Aconteceu no sábado. A mudança.
Mudança sem muito mudar o que nós todos já sabíamos, já conhecíamos. Ainda assim, foi dos acontecimentos mais importantes do ano. Coisa que raramente vemos, ainda mais em meu meio, meu círculo de amigos e conhecidos. O casório, de meu irmão Rafael; irmão este sem ser de sangue, por assim dizer, mas de fatoi um irmão, um destes caras que devemos conservar em nossas vidas, uma destas pessoas que sempre podemos contar, nas mais negras horas de nossas vidas.
Fui convidado para ser um dos padrinhos, através de um email o qual ele acrescentou, "bem sei que não gostas de tais formalidades sociais; se não quiserdes proceder como tal, entenderei bem." Evidentemente, o email não estava assim tão floreado por tal jargão advocatício, mas bem sabem os que me conhecem que tendo a assim escrever, apenas para encher render uma certa forma de humor.
Deixando de divagar, volto ao caso. Evidentemente, aceitei tal "encargo", pois como já disse, um irmão é um irmão, e não existem sacrifícios que não fazemos por tais pessoas. Sou de fato um cara questionador de todos os inúteis ritos sociais e por vezes até me exalto em tais recriminações, mas afirmo que nem sequer pestanejei. Para mim foi verdadeira honra ser selecionado para tal tarefa.
Evidentemente, ocasiões solenes como esta requerem alguma sorte de sacrifício para um ser avacalhado e mentalmente marginal como eu. A inglória necessidade de ter que me enfiar em uma certa combinação de roupas as quais já previamente escrachei aqui neste diário quase diário de resmungos. O malfadado terno. A maldita gravata. Por mais que me digam, eternamente odiarei tal traje. Vem do sangue.
Enfim, não recuei nem pestanejei. Que venha o terno. E camadas adicionais, evidentemente, de roupas um tanto menos prestigiosas por debaixo da fantasia. Pois bem conhecia o terreno em que a cerimônia iria ser realizada. Conheço bem o Retiro das Pedras, desde meados de 1990. Sei o frio que ali faz, e o que me esperaria naquele fim de tarde. Achei estar até exagerando, quando me vi vestido com tantas camadas de roupas, mas ainda em minha casa, onde já faz frio normalmente. Mas o bom senso e a experiência não me falharam.
O frio que ali fazia era exemplar, digno dos velhos tempos. Minhas camadas extras me salvaram, e eramaté meio insuficientes para o ambiente externo da capela. Tive dó das mulheres que ali compareceram, entretanto: todas mui elegantes, mui apreciáveis aos olhos de todos os marmajos ali existentes, mas muito despreparadas para tal inóspito ambiente polar. Enfim.
Faziam anos que não visitava tal capela, e não me lembrava de todo seu esplendor, localizada à beira do penhasco, com uma vista absurdamente bela. Eu e os demais padrinhos e madrinhas fomos orientados por uma agente da Gestapo disfarçada de organizadora de casamentos, e confesso que não entendi quase nada que a dita falava, eis que não entendo bem o alemão de Auschwitz. Entrar pra direita, pausar no meio, ir para o teto, cair de bruços, pisar na lua, o quê?!
Ficamos entontecidos pelas instruções, e aguardamos a chegada da noiva, que como de praxe, chegou um pouquinho mais tarde que o noivo, este meu irmão tão avacalhado como eu; conforme fui informado por outros amigos, o cara ficou tomando umas cervejas com outros convidados em sua casa momentos antes do casório, trajando roupas absurdamente surradas e agindo com sua naturalidade escrachada de sempre. Ri muito deste informe, pois bem conheço meu irmão: apesar destes pesares, na hora marcada, lá estava o cara, impecavelmente vestido e arrumado.
Quando a noiva chegou, houve certa demora para que ela saísse do carro: haviam reportes de choro incontindo no interior da moderna carruagem, e requisitaram um lenço. Eu, como bem conheço minhas alergias ao frio, havia levado um no bolso e acudi prontamente, aos comentários de "este sim é um cara prevenido". O mais engraçado, entretanto, era que o lenço não era destinado à noiva, mas sim ao pai dela, que rompeu em pranto assim que avistou a fileira de padrinhos e madrinhas defronte à capela. Agora era hora de entrar na igreja e seguir o mapa e o plano de batalha de Fräulein SS. Como? Nem sabia.
