terça-feira, 22 de junho de 2010

Café da manhã.

Pois não, bom dia, vai querer beber o quê? Cafe com leite, café com café, leite e leite, leite e chocolate? Não, não há metafísica em chocolates, ao menos não para mim, que sou o da mansarda. Sim, dali. Tome café, ao invés de tomar um uísque logo pela manhã, ou coca cola logo que despertar, mas eis que café é artigo raro por estas bandas, eis que chafé nos é ofertado diariamente, e diariamente recusado, assim, pois, pois.

Bem sei que passamos à vida, passamos à toa, passamos adiante, sem ter que ver, sem ter que saber, tomando nosso café da manhã, café com cigarros, é o que há, mesmo não sendo, mesmo sendo aquele pobretão obrigado a com isto parar, por obrigação de si mesmo para si mesmo. Sim? Não, não me intereso por tais vis artes, tampouco não me importo se o referido árbitro fez isso ou aquilo; ali eu não estava, não sabes. Não? Ah, que pena, nunca imaginei que assim fosse.

Veja bem, mais uma xícara de bom café aqui me aparece, não deves recusar, não recuso, nem mesmo sabendo que assim me incitará outras ânsias, outros lugares. É possível fazê-lo? Sim, dependendo da hora e do lugar. Mas veja, mas olhe: não deveis fazer com os outros o que não queres que façam contigo, é assim que dizem, mas é assim que não fazem, e assim vamos tocando o bonde, não as cordas, eis que cortes existem e ainda doem, doem.

Dói também ter que da vida se desfazer, da vida de outrem depender, da felicidade alheia fazer a sua. Dói, ver que nada podemos fazer diante da morte que chega, que arrebata-nos a companhia, aquela presença de tão humana ser, mesmo não sendo. Dói demais ter de se despedir, de quem quer que seja, uma pequena cã que apareceu-nos em sonhos, uma pequena companhia que tanto nos faz falta, quando aqui não mais estás. E nestas horas, nada faz sentido, a humanidade perde sua humanidade, e a presença ali não mais está.

Mas assim não dá, homem! Fale de algo que não me amargue mais a boca além da bílis matinal de ter tanto eu enchido a lata, esvaziando-a em meu estômago devido ao embate da bola com os pés. Pos sim, morra caro senhor: deixe-nos, alivie-nos de vossa presença, assim o dizem, assim o querem. Lamento, lamento, sorvo aqui esta negra infusão de grãos e água, e procuro me conter diante das gentes, que nada temem, que nada merecem. Cinco dedos na cara, bater em retirada, café na mão, café nos olhos.

Ali arfar, ali se desfazer do resto, se livrar do corpo, continuar no mesmo lugar, sem nem ao menos ali estar, ali existir. Tudo é vão e passageiro: não. Dizem-me coisas, mas não me falam nada, por assim dizer. E eu, que não sou nada, tenho que aqui tentar ser algo, mesmo assim. Tentar fazer de minhas palavras algo que agrade, mesmo que ofenda, sem nem ter sido este meu objetivo. E agora, amargar a dúvida de ter perdido uma amizade, por conta de muito se achar, isto é o pior: mas dizem, mas falam, que...

Não me importo o que dizem, o que falam. Enfiem o futebol e as vuvuzelas no rabo, enfiem o patriotismo sazonal junto, vão todos para lá que aqui não quero ficar, mesmo que ainda assim tenha sido o plano inicial, tantas vezes falhado. A única coisa que lamento é por vezes fazer dos pés pelas cabeças, de cima a baixo, de baixo para cima. Nada muito resta de mim sem aqueles que porventura têm a insanidade de ainda me tolerarem. E disso não sei nada ao certo, como funciona, como faz, sem nem mesmo fazer a menor diferença....para eles ou para outros menos importantes.

Mas ainda existe café nesta xícara, e ainda existe algo artificialmente criado a ser criado em minha mente, na mente dos outros, que tanto não se importam, assim como nada sabem.

Bom dia, um café, um pão de queijo. Não tem? Ah, fica pra próxima.