Pé por pé, pé por si.
Assim como fora escrito muitos anos, esta era a descrição acurada para a maneira dele andar pelas ruas naquela manhã em particular. As pernas transportavam-no para os locais, mas era como se ele ali não estivesse, como se aquilo fosse tudo um sonho de um sonho de um sonho, uma cópia xerocada muitas vezes e deteriorada da realidade.
Nada parecia muito real. As pessoas por ele passavam, mas mesmo que nele esbarrassem, não iriam encontrar alguma forma sólida por debaixo daquelas roupas, daquela pele. Não havia muita realidade ali. Nada de formas nem cores nem nada. Somente alguém que estava ali...sem de fato estar.
Quem era aquela pessoa? Que queria ele? Para onde deveria ir? Todas estas indagações já haviam lhe ocorrido no decorrer de sua vida, mas mesmo assim, nenhuma resposta plausível haviam lhe ofertado, e ele mesmo não sabia para quem deveria perguntar. Deus? Cristo? Alguma entidade dita superior, inexistente neste plano e nesta vida, algo que lhe desse tal vaga certeza, por mais absurdo que a frase possa ser, a vaga certeza de que tudo iria acabar bem, de certa forma. Tudo iria se resolver.
Nunca fora bem assim. Ele sabia disso, ou achava que sabia. Pois atualmente ele já duvidava até de suas convicções mais ferrenhas; de todas suas certezas havia apenas uma que se sustentara e se sustentaria até o final de seus dias. Exatamanete esta. Ele tentava repeli-la sempre que lhe surgia à mente, entretanto. Pois sabia que de nada adiantaria ficar pensando nisto, enquanto o tempo passava e escasseava. Havia algo a ser feito, havia muito a ser feito.
O que deveria ser feito, como deveria ser feito? Sacudindo a cabeça, ele pôs-se a esperar sua vez na fila de transeuntes a esperar sua vez para do outro lado da rua chegar. Haviam dias em que seu corpo, de fato, estava à rua, andando por entre a turba, mas sua mente estava longe, em algum lugar indefinível por padrões humanos normais, por assim dizer. Eram os seus dias mais solitários: todas as pessoas do mundo se ali com ele estivessem, a ele de nada significaria. Não iria nem ao menos notar que havia alguém ao seu redor.
Afinal de contas, quem eram aquelas pessoas? Que sabia ele a respeito delas e vice-versa? Milhares de anônimos ao seu redor, era quase o mesmo que estar em um canavial: cada pessoa era um pé de cana, mais nada. Apenas canas, silentes e quase inexistentes. Dele nada sabiam, nada queriam saber. Apenas pés de cana. Presentes porém indiferentes.
Por vezes, era assim que ele se sentia semanas a fio. Era como se estivesse vivendo em um deserto, sem ninguém ao seu redor. Às vezes, ele procurava nos rostos alheios algum sinal de humanidade, qualquer coisa que lhe significasse algo, mas logo desviava os olhos ao notar a ausência de vida ao seu redor. Nada, nada.
Haviam momentos em sua vida que ele se sentia como um espectador de si mesmo, como se estivesse vendo sua vida em uma tela de cinema ou algo assim. Como se não estivesse dentro de si. E sempre parecia que as coisas iam na mesma direção, para o mesmo sentido - o de não haver nenhum sentido, nenhuma direção. Era apenas uma sombra errante num mundo alheiamente iluminado.
Poderia ele de repente sumir, desaparecer de repente, ser abduzido por forças externas àquela realidade de tudo e de todos, que ninguém nem perceberia. Ninguém daria conta. Nenhuma pessoa no meio de todas aquelas ruas iria notar que ele sumira. Ninguém iria perceber que ele deixara de existir. E se por vezes isto lhe trazia alguma espécie de conforto, estranho conforto, naquela manhã em especial, tal pensamento fazia com que se sentisse ainda mais pequeno, mais insignificante perante todo aquele universo de alheamento.
Pé por pé, pé por si.
Estar sem estar, existir sem existir. Pensar sem fazer. Fazer sem ser. Sem haver.
Nada como um dia após o outro, um passo de cada vez, uma pergunta a cada segundo, uma vaga certteza que no meio de toda aquela insignificância....havia alguém a gritar, alguém a pedir por socorro, de uma certa forma. Gritos que raramente eram ouvidos ou levados em consideração, pois mesmo ele sabia que nada significavam para aquele mundo de canas, de gnus que se dirigiam para algum lugar que lhes fora designado para estarem. Gritos que ele mesmo sufocava, pois sabia que nada adiantava pedir ajuda. Ela não viria. Ninguém sabia que ele estava ali. Ninguém quereria lhe ouvir.
Pé por pé, pé por si.
Seguir, existir, significar, haver. Coisas que nada faziam sentido para aquele que lá estava....sem lá estar. Mas que ele deveria suportar até a certeza final e definitiva. Aquela que não se pode iludir. Aquela que não admitia atalhos. Atalhos são imorais, ilegais. Atalhos são banidos.
Passo atrás de passo, siga adiante. Por mais um dia no deserto. Por mais um pé de cana no canavial do alheamento. Por mais um grão de areia na praia de inexistência humana.