Felizmente, executar tal entrada não foi tão difícil assim, e tudo correu bem. Apenas segui meu par, a irmã de sangue de Rafael. Deu tudo certo, e a cerimônia começou. Custei a avistar Jade no meio de tantas cabeças que espichavam o pescoço para terem a primeira visão da noiva. Eu mesmo estava um tanto emocionado, pois bem me conheço nestas horas solenes, ainda mais envolvendo pessoas para mim importantes como o casal que estava prestes a oficializar o que todos já sabiam há anos, o que todos já estavam acostumados a ver. Sim, sabíamos que eles já eram casados, mas não diante dos ritos exigidos pela religiosidade que as famílias de ambos tanto queriam ver de perto. Enfim, é a vida: tem destas coisas.
A cerimônia "episcopal" foi curta (para alívio conjunto de todas as fêmeas tão carnalmente expostas naquele recinto) e sem maiores incidentes, contando apenas com uma crise de riso por parte da noiva, que foi tentada a fazer tal "deslize" por alguém lá de fora, que segundo me disseram, fez uma careta para ela. Tudo correu bem, e fomos direcionados para o exterior da capela onde a agente Helga SS, empunhando sua cruz de ferro, exigiu que as madrinhas e padrinhos se reunissem por detrás da capela para sessão solene de fotos e atiramento de arroz nos noivos, agora consagrados aos olhos da igreja. Atiramos nossos punhados de arroz na gelada escuridão, e escutei Rafael gritar, "Porra! é pra jogar pra cima galera, e não na minha cara!" Risos, risos. Adiante. A recepção nos aguardava, fora do condomínio mas não tão longe assim.
A festa foi o encerramento ideal para tal evento. Estava tudo muito bom, eu sorria incontrolavelmente, e meus músculos da face protestavam devido ao prolongado desuso por ser este ser turrão que tanto se isola do mundo. Sorria muito indiferente às duras penas de pôr tais aparatos em funcionamento, pois ali encontrei quase todos meus amigos que fiz em tantos anos de idas eventuais àquele condomínio. E me sentia muito bem. O astral estava muito bom. Estava com medo que meu lado negro se manifestasse naquela noite, e alguma espécie de mau humor indefinido ou depressão súbita tomasse conta de mim. Já aconteceu antes.
Mas não naquela noite. Estava me sentindo muito bem, estava tudo muito bom. Tomei várias taças de champanhe, que estava surpreendentemente bom, comi diversos salgadinhos igualmente agradáveis ao paladar, joguei conversa fora com vários amigos, sendo que dois deles, meus capetinhas preferidos, aqueles seres que ficam por perto de um cara bobão feito eu, não cansavam de tentar me levar para o "mau" caminho. Peer pressure mothefuckers, I would say. Mas eu recevbia tudo com bom humor e rechaçava tais propostas com minhas exaltações teatrais de sempre, temperadas de meus típicos xingamentos: "Dançar é o caralho, pode ir sem mim seu viado" e quejandos.
Como era uma noite especial, de muitas indulgências, avistei alguns de meus amigos se intoxicando com a tal nicotina, que tanto me tenta nestas semanas, e lá fui também inalar tal coisa. Senti um misto daquela estranha sensação causada pela abstinência prolongada de tal agente intoxicante, e senti o alcóol dos champanhes se manifestando prontamente. Mas não houve nenhum incidente maior que este. Procurei poor coisas não alcóolicas em seguida, e fui mesmo um dos primeiros a se servir da magnífica comida ali servida naquela noite, e me restabeleci por completo. Não desta vez, vil etílico vilão, não desta vez. O senhor falhou em me fuder nesta noite. Fiquei muito satisfeito com isto.
Depois, continuei a trocar idéia com meus amigos, e os capetinhas continuavam a me tentar, e eram continuamente rechaçados. Estive firme a quase tudo, menos à visão de nova rodada de cigarros: para lá fui novamente, lá me intoxiquei novamente, e senti novamente aquela queda de pressão previamente relatada.
