhado
de covardia,
de ser-não-sendo,
ver-não-vendo,
nada.
Desligue a luz,
vá dormir.
Sonhe.
Com o que és,
com que sempre serás,
ainda que esteja
encerrado,
emperrado,
pelo que fizeste,
pelo que se tornaste,
em dez anos,
dez anos.
De uma década perdida,
no esconderijo,
no lugar, no seu lugar,
onde achas, deveras,
que mereces estar,
com a companhia
de ninguém,
a não ser dragões,
dragões,
que sempre foram
sua obsessão,
seu ideal,
seu realismo
nunca deveras alcançado,
em nenhum traçado,
em nenhum
lugar.
Outros o fizeram
em seu lugar,
não por você,
nunca por você,
mas por si próprios,
por acreditarem
no que não crês,
não vês,
não.
Nunca em mim,
nunca em mim,
jamais em mim,
Além do tempo,
do tempo,
perdido,
além da vida
não-vivida,
ainda existem
os cacos
dos vasos
que foram
outrora
tão definidos,
tão definitivos,
inquebráveis?
Nunca.
Jamais.
Quebraste-os,
atiraste-os
contra as paredes
de sua solitária,
sde seu lugar,
seu sanatório.
Doido! Usas remédios
para a cabeça,
que não funciona!
Doido! Doido!
Quem irás querer
semelhante loucura
a habitar
seu habitat?
quem desejarás
o que ninguém deseja,
quem será?
Tenho asas,
tal qual Raz'ksh,
e uma vontade
urgente
de voar,
mas não tenho
para onde voar.
Nunca tive.
E tal qual Raz'ksh,
com tamanha lança
trespassando-me
a alma, jamais
voarei,
jamais
sentirei
o que
queria
deveras
sentir.