quinta-feira, 4 de março de 2010

Teletransporte? Musitransporte.

Cá estou, em plena viagem para Prado, na Bahia, em 1985.

Não, não se trata de mais um devaneio sem sentido de minha parte. Certo, isto acontece todos os dias, mas não é disso que estou a falar, não hoje ao menos. É que hoje acabo de chegar aqui e fui subitamente transportado para a data em ocasião, uma vez que meu chefe de setor cá estava a escutar rádio via internet, mais uma destas maravilhas do universo moderno todo interligado por esta imensa rede. E na audição da rádio em questão, eis que surge uma música que ouvi em demasia na ocasião - a saber, Dire Straits com "So Far Away" - época em que alugamos uma casa nesta cidade e para lá fomos, em julho de 1985. Viagem frustrada, com muita chuva.

Mas divago. O que por vezes me surpreende é como eu faço certas associações mentais com músicas: existem certos momentos de minha vida que estão firmemente relacionados, - no ponto de vista da memória, ao menos - com a melodia sendo tocada na ocasião. Assim, quando escuto "Você Não Soube me Amar", da Blitz nacional, sou transportado para 1982, viagem à Cabo Frio, Rio das Ostras e imediações. Ali ouvi esta música até mandar parar. Na viagem de Prado outra música que imperou foi a versão de Joe Cocker de "Unchain my Heart", que sempre que escuto me faz viajar de volta para aqueles remotos dias.

Mas nem sempre as músicas trazem boas memórias, como se era de esperar. Por vezes, situações chatas também ficam para sempre associadas a certas músicas que estavam rolando na ocasião. Existe uma música que musicou (que frase horrível) certo espetáculo de teatro do Grupo Galpão, não sei bem nem o nome da peça muito menos da música em si, mas que sempre que escuto, sinto-me mal. Pois foi ela que me embalou durante certa noite de 2004, dia em que havia decidido terminar com um certo rolo da época, e foi muito chato. Sempre evito de escutar esta música. Felizmente, gravações do Grupo Galpão não fazem parte de minhas preferidas musicalidades. Existe uma banda - Dramarama - que gosto bastante, mas que possui uma música que até hoje me causa calafrios quando com ela me deparo no shuffle de meu iPod. Tal canção marcou uma noite horrenda, em que atuei como "agente preparatório para a pegação alheia", ou como diria um ausente amigo meu da época da biologia, fui o "vinagrão" - preparei a salada para que outros dela comessem. E foi uma de minhas piores visões da vida, você ver todo aquele seu "esforço" ir por água abaixo...

Por este motivo, existem certas músicas que fujo mais que tudo, que realmente me causam pavor, especialmente se estiverem associadas com maus momentos, maus hábitos, maus dias...Por mais que elas possam ser ótimas músicas, eu tenho que as evitar. E por vezes, isto pode significar a ruína de certas audições.

Existem outras sensações externas que igualmente nos transportam para certos redutos de nossa memória, como um passe de mágica, e acho que todos têm estas associações mentais encerradas dentro das cacholas, ao menos assim creio eu. Aquele cheiro daquele prato naquele almoço naquele dia, a visão de certo objeto inusitado, quer seja ele um carro, uma casa, uma paisagem familiar...não importa: você recebe o estímulo sensorial e todas aquelas conexões mentais, todas aquelas sinapses, toda aquela noradrenalina, acetilcolina e seja lá mais o que for entra em ação e ativa aquela zona da memória há tanto enterrada.

E dependendo de quem esta associação afeta, isto pode gerar uma sessão de nostalgia mental que pode perdurar por horas e até mesmo dias, em especial se o princiapal envolvido for uma pessoa com minha índole introspectiva. E viagens erradas existem e abundam.

Mas, enquanto existem tais desvantagens, por vezes escuto de propósito certas músicas, pois sei que elas irão me transportar para momentos legais. Aquele final de tarde em Itacaré. Aquela viagem de campo muito boa na biologia. Aquele final de semana em que finalmente subi num palco pela primeira vez, munido de guitarra e vergonha, mas que no final foi muito mas muito legal.

É bom ter estas referências. Relembrar é viver, enfim. Ou algo assim.

E agora, eis que a música que devo escutar é o lamento estridente da impressora matricial a despejar folhas e mais folhas de estranhos números, mas que tão importantes são para a sobrevivência deste império dos sentidos...sem sentido.

Assim, assado. Até a vista.