sexta-feira, 18 de junho de 2010

Errado, pt II.

E eis que mais uma vez este ignóbil ser estava errado. Noves fora, coisa nenhuma, ao menos desta vez o erro não foi daqueles difíceis de se admitir, sequer foi-me doloroso ver a convicção torta de certos pensamentos estar, de facto, errada e errônea, por assim dizer.

Constatei tal coisa ao entrar em meus eternos mercedões azuis e/ou amarelos que faço valia para cá neste emprego empregatício malefício chegar; ao me sentar diante de certa publicação dita semanal, sazonal, que lá seja, muito me admirirei de ali verificar novamente certa foto a qual fiz menção semana passada, que figurava a garota juvenil desaparecida da semana, do mês, seja lá o que for.

Encontrada. Sim, após trinta e seis dias e noites, encontrada. Não sei de nada mais sobre o caso, mas apenas esta palavra ali estampada já me valeu de pequeno alento para este dia enfrentar. Por mais que por vezes esta dura cabeça deste ser turrão e por vezes irritantemente irredutível em suas erronêas convicções custe a admitir, estava mais uma vez errado perante os fatos da vida, esta desconhecida, aparentemente.

Não estavas morta, ó menina do nome estranho. Estavas perdida, nalgum lugar para além de minhas vistas e minha compreensão, quiçá procurando alguma espécie de fuga para alguma outra realidade nefasta de seu dia a dia, ou então estavas de fato perdida na vida, tentando achar aquilo que somente nós mesmos bem sabemos: nós mesmos, coisa difícil de se achar algumas vezes. Estavas viva, apenas escondida, foragida, não sei. Distante, errante.

Quem nunca pensou em fazer o mesmo, por vezes, não perde nada, não sofre muito ou simplesmente é mais audaz, mais capaz que seres que de tal forma pensem, ajam. Desaparecidos em vida, estes existem aos montes por aí, e sendo eu membro integrante e/ou fundador de tal congregação, por assim dizer, posso ao menos aqui manifestar testemunho, depoimento acerca de tal fatalidade nada fatal nem para mim nem para outrem; sei apenas o que sou e é pouco por vezes.

Sei que saber tais coisas muitas vezes perturba a vida dos alheios seres que conosco estão mas nunca deveras estarão na maneira de se pensar, de se agir, perante as agruras de nossas vidas, das aflições que tantas vezes....nada mais são que piadas ou motivo de irritação para aqueles que como nós, os fracos, não pensam, não penam.

Mas todos nós existimos, e cá estamos, convivendo, de uma forma ou de outra. Errando, muitas vezes errando, assim como este ser que hoje se viu diante de mais um engano. Acontece. Com todos nós, fracos ou fortes, alfas ou ômegas. Eu, de minha parte, fiquei satisfeito com este meu deslize de afirmar aos céus a aos infernos da terra e da Grande Granja que havia alguém morto naquela fotografia ali estampada.

Se, por vezes quebro a cabeça, bato com ela numa parede sólida de lógica e evidências em contrário ao meu modo de ser e agir, fatalista até o osso, obscurantista até debaixo d'água, se teimo em ser aquilo que a natureza me deu de pior mas que sou eu, inegavelmente eu, eu,eu, concedo que às vezes é necessário errar, e que certos erros são-nos necessários, não importa se você é o primeiro ou o último, o mais fraco ou o mais forte. Todos erramos, inegavelmente, irremediavelmente.

Fazem dias e dias que não encontro descanso em minhas falhas tentativas de desligar-me desta realidade por meios naturais, causados pela tradicional perda de consciência diária, que todos nos alenta após um árduo dia de trabalho. E todas as manhãs me parecem cinzentas e opacas, mesmo que não o sejam, mesmo que o céu esteja azul, muito azul, e que a frieza polar deste inverno dos infernos tenha mesmo amainado nesta manhã em particular. Nada pode dar certo hoje, afirma de mim para mim certa voz sempre presente em certa cabeça.

Mas ali está, estampada na forma de um erro de minha parte. Duro golpe para o ego? Nem tanto. Aquilo significou muito mais uma réstia de esperança neste ser, tão maldito para seus olhos e para alheios olhos que tanto analisam, nada entendem e muito reprovam, assim ou assado, este torto jeito de ser sem ser, deste ser sem nada ser.

E esperemos a alforria do dia, com muito entusiasmo; mesmo que distante esteja, pode significar o final dos maus tempos, a libertação desta auto-inflingida prisão.