sexta-feira, 19 de março de 2010

Ao bar.

Ir ao bar, ao bar. Homem ao bar! Por assim dizer, muito já se foram, sem nem saber por quê. Mas não importa, o bar fioca ali, logo ali, e temos muito que beber, muito que fazer, noite afora, noite adentro. Preferir o bar ao lar, por vezes acontece, como não? Existem momentos na vida de alguém em que tem-se que tomar uma decisão, uma atitude. No caso, tomemos todos uma rodade de providência: a dose custa somente um renais, módico preço este por algo que tanto se busca nas noites em claro por todo o Brasil - o líquido esquecimento.

Mas não estaremos aqui para nos embebedarmos, ao menos não como único intuito da bebedeira em si; as mágoas aparentemente não se afogam e/ou são excelentes nadadoras. Então, para quê se preocupar? A noite é jovem ainda e há muito o que se conversar, muito o que dizer. Já que não se pode fazer, falemos a respeito, falemos muito. O que fazer quando não se pode fazer, quando não se sabe fazer? Blah blah blah.

Olhe ao redor, quem você vê? Quase ninguém ali, ainda que o local esteja quase completamente abarrotado de ilustres anônimos da noite, pessoas que se encontraram em dado momento da vida, pessoas que cá estão com as mais diversas razões, as mais comuns intenções, as mais triviais motivações; o que há de incomum em mais uma noite de bar, neste bar em especial, sendo que nada de particularmente especial ali se encontra...ou ao menos assim vos parece, desatentos mortais que tanto se acotovelam por aqui, por ali, por todas as partes.

Caminhem na noite, sem nem ao menos sair de vossas mesas, pareçam lá estar sem nem ao menos saber por quê. Conectar-se, conectar-se. Há que se conectar com o mundo, mesmo que o mundo esteja lá fora do bar, lá fora deste bairro, deste local, desta cidade. Tantas e tantas brilhantes filosofias foram discutidas nestas mesas sem que ao menos se tornassem literatura obrigatória em faculdades, tantas verdades foram ditas porém sem nem ao menos conhecer a luz do dia ou a ela sobreviver. Tantos planos foram ali traçados, mas regados a álcool, raramente sobrevivem à inquisição da razão, da sobriedade.

Tantos olhares foram trocados, alguns geraram até filhos posteriormente, outros nem ao menos se voltaram para tentar entender a razão de tais olhadelas, de tais perscrutações furtivas. Se é que existe de fato algum motivo ulterior. Mera curiosidade que se torna esperança no coração de tristes desajustados. Para bom entendedor, apenas meia olhada basta, e dali sairão alguns felizardos dali a dançar a valsa dos bem-acompanhados.

Outros de nós apenas se contentam em ali estar, em boa companhia, a tratar dos mais diversos assuntos, do pão dormido à ausência de momentos como os anteriormente descritos e vivenciados, quantos e quantos anos se passaram já? Quem sabe, nem precisam saber. Blah blah blah. Como está, abunde-se, abanque-se chegue mais, cá estamos a conjeturar sobre isto e aquilo, sobre esta e aquela, que ali estão, tão próximas, tão longe, sem que nem ao menos disso se dêem conta.

Falemos, falemos todos sobre tudo e todos, como é possível que até hoje você não saiba que a terra é redonda, meu filho? Venha cá que irei lhe explicar tais coisinhas, se acenderem um fósforo, pegarei fogo, e muito riremos noite afora, horas adentro, alta madrugada. Garçom, mais uma. Mais fritas. Que caro estão estas batatas. Como está? Até mais. Turva noite, turva visão, é hora da água procurar, de se reidratar. A noite avança mas a idade permanece a mesma, e nem sempre as coisas se aprimoram com os anos, apenas os bons vinhos e as boas pessoas, que lá estão, em outro local que não este.

Rimos muito den ós mesmos e dos outros, quem se veste de tal maneira? Como falam alto e de maneira bem peculiar, o que estão a dizer, o que estão a fazer? Quem de nós saberia dizer? Talvez, pois sim, quem sabe. Houve uma vez em que....os peitos interromperam toda minha frase! Ha ha ha. Blah blah blah. Quem ficou com quem na noite anterior, quem esteve ali, você sabia que haverá um show beneficiente de...Agora, apresento-lhes a bunda e seus mistérios, e sua capacidade imediata de interrupção de tais brilhantes assuntos.

Noite afora, madrugada adentro. Estou cansado mas não quero ir-me, prefiro o bar a meu lar, conforme dito, conforme constatado. Quem está a me esperar ali, fora meus travesseiros, fora minhas cobertas, meu lar? Quem existe além daqui, além dali, quem esteve naquele lugar? Canse-se, cale-se. Não gostei do que você disse mas nada direi, somos amigos e bem sei o que quis dizer, o que quer dizer, o que queres saber. Olhe ali! Quem lá vem! Quanto tempo, quanto tempo, como vai, como foi, como irá?

Noite afora, noite adentro. Ao bar estivemos, ao bar voltaremos. Não hoje, talvez não amanhã, mas quando o chamado vier. Quando a vida nos ordenar.

Voltemos ao lar, por hora. Outro dia, outra noite, voltaremo ao bar.