E nestal hora, um dos capetinhas me capturou pelo braço e me arrastou de surpresa até a pista de dança, lá me jogando, no meio daquela profusão de corpos que se contorciam conforme a música. Eu, robô, como sou, já senti a adrenalina subir, devido a tal vexatória situação. Mas naquela noite estava determinado a NÃO ser o chato da festa, e lá fiquei me contorcendo também, para o delírio de alguns dos presentes, como a noiva e sua irmã, que muito se embasbacaram de ver o Noiado no Sótão ali estar, arriscando rispiveis passos horrendos de dança. Minha irmã mais nova também, também não muito fã deste tipo de atividade, quase foi forçada a dançar, mas se limitou a muito se rir de minha hilária figura que parecia estar tendo um ataque epilético. Sengindo ela também, naquele momento estava meio enjoada devido às champanhas por ela ingeridas. Os capetinhas tentaram e tentaram convencê-la, mas ela foi mais firme que seu irmão e só ficou ali mesmo contemplando a comédia da noite.
Felizmente, nesta hora a música era muito boa, aqueles famosos remixes intercalados de mpusicas dançantes de tempos passados, swings e afins, velhíssimos "roquenrous" pais do gênero que tanto aprecio e tantas outras melodias realmente agradáveis para estes momentos. Quando a música de repente passou a se enveredar em praias por mim não muito apreciáveis, eu me esgueirei para fora dali, e fui beber alguma coisa. Em verdade, não estava mais nem um pingo bebâdo, e para ser sincero, estava mais era com simples sede, devido ao escesso de roupas ter quase me cozinhado vivo naquela hora.
Mas nem tudo são flores, e alguma coisa quse sempre dá errado para alguém em tais eventos, e avistei um de meus mais antigos amigos da galera do retiro arrastando para fora do salão sua namorada, com uma cara de fúria estampada em seu rosto. Mais tarde, ele reapareceu, e me relatou todo o acontecido: o alcóol, que tanto tentara me arruinar, tinha sido mais eficaz com sua namorada, e ele estava muito contrariado. Eu tentei conversar e fazer o possível para amenizar sua aflição mental que estava-lhe amargando a boca, estragando sua noite. Espero que minha conversa tenha ao menos amenizado de fato um pouco a coisa, pois é um cara que tenho muit consideração, companheiro de velhas nerdices por nós, os nerds infalíveis do retiro tanto vivenciadas em invernos passados.
Dali em diante, a festa, que parecia estar em um lapso de tempo, com uma temporalidade diferente do mundo exterior, foi se acabando aos pouquinhos, mas ainda houveram momentos memoráveis, como o "crowd surfing" do noivo, que foi capturado por nós e carregado por todo o salão, culminando mesmo no tradicional arremesso para o alto, como se fossêmos uma espécie de cama elástica para o infeliz. Infeliz? Qual nada, o cara rachava de rir até não mais poder, e decebeu nosso abraço coletivo quando encerramos a arriscada atividade bebum. Creio que era o único sóbrio no meio daquela galera. Felizmente, não aconteceu nada, ninguém se feriu, e até mesmo as maigas da noiva nos imitaram, muito para o riso de Jade. A coisa se reptiu mais umas duas vezes, pois as rodadas alcóolicas não paravam de circular pelo recinto, e estavam todos felizes e devidamente inebriados.
Quando estava prestes a me decidir por encerrar a noite, os capetinhas novamente me apareceram com uma oferta os quais pensaram ser algo do tipo "an offer you can't refuse", pelo que entendi.
Não.
Não.
Não.
Fui irredutível, mesmo para o desgosto deles, que suponho ter até me levando em desconsideração perante tal recusa. Mas não me arrependo de ao menos nesta hora ter-me mantido firme em meus princípios (estas coisas tão incompreendidas por meus companheiros). Vi que causei surpresa, eis que a vi estampada ao menos no rosto do mais novo deles, que muito intoxicado estava, devido ao consumo quase initerrupto de copos e mais copos do mais autêntico Scotch (bebida que, após uns quinze anos sem ter provado, continuou absurdamente horrenda para este que vos escreve. Certas coisas nunca mudam, creio eu.) Perdão, senhores. Isto não. O mais velho dos agentes da Peer Pressure, Inc. simplesmente aquiesceu (abanando a cabeça), sem muito insistir.
