(Uma repartição pública qualquer. Pessoas aguardam sua vez.)
-Senhor, terá que aguardar. Juntamente com o sr. vieram aqui outros tantos.
-Não, não posso esperar eu. Propor preciso, preciso, minha proposta.
-O senhor não é daqui não é mesmo?
-O que a mim denunciou? Português meu, este estranho?
-Não, o fato que existem tentáculos saindo de sua boca quando o senhor fala.
-Ach! Descoberto estou! Pela janela, não me pegarão.
(pula do 145ézimo andar)
-Cada louco que me aparece aqui. Próximo.
-Não, meu nome é Arquibaldo.
-Hein?
-Você chamou pelo Próximo, mas a senha dele é posterior à minha.
-Senhor, diga o quer.
-Quero propor um--
-Projecto. Sim, terá que aguardar, pois existem outros propondo projectos também.
-Mas meu projecto é mais que o deles. Eu exijo meus direitos.
-Direitos, esquerdos. Aguarde sua vez.
-O tempo urge. Não posso esperar! Meu projecto envolve três quartos e um lavabo!
-O quê?
-Eu tenho aqui o projecto de meu apartamento que sempre sonhei.
-Ai, ai. Eu esperava que não tivesse que chegar a tal.
(tira um revólver do balcão e abate o sujeito a tiros. Silêncio mortal na sala)
-Próximo.
-Eu, eu, sou o Próximo.
-Certo. Não me faça perder tempo nem paciência. Diga.
-Eu tenho aqui um projecto--
-Se você tirar uma planta de sua pasta, eu vos alvejarei onde está.
-Não, não.
(tira um vaso com uma pequena muda de ipê)
-O que é isto?? Eu falei que se tivesse uma planta--
-Não, não! Minha planta serve para elucidar meu projecto!
-Qual é o projecto afinal?
-Quero propor a modernização da chuva.
-Hein?
-Chuva. É sempre um estorvo, e sempre demodê. Umidade, mofo.
-Hmmm...interessante. Continue.
-É simples. A gente canaliza tudo.
-O quê?
-Sim, é simples, basta construir milhões de tubos de PVC e captar toda a água das chuvas neles. Não haverá mais encheção de saco nem faltará água onde tem seca. Canalizamos tudo e mandamos para lá.
-Seu projecto é deveras interessante e deveras inexequível. Morra, portanto.
(BANG)
-Próximo.
-A senhora o matou.
(BANG)
-Mato o senhor também, por ser idiota. Próximo.
(um dos integrantes da sala levanta uma camisesta de Che Guevara e grita a plenos pulmões:)
-Hasta la victoria siempre!
(BANG)
-Odeio comunistas.
-A senhora não pode fazer--
(BANG)
-Odeio quem me contradiz, também.
-Com licença...
(BANG)
-Educadinho de merda.
-Sua vaca! Você só é valente porque esta armada e--
(BANG)
-Obrigado pelo seu insight, Capitão Óbvio.
(as pessoas restantes na sala secretamente organizam um comitê anti-recepcionista-armada e fazem reuniões de cúpula, organizam eleições, fazem uma emenda constitucional e organizam outro comitê para tentar negociar com a dita)
-Senhora. Eu, sou representante dos sobreviventes deste guichê e...
(BANG)
-Não me interessa.
(estupefactos, os sobreviventes assistem à queda de mais um companheiro. Um dos sobreviventes, abre a mala e tira um artefacto estranho de seu interior. Parece ser massa plástica, a qual liga dois fios. Arruma um outro aparato, uma espécie de gatilho, e se dirige ao balcão, segurando o gatilho numa das mãos)
-Senhora, se me matar, explodiremos todos. Este gatilho em minha mão está armado, conectado aeste explosivo plástico em meu peito e--
(BANG)
-Não me interessa seu blah blah blah.
(O alvejado imediatamente solta o gatilho e tomba ao chão, mas nada acontece. Ele olha para o gatilho, depois para o seu peito e diz:)
-Céus. Será que eu trouxe durepox por engano? Onde eu deixei meu C-4?
(ouve-se uma explosão ao longe)
-Querida! Eu prometi consertar aquela frigideira com durepox! Nããããõoo!
(BANG)
-Morra logo de uma vez e se junte à sua imbecil esposa, idiota.
(de repente, a muda de ipê tombada ao chão decide se tornar um ent e matar a déspota do balcão, e leva a cabo seu projecto.)
-Morro, oh! pelas mãos de uma árvore, nada menos; que ecológico.
(milênios mais tarde, arqueólogos descobrem nas ruínas de XYZ um ipê, e a seus pés, muitos esqueletos fossilizados em estranhas poses. E o ex-presidente Collor emerge das cinzas e diz em profético tom:)
-Minha gente! Este conto não faz sentido algum e--
(BANG)
(obrigado, Capitão Óbvio. Fim.)