quarta-feira, 9 de junho de 2010

Desaparecidos?

Hoje, quase tive a péssima experiência de sair desconsolado do ônibus que apanho para cá chegar; eis que este é dotado daquelas modernas teletelas as quais já relatei a respeito, estava quase morrendo de curiosidade (muita, mesmo, deveras, eu juro. Aham.) para ver o que dizia meu "horósco" do dia. Ao verificar que era o mesmo de ontem e anteontem, saí rindo do busão. Ainda bem que não creio nessa bobajada, que tantos frangos levam tão a sério.

Mas antes mesmo de apanhar este coletivo amarelão, como é de praxe, eu tenho que me usar de outra linha de ônibus, e havia me sentado naquela solitária cadeira que fica perto da roleta, e defronte a um espaço reservado àquela publicação "Jornal do ônibus", que (dizem) estar circulando há mais de dez anos nos mercedões da cidade. Pus-me a olhar para aquele panfleto, tão maravilhosamente ilustrado (Ô!), com seus avisos sobre vacinações, festivais e outras coisinhas não tão relevantes para minha pessoa. Blah, blah, blah.

Mas, de repente avistei uma grande fotografia, muito deformada devido à ampliação de ser uma foto daquelas 3x4. Aparentemente, do documento de identidade de uma menina de 15 anos. Desaparecida.

Eu gelo todas as vezes que vejo este tipo de anúncio naquele jornalzinho. Bem sei que sou um cara muito pessimista, e muitas vezes fatalista, quebrando minha cara diversas vezes, com razão. Mas não consigo olhar para esta seção do jornaleco com alguma esperança. É como se estivesse lendo um obituário.

Vez ou outra, ali aparecem notícias esplendorosas, anunciando que uma das pessoas ali anunciada como desaparecida havia sido encontrada. Em geral, são pessoas de mais idade. Nunca vi anunciarem que haviam encontrado um desaparecido(a) jovem, em especial crianças. E me arrepio todo, pois costumo ser mais empático que deveria ser, por vezes me pondo a imaginar o que deve se passar pela cabeça das pessoas que se deparam com este tipo de situação em suas vidas. A filhinha de oito anos desaparecida. O menino de quatorze anos que foi comprar pão e sumiu no meio do caminho.

Eu acredito na sordidez humana, e bem sei que existe gente ruim, mas ruim mesmo, aos montes por aí. Gente que é maldosa mesmo, que consegue olhar para uma inocente criança e ter...desejos impróprios por tal pingo de gente. Uma criança. É algo muito sórdido, mas inegável na zoociedade moderna: existem tarados que realmente têm esta maldade de apanhar estas crianças pela mão e...fazer coisas inenarráveis com elas. Imagino a dor dos pais, da família, dos conhecidos. E tenho que me refrear, mudar o pensamento.

Mas, cara a cara com aquele anúncio hoje, foi-me difícil sair deste turbilhão de alheia dor que, de repente me dominou e me arrastou para cantos nada iluminados de minha imaginação. Em mais de dez anos de Jornal do ônibus, a seçao comemora, quando divulgam que encontraram Siclano, que já foram encontradas...umas doze pessoas. É muito pouco para que a esperança se acenda em mim.

Lógico, a maioria das pessoas nem se preocupa com tais coisas, e nem deveriam, pois é algo muito ruim, muito desesperador, para se pensar. Melhor não ter empatia nestas horas, pensar no tema nacional preferido do momento, o malfadado esporte bretão para cá trazido em remotas épocas e que tomou conta das mentes dos brasileiros de assalto.

Mas não consigo. Eu olho o retrato, e vejo uma pessoa extinta. Mais uma vítima desses doentes, destes seres absurdamente execráveis que por aí existem, eu que muitas vezes sequer desconfiamos que têm toda esta maldade no coração. Todo este sangue-frio, este desejo torto e muito bizarro.

A viagem errada não para por aí, pois por vezes tais sombrias reflexões me levam a tentar entender a cabeça desses seres abjetos. Aí que a coisa vai para o escambau mesmo, pois não consigo, não me permito entender tal coisa. Não há o que ser entendido: é uma chaga da sociedade. Algo que deve ser uma coisa incurável na mente pervertida, perversa em demasia, destes....caras que se dizem humanos.

E depois me perguntam porquê apoio a pena capital. Por quê? A resposta está clara. Eles mesmo, por vezes, admitem que são doentes, que não conseguem se controlar, que nunca irão se curar. Como diria o insólito Rorschach do filme Watchmen, um de meus personagens preferidos destes recentes filmes derivados dos quadrinhos, "Men are arrested. DOGS are put down."

Pesado o clima aqui reinante, não é mesmo? Por vezes, me exalto nestas coisas. Pois vivo num país onde isto é "normal, acontece todo dia, esqueça, pense na copa! No futebol!"

Não, não penso. Nem na copa nem no futebol. Deveria? Se eu pensasse nisso estas coisas parariam de acontecer?