Dias desde a última anotação: 10.
A vida anda devagar por estes dias.
Nada de muito novo acontece por aqui. Ando cada vez mais entediado, e ainda não consegui obter nenhuma resposta sobre o que aconteceu no mundo enquanto estive...fora. Não consegui encontrar nada que se parecesse com uma biblioteca ou mesmo alguma espécie de arquivo morto desta sociedade que desapareceu da face da terra.
As carcomidas ruas estão repletas de pétalas de estranhas árvores amarelas, do tipo que nunca me lembrava ter visto por aqui antes. E são árvores, plantas adultas. Não são muito grandes, mas...leva um certo tempo para uma planta chegar àquele tamanho delas. Quanto tempo se passou?
Infelizmente, nenhum dos computadores abandonados que encontro por aí funcionam. Ri comigo mesmo, que eu deveria era encontrar um computador, acessar a internet e ler tudo a respeito da extinção humana. Talvez tenham feito um meme a respeito. Certo, certo. Muito divertido. Eu tenho que ficar fazendo piadinhas de mim para mim para me divertir. E sou um péssimo comediante.
A coisa mais excitante que aconteceu por estes dias foi eu ter encontrado um edifício cujo porão está amplamente inundado, e a água brota na rua defronte à ele. Me mudei para lá, uma vez que eu tinha que ficar sempre carregando garrafas e mais garrafas, baldes e outros vasilhames diversos para recolher a água que sai de algumas torneiras por aí. Mas nada funciona muito bem, depois de tanto tempo de abandono. No prédio que eu havia me instalado mesmo, nada funcionava.
Agora tenho uma espécie de rio particular bem em frente à meus alojamentos aqui neste outro prédio. Posso me lavar adequadamente, coisa que estava mesmo precisando. Estava ficando nojento. O lugar também atrai muitos animais, eis que é uma fonte de água. Estou começando a crer que terei que me virar em breve, caçando para comer. As comidas especiais da tal missão que embarquei estão raleando, e apesar de funcionarem, de me alimentarem por muitas horas e tudo mais, são uma verdadeira droga. Sem gosto de nada, praticamente. Parece que estou comendo uma borracha nutritiva.
Sinto falta de comida de verdade, de carne. Carne....suculenta carne. Bem sei que se tiver que caçar, não vou ter filés nem nada disso: ao contrário, ou comerei cão ou gato. Ou ratos, lagartos Parece-me que só existem estes animais vivos por aqui. Não avistei nenhum bicho de maior porte em minhas andanças por este universo arruinado por aí. Vou pensar a respeito. Talvez se eu me deslocar para uma área menos...urbana...eu encontre caça menos ordinária e menos...revoltante de se comer. Cães e gatos? Ratos e lagartos? Não faz muito meu feitio.
Mas assim que a fome surgir de fato, bem sei que mudarei de idéia. Melhor nem pensar muito a respeito, não agora.
Fora isso, ontem aconteceu uma coisa estranha. Estava andando pelas ruas aqui perto, e uma hora parei e escutei algo, que vinha de dentro de um prédio. Um som como se fossem vozes abafadas, mas falando em uma língua ininteligível. Fui entrando cautelosamente, tentando ouvir de novo alguma coisa, mas parecia que tinha sido somente minha imaginação mesmo.
Quando me voltei para sair do recinto, senti uma tonteira, e quase caí no chão. Me apoiei numa parede e tentei recuperar o equilíbrio. De repente, minha vista escureceu um pouco. Na hora pensei que estava com pressão baixa. Dias e dias sem sal, sem me alimentar direito, talvbez tinham causado isto.
Mas comecei a ouvir uma espécie de conversa na minha cabeça, no meio da sensação de estar flutuando, de não ter os pés no chão. Fechei os olhos, estava mesmo me sentindo muito estranho. Os sons dentro de minha cachola estavam realmente parecidos com uma conversa, dois timbres diferentes de "vozes" que interagiam entre si, mas nada do que eu "escutava" fazia sentido.
Abri os olhos e vi as coisas todas borradas ao meu redor. Não consegui fazer foco de jeito nenhum, mas pude perceber que haviam coisas diferentes no que estava vendo. Cores. Luzes. Talvez algumas destas minhas raçoes milagrosas que havia resgatado do laboratório estivessem estragadas, ou...não sei.
Fechei os olhos de novo, as vozes se intensificaram na minha cabeça, até ficarem altas demais. Eu tentei fechar meus ouvidos, em vão.
Gritei. Gritei de novo.
Após mais alguns instantes daquela estranha sensação, a coisa se dissipou, inexplicavelmente. Abri os olhos e tudo estava normal, a poeira, o entulho. Nada de cores, nenhum som a não ser o assobio discreto do vento lá fora.
Hoje fiquei sobressaltado o dia inteiro, esperando que tal sensação fosse retornar, mas até agora, nada. Me alimentei normalmente, comendo minha borracha sabor número três, bebi água, fiz tudo que faria num dia normal. Nada de anormal aconteceu. Mesmo assim, me sinto estranho, tenho uma espécie de estranho pressentimento me acompanhando.
Talvez seja só neura de estar ridiculamente sozinho neste local esquecido por todos. Abandonópolis, população: eu.
Vou ficar atento a qualquer manifestação diferente. Improvisei um bloquinho para carregtar comigo para todos os lados, tentarei registrar qualquer anormalidade assim que acontecer, e depois analisarei melhor estes dados.
Para quê, alguma voz me pergunta lá dentro.
Para ter o que fazer. Para passar o tempo. Para minha cabeça se desviar deste opressivo quase-silêncio que me circunda.
Enfim. O dia já vai morrendo, melhor eu apanhar mais alguma madeira por aí para me aquecer de noite, na pequena fogueira que mantenho acesa.
