quarta-feira, 12 de maio de 2010

A quinta vez. A quinta semana.

Tudo começa com o rumor ao longe. Escutando direito, dá para sentir o tom agressivo e inútil da multidão ao longe. Estiveram bem escondidos durante toda a tarde, e agora surgem como uma praga de gafanhotos.

Escuto o rumor do protesto e estremeço. Bem sei o que tal coisa significa, em plena terça feira. Significa que, novamente, o corpo docente irá atrapalhar a minha vida, a vida do cara do consulado de Portugal, a vida de muita gente cidade afora. Significa que terei de andar e andar até sabe-se lá aonde, ou mesmo até minha casa, que fica tão distante daqui desta forma.

Olho para o relógio. Cinco e quinze da tarde, e passam batucando como se fosse terça feira de carnaval. É uma festa que promovem, e no entanto, tudo que anseio é ter em minhas mãos algum rifle com mira telescópica. Eu só quero alvejar a maldita mulher que está sempre presente neste tipo de bagunça. SEMPRE. Sua voz me causa arrepios por toda a espinha e uma ânsia assassina sem muitos precedentes.

Faço a cena acontecer em minha cabeça, as linhas intersectivas da mira fechando-se na cara feia da mulher e seus miolos explodindo em uma confusão de sangue, circunvoluções e matéria cinzenta. Imagino o caos subsequente, professores correndo por todos os lados, pessoas se atropelando, mas não mais incomodando o trânsito.

Suspiro. Bem sei que isto nunca acontecerá, que nunca alvejarei a tal mulher papa-protestos de BH, e ainda assim, caso o fizesse, bem sei que o caos subsequente pararia o trânsito e me fuderia da mesma forma.

Mesmo assim, imagino a cena em minha cabeça, e sorrio involuntariamente. Faz isso de mim um facínora, um cara que odeia todos os professores do mundo? Não. Não odeio todos os professores do mundo, apesar de nas mãos deles já haver sofrido em anos passados. Nem odeio somente os professores, nem faço parte de nenhuma coalição pregando o ódio aos docentes e seu posterior extermínio, como podem alguns deles erroeneamente me acusar, após lerem estas linhas.

Não. Afirmo que odeio somente quem faz tal tipo de protesto, em datas como as terças feiras. Por motivos absolutamente simples e egoístas em sua essência. Os odeio simplesmente por estarem me atrapalhando a vida, me atrapalhjando a hora mais sagrada do dia, que é o momento em que o homem se retira do seu trabalho que tanto tem ojeriza, às seis da tarde, temporariamente alforriado até as oito da manhã do dia seguinte, e se dirige para sua casa, onde recuperará forças para mais um dia de moderna escravatura capitalista.

Apenas por isso os odeio neste presente momento. Apenas por isso gostaria de ter em mãos uma granada de impacto, que atiraria eu com júbilo na multidão de reclamões lá em baixo na rua, sem nem ao menos me preocupar com a mira, eis que explosivos deste naipe não requerem muita perícia quanto à mira. Apenas por isso tenho tais pensamentos homicidas. Apenas por isso.

Que fosse um protesto de estudantes contra os professores; que fosse um protesto dos trabalhadores de minha área, filiados ao meu sindicato, que desde dezembro seguram nosso tão desejado e almejado, quase absolutamente necessário aumento salarial; que fossem católicos imbecis protestando contra homossexuais; que fosse uma comitiva do Papa fazendo religiosa procissão pela cidade.

Foda com meu horário de descanso longe de meu emprego que terei profundo ódio por você. Terei desejos assassinos por você. Elaborarei cenários fantasiosos e inexequíveis em minha cabeça contra você, imaginarei sua horrenda morte com um sorriso doentio estampado na cara. Não importa quem você seja, o que faça, pelo que protesta. Não importa. Quererei matá-los.

Cinco semanas estes infernais agentes do caos me aparecem na praça da Assembléia Roubativa de Minas Gerais e me descem a avenida, atrapalhando meu descanso, atrapalhanmdo minha vida, me forçando a andar quase cinco quiulômetros até finalmente conseguir apanhar um táxi e pagar dez reais para em casa chegar, ao invés dos tradicionais R$ 2,30 do ônibus. Cinco semanas seguidas. Minha paciência deve ser treinada, mas não neste contexto, não desta forma.

E a greve continua, conforme a maldita papa-protesto anunciou, do conforto de seu trio elétrico que sempre acompanha o inútil protesto - "queremos 40000% de aumento, estamos fazendo esta baderna toda sabendo que iremos rapar 0,00004%" - e eu continuarei a almejar pela morte de todos que ali se encontram. Ou ao menos seu tele-transporte imediato para as imediações de Europa, lá na órbita de Júpiter.

Longe de mim, longe de meu merecido descanso. Malditos.

E tenho dito.