Lá se foram eles, muito para desapontamento de Rafael, que ainda conseguiu soltar uma piadinha infame que causou muitos risos. Nesta hora, decidi permanecer mais um tempinho, pois a festa estava quse morta de fato, e a leva que saiu dali naquela infame hora levou quase todos os amigos mais próximos do noivo. A música reinante me remetia a um certo vídeo também. Conversei mais um tempinho, comi mais uns doces, todos esplêndidos ao paladar, e me despedi depois de uma meia hora, mais ou menos. Sem mágoas, sem arrependimentos, me sentindo muito bem.
E assim aconteceu, ao menos em meus olhos, a união de duas pessoas muito importantes para este torto ser, que tanto escreve e escreve, e tanto se recrimina de não ser assim ou assado. Foi tudo muito bom, tirando-se as tensões previamente relatadas.
Mas o fato que mais me surpreendeu na noite foi algo que NÃO deveria ser uma surpresa. Foi o tanto que meus amigos do nada chegavam para mim em tal reunião e manifestavam os "protestos de elevada estima e consideração" para com minha pessoa. Me surpreendi com isto, e me fez muito bem. Saber que apesar de ser eu este feixe de contradições, este mistério insolúvel para os capetinhas e os outros companheiros ali presentes, isto foi a melhor coisa que me aconteceu na noite, e me causou uma sensação comparavél a um "high" sem agentes nicotínicos, alcóolicos ou seja lá o que for, que caras como eu procuram em seus momentos de maior desespero. Em momentos que não estou cercado por meus amigos.
Obrigado, senhores. Por vezes, salvam a vida deste Noiado.
E parabéns a meu...nosso irmão Rafael e à Jade. Que assim seja, sempre, do jeito que sempre foi, mesmo dantes de tal oficialização religiosa. Aos olhos de um certo deus, estão casados. Aos nossos olhos, sempre estiveram.
E que assim seja, como diria o padre que lá ficou a dizer coisas que nem ouvi.
Que assim seja.
Mudança sem muito mudar o que nós todos já sabíamos, já conhecíamos. Ainda assim, foi dos acontecimentos mais importantes do ano. Coisa que raramente vemos, ainda mais em meu meio, meu círculo de amigos e conhecidos. O casório, de meu irmão Rafael; irmão este sem ser de sangue, por assim dizer, mas de fatoi um irmão, um destes caras que devemos conservar em nossas vidas, uma destas pessoas que sempre podemos contar, nas mais negras horas de nossas vidas.
Fui convidado para ser um dos padrinhos, através de um email o qual ele acrescentou, "bem sei que não gostas de tais formalidades sociais; se não quiserdes proceder como tal, entenderei bem." Evidentemente, o email não estava assim tão floreado por tal jargão advocatício, mas bem sabem os que me conhecem que tendo a assim escrever, apenas para encher render uma certa forma de humor.
Deixando de divagar, volto ao caso. Evidentemente, aceitei tal "encargo", pois como já disse, um irmão é um irmão, e não existem sacrifícios que não fazemos por tais pessoas. Sou de fato um cara questionador de todos os inúteis ritos sociais e por vezes até me exalto em tais recriminações, mas afirmo que nem sequer pestanejei. Para mim foi verdadeira honra ser selecionado para tal tarefa.
Evidentemente, ocasiões solenes como esta requerem alguma sorte de sacrifício para um ser avacalhado e mentalmente marginal como eu. A inglória necessidade de ter que me enfiar em uma certa combinação de roupas as quais já previamente escrachei aqui neste diário quase diário de resmungos. O malfadado terno. A maldita gravata. Por mais que me digam, eternamente odiarei tal traje. Vem do sangue.
Enfim, não recuei nem pestanejei. Que venha o terno. E camadas adicionais, evidentemente, de roupas um tanto menos prestigiosas por debaixo da fantasia. Pois bem conhecia o terreno em que a cerimônia iria ser realizada. Conheço bem o Retiro das Pedras, desde meados de 1990. Sei o frio que ali faz, e o que me esperaria naquele fim de tarde. Achei estar até exagerando, quando me vi vestido com tantas camadas de roupas, mas ainda em minha casa, onde já faz frio normalmente. Mas o bom senso e a experiência não me falharam.