Siga adiante.
Assim como fora escrito muitos anos, esta era a descrição acurada para a maneira dele andar pelas ruas naquela manhã em particular. As pernas transportavam-no para os locais, mas era como se ele ali não estivesse, como se aquilo fosse tudo um sonho de um sonho de um sonho, uma cópia xerocada muitas vezes e deteriorada da realidade.
Nada parecia muito real. As pessoas por ele passavam, mas mesmo que nele esbarrassem, não iriam encontrar alguma forma sólida por debaixo daquelas roupas, daquela pele. Não havia muita realidade ali. Nada de formas nem cores nem nada. Somente alguém que estava ali...sem de fato estar.
Quem era aquela pessoa? Que queria ele? Para onde deveria ir? Todas estas indagações já haviam lhe ocorrido no decorrer de sua vida, mas mesmo assim, nenhuma resposta plausível haviam lhe ofertado, e ele mesmo não sabia para quem deveria perguntar. Deus? Cristo? Alguma entidade dita superior, inexistente neste plano e nesta vida, algo que lhe desse tal vaga certeza, por mais absurdo que a frase possa ser, a vaga certeza de que tudo iria acabar bem, de certa forma. Tudo iria se resolver.
Nunca fora bem assim. Ele sabia disso, ou achava que sabia. Pois atualmente ele já duvidava até de suas convicções mais ferrenhas; de todas suas certezas havia apenas uma que se sustentara e se sustentaria até o final de seus dias. Exatamanete esta. Ele tentava repeli-la sempre que lhe surgia à mente, entretanto. Pois sabia que de nada adiantaria ficar pensando nisto, enquanto o tempo passava e escasseava. Havia algo a ser feito, havia muito a ser feito.
O que deveria ser feito, como deveria ser feito? Sacudindo a cabeça, ele pôs-se a esperar sua vez na fila de transeuntes a esperar sua vez para do outro lado da rua chegar. Haviam dias em que seu corpo, de fato, estava à rua, andando por entre a turba, mas sua mente estava longe, em algum lugar indefinível por padrões humanos normais, por assim dizer. Eram os seus dias mais solitários: todas as pessoas do mundo se ali com ele estivessem, a ele de nada significaria. Não iria nem ao menos notar que havia alguém ao seu redor.
Afinal de contas, quem eram aquelas pessoas? Que sabia ele a respeito delas e vice-versa? Milhares de anônimos ao seu redor, era quase o mesmo que estar em um canavial: cada pessoa era um pé de cana, mais nada. Apenas canas, silentes e quase inexistentes. Dele nada sabiam, nada queriam saber. Apenas pés de cana. Presentes porém indiferentes.
Por vezes, era assim que ele se sentia semanas a fio. Era como se estivesse vivendo em um deserto, sem ninguém ao seu redor. Às vezes, ele procurava nos rostos alheios algum sinal de humanidade, qualquer coisa que lhe significasse algo, mas logo desviava os olhos ao notar a ausência de vida ao seu redor. Nada, nada.
Haviam momentos em sua vida que ele se sentia como um espectador de si mesmo, como se estivesse vendo sua vida em uma tela de cinema ou algo assim. Como se não estivesse dentro de si. E sempre parecia que as coisas iam na mesma direção, para o mesmo sentido - o de não haver nenhum sentido, nenhuma direção. Era apenas uma sombra errante num mundo alheiamente iluminado.
Poderia ele de repente sumir, desaparecer de repente, ser abduzido por forças externas àquela realidade de tudo e de todos, que ninguém nem perceberia. Ninguém daria conta. Nenhuma pessoa no meio de todas aquelas ruas iria notar que ele sumira. Ninguém iria perceber que ele deixara de existir. E se por vezes isto lhe trazia alguma espécie de conforto, estranho conforto, naquela manhã em especial, tal pensamento fazia com que se sentisse ainda mais pequeno, mais insignificante perante todo aquele universo de alheamento.
Pé por pé, pé por si.
Estar sem estar, existir sem existir. Pensar sem fazer. Fazer sem ser. Sem haver.
Nada como um dia após o outro, um passo de cada vez, uma pergunta a cada segundo, uma vaga certteza que no meio de toda aquela insignificância....havia alguém a gritar, alguém a pedir por socorro, de uma certa forma. Gritos que raramente eram ouvidos ou levados em consideração, pois mesmo ele sabia que nada significavam para aquele mundo de canas, de gnus que se dirigiam para algum lugar que lhes fora designado para estarem. Gritos que ele mesmo sufocava, pois sabia que nada adiantava pedir ajuda. Ela não viria. Ninguém sabia que ele estava ali. Ninguém quereria lhe ouvir.
Pé por pé, pé por si.
Seguir, existir, significar, haver. Coisas que nada faziam sentido para aquele que lá estava....sem lá estar. Mas que ele deveria suportar até a certeza final e definitiva. Aquela que não se pode iludir. Aquela que não admitia atalhos. Atalhos são imorais, ilegais. Atalhos são banidos.
Passo atrás de passo, siga adiante. Por mais um dia no deserto. Por mais um pé de cana no canavial do alheamento. Por mais um grão de areia na praia de inexistência humana.
Siga adiante.