quinta-feira, 8 de julho de 2010

Encruzilhada.

(Excerto dos escritos de Johan von Zimmermann)

Bastogne, 15 de dezembro de 1944

Sieg heil.

Pouco significam tais palavras para mim, nestes dias tão sombrios. Bem sei que seria executado aqui mesmo, neste buraco esquecido por quase todos, se me apanhassem escrevendo estas coisas. Não me importo. Queimarei estas notas, assim como tenho queimado todas as outras que tenho escrito por estes dias.

Estou cansado da guerra. Estou cansado deste dever que me impingiram, por ser "ariano". Por ser austríaco como der Führer. Por ser "superior" a todos estes ditos porcos que estão nos cercando. Nos acuando. Estou cansado de tudo isto. Tenho saudades de Vienna, das noites aconchegantes ao lado do fogo com minha Hanna.

Fazem dois anos agora que estou em combate contra os inimigos do Reich. E nunca, jamais concordei com nada disso. Para mim Hitler sempre foi apenas um histérico, um louco. Conquistou a nação toda com gritos e promessas, estranhas promessas de dominação, hegemonia e outros tantos papos furados.

Escrevo isto e muito me rio, pois se me flagrarem aqui neste celeiro desta cidade fantasma, escrevendo tais...blasfêmias, como diriam meus superiores, eu seria linchado, esfolado. Não me importo. Estou cansado, estou derrotado. Quero que tudo isto acabe logo. Quero que todos os ditos "porcos imperialistas" que nos cercam invadam esta droga de encruzilhada dos infernos e acabem logo com isto.

Mas não quero morrer, não. Quero ainda um dia voltar para Vienna, para Hanna. Quero me casar, ter filhos. Já vi demais de toda a miséria humana, e tudo que um louco pode levar um povo a fazer em seu nome. Já vi muitas mortes, já vi muito de tudo aquilo que esta loucura pode proporcionar aos olhos de um homem que não tenha sido contaminado pela loucura inflingida por meu compatriota. Meu superior, meu deus, ocmo costumam tratá-lo. Sim, deus.

Não para mim. Nunca. Jamais.

Graças a esse maluco, estou aqui quase congelando meu traseiro enquanto escrevo com sobressalto e repugnância tais linhas. Graças a esse doido varrido, muitas pessoas que eu gostava, que tinha amizade, já sumiram no mapa da Europa. Já foram extraditados para os Campos da Morte, onde a solução final lhes espera. Eu sei de tudo isto,pois quase fui "voluntariamente" recrutado para servir em tais abjetas criações de nosso dito líder. Escapei, felizmente: prefiro morrer em combate, inútil combate do que assistir à toda aquela bárbarie.

Um arrepio passa por minha alma toda vez que penso na palestra que ministraram aos "voluntários" para os campos. Felizmente, apanhei uma gripe horrenda na semana de embarque aos "abatedouros de judeus", e fui erroneamente diagnosticado como tuberculoso, muito para minha fortuna. Fui dispensado e quase desenganado, mas infelizmente melhorei ainda no hospital e fui novamente incorporado.

Escapei dos campos, ao menos.

Mas tive que lutar na praia de Omaha. Tive que trucidar muitos soldados inimigos. Descarreguei muita munição pesada contra homens. Assisti à agonia de muitos deles naquela praia sangrenta. Assisti muitas coisas horrendas, que me acompanharão pelo resto de minha vida. Tive que fazê-lo, fui obrigado a fazê-lo. Felizmente, meu oficial do abrigo, era covarde o suficiente para nos levar a uma fuga desenfreada momentos antes dos aliados tomarem controle de toda a praia. Ele está tendo que responder por crimes de traição. Será provavelmente executado, a meu ver.

Nestas horas é bom ser apenas um soldado. Fiz o que me mandaram fazer, mein Führer! Me desculpe, mein Führer! se meu superior era um covarde! Sieg Heil!

Alguém se aproxima. Melhor para por aqui e