O frio que ali fazia era exemplar, digno dos velhos tempos. Minhas camadas extras me salvaram, e eramaté meio insuficientes para o ambiente externo da capela. Tive dó das mulheres que ali compareceram, entretanto: todas mui elegantes, mui apreciáveis aos olhos de todos os marmajos ali existentes, mas muito despreparadas para tal inóspito ambiente polar. Enfim.
Faziam anos que não visitava tal capela, e não me lembrava de todo seu esplendor, localizada à beira do penhasco, com uma vista absurdamente bela. Eu e os demais padrinhos e madrinhas fomos orientados por uma agente da Gestapo disfarçada de organizadora de casamentos, e confesso que não entendi quase nada que a dita falava, eis que não entendo bem o alemão de Auschwitz. Entrar pra direita, pausar no meio, ir para o teto, cair de bruços, pisar na lua, o quê?!
Ficamos entontecidos pelas instruções, e aguardamos a chegada da noiva, que como de praxe, chegou um pouquinho mais tarde que o noivo, este meu irmão tão avacalhado como eu; conforme fui informado por outros amigos, o cara ficou tomando umas cervejas com outros convidados em sua casa momentos antes do casório, trajando roupas absurdamente surradas e agindo com sua naturalidade escrachada de sempre. Ri muito deste informe, pois bem conheço meu irmão: apesar destes pesares, na hora marcada, lá estava o cara, impecavelmente vestido e arrumado.
Quando a noiva chegou, houve certa demora para que ela saísse do carro: haviam reportes de choro incontindo no interior da moderna carruagem, e requisitaram um lenço. Eu, como bem conheço minhas alergias ao frio, havia levado um no bolso e acudi prontamente, aos comentários de "este sim é um cara prevenido". O mais engraçado, entretanto, era que o lenço não era destinado à noiva, mas sim ao pai dela, que rompeu em pranto assim que avistou a fileira de padrinhos e madrinhas defronte à capela. Agora era hora de entrar na igreja e seguir o mapa e o plano de batalha de Fräulein SS. Como? Nem sabia.
Felizmente, executar tal entrada não foi tão difícil assim, e tudo correu bem. Apenas segui meu par, a irmã de sangue de Rafael. Deu tudo certo, e a cerimônia começou. Custei a avistar Jade no meio de tantas cabeças que espichavam o pescoço para terem a primeira visão da noiva. Eu mesmo estava um tanto emocionado, pois bem me conheço nestas horas solenes, ainda mais envolvendo pessoas para mim importantes como o casal que estava prestes a oficializar o que todos já sabiam há anos, o que todos já estavam acostumados a ver. Sim, sabíamos que eles já eram casados, mas não diante dos ritos exigidos pela religiosidade que as famílias de ambos tanto queriam ver de perto. Enfim, é a vida: tem destas coisas.
A cerimônia "episcopal" foi curta (para alívio conjunto de todas as fêmeas tão carnalmente expostas naquele recinto) e sem maiores incidentes, contando apenas com uma crise de riso por parte da noiva, que foi tentada a fazer tal "deslize" por alguém lá de fora, que segundo me disseram, fez uma careta para ela. Tudo correu bem, e fomos direcionados para o exterior da capela onde a agente Helga SS, empunhando sua cruz de ferro, exigiu que as madrinhas e padrinhos se reunissem por detrás da capela para sessão solene de fotos e atiramento de arroz nos noivos, agora consagrados aos olhos da igreja. Atiramos nossos punhados de arroz na gelada escuridão, e escutei Rafael gritar, "Porra! é pra jogar pra cima galera, e não na minha cara!" Risos, risos. Adiante. A recepção nos aguardava, fora do condomínio mas não tão longe assim.
