Dias e dias. Manhãs e noites, horas e horas.
Momentos que se passaram, mas que ele nem viu. Estava lá mas não saberia dizer o que havia se sucedido. Havia uma festa, ele parecia se lembrar disto, uma festa, em algum lugar. Se lembrava que tinha ido encontrar alguns de seus parcos amigos que ainda restavam naquela vida, e dali tinham ido para a casa de alguém, que tinha um "esquema muito bom" e que "estaria cheio de mulher", vagas promessas que ele já havia escutado antes.
Pouco importava. O que ele queria de fato é ter acesso a algum lugar diferente, com novas possibilidades, novas...mercadorias em potencial. Naquela manhã em particular, ele se lembrava disto: que haviam ido para tal festa, e todas as pessoas existentes lá tinham cara de peixe. As paredes eram feitas de alguma gosma indefinida, de cor de flicts. O que era essa cor, flicts? E como esta estranha palavra havia aparecido em sua cabeça?
A cabeça, esta doía, e muito. O que havia acontecido ali, ele não se lembrava de todo. A pessoa que era dona do pedaço, que tinha cara de truta e fala mansa porém autoritária, havia oferecido aos conhecidos e amigos dos conhecidos o tal esquema, que de fato era muito bom, muito, muito bom mesmo.
Tão bom que havia deletado de sua memória o que havia se sucedido logo em seguida. Ele se lembrava de ter passado a coisa adiante, saído de fininho para ir ao banheiro, e invadido alguma espécie de quarto de dormir da casa, onde tentou em vão ser discreto para adquirir "novas mercadorias." Lembrava-se de berros e censuras e mesmo agressões.
Dali, as coisas se embolavam em sua cabeça. Haviam imagens confusas de peixes gritando, cadeiras voando e punhos cerrados acertando em cheio sua cara.
O que havia acontecido?
Foi aí que se deu conta. Ele não estava em casa. O teto que seus olhos fitavam era muito limpo para ser de seu quarto. Quis se levantar, mas sua cabeça pareceu estar pesada demais. Não pôde fazer nada, mas ouviu passos confusos em sua direção. Figuras vestidas de branco e uma com um estranho chapéu lhe olharam de soslaio, exibindo um certo asco em seus rostos também.
Ele se desesperou, pois sabia o que aquilo significava. Precisava sair dali, precisava fugir. Jurara a si mesmo que não mais voltaria para aquele lugar, nem que precisasse se matar. Um dos membros da "máfia branca", como eram jocosamente denominados percebeu seu estado de agitação e mordeu a tampa de uma seringa. "Este cara está muito agitado."
Virou o rosto, pois detestava a imagem de agulhas, mas não sentiu nada lhe picando. Mesmo assim, imediatamente após ter visto a seringa se afastando de si, sentiu a cabeça girar e as coisas ficaram mais e mais lentas. "Não se importe, ele não vai a lugar nenhum de qualquer maneira." Risadas. "Eu sei, mas quero evitar a fadiga" Ha Ha Ha.
As imagens novamente se distorceram e sua cabeça ficou ainda mais pesada. "....atiraram nele às três da matina, disseram que...", "....os raios X não mentem. A paralisia...."
As coisas ficaram mais e mais distantes. Precisava sair dali. Precisava fugir.
Precisava dormir. Precisava de mais uma dose, apenas mais uma dose. "Cale a boca, de agora em diante a sua dose vai ser diária de fato...." Enfermeiros e enfermeiras, fardados e agentes, tudo se passava diante de seus olhos mas parecia que nada havia de real ali.
Não lhe deixavam pensar, não lhe deixavam nem sequer se levantar.
"...não quero ficar tomando conta de um idiota viciado e paralisado, porra!...."
Precisava sair dali. Sentia que estavam falando algo a seu respeito mas nem conseguia entender mais nada. A realidade eram dias e dias de bizarros sonhos, de medonhos retornos a um passado já distante, longe de tudo aquilo que havia se tornado sua vida, sua razão de existir. Sua necessidade diária.
Precisava fugir. Precisava.
A infinidade era um teto branco, que sempre olhava fixamente até tentar dali sair e logo em seguida ter sua mente calada por alguma espécie de agente paralisante que lhe injetavam assim que escutavam seus resmungos frustrados ao tentar dali sair.
"......parece mesmo que ele nem sabe o que está acontecendo...."
E não sabia. Não poderia saber. Nada mais fazia sentido.
Um dia, não acordou mais. E dali o levaram, muito aliviados, para uma repartição alheia qualquer. Algum lugar além da imensidão branca de seus últimos momentos.
