segunda-feira, 21 de junho de 2010

Slide!

E fez-se a luz, ou melhor dizendo, fez-se o som, o relógio fez. Ruído de ser interrompido de algum sonho que ficou no esquecimento do inconsciente, para, quem sabe? algum dia ser novamente reencontrado em alguma outra noite, algum outro sonho. Já aconteceu, de certa forma, esta comunicação entre lembranças de sonhos...dentor dos sonhos. Raras vezes, mas de certa forma memoráveis, ainda que nem ao menos me lembre como, quando, por quê aconteceu.

Bem sei que não faço o menor sentido ainda. É cedo. A noite ainda não saiu das minhas vistas, de minhas lembranças, deste movimentado final de semana, data especial para 95 a 97% dos brasileiros. Os bizarros seres restantes, dos quais faço parte, tiveram que se contentar em aturar a zona alheia, as cornetas de prástico dos infernos que tanto almejaria apanhar de seus donos e tofiar-lhes em seus respectivos...er, deixa pra lá. Não foi tão ruim ficar à parte do espetáculo assim. Não tem sido tão ruim assim.

Infelizmente, os dias mais gloriosos da semana que normalmente são reservados para a elaboração de barulhos que vez ou outra até se parecem com músicas, não renderam muito, eis que este ser que agora digita catilograficamente, teve o infortúnio de se deparar com uma desventura doméstica. Um fio partido do aspirador, durante a semanal faxina. Fio partido significa ter que arrumar uma maneira de se consertar, não pela faxina em si, mas pelo chamado da gambiarra que alguns de nós têm em si.

Eu, que muito disto tenho, fui desencapar o fio com um estilete chinês vagabundo dos infernos. Mal sabia eu que a lâmina não era tão vagabunda assim, e muito a xinguei enquanto corria para o banheiro, gotas de sangue sendo deixadas no caminho. nada de muito sério, felizmente. Mas logo em seguida, ao sentir o latejamento daquele corte enquanto o sangue se estancava, eu me lembrei que cortes na ponta do dedo indicador da mão esquerda significam o fim da farra das cordas, por assim dizer. No more music for you today, sire. Have a good day.

E foi penoso, pois eu sentia que, ao menos ontem, a inspiração estava à solta, a oportunidade que se faz oportuna no momento menos oportuno, como se diz. Em dado momento até tentei ignorar a pequena coisa na ponta do dedo, mas o sangue voltou a brotar e a dor voltou a surgir, no final da tarde, momento em que eu desafinava duas cordas do violão para tentar aprender como se toca uma música(excelente, linda música) que requer estranha afinação para ser executada com êxito. Depois da "digital" reclamação, ainda tentei fazer algo só usando os outros três dedos restantes, uma vez que não se usa o polegar para tocar, a não ser que você seja Hendrix ou algo assim.

Com o instrumento ainda na bizarra afinação, notei que alguns acordes se formavam com uma pestana, e faziam sentido. O que mais faz muito uso deste tipo, digamos linear, de afinação? Aqueles famosos tubos que antigos bluesmen muito usavam em suas composições oriundas do Delta de certas províncias estadounidenses. Eia, inspiração! Ainda há tempo para se tentar fazer algo, pois.

E mais uma vez a gambiarra salvou o dia, salvou a noite. Era tudo que precisava para dar continuidade à uma certa barulhada que havia começado a compor meses antes, mas que não conseguia dar continuidade. Em tal afinação, a coisa fez todo o sentido do mundo. Se ficou bom? Bem, assim me parece. Aos meus ouvidos me pareceu. Não sei quanto aos demais. Ainda.

O que sei é que aquilo salvou-me de ter que amargar uma inócua noite improdutiva, e um final de semana quase ausente de presenças, sempre necessárias para a manutenção da psiquê tão conturbada de alguém. Fez-me sentir bem, e isto é o que importa, o que mais importou naquele momento. Deu mais força para cá estar nesta manhã de segunda brava.

Vejamos o que vem em seguida. Pois.