A festa foi o encerramento ideal para tal evento. Estava tudo muito bom, eu sorria incontrolavelmente, e meus músculos da face protestavam devido ao prolongado desuso por ser este ser turrão que tanto se isola do mundo. Sorria muito indiferente às duras penas de pôr tais aparatos em funcionamento, pois ali encontrei quase todos meus amigos que fiz em tantos anos de idas eventuais àquele condomínio. E me sentia muito bem. O astral estava muito bom. Estava com medo que meu lado negro se manifestasse naquela noite, e alguma espécie de mau humor indefinido ou depressão súbita tomasse conta de mim. Já aconteceu antes.
Mas não naquela noite. Estava me sentindo muito bem, estava tudo muito bom. Tomei várias taças de champanhe, que estava surpreendentemente bom, comi diversos salgadinhos igualmente agradáveis ao paladar, joguei conversa fora com vários amigos, sendo que dois deles, meus capetinhas preferidos, aqueles seres que ficam por perto de um cara bobão feito eu, não cansavam de tentar me levar para o "mau" caminho. Peer pressure mothefuckers, I would say. Mas eu recevbia tudo com bom humor e rechaçava tais propostas com minhas exaltações teatrais de sempre, temperadas de meus típicos xingamentos: "Dançar é o caralho, pode ir sem mim seu viado" e quejandos.
Como era uma noite especial, de muitas indulgências, avistei alguns de meus amigos se intoxicando com a tal nicotina, que tanto me tenta nestas semanas, e lá fui também inalar tal coisa. Senti um misto daquela estranha sensação causada pela abstinência prolongada de tal agente intoxicante, e senti o alcóol dos champanhes se manifestando prontamente. Mas não houve nenhum incidente maior que este. Procurei poor coisas não alcóolicas em seguida, e fui mesmo um dos primeiros a se servir da magnífica comida ali servida naquela noite, e me restabeleci por completo. Não desta vez, vil etílico vilão, não desta vez. O senhor falhou em me fuder nesta noite. Fiquei muito satisfeito com isto.
Depois, continuei a trocar idéia com meus amigos, e os capetinhas continuavam a me tentar, e eram continuamente rechaçados. Estive firme a quase tudo, menos à visão de nova rodada de cigarros: para lá fui novamente, lá me intoxiquei novamente, e senti novamente aquela queda de pressão previamente relatada.
E nestal hora, um dos capetinhas me capturou pelo braço e me arrastou de surpresa até a pista de dança, lá me jogando, no meio daquela profusão de corpos que se contorciam conforme a música. Eu, robô, como sou, já senti a adrenalina subir, devido a tal vexatória situação. Mas naquela noite estava determinado a NÃO ser o chato da festa, e lá fiquei me contorcendo também, para o delírio de alguns dos presentes, como a noiva e sua irmã, que muito se embasbacaram de ver o Noiado no Sótão ali estar, arriscando rispiveis passos horrendos de dança. Minha irmã mais nova também, também não muito fã deste tipo de atividade, quase foi forçada a dançar, mas se limitou a muito se rir de minha hilária figura que parecia estar tendo um ataque epilético. Sengindo ela também, naquele momento estava meio enjoada devido às champanhas por ela ingeridas. Os capetinhas tentaram e tentaram convencê-la, mas ela foi mais firme que seu irmão e só ficou ali mesmo contemplando a comédia da noite.
Felizmente, nesta hora a música era muito boa, aqueles famosos remixes intercalados de mpusicas dançantes de tempos passados, swings e afins, velhíssimos "roquenrous" pais do gênero que tanto aprecio e tantas outras melodias realmente agradáveis para estes momentos. Quando a música de repente passou a se enveredar em praias por mim não muito apreciáveis, eu me esgueirei para fora dali, e fui beber alguma coisa. Em verdade, não estava mais nem um pingo bebâdo, e para ser sincero, estava mais era com simples sede, devido ao escesso de roupas ter quase me cozinhado vivo naquela hora.
Mas nem tudo são flores, e alguma coisa quse sempre dá errado para alguém em tais eventos, e avistei um de meus mais antigos amigos da galera do retiro arrastando para fora do salão sua namorada, com uma cara de fúria estampada em seu rosto. Mais tarde, ele reapareceu, e me relatou todo o acontecido: o alcóol, que tanto tentara me arruinar, tinha sido mais eficaz com sua namorada, e ele estava muito contrariado. Eu tentei conversar e fazer o possível para amenizar sua aflição mental que estava-lhe amargando a boca, estragando sua noite. Espero que minha conversa tenha ao menos amenizado de fato um pouco a coisa, pois é um cara que tenho muit consideração, companheiro de velhas nerdices por nós, os nerds infalíveis do retiro tanto vivenciadas em invernos passados.