Momentos que se passaram, mas que ele nem viu. Estava lá mas não saberia dizer o que havia se sucedido. Havia uma festa, ele parecia se lembrar disto, uma festa, em algum lugar. Se lembrava que tinha ido encontrar alguns de seus parcos amigos que ainda restavam naquela vida, e dali tinham ido para a casa de alguém, que tinha um "esquema muito bom" e que "estaria cheio de mulher", vagas promessas que ele já havia escutado antes.
Pouco importava. O que ele queria de fato é ter acesso a algum lugar diferente, com novas possibilidades, novas...mercadorias em potencial. Naquela manhã em particular, ele se lembrava disto: que haviam ido para tal festa, e todas as pessoas existentes lá tinham cara de peixe. As paredes eram feitas de alguma gosma indefinida, de cor de flicts. O que era essa cor, flicts? E como esta estranha palavra havia aparecido em sua cabeça?
A cabeça, esta doía, e muito. O que havia acontecido ali, ele não se lembrava de todo. A pessoa que era dona do pedaço, que tinha cara de truta e fala mansa porém autoritária, havia oferecido aos conhecidos e amigos dos conhecidos o tal esquema, que de fato era muito bom, muito, muito bom mesmo.
Tão bom que havia deletado de sua memória o que havia se sucedido logo em seguida. Ele se lembrava de ter passado a coisa adiante, saído de fininho para ir ao banheiro, e invadido alguma espécie de quarto de dormir da casa, onde tentou em vão ser discreto para adquirir "novas mercadorias." Lembrava-se de berros e censuras e mesmo agressões.
Dali, as coisas se embolavam em sua cabeça. Haviam imagens confusas de peixes gritando, cadeiras voando e punhos cerrados acertando em cheio sua cara.
O que havia acontecido?
Foi aí que se deu conta. Ele não estava em casa. O teto que seus olhos fitavam era muito limpo para ser de seu quarto. Quis se levantar, mas sua cabeça pareceu estar pesada demais. Não pôde fazer nada, mas ouviu passos confusos em sua direção. Figuras vestidas de branco e uma com um estranho chapéu lhe olharam de soslaio, exibindo um certo asco em seus rostos também.
Ele se desesperou, pois sabia o que aquilo significava. Precisava sair dali, precisava fugir. Jurara a si mesmo que não mais voltaria para aquele lugar, nem que precisasse se matar. Um dos membros da "máfia branca", como eram jocosamente denominados percebeu seu estado de agitação e mordeu a tampa de uma seringa. "Este cara está muito agitado."
Virou o rosto, pois detestava a imagem de agulhas, mas não sentiu nada lhe picando. Mesmo assim, imediatamente após ter visto a seringa se afastando de si, sentiu a cabeça girar e as coisas ficaram mais e mais lentas. "Não se importe, ele não vai a lugar nenhum de qualquer maneira." Risadas. "Eu sei, mas quero evitar a fadiga" Ha Ha Ha.
As imagens novamente se distorceram e sua cabeça ficou ainda mais pesada. "....atiraram nele às três da matina, disseram que...", "....os raios X não mentem. A paralisia...."
As coisas ficaram mais e mais distantes. Precisava sair dali. Precisava fugir.
Precisava dormir. Precisava de mais uma dose, apenas mais uma dose. "Cale a boca, de agora em diante a sua dose vai ser diária de fato...." Enfermeiros e enfermeiras, fardados e agentes, tudo se passava diante de seus olhos mas parecia que nada havia de real ali.
Não lhe deixavam pensar, não lhe deixavam nem sequer se levantar.
"...não quero ficar tomando conta de um idiota viciado e paralisado, porra!...."
Precisava sair dali. Sentia que estavam falando algo a seu respeito mas nem conseguia entender mais nada. A realidade eram dias e dias de bizarros sonhos, de medonhos retornos a um passado já distante, longe de tudo aquilo que havia se tornado sua vida, sua razão de existir. Sua necessidade diária.
Precisava fugir. Precisava.
A infinidade era um teto branco, que sempre olhava fixamente até tentar dali sair e logo em seguida ter sua mente calada por alguma espécie de agente paralisante que lhe injetavam assim que escutavam seus resmungos frustrados ao tentar dali sair.
"......parece mesmo que ele nem sabe o que está acontecendo...."
E não sabia. Não poderia saber. Nada mais fazia sentido.
Um dia, não acordou mais. E dali o levaram, muito aliviados, para uma repartição alheia qualquer. Algum lugar além da imensidão branca de seus últimos momentos.