sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Lixo.

Ah, sexta feira, sempre um dia melhor que o resto.

Antes vir a ter com o moderno sistema escravocrata-capitalista-neo-burguês-blah na data d'hoje, eu me ocupei a arrastar para fora de minha casa o segundo e último volume do lixo por mim acumulado durante uns cinco anos em meus domínios sotãonescos. Foi a tarefa mais árdua de minhas férias; não somente pelo trabalho em si, pois cinco anos de quinquilharias acumuladas siginifica uma quantidade bem respeitável de lixo, mas pelo processo de triagem do dito lixo.

Não sei se acontece com todo mundo por aí, mas eu tenho problemas em jogar algumas coisas fora. "Ah, mas eu posso vir a precisar desse potinho de remédio pra usar pra sei-lá-o-quê, blah blah blah", e coisas do gênero. Eu possuo um espírito gambiarreiro nato, e por vezes realmente sinto falta "daquela coisinha que joguei fora momentos atrás". Lei de Murphy associada. Daí, eu fui juntando pelas gavetas e armários, milhares de badulaques aparentemente inúteis, mas que poderiam vir a ser úteis para remendar uma coisa qualquer por aí.

Lado outro, como sou um rabiscador nato também, o acúmulo de papéis pelo sótão estava dando nos nervos - não somente papéis em branco(imensa maioria), mas muitos, muitos rabiscos. Eu fiz questão de triar todo este imenso volume de celulose, maculada ou não, de maneira bem cuidadosa, pois já deitei fora algumas coisas que me arrependo de ter feito. E, como a coisa não estava, como se diz, propriamente organizada, havia a possibilidade de no meio dos papéis apenas rabiscados com inutilidades, tipo o imenso volume de rabiscos estrurais por mim usados em minhas aulas de desenho, se escondiam coisas dignas de serem arquivadas.

Todo o processo foi muito, mas muito demorado mesmo, e me causou imensa alergia. Houve um dia que tive que tomar uma dose cavalar de anti-alérgicos, tamanho foi o desconforto causado pela poeirada e mofo dali provenientes.

Eu me pus a pensar na época, sobre o certo apego que temos pelas coisas. Mesmo alguns dos rabiscos mais interminados e devorados pelas traças, eu olhava e olhava e custava a juntar forças para deles me desfazer. E as quinquilharias de gambiarras, também era-me díficil pô-las no lixo. Evidentemente, são apegos diferentes, um pelo lado sentimental, o outro pelo lado "prático" (dicotomia que existe de maneira bem pronunciada em meu "célebro"). Mesmo assim, estes dois fatores atrasaram muito o término da tal faxina.

Em um dado momento, eu comecei a ligar mais o foda-se, pois eu precisava me ver livre de toda aquela carga. Mas, de tempos em tempos, eu me via hesitando em arremesar à lixeira um certo rabisco, um arame, um parafuso enferrujado. Outra coisa engraçada que se sucedeu foi a imensa viagem no túnel do tempo causada pela faxina. "Ah, eu me lembor de quando fiz esse desenho naquele dia em que..." ou "Nó, esse parafuso deve ter sido daquela merda de despertador que falhoe e que eu quebrei de raiva em...", coisas do gênero.

Enfim, hoje pus o último volume proveniente de tal tarefa inglória no lixo, e bem sei que se me atrevesse a revirar a papelada ali reinante, o ciclo novamente reiniciaria, e que eu iria encontrar algo que não "deveria" me desfazer.

Mas faz bem se desapegar dessas coisas, que no final das contas, são lixo. Devem ser expurgadas de nossas vidas. Me faz pensar em nossos pensamentos; acho que por vezes, se fosse possível, deveríamos fazer algo semelhante em nossas cacholas. É tanta coisa jogada ali, coisas que não são importantes, descartáveis diversos, entulhando tudo, e escondendo - por vezes - as coisas que realmente são importantes para nós. As memórias que deveríamos de fato guardar.

O resto é resto. Deve ser jogado fora.

Pena que um cérebro não é propriamente um sótão, por mais que pessicológos, pessiquiatras e outros tantos profissionais especializados nesta coisa afirmem. Não infentaram ainda o "defrag" e a ferramenta de "limpeza de disco" para o sistema nervoso central humano. Eu seria um dos primeiros a acampar na frente das lojas para adquirir tais ferramentas, caso elas de fato fossem inventadas.

Enquanto isso, temos que nos virar de alguma forma....e até hoje ainda não encontrei a maneira ideal de o fazer. Ao menos, vou limpando minhas memórias e quinquilharias físicas, reais de meus domínios, para ver se me torno mais leve, não sei. Vejamos, vejamos.

Enfim. É hora de tornar aos grilhões contábeis que pagam minhas contas.

Bão final de semana, e até segunda a todos...