Medo do incerto. Medo de acontecer.
Talvez, medo de dar certo.
Não sei. Não sei o que pensar, não sei como pensar, não tenho certeza de nada mas desconfio de muita coisa, como diria algum personagem de Guimarães, o Rosa.
Desconfio que, se der certo o que talvez venha, eu me tornarei mais feliz, menos descrente com a vida e talvez até uns 5% mais sociável.
Se não....se der com os burros n'água....
Eu não sei. Eu tenho medo destas coisas, destas ditas coisas que parecem ser boas ou conter promessas de benevolência para minha existência...Geralmente, quando surgem oportunidades assim, acontecimentos assim....eu costumo construir castelos no ar, imensas construções neo-góticas, neo-parnasianas, neo-blah, e a coisa rende e rende....até....
Que algo aconteça. Algo que destrua em milésimos de milionésimos de frações de segundo tudo que minha mente construiu, toda a beleza imponente reinante em meus sonhos, ainda mais em se tratanto de sonhos realmente "dourados", idealizados, sonhados por toda uma vida, por toda uma existência. 32 ou 33 anos, longos anos.
E agora....a coisa aparece. A oferta aparece. Tenta-me. E eu, afoito como sou, a quero, muito, muito. Mas....e a vida. A vida me ensinou a temer estas coisas justamente por eu sempre ser capaz de voltar a cabeça e contemplar, do alto de meu morro de desilusões, as ruínas de todos os outros castelos que desabaram atrás deste novo que está sendo construído.
Temo sim. Temo tudo. Pessoas, datas, assuntos, compromissos.....mas temo em especial as pessoas. E a mim mesmo. As pessoas, porque para acontecer algo errado, basta uma simples ação, um simples retirar de um dos blocos de ar de meu castelo para que tudo por terra tombe. A vida me ensinou isto....um de meus progenitores me ensinou isto em lições homéricas. Algo nada bonito de se ver, de se vivenciar.
E a mim mesmo....
Temo a mim mesmo porque sei que costumo reagir mal a estas coisas. Temo a mim mesmo porque simplesmente tornei-me tão cético com estas coisas que costumo, antes mesmo da coisa se concretizar em algo menos ilusório que transparentes castelos.....eu costumo de, uma forma ou de outra, sabotar-me das mais diversas formas.
Não, não desta vez, por favor. Não, não mais. Por algum sentido neste labirinto que minha simples existência se tornou....desde 2004 não vejo nada assim, nada tão....ideal, tão legal.
Não, não desta vez. Por um sentido em minha vida, não peço mais nada. Não quero tanto dinheiro, não quero tanto luxo, não....desejo apenas um sentido, uma razão para continuar vivo, para continuar em esta Grande Granja, em meio a tantos frangos, a tanto ocaso.
Que eu não seja uma reedição dele. Que eu não tenha que ser fadado a ter que me sujeitar a vivenciar em mim o que aconteceu, acontece e acontecerá com ele. Não, não.
Por um sentido em minha vida. Por uma razão para se haver ainda alguma esperança em minha simples existência. Para que eu pare de me amaldiçoar, de me sentir um lixo, um inútil que não consegue fazer nada de sua vida.
Algo que me afaste da tentação do ocaso da grana fácil porém prostituída, inútil, imbecilizada. Para que eu tenha que ralar e ralar, mas com um motivo real de fazê-lo.
Por uma razão de existir, por um sentido. Por um motivo para que eu deixe de me isolar em celas solitárias por mim mesmo erigidas, desconfiando de tudo e todos, amaldiçoando todos que porventura tenham feito comigo o que também fizeram com ele.
Não me abandonem, não me destruam. Não sei se toleraria mais uma destas desavenças.
Pelo trabalho que sei fazer, que gosto de fazer. Pelo meu diferencial em relação à frangalidade pasteurizada ao meu redor. Por uma vida menos ordinária, menos intolerável.
Pela manutenção de minha sanidade.
Para que eu possa ser algo além do chato da festa....do cara que se sente mais inútil que um protetor de bolso. Do cara que só reclama e que nada faz.
Não dê errado.
Não.