quinta-feira, 15 de outubro de 2009

As porventuras de vidas.

Argh. Vida. Tomando estranhas direções, a vida. Por todos os lados. Vida. Mudando tudo, mudando todos. "E daí," dirão os frangos, "a vida é uma constante mudança. E você deve aceitar. Deve crescer. Casar. Ter filhos. Bolas de ferro, grilhões, deve se atar ao chão, à terra! Pagar impostos. Ser uma pessoa. Ser um homem, rapaz, um homem. Justo. Preciso. Tributável. Responsável."

Devem vocês irem todos à merda mais vossas tradições. Deixo o senhor Tom Zé por mim falar:

Meta sua moral
Regras e regulamentos
Escritórios e gravatas
Sua sessão solene.

Pegue, junte tudo,
Passe vaselina,
Enfie, soque, meta
No tanque de gasolina.

--------Tom Zé, Politicar.

Enfim. É a vida, é estranha e terrível, para uns e outros, e para mim. Para mim, não passa tudo de uma provação, uma tentação, uma sequência ilógica de acontecimentos aparentemente cuidadosamente estabelecidos para provar a provação nossa de cada dia.

Ando preocupado, sim, preocupado, com toda esta merda em mim embutida, incutida, imposta, ditada. Pra merda, pra merda. Pessoas se atando a desnecessários grilhões. Pessoas deixando de viver para atender aos anseios de outrem. Pessoas se cobrando muito mais do que deveriam. Pessoas se traindo, e traindo àqueles que supostamente amam ou deveriam amar.

Culpado também sou eu, este ser que aqui habita sem ser necessariamente um habitante, quotado, catalogado, dissecado, analisado; ainda que o seja de uma forma ou de outra, entretanto.

Mas não.

Não consigo conceber, não consigo aceitar. Não sem ao menos espernear. Não sem ao menos questionar, perturbar, encher, aporrinhar, perguntar, analisar, dissecar, massacrar.

E para quê, dirão eles, direi eu a mim mesmo. Para quê me perturbar, para quê questionar, importunar.

Comigo somente houvesse sido, não importaria-me. Mas não é comigo. Não é com os frangos; são pessoas, seres com os quais me importo. Amigos.

Não são as instituições em si que me perturbam, mas sim a imposição das mesmas. E a cobrança desnecessária de um cidadão plenamente responsável e desimpedido em ter que se curvar perante tais regras. E ao mesmo tempo em que se incute tais regras, tais parâmetros, não sabe ele que está prestes a ser enganado. Usado. Modificado.

Porquê, pergunto eu, por quê alguém faz tal manobra. Por quê uma pessoa que pretende amarrar outra a seus pés para toda uma vida, se comporta de tal maneira vil, torpe, baixa, hedionda? Porque quer amarrar outrem a seus pés sendo que este ser não será o único? Não obterá este homem a premissa básica da instituição citada, uma vez que a outra parte envolvida não necessariamente com ele deseja garantir a exclusividade. A fidelidade. A lealdade.

Lealdade. Em um mundo onde ainda impõem-nos tais grilhões, deturpar tal valor tornou-se a válvula de escape de tais prisões institucionalizadas, aparentemente.

Refiro-me aqui em esta coluna a todos os seres penados que me circundam, e em especial a dois companheiros desta inglória luta que é a vida. E a eles me refiro em diferentes circunstâncias, diferentes acontecimentos, diferentes realidades. Casos em nada muito comuns entre si, mas com uma constante na equação, anteriormente citada.

Não sou contra instituições, se devidamente feitas, devidamente realizadas. Sou avesso à mudanças, e avesso à atentados a meus compatriotas. Atentados estes que eu execro com todas minhas forças.

Temo sim, a mudanças. As temo porque é de nossa natureza frangal de ser gente: tememos o desconhecido. Mas temo muito mais o inconsciente erro, o premeditado erro, as contradições em que circulam um destes acontecimentos em minha vida e na vida deles, que é-me alheia sem mesmo o ser propriamente dita, de uma forma ou de outra.

O vento e o anonimato levarão minhas palavras; mas mesmo assim as digo aqui, pois não tenho mais onde dizer, a quem recorrer, a quem requisitar.