sexta-feira, 26 de março de 2010

Arte!

Naquele final de tarde, o Noiado saía de seu emprego de merda ainda mais noiado que o costume. Não que tivesse ingerido drogas em nenhum momento do dia, ao contrário do que imbecis viciados em gírias pudessem pensar; não, ele apenas tivera de aturar as drogas que ali trabalhavam em conjunto consigo, se é que era possível chamar aquilo de trabalhar. Como recém "promovido" ao cargo de TI da empresa(sem nenhum aumento salarial, evidentemente), o Noiado tivera um dia díficil ali: os frangos receberam mensagens de vírus por seus "messiênes" e TODOS clicaram nos links suspeitos. Resultado, ele tivera de formatar três máquinas, tivera que instalar versões atualizadas de anti-vírus em todos os computadores, ouvir que estava demorando demais e uma das frangas inclusive reclamou da demora por que tinha um "encontro marcado" no MSN com um cara qualquer. Torcera para que tal encontro gerasse frutos...que o cara fosse um psicopata que engalobasse tal cretina e que ela despertasse esquartejada em um lote vago qualquer do bairro Gorduras. Bem apropriado à massa corporal daquela baleia inútil.

Mais adiante, pediram-lhe que instalasse o orkut em uma máquina.

Enfim, tibera um dia de cão. Saiu dali esbravejando mentalmente a tudo e todos que encontrava em seu caminho, e teve mesmo que se segurar para não empurrar aquela gente retardada que andava a dois passos por hora e ocupava toda a calçada, nem atirar ao trânsito os idiotas que cuspiam no chão ou que encorajavam seus hediondos rebentos(céus, eles se reproduziam num ritmo alarmante) a jogar os papéis de bala pela janela do coletivo, sendo que a lixeira interna do ônibus estava bem defronte tais seres abjetos.

Rilhando os dentes, ele desceu perto de uma galeria de arte, onde uma Doidinha que ele conhecera por acaso num local qualquer meses atrás e que lhe parecera ser uma pessoa sensata havia marcado de se encontrar com ele. Haveria uma exposição de "múltiplas artes" ali naquela noite, e apesar de nunca o Noiado ter paciência com tais artes e partes, resolvera atender. Talvez fosse apenas preconceito de sua parte. A Doidinha havia lhe afirmado que seria "uma noite memorável", pois haveriam muitas perfomances, inclusive musicais.

Inicialmente, ele já azedou por ali avistar uma certa pessoa, que meses atrás havia lhe criticado indignada um de seus desenhos. A Tal Pessoa era música, ou assim afirmava ser, e havia notado que as representações de notas musicais em um dos desenhos do Noiado estava incorreta, pois o ângulo de difração da nota em harmonia com a sétima casa de Plutão(que nem era mais um planeta), estava incorreto. Isto, quando tudo que o Noiado havia querido representar era uma nota desafinada de um balão de um quadrinho de humor. A Tal Pessoa havia lhe sequestrado quase todo o humor naquele dia, e ele teve ímpetos de defenestrar Tal Pessoa, mas não o fez, pois ela na época estava namorando um de seus melhores amigos. Virou o rosto e procurou ao máximo fingir que nem conhecia Tal Pessoa.

Felizmente, a hipocrisia na sociedade geralmente é mútua.

As performances começaram, inicialmente com um cara portando violão, que se sentou em um banquinho e começou a fazer estranhos ruídos estranhos, descompassados e desafinados em seu violão - que evidentemente estava muito mas MUITO desafinado - enquanto emitia sons guturais igualmente desafinados e descompassados. Palmas e mais plamas ecoaram, até "bravos" soaram da atônita platéia, enquanto o Noiado estava atônito era de ter presenciado tal porcaria e ainda ter que escutar a ovação imbecil da platéia.

Olhando ao redor, haviam telas com rabiscos inúteis espalhados pelas paredes, e nos cantos, haviam depósitos de lixo, ou assim ao menos lhe pareceram aquelas instalações que ali estavam expostas. Instalações? O Noiado já havia visto instalações sanitárias que faziam muito mais sentido, artisticamente falando, do que aquelas...coisas ali expostas. Sem falar que aquelas instalações sanitárias eram DEFINITIVAMENTE mais limpas e funcionais que aquela merda toda.

