Pois, decerto está. Talvez. Assim, quem sabe, saberemos, saberá. Sei que não foi ainda nesta vez que cumpriu-se o encargo, a meta. Um tributo, um tributo foi pago, mas mesmo assim não foi possível sanar a dívida em seu valor integral. Enfim, contudo, conquanto, prosseguir-emos adiante, adiante, para sempre e sempre, adiante. Há que se fazer sentir, há que se fazer existir.
Recomendam-me cumprir algo que não foi dantes cumprido, não nesta, não em outra geração de mim mesmo em mim mesmo; por acaso seria esta a quarta, quinta geração de toda uma vida, toda uma existência? Embora não saiba ao certo ter alguma resposta para esta quase pergunta, sei que a mesma nunca será respondida de forma convencional, não aqui, não ali.
Há que se fazer existir.
O cansaço é cumulativo, a exaustão é física, porém a mente é irrequieta, a mente não se contenta em se entregar a uma inexistência cabida de dentro para fora, de fora para dentro, noves fora, zeros dentro. A mente, este mistério sem solução, esta pergunta que se pergunta, esta, nunca deixará de existir, nunca deixará de se questionar, nunca deixará de trabalhar enquanto viva estiver.
Por isto, eu nunca deixo de trabalhar, por assim dizer. Eu estou sempre levando o trabalho para casa por que nunca paro de pensar. Nunca paro de analisar, de questionar, de existir enquanto eu mesmo. Nunca deixarei o trabalho no trabalho por que estou sempre sendo acompanhado por ele, uma vez que ele reside em mim mesmo. Este é o meu trabalho, aparentemente.
Se tal coisa levará a cabo de mim mesmo, fazendo-me exaurir até o ponto da inexistência enquanto ser vivo, ao menos em vão sei que não terei gasto minha vida - não em medíocres dinheiros fartos e lautos, não em putas, putenças, as vacas de meu Brasil, não em carros e motos e apartamentos, em vidas alheias, em dívidas que me acompanharão até a morte.
Esta coisa, ela não morre. Esta coisa é ridicularizada, certo e justo, por outrem, esta coisa é vista como mais um surto de uma criança esperneante que a tudo e todos atormenta.
É em mim que ela reside. É em mim que ela existe, tenta existir, faz de tudo para existir. Canso-me de tentar assassinar a mim mesmo com fúteis numerários, com inúteis decorações de leis e regras, sua sessão solene etc.
É a mim que estarei matando. De uma forma hedionda. Lenta e progressivamente até o ocaso da voz que nunca, nunca se calará continuando a existir dentro de mim a me cobrar a existência daquilo que ainda não existe além da idéia sobre o papel.
Que morra eu de fome, de insanidade que assim seja, que assim seja. Diga amém a isto, se é para acontecer. Eu não sou daqui, não posso ser quantizado em galináceas unidades. Nunca fui daqui. Nunca serei daqui.
Prossiga, diz a voz. Prossiga, diz ela que tanto se sente mais satisfeita ao ver-me mais uma vez embarcar em tal estrada, incerto caminho que poderá levar a nada ou a tudo.
Tudo, ou quase tudo, bem o sei, dependerá de mim.
Para onde, bem o sei, mas sem o saber, eis que ali nada é concreto.
Não ainda.
Para onde? Para mim. Por mim.
Nunca, nunca, para os outros.
E que assim seja.