A vida anda devagar por estes dias.
Nada de muito novo acontece por aqui. Ando cada vez mais entediado, e ainda não consegui obter nenhuma resposta sobre o que aconteceu no mundo enquanto estive...fora. Não consegui encontrar nada que se parecesse com uma biblioteca ou mesmo alguma espécie de arquivo morto desta sociedade que desapareceu da face da terra.
As carcomidas ruas estão repletas de pétalas de estranhas árvores amarelas, do tipo que nunca me lembrava ter visto por aqui antes. E são árvores, plantas adultas. Não são muito grandes, mas...leva um certo tempo para uma planta chegar àquele tamanho delas. Quanto tempo se passou?
Infelizmente, nenhum dos computadores abandonados que encontro por aí funcionam. Ri comigo mesmo, que eu deveria era encontrar um computador, acessar a internet e ler tudo a respeito da extinção humana. Talvez tenham feito um meme a respeito. Certo, certo. Muito divertido. Eu tenho que ficar fazendo piadinhas de mim para mim para me divertir. E sou um péssimo comediante.
A coisa mais excitante que aconteceu por estes dias foi eu ter encontrado um edifício cujo porão está amplamente inundado, e a água brota na rua defronte à ele. Me mudei para lá, uma vez que eu tinha que ficar sempre carregando garrafas e mais garrafas, baldes e outros vasilhames diversos para recolher a água que sai de algumas torneiras por aí. Mas nada funciona muito bem, depois de tanto tempo de abandono. No prédio que eu havia me instalado mesmo, nada funcionava.
Agora tenho uma espécie de rio particular bem em frente à meus alojamentos aqui neste outro prédio. Posso me lavar adequadamente, coisa que estava mesmo precisando. Estava ficando nojento. O lugar também atrai muitos animais, eis que é uma fonte de água. Estou começando a crer que terei que me virar em breve, caçando para comer. As comidas especiais da tal missão que embarquei estão raleando, e apesar de funcionarem, de me alimentarem por muitas horas e tudo mais, são uma verdadeira droga. Sem gosto de nada, praticamente. Parece que estou comendo uma borracha nutritiva.
Sinto falta de comida de verdade, de carne. Carne....suculenta carne. Bem sei que se tiver que caçar, não vou ter filés nem nada disso: ao contrário, ou comerei cão ou gato. Ou ratos, lagartos Parece-me que só existem estes animais vivos por aqui. Não avistei nenhum bicho de maior porte em minhas andanças por este universo arruinado por aí. Vou pensar a respeito. Talvez se eu me deslocar para uma área menos...urbana...eu encontre caça menos ordinária e menos...revoltante de se comer. Cães e gatos? Ratos e lagartos? Não faz muito meu feitio.
Mas assim que a fome surgir de fato, bem sei que mudarei de idéia. Melhor nem pensar muito a respeito, não agora.
Fora isso, ontem aconteceu uma coisa estranha. Estava andando pelas ruas aqui perto, e uma hora parei e escutei algo, que vinha de dentro de um prédio. Um som como se fossem vozes abafadas, mas falando em uma língua ininteligível. Fui entrando cautelosamente, tentando ouvir de novo alguma coisa, mas parecia que tinha sido somente minha imaginação mesmo.
Quando me voltei para sair do recinto, senti uma tonteira, e quase caí no chão. Me apoiei numa parede e tentei recuperar o equilíbrio. De repente, minha vista escureceu um pouco. Na hora pensei que estava com pressão baixa. Dias e dias sem sal, sem me alimentar direito, talvbez tinham causado isto.
Mas comecei a ouvir uma espécie de conversa na minha cabeça, no meio da sensação de estar flutuando, de não ter os pés no chão. Fechei os olhos, estava mesmo me sentindo muito estranho. Os sons dentro de minha cachola estavam realmente parecidos com uma conversa, dois timbres diferentes de "vozes" que interagiam entre si, mas nada do que eu "escutava" fazia sentido.
Abri os olhos e vi as coisas todas borradas ao meu redor. Não consegui fazer foco de jeito nenhum, mas pude perceber que haviam coisas diferentes no que estava vendo. Cores. Luzes. Talvez algumas destas minhas raçoes milagrosas que havia resgatado do laboratório estivessem estragadas, ou...não sei.
Fechei os olhos de novo, as vozes se intensificaram na minha cabeça, até ficarem altas demais. Eu tentei fechar meus ouvidos, em vão.
Gritei. Gritei de novo.
Após mais alguns instantes daquela estranha sensação, a coisa se dissipou, inexplicavelmente. Abri os olhos e tudo estava normal, a poeira, o entulho. Nada de cores, nenhum som a não ser o assobio discreto do vento lá fora.
Hoje fiquei sobressaltado o dia inteiro, esperando que tal sensação fosse retornar, mas até agora, nada. Me alimentei normalmente, comendo minha borracha sabor número três, bebi água, fiz tudo que faria num dia normal. Nada de anormal aconteceu. Mesmo assim, me sinto estranho, tenho uma espécie de estranho pressentimento me acompanhando.
Talvez seja só neura de estar ridiculamente sozinho neste local esquecido por todos. Abandonópolis, população: eu.
Vou ficar atento a qualquer manifestação diferente. Improvisei um bloquinho para carregtar comigo para todos os lados, tentarei registrar qualquer anormalidade assim que acontecer, e depois analisarei melhor estes dados.
Para quê, alguma voz me pergunta lá dentro.
Para ter o que fazer. Para passar o tempo. Para minha cabeça se desviar deste opressivo quase-silêncio que me circunda.
Enfim. O dia já vai morrendo, melhor eu apanhar mais alguma madeira por aí para me aquecer de noite, na pequena fogueira que mantenho acesa.