Enquanto olhava incrédulo para todo aquele espetáculo de estupidez ao seu redor, a Doidinha puxava papo com ele, e quando descobriu que o Noiado era do signo de Virgem, demonstrou nítido desapontamento, uma vez que era entusiasta destas bobagens astrônomicas ou astológicas, e sendo ela do signo de Gêmeos, era incontestavelmente incompatível com o Noiado. Ao que o Noiado pensou, "Já vai tarde", pois ele havia notado que a Doidinha apreciava de fato toda aquela idiotice divulgada naquele antro de imbecis.

Um pouco mais adiante, havia um mau cheiro insuportável no ar. Alguns membros da alta roda da sociedade contemplavam quadros de merda - literalmente. O Artista responsável havia cagado em telas e ali elas estavam expostas, para a sensação de toda aquela gente que representava o PIB da sociedade.

Ou seja, a População Incrivelmente Burra.

Mais adiante, um cara se cortava, recolhia o sangue em potinhos e os punha numa espécia de arma, enquanto discursava babaquices acerca de idiotices sobre a arte de ser vida e tudo que o sangue carregava em seu interior; o sangue era um arma. Ao passo que o Noiado só desejava ter uma arma de verdade com ele naquele momento.

Em outro canto, eram exibidas milhares de fotografias gigantescas de....cus. Cu também é arte, dizia o chamado.

Mais além, havia um cachorro encerrado numa redoma de vidro, que o Artista estava lentamente matando de fome e de sede, enquanto discursava sobre....coisas.

Naquele momento algo aconteceu com o Noiado: seus olhos se tornaram rubros, suas mãos tremeram e ele avançou até uma parede, onde removeu um extintor de incêndio que ali havia. Carregou-o até a redoma de vidro onde o pobre animal agonizava e imediatamente partiu aquilo em milhões de pedaços, enquanto o Artista protestava veementemente contra tal bárbarie. Não por muito tempo. O Noiado usou o extintor para extinguir tal Artista, fazendo com que a cara de tal ser ficasse côncava em seu crânio, e o Artista tombou morto ao chão. O cão moribundo começou a devorar vorazmente o Artista, fazendo com que o Noiado risse melevolamente de tal cena. Vingança é um prato que se come frio, mas neste caso, um cadáver ainda quentinho vai bem para um pobre animal que seria sacrificado em nome de uma arte que de arte só tem o nome.

Depois, O noiado avançou até o outro Artista que ainda estava na sua ladainha com o violão e seus grunhidos. Tomou-lhe gentilmente das mãos seu instrumento e o enfiou goela abaixo, enquanto os olhos de Tal artista pulavam para fora de suas órbitas. O corpo do Artista lá ficou jogado àquele canto.

Depois, o Noiado apanhou pelo colarinho o autor da arte esmerdeada e esfregou raivosamente sua cabeça nas telas de merda - literalmente - que havia produzido, ate que a vida deixasse aquele ser idiota. Logo em seguida o Noiado fez com que o outro Artista engolisse - sem dobrar nem amassar nem nada - as imensas fotografias dos cus ali expostos, até que este também tombasse sem vida ao chão.

Arfando, bufando, com o coração a mil por hora, o Noiado de repente escutou palmas. Estavam lhe ovacionando! Um dos represenatantes do PIB veio apertar-lhe a mão, pois nunca havia presenciado uma performance com tanta energia e veemência: Nunca ahviam visto uma pessoa representar de maneira tão concisa e eficaz a luta da Arte contra as Partes, a luta do predomínio da vercaidade da incontingência e inevitabilidade do anacronismo presente por toda a sociedade irrisória e arquétipa, sendo evidentemente esta descentralizada e dotada de paroxismos inevitáveis. Nunca, mas nunca alguém com tanta bipolaridade austera conseguira encenar de forma tão definitiva a luta pela originalidade, contra os arcadismos e os pluralismos de uma sociedade não mais rural, mas voltada para a inevitabilidade escusa das partes, que se voltavam contra as artes e nelas se exprimiam, de tal maneira que levaram muitos dos presentes a se debulharem em lágrimas e soluços sinceros. A panacéia da morosidade do desenvolvimento sustentável estava definitivamente provada; de maneira mais cartesiana impossível. A Doidinha dele se aproximou e tomou-o pelo braço, olhando apaixonadamente para ele, enquanto os demais presentes continuavam a aplaudi-lo de pé.

Naquele momento, a cabeça do Noiado explodiu.

No dia seguinte, os jornais de todo o mundo lamentaram efusivamente a perda de semelhante artista. Era uma perda inexorável e incomensurável para o mundo da arte.

De fato.