quinta-feira, 27 de maio de 2010

Cerebrum.

Nota - bem sei que o texto que se segue faz parte daqueles que ontem me propus a refrear, mas tive esta idéia ontem a noite e decidi explorar esta coisa mais um tiquinho.


Eu sou o cérebro de Marcos. Sem mim, Marcos não conseguiria sequer se levantar da cama, eis que comando todos os músculos de seu corpo, suas respostas cognitivas e os demais órgãos de seu corpo também. Ultimamente, tenho feito com que ele mal consiga se levantar da cama, mas não por fazer greve em minhas sinapses nervosas que comandam os movimentos das pernas dele. Ao contrário, está tudo funcionando perfeitamente bem, com exceção de mim mesmo, que por algum motivo ainda bioquimicamente indefinido, me recuso a deixar com que os pensamentos fluam de maneira adequada. Portanto, logo ao acordar, ao invés de analisar os estímulos de luz do dia como um incentivo para dali sair, e prontamente ir até o banheiro para a melhor mijadinha do dia, por conta de um defeito de fábrica, assim creio, eu redireciono as sinapses em estranha direção, e alimentar o centro neurótico de neuroses associadas, inc. Desta forma, fica assegurada que a luz do dia que chega até as retinas de Marcos, tenha o efeito de estar ele sendo conduzido para um matadouro. Dessarte, o centro de gravidade fica alterado para a configuração da gravidade de Júpiter, o que dificulta as coisas, naturalmente.

Enquanto as pernas se preparam para o hercúleo esforço de dali levantar o inerte corpo de Marcos, fico eu direcionando sua linha de pensamento para os redutos mais obscuros de mim mesmo, eu, que encerro dentro de minha massa cinzenta todas as memórias de Marcos. O desvio de conduta em geral leva a reativar aréas em mim que guardam todas as suas vergonhas, seu senso de absoluto desconforto social, sua falhas para com todos aqueles que com ele se importam e outras coisas igualmente nefastas. Entretanto, por algum motivo ainda pelos pesquisadores desconhecido, existem certas sinapses que são essenciais para a sobrevivência de um ser humano, e Marcos não pode ignorar o instinto primordail de cumprir com o dever de ter que se deslocar dali de seu túmulo noturno para seu local de trabalho. Este local, apesar de estar - enquanto memória, enquanto associação cognitiva - firmemente plantado em minha região que controla o asco absoluto, está tambem associado a outra necessidade primordial dos Homínideos desta espécie: a necessidade de fazer algum dinheiro.

Então, após muito deliberar, finalmente me desembaraço dos curto-circuitos causados por algum desarranjo ainda não definido em meu córtex, e finalmente consigo fazer com que o restante do corpo de Marcos dali se retire. Bem sei que existe um desarranjo auto-infligido por meu dono na parte de endorfinas associadas ao mecanismo de recompensa que nós cérebros tanto gostamos quando esta particular área é estimulada, e bem sei que não recebo nenhum estímulo desta sorte enquanto o corpo de Marcos está envolvido em suas atividades ditas "profissionais", que apenas lhe garantem escassos pedaços de papel com os quais ele usa para pagar algumas contas e comprar algumas mixarias. O lado do bom senso de Marcos está severamente danificado por vários motivos que são difíceis de serem enumeradaos, e que causam risos nas pessoas que a ele analisam. Ultimamente, toda as endorfinas por mim liberadas estiveram associadas não a atividades para ele prazeirosas, mas a estímulos um tanto quanto para mim desnorteantes, sendo por ele adquiridos por outros órgãos de seu corpo, que estão sentindo o oneroso peso do abuso de tais estímulos por ele utilizados, e que de certa forma mais ou menos eficaz, consegue fazer com que minhas sinapses se comportem de maneira bizarra, chegando mesmo a estimular, após muita intoxicação por todos os tecidos de seu corpo, o centro de prazer em mim encerrado.

