segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Âncora.

Âncora

(latim ancora, -ae)
s. f.
1. Mar. Instrumento de ferro que, ligado ao navio por uma corrente e lançado ao fundo da água, o mantém seguro.
2. Fig. Esteio; recurso; proteção.


Sim, inusitada a definição de um artefato como este logo ao abrir a janela de pensamentos diários de minha autoria, não é mesmo? Enfim. Pus isto aí por estar pensando em outras definições que acrescentaria neste dicionário virtual, algo como isto:

3. Pessoa que te prende e não deixa com que você evolui.
4. Encosto, trava.

Por que digo isto? Estive pensando nisto no caminho para cá hoje, devido a algo que aconteceu no final de semana; este, foi próximo do ideal: sábado tivemos a reunião farrapal, com a presença de quase todos os ilustres desenhadores/músicos/amigos que compõem o círculo de cúpula deste estranho grupo que são os Farrapos. Por todo o sábado, o que houve foi deiversão, risadas, promessas para um futuro melhor. Coisas que sempre acontecem em boas reuniões de amigos.

Entretanto, no domingo, a presença chegou. A presença da âncora.

Não sei se é só comigo, não sei se acontece com outras pessoas nem mesmo se as demais pessoas têm esta definição em mente quando pensam em uma pessoa que lhes empata a vida. Por que para mim, às vezes, é isto que denomino uma ÂNCORA em sua vida: aquela pessoa que te trava, que te faz lembrar tudo de errado que existe em você, na vida, no geral - aquela presença que te lembra o quão miserável e inescapável a vida é, por vezes.

Ontem, a âncora de minha família chegou. Eu consegui, por algum mistério que não vale a pena ser sondado, ignorar ao máximo sua presença e render: meu fim de fim de semana foi produtivo, ao contrário do que esperava acontecer. Achei mesmo que assim que ele chegasse, eu iria travar por completo, devidamente ancorado.

Não aconteceu. Eu rendi, eu fiz. Mesmo cansado, exaurido por boas festas e bons acontecimentos, eu produzi. Algo que julguei que fosse-me ser inconcebível com a presença na casa.

Eu não sei se é um sinal dos tempos, sinal que porventura a corrente que me prende a tal âncora esteja já muito corroída, se é que isto é possível de acontecer. Eu achava que não, mas depois de ontem, talvez possa acontecer. Talvez o inesperado aconteça, talvez eu tenha me tornado de certa forma mais forte, talvez, talvez. Não sei dizer.

Eu não quero, para falar a verdade, ficar atado a esta âncora. Quero que ela fique lá, abandonada, afundada no fundo do mar, longe de minha nau, longe de minha vida. Por que o que eu mais desejo no momento é viver minha vida, acontecer minha vida, sem âncoras, sem grilhões deste tipo. Concedo que alguns grilhões devem existir, mas não este.

Que afunde, que se mantenha distante. Que nunca mais se atrele em mim tal âncora.

Que assim seja.