Curioso é este mundo, curiosa é esta ironia, esta vida. O que nos leva a pensar, a fazer, a agir? em busca de nós mesmo, de nossa realidade, de uma realidade nossa, à parte dos galináceos reinantes ao redor, à parte da Grande Granja, mesmo sem dela podermos sair, eis que dela fazemos parte, sendo ou não frangos.
De minha parte, sei que são muitos anos ainda no encalço de tal coisa, tal ambição, tal diferencial. Nunca almejei ser uma galinha como tantas outras, mas esta vida, curiosa vida, curioso jogo de forças além de nosso poder, nos força a portar-nos como os demais, como a maioria, a força reinante neste local, neste monumental viveiro.
Eu vejo, eu tacho, eu vejo, eu racho, eu vejo, eu acho.
Eu, que não sou frango, ajo como um diante de certas coisas, diante de certas necessidades, diante de certas exigências que parecem-me ser impostas em um cruel jogo de ironias celestes. Eu, que tanto acho, acabo me perdendo, me errando, me desfazendo em atitudes vis e mesquinhas, em reclusões, fugas. De mim mesmo. De todos os frangos. Até mesmo dos não-frangos que habitam minhas amizades.
Porque, eu me pergunto. Por quê, me perguntam. Não sei dizer. Não sei quando isto começou. Sei que deveria terminar, de uma forma ou de outra. O que aconteceu, ainda me perguntarão. Quem aconteceu, alguns irão dizer. Quem, o quê. Quando, onde, por quê.
Eu aconteci. Aconteci desde dez mais sete. Nove meses. Um mil, novecentos e setenta e sete anos. Aconteci de existir, sem me conformar com isto, desde o início, desde o princípio. Eu poderia ser o pai do emo, caso isto fosse em voga naquela remota época. Talvez seja a penas o retumbo de eras passadas, uma reencarnação de algum estilo de época passado. Quem sabe? Não sou eu que sei.
Penso e penso, penso e vivo, penso e respiro, cogito e cogito. Será hora de tornar aos fármacos mestres em artes marciais? Será o momento de encarar o caminho de Cão-postela, abandonar tudo e todos, andar por aí, feder por aí, morrer por aí? Alhures, alhures.
Pergunto-me, mas a DCTF aguarda-me, as DARFs aqui abundam, o dinheiro por aqui flui, de dentro das veias de todos estes frangos diretamente para as contas dos Frangos Maiores, estes, de sangue azul, de rico sangue azul. Monetários ali abundam, e a diversão raleia, a vida raleia, os cofres ficam cheios de números e o telencéfalo Deles cada vez mais, se esvazia, de prazer, de viver, de sentir, de fazer.
Eu prossigo. Eu prosseguirei. Cabisbaixo, como todo não-frango parvo e impotente, perplexo diante de forças além de sua compreensão, de seu poder. Assalariado, tributável, sem muitos números mas com muitos pontos. Sem muitas coisas mas com grandes idéias. Grandes, grandes idéias, do tamanho do nada existente na cabeça feita por outras coisas, outros anestésicos, outras alcóolicas infusões.
DCTF. DARFs. PIS. COFINS. Horas mais tarde, linhas, linhas linhas, preto, cinza e branco.
DARFs, DARFs, folha de pagamento. Checar salários. Salário. Número público algum me privaria de todo este vazio. Consumo nenhum me privaria de tal ocaso.
O quê preencherá tal vazio. Quem preencherá tal vazio? Quem? Hein, quem, nem. Nem.
DARFs, DARFs. DCTF aqui vou eu.