quinta-feira, 11 de março de 2010

Succubus United.

Ando meio preocupado por estes dias. Estou chegando àquela famosa idade de ter que me preocupar com certas coisas, certos aspectos da vida que são inexoráveis, não importa o que você faça ou deixe de fazer, irá passar por tais coisas. Goste ou não.

Não, a coisa em questão não é necessariamente algo trágico como a visita da dita iniludível ao leito de morte. Minha aflição, por assim dizer, é mais branda porém por vezes terrível. Lembro-me uma vez, há uns dez anos atrás marromenos, estava sentado à mesa de domingo de um amigo meu. Haviam alguns caras mais velhos presentes, amigos do pai de meu amigo, que discutiam entre si fatos da vida, e eu escutava pois a conversa estava extremamente divertida.

Um deles comentou que recentemente haviam sofrido uma baixa no grupo, pois um companheiro havia tombado morto em alguma paragem qualquer. Os outros sacudiram as cabeças tristemente e um deles comentou que era assim mesmo. "Vocês nunca repararam como as conversas giram à medida que vgamos ficando velhos? Primeiro é só 'fulano tá pegando siclana', anos mais tarde, 'fulano casou com siclana', mais pra frente, 'fulano teve filhos', mais adiante, 'fulano separou de siclana', e finalmente, 'fulano morreu.'"

Eu me lembro nitidamente do quão verdadeiras aquelas palavras me soaram na época; eu deveria ter em torno de 22 anos, porraí, naquela ocasião. E as conversas só giravam em torno da primeira premissa, "fulano está pegando siclana". Hoje em dia, já tenho exemplares de "fulano teve filhos" nas conversas com alguns de meus amigos ditos mais, er, vividos.

Mas a grande maioria das conversas ainda gira em torno de "fulano casou com siclana". E isto me perturba.

Mas porquê, perguntarão alguns. Bem, porque me parece que ultimamente as succubus andam à solta. E isto me assusta e até me enfurece, de certa forma. Pois eu prezo meus amigos e fico muito triste de vê-los literalmente definhar às custas de algo tão....devastador, eu diria. Lembro-me na época da primeira faculdade, alguns companheiros, daqueles que sempre estavam presentes às festas, enchendo a cara, fazendo algazarra, comendo e bebendo e rindo e se divertindo.

De repente, alguns deles desapareceram, juntamente com os "rolos" arrumados em festas anteriores.

E foi a última vez que os vimos.

Tá certo, não foi nada assim tão trágico, mas afirmo que a mudança na índole de tais caras foi muito notável. E sinceramente, ao menos um deles foi, definitivamente, vítima de uma autêntica súcuba. O cara praticamente morreu. Não tinha mais energia para nada, só ia às aulas, evitava as festas, quase não mais conversava direito nem fazia brincadeiras.

Alguns irão me acusar de estar sendo meramente um crianção ou algo do gênero, pois "isto é um fato da vida!" Não. Não necessariamente, ao menos. Pois muitos outros casais se formaram ao longo do curso, sem que os envolvidos não se anulassem como pessoas que sempre foram nem desaparecessem. E afirmo que escrevo isto sem a intenção de ser misógino, por Mitra. Sei bem que as leitoras - caso existam de fato - irão se lembrar de algum fato parecido que aocnteceu às suas amigas. Eu já vi acontecer com homens e mulheres, mas ultimamente, isto tem acontecido com maior frequência entre os conhecidos do que entre as conhecidas.

Dia a dia estou vendo acontecer com um de meus melhores amigos, e tenho me espantado com isto, como a coisa deixa uma pessoa outrora tão...humana....se tornar um autômato. Alguém que não é aquela pessoa que você conheceu antes. Certo, concedo que um casamento muda uma pessoa, e concedo que certas mudanças são de fato necessárias. Mas, por tudo que é de fato sagrado, deixar de existir não é uma opção que considero saudável a ninguém. E estas pessoas estão deixando de existir.

Havia um amigo que morava perto de minha casa, que foi meu companheiro infalível por anos, antes de entrar na biologia. Tínhamos aqueles grandes planos adolescentes de seter uma banda, custamos a arrumar instrumentos decentes, fizemos um mini-estúdio no porão da casa dele, convidávamos amigos para fazermos jam sessions extremamente desafinadas - éramos muito ruins como músicos na época - e nos divertíamos à beça.

Fomos perdendo o contato. Coisas da vida, acontece muito. Certo. Mas nada me surpreendeu tanto quanto a informação por mim recebida de seu irmão em um encontro fortuito no busão. O cara havia casado. Não me convidou....não me disse nada, nem a mim nem a meus irmãos, que também eram amigos do cara. Manifestei meu protesto de indignação para seu irmão. Não que eu faça questão de comparecer a casamentos; em verdade eu execro tais cerimônias, mas mesmo assim, eu achei que o cara fosse um amigo, e que me tivesse em alguma consideração. Um mínimo ao menos.

Alguns dias depois este meu amigo me surge em minha casa. A sombra dele surgiu à minha casa. Tudo que havia nele que nos era comum, como a afinidade musical e a nerdice de se jogar videogames e quejandos - tudo, absolutamente tudo, havia desaparecido. Foi algo triste de se ver.

Como disse, sei que as pessoas mudam ao longo da vida, e acho muito bom que isto aconteça, mas não desta forma. Não creio que você deva se anular para ter que ficar junto de alguém. Isto para mim é uma auto-agressão, uma injúria a si mesmo. E já vi casos em que a pessoa que tanto se transformou com o intuito de se adequar à tal realidade, anos mais tarde, em dado momento da vida, simplesmente enlouquecer ao perceber o que fez com sua vida.

E dá errado, muito errado. É algo realmente aterrador quando acontece.

Este ano sei que haverá um casório à vista, envolvendo um companheiro que considero um irmão, por vezes mais irmão que meu próprio irmão. Creio que não terei que escrever nada a respeito de drenagens da força vital de meu amigo, pois levo fé que este casamento não irá tomar esta errônea direção, mas mesmo assim fico um pouco apreensivo. O pessimista, este deveria se chamar Buriol. Ou algo assim.

Mas vão por mim. Não se anulem. Não vale a pena e só dá merda. Não façam isto com a vida de vocês, por Mitra. E no final, acaba com a vida dos dois envolvidos no desastre.

Enfim, adiante. A vida não pára, mesmo diante de meus veementes protestos. E não se pode descer deste ônibus caso queiramos ver o que vem a seguir. E por mais doentio que por vezes isto posssa parecer, eu ainda quero ver o que está por vir.