Dali em diante, a festa, que parecia estar em um lapso de tempo, com uma temporalidade diferente do mundo exterior, foi se acabando aos pouquinhos, mas ainda houveram momentos memoráveis, como o "crowd surfing" do noivo, que foi capturado por nós e carregado por todo o salão, culminando mesmo no tradicional arremesso para o alto, como se fossêmos uma espécie de cama elástica para o infeliz. Infeliz? Qual nada, o cara rachava de rir até não mais poder, e decebeu nosso abraço coletivo quando encerramos a arriscada atividade bebum. Creio que era o único sóbrio no meio daquela galera. Felizmente, não aconteceu nada, ninguém se feriu, e até mesmo as maigas da noiva nos imitaram, muito para o riso de Jade. A coisa se reptiu mais umas duas vezes, pois as rodadas alcóolicas não paravam de circular pelo recinto, e estavam todos felizes e devidamente inebriados.
Quando estava prestes a me decidir por encerrar a noite, os capetinhas novamente me apareceram com uma oferta os quais pensaram ser algo do tipo "an offer you can't refuse", pelo que entendi.
Não.
Não.
Não.
Fui irredutível, mesmo para o desgosto deles, que suponho ter até me levando em desconsideração perante tal recusa. Mas não me arrependo de ao menos nesta hora ter-me mantido firme em meus princípios (estas coisas tão incompreendidas por meus companheiros). Vi que causei surpresa, eis que a vi estampada ao menos no rosto do mais novo deles, que muito intoxicado estava, devido ao consumo quase initerrupto de copos e mais copos do mais autêntico Scotch (bebida que, após uns quinze anos sem ter provado, continuou absurdamente horrenda para este que vos escreve. Certas coisas nunca mudam, creio eu.) Perdão, senhores. Isto não. O mais velho dos agentes da Peer Pressure, Inc. simplesmente aquiesceu (abanando a cabeça), sem muito insistir.
Lá se foram eles, muito para desapontamento de Rafael, que ainda conseguiu soltar uma piadinha infame que causou muitos risos. Nesta hora, decidi permanecer mais um tempinho, pois a festa estava quse morta de fato, e a leva que saiu dali naquela infame hora levou quase todos os amigos mais próximos do noivo. A música reinante me remetia a um certo vídeo também. Conversei mais um tempinho, comi mais uns doces, todos esplêndidos ao paladar, e me despedi depois de uma meia hora, mais ou menos. Sem mágoas, sem arrependimentos, me sentindo muito bem.
E assim aconteceu, ao menos em meus olhos, a união de duas pessoas muito importantes para este torto ser, que tanto escreve e escreve, e tanto se recrimina de não ser assim ou assado. Foi tudo muito bom, tirando-se as tensões previamente relatadas.
Mas o fato que mais me surpreendeu na noite foi algo que NÃO deveria ser uma surpresa. Foi o tanto que meus amigos do nada chegavam para mim em tal reunião e manifestavam os "protestos de elevada estima e consideração" para com minha pessoa. Me surpreendi com isto, e me fez muito bem. Saber que apesar de ser eu este feixe de contradições, este mistério insolúvel para os capetinhas e os outros companheiros ali presentes, isto foi a melhor coisa que me aconteceu na noite, e me causou uma sensação comparavél a um "high" sem agentes nicotínicos, alcóolicos ou seja lá o que for, que caras como eu procuram em seus momentos de maior desespero. Em momentos que não estou cercado por meus amigos.
Obrigado, senhores. Por vezes, salvam a vida deste Noiado.
E parabéns a meu...nosso irmão Rafael e à Jade. Que assim seja, sempre, do jeito que sempre foi, mesmo dantes de tal oficialização religiosa. Aos olhos de um certo deus, estão casados. Aos nossos olhos, sempre estiveram.
E que assim seja, como diria o padre que lá ficou a dizer coisas que nem ouvi.
Que assim seja.