Desta forma, meu centro de bom senso fica de certa forma danificada, pois imediatamente associado ao centro do prazer, está o centro da recompensa, e isto se torna um ciclo vicioso, pois mais e mais estímulos são necessários para que Marcos simplesmente consiga desativar os pensamentos erroneamente direcionado para as memórias e sensações que deveriam ser esquecidas, para que ele tenha uma falsa ilusão de paz interior. Por vezes, o centro de bom senso tenta tomar as rédeas e impedir com que tais práticas sejam executadas por Marcos, mas o dessaranjo já é tal que a negação de tais errôneos estímulos causam ainda mais caos no caos já existente, e todas as funções cognitivas são redirecionadas para o mais baixo nível.

Assim, em geral, a visão dele fica deformada, sua audição fica surda para conselhos que poderiam ser válidos mas que para os ouvidos soam como ofensas, e dá tudo errado. Em algum momento do desenvolvimento de Marcos, o mecanismo de prazer/recompensa por ele mais utilizado foi o açúcar, causando-lhe certo acúmulo de células adiposas por todo seu corpo, e naquela fase da vida, isto bastou para que seu centro de auto-estima ficasse reduzido a um quase zero absoluto. Mesmo anos mais tarde, quando de certa forma os adipócitos eliminaram qause completamente suas reservas de lipídeos, não adiantou muito. O centor de auto estima foi terminantemente finalizado quando anos mais tarde Marcos teve de ouvir de certo profissional do desenho certas duras verdades. Esta outra parte de mim que tem ou tinha potencial para se desenvolver, mas desde então as sinapses para esta área foram quase banidas de todo, tamanho foi o dano ao centro de auto estima dele relacionado com esta área. O centro de recompensa que era associado à parte criativa motora, por assim dizer, foi completamente anulado neste processo. Desde então, o que se associou com a parte digamos artística de meu córtex, foi redirecionado para outra área, não muito bem definida, mas que fica entre as questões de vida e morte, particularmente estressantes para este cérebro que vos escreve. Dessarte, as coisas meio que encalacram, pois o que deveria ser prazeiroso se torna um eterno stress, ainda mais que o desarranjo foi tal que este centro de "fight-or-flight" está sempre ativado quando Marcos apanha um lápis e tenta fazer algo que teria potencial de em mim muito se desenvolver, mas só causa dessaranjos intestinais e quejandos pelo restante do corpo de Marcos.

Aliás, todos os problemas causados pelo dano no centro de auto-estima causam efeito semelhante em Marcos: qualquer situação que ele se encontre que dele lhe exija que exiba uma certa confiança(outro centro neural já quase completamente arrasado em mim), causa-lhe a tal sensação de vida e morte. Tais defeitos causaram com que este homem cada vez mais se afastasse de tudo e de todos, buscando o isolamento quase completo, situaçõpes que não lhe ameaçarão a vida, por assim dizer, conforme erradamente são por mim interpretadas tais estímulos. Exemplos: relacionamentos com outrem, situações realmente desafiadoras, situações que são desafiadoras mas para um bom propósito, como o relacionamento para todo e qualquer ser do sexo a ele oposto. E o ciclo vicioso se renova, ano após ano. Por vezes, penso que o dano irá se genreralizar a ponto de que eu perderei todas as funções cognitivas normais e quebrarei de vez, dando perda total e dessaranjando de vez a pouca ordem aqui ainda existente.

Recentemente, alguma luz se fez em minha realização que, por algum motivo indefinido, o centro de bom senso resolveu se aliar ao centro de sobrevivência para forçar com que Marcos procurasse ajuda, coisa que ele não faz, não fez, talvez por ter um certo mecanismo de soberba altamente desenvolvido, também fruto de toda esta confusão. Veremos o que se sucede, e esperemos pelo melhor. Eu sei que espero que dê certo, pois é disso que depende minha vida ou minha morte, e por consequência....